AKI PENSANDU: VIVER É UM PARTO ININTERRUPTO

MLUIZA

Até o momento, ainda não conheço parto sem gravidez. São múltiplas as técnicas de fertilização e diferentes os modelos de gestação não previstos na tradição secular. Quando falamos deste tema nos referimos ao prefácio do nascimento permeado de surpresas e desafios.. O  processo como popularmente conhecemos está submetido a três marcadores básicos: fecundação, gestação e nascimento, ou seja, começo, meio e fim numa compreensão periodizada em fases convencionalmente nomeadas. Sob regras tudo parece  fácil de entender.

Nascer muda tudo. A natureza desobriga o corpo materno da presença física do bebê ali protegido. Uma vez nascidos tentamos emplacar outras fases esquecendo que a partir do nascimento começamos a cumprir o nosso próprio estado de gravidez que nos acompanha ao longo da vida. Eternamente grávidos de nós mesmos vivemos também a experiência do parto ininterrupto. Nascemos, renascemos, nos abortamos algumas vezes e ressuscitamos outras tantas. De um jeito ou de outro, para melhor, para pior e/ou até mesmo para permanecer igual é preciso nascer de novo.  

Eu tenho curiosidade em conhecer o que sustenta o imaginário de pessoas cheias de certezas que vivem perseguidas pelas suas próprias convicções, gente que roteirizou a vida emparedando-a em manuais, lagartas que não vingaram. Gastaram energia vital para se proteger dos desafios, das lutas, do imponderável. Privaram-se do desaprender, dos riscos das mudanças, da adrenalina dos desafios, da riqueza da diversidade e do arrebatamento das lutas.  Nasceram uma só vez. A vida começou e terminou no mesmo lugar.

Eu sou das que preferem encarar os riscos da gravidez contínua e do parto ininterrupto. Vivo em constante trabalho de parto. Com dor, inclusive. Viver dói. E como!

MLUIZA

Recife

20.12.2021

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