Vagas lembranças do Maestro Rivaldo Antônio Santana





O MAESTRO RIVALDO SANTANA, DIANTE DO QUE ELE MAIS GOSTAVA: A REGÊNCIA E OS ENSAIOS MUSICAIS / FOTO: ACERVO DE FRANCELINO SOARES

Foi no início dos anos 60 (1963/1964) que conheci o maestro Rivaldo Santana. Após uma década ausente da cidade, retornava eu para iniciar atividades que se tornaram muito caras para mim: juntava o meu desejo de tornar-me professor com a vontade de “fazer rádio”.
Foi adentrando esses dois caminhos profissionais que me aproximei de três pessoas com quem passei a conviver, quase no dia a dia: Rivaldo Antônio Santana, Mozart de Souza Assis e José Adegildes Bastos. Os dois últimos, pelo amor que eu tinha às ondas sonoras do que chamávamos de “estação de rádio”. A aproximação tornou-se mais constante com Mozart e Rivaldo pelo meu amor à música…
É aí que entra o maestro Rivaldo. Pelos meus interesses musicais, costumava assistir aos ensaios da saudosa Orquestra Manaíra, sob a regência dele e com a direção artística de Mozart, com quem eu trocava ideias sobre a programação da Difusora Rádio Cajazeiras, ainda nos estúdios da Rua Epifânio Sobreira.
Sabia, por informações, que Rivaldo havia “caído” em Cajazeiras, fazendo parte do cast de um circo, que transitava pela cidade. Era o maestro da orquestra circense. O olho vivo de Mozart é que o fez ficar em Cajazeiras, assumindo de pronto a regência da orquestra que embalava os nossos sonhos. E Rivaldo gostou e foi ficando, até que ficou em nossa terra e constituiu família.
A sua competência musical o levou a lecionar a cadeira de Educação Artística, diante do incentivo do saudoso Mons. Vicente.
De uma festa, eu lembro-me bem – “Uma Noite do Havaí” –, realizada nos salões do Tênis Clube, e que marcou época. Rivaldo organizou as partituras de todas as faixas de um Long-Play de Billy Vaughn, ensaiando-as, quase todas as noites, até fazer a nossa Orquestra Manaíra executar, com maestria, as faixas do LP Blue Hawaii. Envaideço-me ainda hoje com o sucesso absoluto desse evento por mim idealizado, com o apoio da Difusora, e que foi complementado com o incremento das fantasias das dançarinas (estas criadas por Biva Maia) e os ensaios coreográficos a cargo da Profª. Mercês Gonçalves Holanda. Quem, como eu, viveu aquela noite jamais a esquecerá.
Quando aclamamos o nome do maestro Rivaldo Antônio Santana, na memorável Assembleia-Geral Extraordinária da ACAL, ocorrida em 17 de janeiro de 2019, logo o Prof. José Antônio sugeriu e propôs o nome do neto de Rivaldo, Ely Jenoville Santana Sobral, para assumir a Cadeira 36 de nossa Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Como precisávamos de um nome que nos pudesse oferecer um “esboço biográfico” do homenageado, o nome do seu neto caiu bem.
FONTE: https://www.coisasdecajazeiras.com.br/vagas-lembrancas-do-maestro-rivaldo-antonio-santana/

ANTIGOS ENGENHOS DE RAPADURA NA ZONA RURAL DE IPAUMIRIM - CE


Hoje, tratamos dos antigos engenhos de rapadura do município de Ipaumirim. O material que ora publicamos não seria possível sem a generosidade de Jarismar Gonçalves de Melo que nos disponibilizou as suas lembranças que compõem a essência do texto. Registramos a importante colaboração de Diana Ribeiro, Federalina Quaresma, Francisco Farias, Hegildo Holanda, José Ribeiro, Josenira Holanda, Magna Gonçalves e Mércia Gonçalves. Este texto será complementado pela memória das pessoas que tiveram vivência no contexto dos engenhos e que queiram compartilha-las conosco. Este material está em constante ampliação e o blog está aberto a qualquer pessoa que quiser participar da construção da memória de Ipaumirim. Diferentes olhares só vão enriquecer o conjunto. A nossa proposta não é ser uma vitrine laudatória mas abrir espaços para que as pessoas possam contribuir com a memória do município. 
MLUIZA e JARISMAR GONÇALVES. Foto de Magna Gonçalves


“Do sertão sempre recordo,
Com sordade marvada
Dum ingem de pau moeno,
Com sua guela ingasgada,
Num cangote da boiada.
..
Bem cedo, madrugadinha,
O aboio do tangedô;
Atrepado na manjarra,
Vai inté o sol se pô,
E aquele cantá bonito,
Atravessano o infinito
Inté no céu tem valô.
..
Ingém veio trabaiano
Cum curage, soluçano,
Musga bonit cantano,
Alegre, porém sardosa
Os boi, coitado, sofreno
As três moendas troceno
Cum muita força ispremeno
Cana fita e cana rosa.
...
Cuma tu, ingem de pau,
Eu também vivo moeno
As canas do sefimento
As socas da disvintura.
Qui só dá pranto e disgosto
E faz correr no meu rosto
A garapa da amargura.
...
Meu ingem veio manhoso!
Esse teu cantá penoso
Gemeno quando tu mói,
Fazendo corrê na bica
Garapa que tu constrói
Eu cumparo a minha vida
Qui também canta sentida
E faz correr isprimida,
Água sargada dos óios.
