ESCOLA DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE/ DIOCESE DO CRATO EM IPAUMIRIM

 

MLUIZA

Entre os anos de 1961 a 1965, o episcopado brasileiro disponibilizou sua rede de emissoras educativas  ao Movimento de Educação de Base (MEB).  Inicialmente o programa devia operar nas zonas mais atrasadas e subdesenvolvidas do país, mas, posteriormente, para regiões mais desenvolvidas.   .

O MEB, criado pelo Decreto nº 50.370, de 21 de março de 1961, deveria executar um plano qüinqüenal (1961-1965), que previa inicialmente 15 mil escolas radiofônicas, e deveria expandir-se nos anos subseqüentes. Para cumprimento do decreto, foi assinado no mesmo dia um convênio entre o Ministério da Educação e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

As atividades do MEB tinham como unidade básica de organização o “sistema” (composto de professores, supervisores, locutores e pessoal de apoio), encarregado da preparação dos programas e sua execução através da emissora da diocese local e do contato com as classes de aula. No funcionamento das escolas radiofônicas estavam presentes os monitores, colaboradores voluntários do movimento, escolhidos na própria comunidade, treinados pelo MEB e encarregados de provocar discussões sobre o assunto da aula transmitida pelo rádio, de verificar os exercícios e estimular os alunos para o estudo. Todos estavam ligados ao sistema, que atuava em uma área geográfica determinada, podendo existir vários sistemas num mesmo estado. Em 1961 o MEB estabeleceu 11 sistemas atuando em sete estados; alguns estados, entretanto, contavam com uma equipe estadual especialmente treinada que coordenava as atividades dos diversos sistemas.” (SOUZA, 2006)

Inicialmente, o programa devia operar nas zonas mais atrasadas e subdesenvolvidas do país e posteriormente se expandiria para segmentos específicos de público em regiões mais desenvolvidas..

No dia 04 de abril de 1961 encontramos o seguinte registro no Livro de Tombo da Paróquia de Ipaumirim em anotações do então vigário José Ismar Petrola de Melo Jorge.

ABRIL, 1961.

“Este primeiro ano de paroquiato foi regido por regido por mim. A paróquia entrosou na Campanha de Alfabetização de Adultos e de Escolas Profissionais da dio0cese, orientada pela Rádio Educadora do Cariri.

Abril – 4 –  O dia de hoje marca o início em toda Diocese do Crato do funcionamento das esolas radiofônicas para alfabetização dos adultos, obra benemérita de S. Excia o Sr. Bispo Diocesano. Na nossa paróquia temos 23 escolas que vão funcionando um tanto imperfeitamente, dada a nossa condição de paróquia novíssima mas que já alfabetizam mais de 500 alunos” (LIVRO DE TOMBO DA PARÓQUIA DE IPAUMIRIM, 1961)

LIVRO DE TOMBO DA PARÓQUIA DE IPAUMIRIM

Em contato com o Prof. José Ismar Petrola, ele me informa que as escolas vinculadas à Paróquia  de Ipaumirim estavam distribuídas, na própria cidade, no Distrito de Felizardo, em vários sítios inclusive nas propriedades da região da Unha de Gato e arredores, na cidade de Baixio e seu entorno,  na Jurema e outros sítios. Informou ainda que a minha mãe, Maria Eunice Nóbrega de Morais, era coordenadora das escolas na paróquia. Como a paróquia não tinha carro, as viagens para a supervisão das escolas eram feitas no jeep de Sérgio Sobreira.  Eu lembrava que mamãe tinha uma relação com essas escolas porque cheguei eventualmente a acompanha-la nas suas visitações. Não foi possível identificar o nome das professoras, mas lembro que na garagem da casa da minha avó funcionava  uma de suas unidades e que a professora era minha tia, Maria das Dores Duarte (Dorinha), e ainda de outra unidade que ficava na casa de Joaninha Irineu junto ao antigo posto fiscal de fronteira localizado na antiga estrada carroçável Cajazeiras – Ipaumirim próximo da entrada para o Distrito de Aroeiras na fronteira entre Ceará e Paraiba.

A metodologia aplicada nestas escolas era comum a todas elas distribuídas pelo país.

Cada unidade-escola recebia um radio receptor a base de pilha, fabricado pela Phillips, sem necessidade portanto,  de energia elétrica. Este rádio era conhecido como ‘rádio cativo’, ou seja, só estava apto a receber apenas as emissões da programação educativa em horários determinados. As escolas funcionaram de noite a partir das 19hs até 1963 quando o Governo federal obrigou todo o sistema de rádio nacional a retransmitir a Hora do Brasil. Em 1963, houve uma alteração de horário porque a partir deste ano o Governo Federal  porque todo o sistema de rádio nacional passou a ser obrigado a retransmitir a Hora do Brasil.

Os programas eram escritos e produzidos segundo as técnicas e recursos usuais da radio transmissão comercial e continham: aulas dialogadas para a alfabetização, aulas expositivas diversas (higiene, saúde, agricultura, economia doméstica, civismo) tratando de aspectos da educação de base, noticiários, palestras, radioteatro, números musicais e jingles....) “(Souza, op. cit. P. 256)

Cada escola radiofônica dispunha de um rádio receptor, o material didático era composto de cartilha e livros de leitura, uma lousa, cadernos, lápis e um monitor escolhido entre pessoas da comunidade.

 

 Modelo de rádio cativo da Philips com transistor e trimmer. Fonte da imagem:

MACIEL, Rogério Andrade. Rev. Bras. Hist. Educ. vol.20  Maringá  2020



Orientação sobre o uso de suportes de rádio para o funcionamento do receptor cativo. 

Fonte da imagem: MACIEL, Rogério Andrade, op. cit, 2020

No Ceará, estas escolas iniciaram com 941 unidades em 1961, alcançaram seu pico em 1962 com 1666 e foram diminuindo até chegarem em  1965 com 708 unidades (Souza, op. cit. P. 165)

Não consegui identificar até quando elas funcionaram em Ipaumirim.

Bibliografia

COSTA, Maria Carolina Xavier da. A RELAÇÃO ENTRE AS ESCOLAS RADIOFÔNICAS E O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE NA DÉCADA DE 1960. Trabalho apresentado em evento da ANPUH. Sem identificação de data. Disponível em: http://uece.br/eventos/gthpanpuh/anais/trabalhos_completos/165-31417-23052015-142153.pdf Acesso em 09.10.2020.

Livro de Tombo da Paróquia de Ipaumirim.

MACIEL, Rogério Andrade. O rádio cativo nas escolas radiofônicas: um artefato cultural de ensino para os caboclos ‘ingênuos’ na Prelazia do Guamá, Amazônia paraense (1961- 1971).  Revista Brasileira de História da Educação. Ovl. 10. Maringá. Setembro de 2020. Disponível em: Rev. Bras. Hist. Educ. vol.20  Maringá  2020  Epub Sep 28, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-00942020000100216&lng=en&nrm=iso.  Acesso em 18.10.2020

Souza, Claudia Moraes. Pelas Ondas do Rádio: Cultura Popular, Camponeses e o Movimento de Educação de Base/Claudia Moraes de Souza - São Paulo: C.M.Souza, 2006. (Tese de doutorado) Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-11072007-100422/publico/TESE_CLAUDIA_MORAES_SOUZA.pdf (Acesso em 10.10.2020)

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