ANOTAÇÕES SOBRE JOSÉ TELES.
(Dimas Macedo)
A poesia popular, em Lavras da Mangabeira,
constitui um dos mais expressivos atributos daquele município. Ainda no final
do século dezenove, Fausto Correia de Araújo Lima tornou-se alí uma voz
altissonante. Cantou com o célebre Romano do Teixeira, na Paraíba, e se fez
emissário do Padre Cícero Romão de Juazeiro, de quem era compadre, em vários
lugares do Nordeste, sendo arrolado por Leonardo Mota no livro que intitulou Os
Cantadores (Rio, Editora Castilho, 1921).
Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), natural do Sítio Calabaço, ergueu também a sua voz para além do município de Lavras e a fez extensiva a toda a região do Cariri. Trocou farpas e duelos em versos com o seu conterrâneo Cabral da Catingueira (Antônio Cabral de Alencar) e liderou uma plêiade de poetas da boemia lavrense de outrora, composta por nomes como Antônio Aranha (o grande poeta fescenino do Vale do Salgado), Elisa Correia Lima (filha de Fausto Correia), Otávio Aires de Menezes, João Favela de Macedo, Tota Bezerra (presença lavrense em grandes festivais de cantadores), Jesus Ramalho e Mundoca de Barba (um dos aboiadores de peso do sul do Ceará).
No tempo em que funcionou em Lavras o Botequim da Velha Chica, na praça da estação ferroviária, para ali convergiram os bardos lavrenses de então, pois tratava-se, no caso, “ do maior centro de poetas populares de todo o interior nordestino”, como registra, aliás, F. Monteiro Lima, em O Botequim da Velha Chica (Maceió, Imprensa Oficial de Alagoas, 1983). E menciona o autor os seus mais ilustres componentes: Napoleão Menezes, Ugolino do Sabugy, Sinfrônio Martins Pedro, Luiz Dantas Quezado, João Martins de Oliveira e Aderaldo Ferreira de Araújo ( o famoso Cego Aderaldo).
Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), natural do Sítio Calabaço, ergueu também a sua voz para além do município de Lavras e a fez extensiva a toda a região do Cariri. Trocou farpas e duelos em versos com o seu conterrâneo Cabral da Catingueira (Antônio Cabral de Alencar) e liderou uma plêiade de poetas da boemia lavrense de outrora, composta por nomes como Antônio Aranha (o grande poeta fescenino do Vale do Salgado), Elisa Correia Lima (filha de Fausto Correia), Otávio Aires de Menezes, João Favela de Macedo, Tota Bezerra (presença lavrense em grandes festivais de cantadores), Jesus Ramalho e Mundoca de Barba (um dos aboiadores de peso do sul do Ceará).
No tempo em que funcionou em Lavras o Botequim da Velha Chica, na praça da estação ferroviária, para ali convergiram os bardos lavrenses de então, pois tratava-se, no caso, “ do maior centro de poetas populares de todo o interior nordestino”, como registra, aliás, F. Monteiro Lima, em O Botequim da Velha Chica (Maceió, Imprensa Oficial de Alagoas, 1983). E menciona o autor os seus mais ilustres componentes: Napoleão Menezes, Ugolino do Sabugy, Sinfrônio Martins Pedro, Luiz Dantas Quezado, João Martins de Oliveira e Aderaldo Ferreira de Araújo ( o famoso Cego Aderaldo).
Resta-nos agora trazer à discussão a figura
singular do Cego Mangabeira, fundador do Instituto dos Cegos e orgulho máximo
do seu municipio de origem. Em Poetas Populares e Cantadores do Ceará, Alberto
Porfírio o eleva à condição de mestre e nos chama atenção para a sua poesia
muito original.
Chiquinho Bezerra Sampaio, como poucos, afinou a lira em Quitaiús, e, em Mangabeira, para não ir longe, eu cito Mundoca do Sapé e toda a pletora de poetas mapeados por Dias da Silva em Voz Verso e Viola em Mangabeira (Fortaleza, RDS Editora, 2003).
Chiquinho Bezerra Sampaio, como poucos, afinou a lira em Quitaiús, e, em Mangabeira, para não ir longe, eu cito Mundoca do Sapé e toda a pletora de poetas mapeados por Dias da Silva em Voz Verso e Viola em Mangabeira (Fortaleza, RDS Editora, 2003).