...
Tu, no teu tacho freveno,
Faz o mé, a rapadura
O arfinim, a batida
E muitas outas doçura.
...
Dessa grande diferença
Já todo mundo deu fé:
Eu só faço pranto e dó
E tu, seja cumo fô
Faz rapadura e faz mé
...
Mas nem pur isso ismoreço,
Vou assim inté a morte
Cada um disbuia a sina
Qui li distinou a sorte
...
Pode sê qui argum dia
Deus qui é bom, num é mau,
Dissavessando minha vida
Faça dela um ingem de pau
...
Pra mode muê vintura
Prazeê e tranquilidade
Essa cana abençoada
De ‘Sítio Filicidade’,
Pra dssa garapa assim
Prepara munto arfinim,
In forma de coração,
Pra mode eu dá de presente
A essas crasses decente
As muié do meu sertão.
(Otacilio Pereira de Carvalho in FIGUEIREDO Filho, José de. Engenhos de rapadura do cariri. 2010 pp. 48-49)


Não existem dados precisos de como as primeiras sementes de cana chegaram na região do Cariri, se elas teriam vindo através de Pernambuco com uma tradição canavieira desde Duarte Coelho e de longa tradição comercial com o sul do Ceará ou do Recôncavo Baiano pelas correntes migratórias vinda da Bahia ainda no processo de colonização e povoamento da região. Não se sabe precisamente quando mas existem, entretanto, informações concretas sobre a existência do plantio de cana no Cariri ainda no século XVIII.
“Muito antiga a lavra de cana de açúcar no vale caririense, contemporâneo, pode-se dizer, de seu descobrimento.
Em 8 de setembro de 1738 concedeu o Capitão-mór Domingos Simões Jardim a Francisco Pinto da Cruz registo de uma data de terras por êle compradas no Riacho dos Porcos, com ‘Engenho de Canas e mais Lavouras.” (PINHEIRO, Irineu, 2010, p. 37)
FIGUEREDO FILHO remete a João Brígido oferecendo mais detalhes sobre o tema informando que em 1765 já existiam no Cariri 37 engenhos que fabricavam mel e rapadura. Ainda segundo o autor, o Dicionário Geográfico Histórico e Descritivo do Ceará, 1939, registra mais de duzentos engenhos no município do Crato. Em 1858, funcionavam 72 engenhos na região de Barbalha.
A cultura de cana no Ceará começa com a cana crioula que vem da Ilha da Madeira, em 1663, com Martim Afonso. Com ela produzia-se uma boa rapadura, mas o lucro não era compensador. Animais silvestres como a raposa e o guaxinim praticamente dizimaram as plantações.
Em 1810,  a cana crioula foi substituída pela cana Cayenna popularmente conhecida como Cana Caiana.  Dava uma boa rapadura, mas era muito susceptível às pragas.
Em 1894, a cana caiana, principal cana cultivada no Cariri, adoeceu de um mal na época não diagnosticado. Passou a ser importada, então, a cana rosa, a amarela de Java, a fita roxa, a fita amarela e a Bourbon que também foram acometidas da mesma moléstia. Chegaram então a cabocla, a roxa, a semente ou flor de Cuba.  A cana preta que durante um certo tempo chegou a dominar os canaviais do Cariri mas acabou sendo abandonada por conta da baixa qualidade da rapadura. 
Por volta de 1925, o mosaico dizimou o canavial caririense. Quem salvou a crise canavieira na região foi a cana P.O.J. introduzida na região através do Campo de Sementes da Cana de Açúcar no Cariri, em Barbalha e distribuída entre os plantadores em 1934. As principais variedades P.O.J. que se adaptaram na região foram as de número 2714 e 2878. (História do cariri III, p. 110)
A variedade 2714 tinha um formidável rendimento bruto e resistência às moléstias. A variedade 2878 era bastante resistência às moléstias e um alto teor de sacarose.
“Essas sementes da P.O.J. vieram da Estação Experimental de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, para o Campo das Sementes de Cereais e Legominosas de Guaiúba, no Ceará. Isso, por não haver ainda, na época da importação, área preparada para recebe-las no Campo de Barbalha. Transplantaram-se as sementes daquela localidade para o Cariri, em 1934” (PINHEIRO, Irineu, op. cit. P. 58)
Em 1859, quando a Comissão Científica de Exploração passa por Lavras faz o seguinte registro: “Lavras, à margem do rio Salgado, no caminho para o Crato, era uma vila pequena e tristonha, com duas escolas primárias e uma igreja sob a invocação de S. Vicente Férrer. No município, em 1858, havia 44 engenhos de madeira a fabricar açúcar e rapadura.” BRAGA, Renato apud MACEDO, Joarivar. São Vicente de Lavras, 1984, p. 104.
É importante observar que os engenhos de rapadura representaram uma das principais atividades agrícolas de Lavras da Mangabeira que chegou a ter, nos meados do século XX, cerca de 115 engenhos atualmente desativados. Existia, portanto, no contexto desta região uma tradição de cana movimentando a economia rural embora fosse menos expressiva que a cultura do algodão.
O que nos interessa, no momento, não é a discussão sobre a propriedade de terras em tempos tão remotos mas registrar que esta área, independente do seu pertencimento, estava integrada ao contexto canavieiro de Lavras. É a partir da criação do município de Ipaumirim que poderemos recortá-lo como polo de cultura de cana do nosso município.
