QUERIDO DIÁRIO: GRACIAS A LA VIDA

MLUIZA

Terminando a semana com tudo - ou quase tudo - no lugar. Sempre há algo fora do lugar E isso é sempre fundamental. Fiz um monte de coisas planejadas e não planejadas,   comi tudo que não devia comer,  comprei plantinha, vaso de planta, balde, capacho, fiz agenda, paguei contas, perdi aula, reclamei do calor, me irritei com o plim-lim do celular, comi brocha num trânsito infernal com o ar condicionado do carro quebrado, escrevi um pouco, algumas coisas ficaram pela metade e ainda outras surgiram no meio do caminho. A despeito de agendas e cronogramas, andei, andei, andei....

Hoje, resolvi sair do ar pra relaxar um pouco.O celular é um inferno a mais na minha vida. Só não o desligo completamente o dia inteiro porque minha mãe mora longe e eu preciso estar atenta a alguma necessidade. Minha agenda é bem reduzida, mas bem que me perturba. E como!  Meu temperamento dado ao stress precisa de momentos de total desligamento.  Acho que todo mundo precisa.

Da minha mesa de trabalho vejo meus visitantes pajaritos comendo bananinhas que lhes deixo preparadas no pratinho. São luxentos, só  gostam de banana e mamão. Eles comem e sempre levam no bico um pedacinho não sei para onde nem para quem.  Essa liberdade me alegra. Há uma semana não vejo dois bebês ‘bem te vi’ que sempre passam por aqui. Todos eles gostam de comer bem cedinho, mas, hoje, não lhes fiz este agrado. Acordei devagar. Mesmo assim, eles compareceram no decorrer do dia. Não em bando como cedo das manhãs para tomar café comigo, mas, aos poucos, foram chegando. Gosto. "Isso me acalma, me acolhe a alma. Isso me ajuda a viver", como diz a música de Marisa Monte. 

A semana foi um tanto quanto pauleira, mas rendeu. Gosto de observar as coisas nos  meus rodopios por grandes lojas de variedades. Cada dia vejo mais novidades da mesma coisa.  Acredito que 99,99% dos produtos ofertados não têm a menor utilidade, pelo menos, para mim. Reinam os plásticos.  Um incêndio inesperado acaba uma loja dessas em meia hora. Desde que presenciei uma experiência de incêndio sempre penso na rapidez com que o fogo se espalha. Mesmo assim fico rodopiando pelas gôndolas. Sou rigorosa na minha lista. Definitivamente, eu não sou uma acumuladora embora já tenha comprado até bola de gude para massagear os pés e até hoje nunca o fiz. Acho que esse fim de semana vou experimentar. Uma amiga me ensinou um escalda pé com sal grosso numa bacia cheia de bolinhas de gude. Uma espécie de automassagem que não chega perto da reflexologia mas dá uma ajudinha. Principalmente se você borrifar aromatizadores de ambiente, acender uma velinha de alecrim e botar uma musiquinha relaxante.  O importante é acreditar e criar o clima. Óleos essenciais também valem. Eu ganhei laranja, alfazema e lavanda.

Graças a Deus, eu aprendi que há horas em que a racionalidade precisa sair de cena. É abrir as porteiras e deixar fluir. Ando até com vontade de mandar fazer um mapa astral muito embora ache que aos setenta anos eu dou um nó em qualquer astro que se meta a besta no meu caminho. Mesmo assim é bastante curioso. Tô pensando no caso.

Uma receitinha fundamental que eu te dou de graça e que ajuda bastante na saúde mental é evitar  pirar de vez com as noticias na mídia. É fundamental  ser sensível e solidário com a dor do outro, mas é preciso sobremaneira olhar à volta e ver o que se pode fazer por quem está perto. Não vale sofrer pela Ucrânia e não ver quem passa necessidade a dois metros de você. O desastre de Petrópolis já saiu da moda e nada mudou por lá. A África continua sem vacinas e ninguém fala nisso. A fome no Brasil avança e ninguém comenta. A indiferença para com a covid entre os que não se protegem e sacrificam os outros é um escândalo perverso.  Todas estas e outras tragédias com as quais convivemos e não vemos são um show de desumanidade. Todas elas matam talvez numa proporção maior que a própria guerra porque elas seguem diuturna e silenciosamente minando os territórios dos menos favorecidos. Você já viu algum figurão morrer no meio destas tragédias seja ela qual for? Ainda que morra um ou outro eventualmente é mero  acaso. A mídia passa indiferente sobre todas as tragédias reais. A título de notícias vale o show e só o show. A lógica que rege a mídia é a mesma seja para a guerra quanto para um reality tipo BBB. É disso que a gente precisa se salvar. Da nossa própria ignorância e indiferença. 

“E dando os trâmites por findo” pretendo finalizar a semana amolando alicates no mercado público do bairro. Tem algo mais interessante a fazer num sábado de carnaval sem carnaval?

Pra variar, devo começar a próxima semana refém de um encanador e de um marceneiro. Enfim, é a vida. Ainda que com máscara, mas sem carnaval.    Gracias a la vida.

MLUIZA

Recife, 25.02.2022

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