Mundoca de Barba Neto é contemporâneo de Vicente
Corrêa. Mas Vicente Corrêa, muito antes de Mundoca Neto, já tinha o estatuto
que lhe deu reconhecimento em todo município, fincando, no bairro do Além-Rio,
a sua residência acolhedora.
Ali recita de cór os poemas de Antônio Lobo de
Macedo (Lobo Manso), o seu mestre mais do que confesso e, bem assim, as trovas
e poemas populares do seu colega de ofício, Zito Lobo de Macedo, invocando, com
freqüência, o nome de José Lobo de Macedo (Joary), que patrocinou, em Lavras,
durante toda a sua vida, a verve sertaneja de muitos poetas do Nordeste.
Manoel Mendes Ferreira (Manuel Duda), natural de
Belo Jardim, Pernambuco, fixou-se em fazendas ao oeste da cidade de Lavras e
propagou o seu estro de poeta até o limite com a Paraíba e Ipaumirim. Trata-se
de aedo de fala requintada, cuja arte borbulha qual um sopro, fazendo-se ouvir
o seu gorjeio como se fosse um instrumento de rara percussão.
O autor deste livro, José Teles da Silva, o
considera um dos maiores poetas do sul do Ceará. E Pereira de Albuquerque, em O
Ridículo das Coisas (Fortaleza, Edição do Autor, 1990), o tem na conta de poeta
muito original.
Ficam aqui registrados, também, os poetas populares esquecidos, os autores de folhetos de cordel, os chamados poetas de bancada e os cantadores de viola, porque os eruditos e os outros tantos escritores do Salgado já foram relembrados e estudados até a exaustão.
Ficam aqui registrados, também, os poetas populares esquecidos, os autores de folhetos de cordel, os chamados poetas de bancada e os cantadores de viola, porque os eruditos e os outros tantos escritores do Salgado já foram relembrados e estudados até a exaustão.
José Teles da Silva ou Zé Teles, como é largamente
conhecido, tornou-se, com o tempo, o Príncipe dos Poetas Lavrenses, e não
somente o príncipe dos poetas populares da cidade de Lavras. Trata-se de
escultor do verso dos mais qualificados. É escritor que se louva e se lavra na
caneta, mas em tudo o que faz ou realiza é poeta popular de grande inspiração.
Nasceu na Fazenda Várzea Redonda, na margem direita
do Salgado, a 20 de outubro de 1938, em terras que já foram de Senhor Pereira e
de José Aleixo de Aquino, sendo filho de pais agricultores, aferrados ao
cultivo da terra, conhecidos por Silvério Teles da Silva e Maria Geraldina da
Silva.
Foi marcado, desde cedo, pela sinfonia dos bichos e
das plantas e por tudo que ia se fazendo poesia ao seu redor. Compreendeu,
assim, o seu destino de poeta e os apelos, também, da sua grande vocação.
Quando tinha cinco anos apenas, a família
transferiu-se para o Sítio Carnaúba, onde viveu os foguedos da infância e tomou
contato com as primeiras letras, na escola de José Maria Marinheiro, terminando
aí o seu segundo ano primário. O terceiro ano ele o fez com a Professora
Dasdores, encerrando, assim, o seu aprendizado oficial, diplomando-se
tão-somente na arte de escrever e contar.
Trabalhando na agricultura, mas sentindo a pulsação da verve de artista, se deixou levar pelo engenho da imaginação e da inteligência, logrando, muito cedo, o reconhecimento das suas qualidades no trato com a vida, por parte de Raimundo Augusto Lima, o maior político lavrense de então, que o convidou para o serviço burocrático das suas fazendas de criar. E com zelo e dedicação sempre redobrados, conquistou do coronel a confiança e admiração, tornando-se os dois muito próximos com o passar do tempo, a ponto de tecerem o equilíbrio de uma grande amizade.
Trabalhando na agricultura, mas sentindo a pulsação da verve de artista, se deixou levar pelo engenho da imaginação e da inteligência, logrando, muito cedo, o reconhecimento das suas qualidades no trato com a vida, por parte de Raimundo Augusto Lima, o maior político lavrense de então, que o convidou para o serviço burocrático das suas fazendas de criar. E com zelo e dedicação sempre redobrados, conquistou do coronel a confiança e admiração, tornando-se os dois muito próximos com o passar do tempo, a ponto de tecerem o equilíbrio de uma grande amizade.