Jarismar Gonçalves traz-nos informações precisas sobre este processo.
“A cultura da cana de açúcar na região do Sítio Velho, atual Distrito de Canauna,  começou logo depois da seca de 1915. Assim acredito porque meu pai, Alexandre Gonçalves da Silva, me contava que o seu pai, Manuel Antônio Alexandre Gonçalves, faleceu muito novo, em 1915. Ele e os irmãos foram trabalhar no engenho do seu tio, Miguel Alexandre Gonçalves, no Sítio Uma de Gato, sendo esse o primeiro engenho daquela localidade. À princípio, plantavam a cana caiana por ser a mais doce e produzir resultando uma rapadura mais gostosa, no entanto, de pouco rendimento. Por esse motivo, passaram para a cana piojota que existia nas variedades preta e roxa  de maior produtividade” (Jarismar Gonçalves, em depoimento)
Existem registros de engenhos de rapaduras na região de Ipaumirim desde o século XIX  mas as terras lindeiras do Sítio Velho com as terras da Unha de Gato, foram efetivamente o núcleo centralizador da cultura de cana do município e concentraram um expressivo polo de produção de rapadura embora outros polos menores e engenhos dispersos houvessem no  município.
Quando da definição do território do Distrito de Canauna  terras onde funcionavam outros engenhos foram referenciadas  dentro da área do distrito embora nesta época os velhos engenhos já não existissem, tais como Sítio Umburana e Sítio São Pedro.
Para melhor compreensão da sua distribuição dividimos esses engenhos em três grupos.
No primeiro grupo estão os engenhos identificados por Jarismar Gonçalves que ficam no perímetro original do circuito  Unha de Gato/Barra/Sítio Velho. Enumeramos pelo proprietário, localização e algumas informações que facilitem o reconhecimento pelo leitor.
    1. Miguel Alexandre Gonçalves, Sítio Unha de Gato, proprietário de um dos primeiros engenhos da região da Unha de Gato. Casado com sua sobrinha Maria Rosa Saraiva de Araújo. Instalou-se posteriormente no município de Umari onde veio a falecer.
2.            Antônio Alexandre Gonçalves, Sítio Unha de Gato. Nascido em 1878, seu engenho foi um dos primeiros da região movido a bois. Vale registar que Antônio Alexandre teve dois engenhos. Além do engenho do Sítio Velho era também o dono de um engenho na Unha de Gato. Quando adquiriu parte do Sítio Velho instalou no local esse engenho que ora registramos. O seu antigo engenho na Unha de Gato ficou para os filhos Luiz Antônio Gonçalves e Manu Gonçalves. Foi vereador pelo município de Umari. Faleceu em setembro de 1954.
3.            Luiz Antônio Gonçalves, Sítio Unha de Gato (tinha dois engenhos. Vide as informações sobre seu pai, Antônio Alexandre Gonçalves). Casado com sua prima Mariri, filha de Miguel Alexandre
4.            Alexandre Gonçalves de Almeida, Sítio Unha de Gato. Filho de Maria Francisca do Espírito Santo e Vicente Duarte de Almeida. Casado com Alzira Nogueira de Almeida (Nenê).
5.            Manuel Alexandre Gonçalves (Senhor Alexandre), Sítio Unha de Gato. Casado com Dona Elvira, pais Nice e Nilton.
6.            Higino Diniz, Sítio Cacimba do Meio. Nasceu no município de São Bento na Paraiba e, 1916. Chegou a Ipaumirim na década de 40 casou com Maria Gonçalves Diniz, primeira mulher eleita vereadora no municpio de Ipaumirim. Vereador, foi presidente da Cãmara em várias legislaturas. Faleceu em março de 2001. (Bezerra, Hermes Pereira, Ipaumirim 60 anos. 2013. Pp 216-217)
7.            Florêncio Gonçalves Torquato, Sítio Barra, posteriormente adquirido por Jarismar Gonçalves de Melo que o modernizou. Este engenho pertenceu a Laurentina Maria da Conceição, nos anos 30, e ficou para Florêncio que era casado com uma de suas netas.
7)           Manoel Gonçalves de Almeida (Nelo), Sítio Barra. Casado com Louzinha.
8)           Antônio Gonçalves da Silva, Sítio Barra. Casado com Dona Iaiá Torquato, foi candidato a vice-prefeito de Ipaumirim na chapa de Jerônimo Jorge na eleição de 1967 perdendo para Jose Fernandes de Sousa e Chagas Sarmento.
9)           José de Melo e Silva, Sítio Velho. Líder do Sitio Velho que se transformou posteriormente em Distrito de Canauna.(Vide post referentes a fundação do Distrito de Canauna)
No segundo grupo estão os engenhos informados pelo pesquisador Hegildo Holanda que compartilhou conosco dados da sua pesquisa. Os engenhos deste grupo referem-se aos engenhos existentes na década de 30. São engenhos que ainda não havíamos identificados em nossa pesquisa original. Tentamos complementar suas informações através de várias fontes. São eles:
10)         Gabriel Alves Santana, Sítio Barra. Gabriel consta como um dos proprietários do Sitio Barra/Unha de Gato no Recenseamento de 1920. O outro proprietário da Barra registrado, neste recenseamento, chamava-se Antônio Ângelo de Mello que era marido de Laurentina Maria da Conceição que tem um outro engenho registrado em seu nome.  Não temos informação se este engenho foi desativado ou vendido.
11)         Raimundo Correia Lima, Sítio Caititu. No recenseamento de 1920, esta propriedade está registrada em nome de Pedro Antônio Crispim. Posteriormente, teve como dono Honório Crispim, provavelmente seu herdeiro. Jarismar Gonçalves informa que este que seria um dos mais antigos da região  movido a caldeira.
12)         Maria Esperança da Conceição, Sítio Serrote Redondo.  Até o momento, não temos mais informações sobre esse engenho. No Recenseamento de 1920,  não consta seu nome como proprietária de terras.
13)         Vicente Ferreira de Souza, Sítio Zé Vieira. Vicente Ferreira de Sousa foi eleito vereador em Baixio nas eleições de 1954 e, depois, nos pleitos de 1958, 1962, 1966. Em 1970 fica como suplente e seu nome não mais aparece nos resultados eleitorais do TER-CE. 
14)         José Ferreira de Sousa, Serrote Redondo. No Recenseamento de 1920, já consta seu nome como um dos donos das terras do Serrote Redondo.
15)         Antônio Sabino de Menezes, Sítio Cacimbão. No Recenseamento de 1920, ele consta como um dos donos das terras do Sítio Cacimbão.
16)         Laurentina Maria da Conceição, Sítio Barra. No Recenseamento de 1920, consta o nome de seu esposo, Antônio Ângelo de Mello, como um dos proprietários das terras do Sítio Barra. Nascida em 1862 e falecida em 1955, Laurentina doou o espaço e trabalhou para a construção da capela da Barra ainda no século XIX. O seu engenho ficou com Florêncio Gonçalves Torquato.
17)         José Josué da Costa, Sitio Novo.
18)         Hercolino Gonçalves, Sítio Minador. Casado com Maria Pires Rolim, não deixou filhos naturais mas teve vários filhos adotivos inclusive sobrinhos. Maria era sobrinha da terceira esposa de Félix Antônio Duarte, Josefa Rolim de Albuquerque. No Recenseamento de 1920, Hercolino consta como um dos proprietários das terras do Sítio Olho d’água.
19)         Vicente Germano dos Santos, Sítio Umburanas. estava localizado entre a casa de Luiz Mariano, atual proprietário do sítio, e o açude. Segundo Jarismar Gonçalves, Vicente Germano acabou com o engenho porque a rapadura produzida era preta e não tinha comercialização apesar de suas terras de cana serem muito boas. Com a criação do Distrito de Canauna, o Sitio Umburana ficou referenciado na área do distrito.
20)          Matias Duarte Passos, Sítio Melão. Paraibano, nasceu em 1861 e faleceu em em 1925. Casado em segundas núpcias com Angelina Guedes Rolim (Dosanjo) deixou vários filhos do primeiro e segundo casamento. Entre eles, Chico Rolim que iniciou sua vida de aprendiz de comerciante no pequeno comércio de Alagoinha. Posteriormente, foi prefeito de Cajazeiras e deputado federal pelo Estado da Paraíba. No Recenseamento de 1920, Matias encontra-se como um dos proprietários das terras do Sitio Melão.
21)         José Saraiva de Araújo, Sítio Capoeira Grande. No Recenseamento de 1920 está registrado como um dos donos das terras do Sítio Capoeira Grande. Jarismar Gonçalves, este engenho teve seu maquinário vendido a Antônio Gonçalves (Toinho Gonçalves) e Manuel Gonçalves de Almeida (Nelo) que o instalaram no Sitio Barra.  José Saraiva de Araújo foi candidato a prefeito pela Arena 2 no pleito de 1970 mas perdeu a eleição para José Fernandes de Sousa (Nildo Fernandes) , da Arena 1.
22)         Félix Antônio Duarte, Sítio Olho d’água. Natural do Sitio Melão,  Félix Antônio comprou as terras do Sitio Olho d’água pertencentes a Antonio Sucupira Cândido. Foi casado três vezes.  O primeiro casamento com Maria José de Lima (Cotinha), natural de São José de Lavras, atual Distrito de Mangabeira. Uma das filhas do casal, Joana Maria de Lima, Dondon, casou com Vicente Felizardo Vieira, filho único de Bento Vieira e Joana Nunes Vieira que dão origem a família Vieira do Distrito de Felizardo.  Do segundo casamento, com Vitalina, não teve filhos. Do terceiro com Josefa Rolim de Albuquerque, sobrinha de Padre Inácio Rolim, de Cajazeiras, nasceram dois filhos:  José Nonato Rolim e Joaquim Félix Rolim. Félix Antonio foi vereador por Umari em 1884 na Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira, em 1883 e faleceu por volta de 1900. (Em família pp. 15-18)
23)         Antônio do Monte Pereira, Sitio Cajazeirinha. No Recenseamento de 1920, Antônio consta como um dos donos das terras do sítio Cajazeirinha.
24)         José Félix de Morais, Sítio Serrote Redondo. Não encontramos o registro do seu nome no Recenseamento de 1920.
25)         Luis Ferreira Viana, Sítio Torto. Não identificamos no Recensemaneto de 1920 nenhum proprietário e ou sítio com estes nomes. Entretanto o Sítio Torto existe no município de Ipaumirim.
No terceiro grupo estão os demais engenhos identificados ao longo do processo:
26)         Antônio Raimundo Holanda, Sítio Bananeira.