Em 1960, casou-se com Maria Nunes da Silva e desse
enlace nasceram os seguintes rebentos: Maria Gorete Teles, Eva Maria Teles e
Adão Teles (gêmeos, mas falecido este último), José Teles da Silva Filho, Maria
do Socorro Teles, Ivo Teles da Silva e Euclides Teles Nunes, todos admiradores do
seu grande talento de poeta.
Amante carinhoso da sua terra de berço, despejou-se
o poeta José Teles pelas entranhas da cidade de Lavras. Contou a história do
seu povo e a memória da velha Princesa do Salgado, acompanhou a sua evolução e
a sua decadência e cantou com afã a rebeldia e a poluição do Rio que banha sua
terra, tornando-se assim o Fernando Pessoa da sua região.
Definir um marco para sua obra de poeta é algo que
já não se pode fazer com segurança, pois frutifica e aflora dos seus lábios (e
da sua pena) uma poesia que já nasce feita, porém pura, bela e espontânea como
todas as coisas sublimes do sertão.
Confessa, orgulhoso, que não aprendeu a técnica da poesia erudita, nem a sua métrica, nem a sua erudição. São fluentes e jorram como fontes as visões profundas da sua solução poemática, porque os versos, em José Teles, se fazem repentinos e agudos e se vão, em dilúvio, transformando em cordas musicais.
Gosta de cultivar a arte da paródia, de improvisar o sopro do repente e sabe compor hinos e canções, ora de linguagem mística, ora de apelo político e social.
Esse augusto menestrel do Vale do Salgado é, em sua terra, a expressão mais viva da cultura popular. Inúmeros são os folhetos de cordel que publicou e desde o ano de 2008 se tornou um dos poucos imortais da Academia Lavrense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 27, que tem como patrono Cabral da Catingueira.
É devoto fervoroso de Jesus e do padroeiro da Igreja de Lavras, São Vicente Ferrer. Gosta também de conversar e as suas histórias fabulosas são elaboradas com o tecido dos causos que se contam.
Confessa, orgulhoso, que não aprendeu a técnica da poesia erudita, nem a sua métrica, nem a sua erudição. São fluentes e jorram como fontes as visões profundas da sua solução poemática, porque os versos, em José Teles, se fazem repentinos e agudos e se vão, em dilúvio, transformando em cordas musicais.
Gosta de cultivar a arte da paródia, de improvisar o sopro do repente e sabe compor hinos e canções, ora de linguagem mística, ora de apelo político e social.
Esse augusto menestrel do Vale do Salgado é, em sua terra, a expressão mais viva da cultura popular. Inúmeros são os folhetos de cordel que publicou e desde o ano de 2008 se tornou um dos poucos imortais da Academia Lavrense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 27, que tem como patrono Cabral da Catingueira.
É devoto fervoroso de Jesus e do padroeiro da Igreja de Lavras, São Vicente Ferrer. Gosta também de conversar e as suas histórias fabulosas são elaboradas com o tecido dos causos que se contam.
Ir a Lavras e não conhecer José Teles é como ir a
Roma e não visitar o Vaticano. Não é apenas o Príncipe dos Poetas Lavrenses: é
o papa da cultura popular em sua terra e o seu mais respeitado corifeu.
Dele guardo a amizade e a atenção com que sempre me
distingue. Sou admirador da sua musa e amigo da sua família, por igual.
Quando vou a Lavras, é uma das primeiras pessoas que procuro. E sempre encontro José Teles com uma boa história pra contar. Alegro-me com seu jeito de ser. Para mim, o poeta José Teles é um mestre na arte de dizer, pois é doutor em tudo o que produz.
Quando vou a Lavras, é uma das primeiras pessoas que procuro. E sempre encontro José Teles com uma boa história pra contar. Alegro-me com seu jeito de ser. Para mim, o poeta José Teles é um mestre na arte de dizer, pois é doutor em tudo o que produz.
Sonhos de um Poeta (Lavras da Mangabeira, 2009), o
seu livro de estreia, reúne o essencial da sua produção. Tive o prazer de
trabalhar no projeto da sua poesia reunida, ao lado de Eva Teles, a filha que
talvez mais o admira. E constitui uma honra para mim poder assinar este
prefácio, feito assim em profusão de falas que não querem parar.
Viva, pois, a Capital do Vale do Salgado! Viva o
Poeta José Teles! E vivas sejam dadas, por igual, às remansosas águas do
Salgado e ao Padroeiro da Cidade de Lavras, São Vicente Ferrer.
Fortaleza, inverno de 2009
Fonte: http://www.lavrasce.net.br/
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