27)         Avelino Ribeiro Cisalpino, Sítio Serrote
28)         Cícero Victor dos Santos, Sítio Alto Santo
29)         Luiz Leite da Nóbrega, Sítio São Pedro. Nasceu em 1895 no sitio Panelas, em Lavras da Mangabeira. Chegou em Alagoinha em 1919. Casou com Maria Leite da Nóbrega, filha do Coronel Cazuza Santana e Ursulina Leite, oriundos de São José do Egito. Luiz Nóbrega foi agricultor,  líder político na região, prefeito de Baixio e exerceu alguns cargos públicos federais. Católico fervoroso, construiu com ajuda de amigos e da comunidade da pequena cidade  a capelinha de São Sebastião no alto da pedra do mesmo nome criando condições para consolidação da romaria de São Sebastião no município de Ipaumirim. Nasceu em setembro de 1895, filho de Francisca Leite da Nóbrega, neta de Fideralina Augusto Lima,  e Jerônimo José da Nóbrega oriundo da região de Patos – PB. Faleceu em 02.11.1960.
30)         Raimundo Victor dos Santos, Sítio Novo.
Federalina Quaresma nos informa mais um engenho no Distrito de Felizardo:
31)         Benevenuto de Almeida Cavalcanti (Nutinho), Sítio Carnaubinha. Filho de Marica e neto de Félix Antonio Duarte, Nutinho foi casado com sua prima legítima Raimunda Vieira Cavalcanti (Mundinha), filha de Vicente Felizardo e Dondon, todos oriundos do Distrito de Felizardo. .
A maioria dos engenhos (14) concentra-se originalmente na região de Canaúna, sete estão na região da Bananeira e suas imediações, cinco no Distrito de Felizardo e os demais distribuídos por outros sítios.
É possível que outros engenhos tenham existido e não tenhamos registro até o momento, assim como alguns entre os que registramos podem ter passado por outros donos, anterior ou posteriormente.

OS ENGENHOS E SUAS NARRATIVAS
Os engenhos têm muitas narrativas e foram palco de muitos acontecimentos no seu cotidiano. Alguns deles dramáticos e outros curiosos.
O engenho da Cacimba do Meio, propriedade de Higino Diniz, pertencia originalmente a Vicente Gonçalves, também conhecido como Vicente de Sinhá,  casado com Dona Perpétua. Este casal migrou para o Crato porque o seu irmão, José do Abrão, casado com Dona Maria Nunes oriunda do município de Aurora, foi assassinado por um parente, João Gonçalves. A desavença foi ocasionada pela convergência de vários fatores (cachaça, imaturidade, infidelidades e intrigas familiares entre contraparentes) durante um samba realizado no Sítio Unha de Gato.  Desde os tempos imemoriais, a ousadia das mulheres transgressoras fazia estragos consideráveis.
Florêncio Gonçalves, dono de um engenho no Sítio Barra, do ramo da família Gonçalves do município de Aurora, porém do mesmo tronco familiar dos Gonçalves de Ipaumirim, foi assassinado porque queria fazer uma estrada passando pelas terras de canavial pertencentes a uma sobrinha de Dona Iaiá, esposa de Toinho Gonçalves.  O juiz da época, em Ipaumirim, Dr. José de Oliveira, mal informado sobre o assunto provavelmente por não conhecer os meandros do problema e as querelas familiares, conduziu de forma equivocada a questão que acabou no assassinato de Florêncio por um rapaz chamado Roseno, noivo de uma sobrinha de Dona Iaiá. Com o assassinato de Florêncio, a família migrou para Aurora. Durante algum tempo, Chico Germano arrendou o engenho de Florêncio. Posteriormente, Jarismar Gonçalves de Melo adquiriu a propriedade instalando um engenho mais moderno.
O engenho do Sítio São Pedro ficava nos fundos da casa grande. A chaminé era instalada exatamente no quintal da casa onde também ficavam dispostas compridas mesas cobertas de alvas toalhas. Sobre elas, as bacias de goma onde as mulheres distribuídas à sua volta passavam as mãos para facilitar o manuseio do alfenim. Ao lado da casa ficava o açude. Grande, bonito e convidativo para o banho. A casa ficava cheia de visitas em tempo de moagem. Certa vez, houve um burburinho no engenho quando os homens ficaram muito inquietos por conta de algumas moças que tomavam banho de maiô no açude ao lado. Foi preciso Luiz Nóbrega, meu avô, interferir e botar os homens para dentro do engenho porque a admiração masculina poderia comprometer o mel do dia. 
Quantas histórias têm esses engenhos para contar e que ainda seria possível recuperar?
As informações a seguir se referem ao funcionamento da economia da rapadura considerando a dinâmica das etapas de funcionamento dos engenhos de rapadura da região original do Distrito de Canauna desde o plantio até a comercialização.  

PLANTIO DA CANA
“As terras boas ou más, são o fundamento principal para ter hum engenho real e bom, ou máo rendimento. As que chamam massapês, terras negras, e fortes, são as mais excelentes para a planta da cana. Seguem-se atrás destas os salões, terra vermelha, capaz de poucos córtes; porque logo enfraquece.” (ANTONIL, André João apud. FIGUEIREDO FILHO, J. de Engenhos de rapadura do Cariri, 2010, p. 33)
As terras apropriadas para o plantio da cana para produção de rapadura eram terras de baixio normalmente escuras. As terras estrumadas eram ainda mais valorosas e, por conseguinte, mais caras.  De uma maneira geral, as terras da cana eram mais caras que as demais terras na região. Elas eram exclusivas para o cultivo da cana não havendo associação, portanto, com outras culturas.
É interessante observar que nem toda cana boa obrigatoriamente produz uma boa rapadura. É fundamental que haja uma relação entre a variedade da cana e o tipo de solo. Quanto mais compatível essas duas variáveis, maior a produção e melhor a rapadura. Em terreno bom e adequado, a produtividade alcançava uma média de 60 cargas por hectare. Uma carga de cana equivale a cem rapaduras.
A despesa com a cana era bem maior do que com outras culturas, mas o rendimento era bem maior inclusive do que o algodão.
A preparação do canavial compreende as fases de demarcação do terreno, preparação das covas, plantio propriamente dito, a capina (limpeza) e a colheita.
O plantio demandava a limpeza do terreno. As covas eram juntas, uma da outra, com profundidade de um palmo e meio. Durante todo o inverno era necessário manter a limpeza do terreno. Os tratos culturais não utilizavam agrotóxicos e/ou fertilizantes, o processo era basicamente natural. Na época da colheita o corte era feito manualmente com um cutelo na base da planta.
Não se considerava, na época, a questão do desgaste do solo. Na preparação do terreno queimava-se a palha seca na própria área plantada, procedimento este que contribuiria para maior fertilidade do solo. 
A partir da preparação inicial do solo eram praticadas sistematicamente as  ‘limpas’ conforme a necessidade. As pragas não eram muito comuns embora eventualmente se manifestasse a broca da  cana de açúcar (Diatraea saccharalis), considerada uma das principais pragas da cana de açúcar mas que também ataca outras gramíneas.  A broca nunca chegou a destruir totalmente os canaviais da região.
Eram necessários, pelo menos, 20 a 30 hectares apropriados ao cultivo da cana para mover um engenho de rapadura. A produção média por hectare era aproximadamente da ordem de 60 a 70 cargas de rapadura na região de Canauna.
Um engenho de pequeno porte na região do Cariri produzia cerca de 500 a 600 cargas de rapadura por safra plantada em área aproximada de 10 há de cana plantada.

O ENGENHO
O engenho normalmente se localizava perto da casa grande. A sua construção era simples utilizando o tijolo comum produzido na região. O conjunto do engenho não demandava técnicas especiais para sua construção. Apenas a fornalha exigia habilidade e experiência. O pedreiro Antônio Alves de Melo e os auxiliares Gelúbio Correia e Luiz Porfírio eram bastante conhecidos como conhecidos construtores de engenho.  
Jarismar Gonçalves conta-nos em detalhes o processamento artesanal de produção da rapadura nos engenhos da região.
“Os primeiros engenhos da região eram tangidos a boi, não existiam motores a óleo nem energia elétrica. A parte de cima do engenho tinha uma bolandeira, ou seja, uma grande roda acima das moendas de ferro sobre a qual existia uma manjarra, isto é, um pau parecido com uma linha de casa fixado na madeira da bolandeira para amarrar as duas juntas de boi com o fim de fazê-la rodar passando a cana entre as moendas. Cabia ao tangedor de boi açoitar os animais para que eles caminhassem mais rápido e movimentasse com mais rapidez as moendas onde o tranqueiro colocava o feixe de cana de onde saia a garapa por um cano diretamente para um tanque grande de cimento ou ferro conhecido como parol. Na parte baixa do prédio, os caldeireiros, pouco a pouco, iam alimentando as caldeiras através de um cano chamado bica. O tangedor de boi, com um ferrão e um relho, atiçava os animais para acelerar a  velocidade e manter o ritmo do processo” (Jarismar Gonçalves)
No período das moagens, de julho a dezembro, um engenho funcionava diariamente com oito cortadores de cana, oito cambiteiros que transportavam a cana em burros.
Na parte superior do engenho trabalhavam dois tombadores, um tronqueiro que colocava a cana entre as moendas e um bagaceiro. Vale salientar que existiam dois tipos de bagaceiros: o bagaceiro verde que passava a cana nas moendas e o bagaceiro seco que levava o bagaço da cana para fornalha onde seria queimado junto com a lenha. O bagaceiro seco trabalhava na parte baixa da edificação onde também trabalhavam dois ou três caldeireiros, um mestre de rapadura, um botador de fogo, dois caxiadores,  e o foguista responsável por manter o fogo aceso. Quando a garapa começava a esquentar, os caldeireiros iniciavam o trabalho de limpar a garapa com as passadeiras. A garapa ia passando para o tacho enquanto o mestre observava se o mel estaria apurado e limpo. O mestre de rapadura e um dos caldeireiros colocava um pau roliço nas azeias do tacho levando o mel para as gamelas. A partir daí começava o trabalho dos dois caxiadores que utilizavam um tipo de pás pequenas para mexer o mel até o mesmo endurecer e ser colocado nas caixas de rapadura. Depois de esfriadas, batem as caixas e levam a rapadura para o armazém onde são disponibilizadas para a comercialização.
A mão de obra que movia diretamente o processo de produção da rapadura num engenho rústico era exercida principalmente por homens que executavam funções específicas: cambiteiros, tombadores, tronqueiros, bagaceiro,  foguista, caldeireiros, caixeadores e mestre de rapadura sendo este fundamental em todo o processo.  


FUNÇÕES DOS TRABALHADORES NO PROCESSAMENTO ARTESANAL DA RAPADURA NUM ENGENHO RÚSTICO NO MUNICÍPIO DE IPAUMIRIM-CE
ADMINISTRADOR – administra o processo produtivo. Pode ser o dono do engenho ou alguém contratado.
BAGACEIRO SECO - Carrega o bagaço seco para alimentar o fogo na fornalha.
BAGACEIRO VERDE - Passa a cana nas moendas.
CAIXEADOR - Enforma a rapadura e transportavam para o armazém onde era vendida.
CALDEREIRO - Alimenta as caldeiras, limpa a garapa e transfere o mel para as gamelas.
CAMBITEIRO - Transporta a cana da roça para o engenho.
CORTADOR – Corta a cana.
FOGUISTA – Alimenta a fornalha.
MESTRE DE RAPADURA - Responsável pela qualidade da rapadura, supervisionava o processo de produção.
TANGEDOR DE BOI - Açoita os animais para aumentar a velocidade da moenda.
TOMBADOR - Tomba a cana junto do engenho.
TRONQUEIRO - Colocava o feixe de cana entre as moendas
Um engenho padrão, na região, funcionava com oito cortadores de cana, , oito cambiteiros , dois tombadores, um tronqueiro, um bagaceiro, , um bagaceiro seco, dois ou três caldeireiros, um foguista, dois caIxiadores e um mestre de rapadura.
O mestre de rapadura era o trabalhador mais importante na hierarquia dos engenhos. Era uma categoria de prestigio detentora de conhecimento especializado. Mantinha uma relação mais próxima ao dono do engenho e tinha autoridade sobre os demais trabalhadores. A função despertava a vontade e a ambição entre os que queriam alçar posições mais privilegiadas no âmbito do engenho.
No contexto da cana existiam duas formas de relações de trabalho: os moradores do próprio sítio e os contratados por temporada.
Os moradores geralmente trabalhavam no plantio, conservação da área plantada, corte e cambitagem. Durante a moagem este grupo ganhava uma diária superior à que ganhavam nas atividades rotineiras do sítio.
O mestre de rapadura, o caldeireiro, o caxiador e o foguista recebiam uma diária superior aos demais. Esta categoria podia absorver trabalhadores do próprio sítio e ainda outros externos sendo que, neste último caso, contratados por temporada, ou seja, por moagem.
Não existiam contratos formais de trabalho. Eram acertos informais entre o dono do engenho e os trabalhadores.  A remuneração centrada em diárias variava de acordo com a função. A diária compreendia todas as tarefas da função sem especificar atividades. Para a mesma função não havia diferença no valor pago ao trabalhador interno ou externo, ou seja, entre o morador e o não morador do sítio onde se localizava o engenho.
A jornada de trabalho começava entre três a quatro horas da manhã e finalizava as seis da tarde. O engenho trabalhava cerca de catorze a quinze horas de diárias. A parada para o almoço ocorria  por volta das 11 horas da manhã por um intervalo de mais ou menos uma hora. O ritmo do processo era trabalhar-comer- voltar ao trabalho.  No decorrer da jornada, eles podiam comer rapadura e chupar cana para matar a fome, mas não podiam interromper as atividades. 
A jornada dos cortadores e cambiteiros iniciava geralmente às quatro horas da manhã e terminava às quatro da tarde, quando abasteciam o engenho finalizava a jornada. O tronqueiro e o tombeiro também mantinham esse mesmo horário e a sua jornada terminava quando o tanque de garapa estava cheio.
Quando o trabalhador necessitava cuidar de suas lavouras precisava comunicar ao administrador do engenho e solicitar sua liberação com antecedência.
Geralmente o trabalhador/morador era de gente de confiança do dono do engenho, mas os trabalhadores de fora ocasionalmente provocavam algum problema no desvio das rapaduras.
Todas as atividades relacionadas com o engenho eram exclusivamente exercidas por homens. A participação feminina ocorria exclusivamente na produção do alfenim. Parte das mulheres eram moradoras do próprio sítio e outras eram de fora. Elas não recebiam diária, ganhavam por produção. Em alguns engenhos, a renda do alfenin era da esposa do dono do engenho.
A dinâmica do engenho comportava ainda contratos de parceria que podiam acontecer basicamente sob duas condições:
a.    O meeiro plantava a cana em sua própria terra e usava o engenho para processá-la. O dono do engenho assumia as despesas de processamento.   A produção de rapadura era dividida igualmente entre os dois parceiros.
b.    O trabalhador cultivava sua cana na terra do proprietário do engenho. Neste caso, a divisão da produção de rapadura era realizada da seguinte maneira: em cada três cargas de rapadura, o dono do engenho ficava com duas e o trabalhador com uma.

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
 O engenho gerava quatro produtos a partir da cana. Em ordem de importância: a rapadura, principal produto, seguida do mel, da batida, alfenim e o melaço. Uma carga de rapadura equivale a 100 rapaduras que poderiam pesar de 800 gramas q 1kg e o preço variava de acordo com o peso.
O mel era vendido por litro. Existiam diversos tamanhos de barril que transportavam o mel.
Na produção da batida, o tempero era diferente da rapadura. Feita com o mel do último tacho, ela é batida com uma pá e recebe canela, cravo e erva doce.
Na produção do alfenim deixava-se o mel esfriar e puxava-se com a mão até ficar alvo.
A rapadura e o mel também são bastante utilizados na gastronomia regional nas cocadas, chouriço, como adoçante para coalhada, consumida com farinha, com queijo entre outras iguarias.
O melaço, subproduto do processamento da cana, popularmente conhecido como tiborna era utilizado na alimentação do gado. 
A rapadura produzida na área de Canaúna era vendida principalmente para o mercado local, para o Rio Grande do Norte, na região de Pau dos Ferros,  e  para a região de Jaguaribe – CE. O alfenin, a batida  e o mel eram vendidos para o Estado da Paraíba. O mercado da região jaguaribana estimulou a construção de vários engenhos.
Não havia venda antecipada da produção. O comprador só fechava o negócio conferindo a qualidade do produto e como a venda era em grande quantidade, por carrada, geralmente era solicitado um prazo maior para o pagamento.

MODERNIZAÇÃO DOS ENGENHOS
Os engenhos movidos a diesel foram instalados a partir dos anos 50. No início dos anos 60   José de Melo e Silva compra, em Recife, por intermédio do seu amigo Luiz Pinheiro Barbosa, novas máquinas a diesel  para mover o seu engenho.
Com a chegada eletrificação rural, em Lavras da Mangabeira, nos anos 70,  partir da eletrificação rural nos anos 70, Luiz Augusto Lima, proprietário de engenho naquele município, incentiva os seus vizinhos da região de Canauna  a utilizarem esta fonte de energia a partir de então disponível. O processo foi encaminhado  e os engenhos passaram a utilizar a energia elétrica. Os engenhos pioneiros nessa iniciativa foram o engenho de Antônio Gonçalves, o de Jarismar Gonçalves e o de Higino Diniz.
A modernização dos engenhos aumentou consideravelmente a produção diária de rapaduras e demandou um . redimensionamento das funções. O tangedor de boi foi extinto e o trabalhador passou a exercer outra função. Aumentou o número de caldeireiros e dos que mexiam o mel.
As rodovias melhoraram o acesso ampliando os mercados tanto nas zonas mais próximas quanto abrindo novas possibilidades ainda que num contexto bastante limitado sem condições de concorrer com grandes produtores da região do Cariri.
Uma carga de rapadura continha 100 unidades com peso médio entre 800gr a 01kg. O preço variava conforme o peso. O mel era vendido por litro.  


O OCASO DOS ENGENHOS
Entre outros, dois problemas consideráveis abalou o mercado de rapadura na região. A produção local era bastante espelhada no Cariri  que era muito mais arrojada, com maiores condições e mais capital. A produção local buscava entrar naquela região e adotava procedimentos similares na tentativa de ampliar seu mercado consumidor. Quando os engenhos do Cariri inseriram açúcar na rapadura para deixa-la numa tonalidade mais clara, os produtores locais tentaram aplicar a mudança na sua produção artesanal. Com a introdução do açúcar, a rapadura ficava mais clara porém mais dura e o consumidor não gostou da mudança provocando uma crise no mercado.
As alterações no produto para alcançar novos mercados como, por exemplo, a produção de rapadurinhas de açúcar de diversos sabores: leite, goiaba, etc. não surtiram o efeito esperado..
Entretanto, o principal problema da comercialização da rapadura foi a queda na produção do algodão, principal mercado consumidor do produto. Para o trabalhador rural,  a rapadura era um alimento por excelência utilizado nos seus hábitos alimentares  em casa e/ou no trabalho. Além do seu poder nutritivo, ela podia ser transportada facilmente, era fácil de armazenar e adequada para o uso individual.
Os engenhos foram, aos poucos, perdendo o vigor. Atualmente, na região, em dois engenhos, no Riacho do Rosário, município de Lavras de Mangabeira, ainda se produz rapadura de boa qualidade.
Alguns engenhos buscaram outras alternativas de sobrevivência através da produção de melaço para ser utilizado na alimentação do gado leiteiro presumindo-se que isto aumentaria a produção de leite.
Os resultados não tiveram o êxito esperado.
Outras questões, ainda,  podem ser consideradas a partir de uma perspectiva mais ampla de compreensão do problema da desvalorização da rapadura. Entre outros, a alteração da dieta alimentar com a introdução do açúcar refinado na alimentação contando para isso o acesso à mídia e, por conseguinte, a novas receitas culinárias e a publicidade como suporte. Os engenhos não conseguiram competir por total incapacidade de utilizar novas tecnologias de produção que impuseram novas dinâmicas ao mercado cada vez mais competitivo e cujo padrão de exigência demandavam altos investimentos e a capacitação de mão de obra.
Os donos de engenho diante de um cenário que não lhes favorecia foram perdendo a motivação e foram fechando aos poucos principalmente na década de 70.
Parte dos trabalhadores da cana foram convertidos em migrantes temporários que trabalham sazonalmente no corte de cana nas épocas de safra no interior de São Paulo.
Os antigos engenhos de rapadura transformaram-se em velhas construções que resistem apenas como testemunhas de um tempo.
Olhava eu o meu avô como se fosse ele o engenho. A grandeza da terra era a sua grandeza. Fixara-se em mim a certeza de que o mundo inteiro estava ali dentro. Não podia haver nada que não fosse do meu avô.” (Jose Lins do Rego. Meus verdes anos. Memória.)

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