ANOTAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO DE ALIMENTOS EM IPAUMIRIM

MLUIZA
As feiras existem desde a Antiguidade. Caracterizando-se como um mercado de trocas elas representaram o estágio inicial de uma aglomeração humana em função da atividade comercial. Na transição entre a idade média e a idade moderna ela se renova e se fortalece em função das da construção de cidades, do aparecimento de um excedente de produtos rurais e ainda do próprio avanço do processo civilizador. O avanço da atividade comercial amplia a divisão social do trabalho.
No contexto da América Latina, a origem da feira pode ser compreendida a partir de duas situações específicas: países que já tinham praças de mercado anterior a chegada dos colonizadores e países, como o Brasil, que só a conheceram com a chegada dos portugueses que já conheciam estas atividades desde muito antes do descobrimento do Brasil. Antes desta época existia entre nós um tipo de comércio intertribal para trocas de produtos relacionados aos enfeites corporais uma vez que não se produziam excedentes na economia de subsistência que tinha como único objetivo a satisfação das necessidades básicas.
 A primeira referência ao estabelecimento de uma feira no Brasil data de mediados do século XVI e embora não se conheça precisamente o local onde se instalou presume- se que teria sido na capital.
Entre os séculos XVII e XIX quando da disseminação do comércio de gado e a intensificação da atividade criatória responsável pelo processo de ocupação no interior do Nordeste, já são comuns as famosas feiras de gado bovino e de farinha na Bahia, Paraíba, Ceará, Pernambuco e Sergipe. São essas feiras que vão dar origem ao que ainda hoje se compreende como feira livre.
As antigas feiras interioranas transformavam a dinâmica das cidades. Em nosso caso, ela era o local preferencial do encontro entre o minúsculo núcleo urbano e a zona rural. A rigor, não havia uma divisão clara entre a vida urbana e a vida rural desde que esses dois pretensos mundo eram absolutamente simbióticos.   A feira representava um grande espaço de trocas comerciais, simbólicas e sociais. No momento deste encontro, a minúscula comunidade assume centralidade e importância no contexto da vizinhança mais próxima. 

O COMÉRCIO DE ALIMENTOS NA FEIRA DE IPAUMIRIM 
 

Aos domingos, a nossa feira reunia não só os habitantes do distrito/município mas agregava visitantes da região. Os habitantes da zona rural e dos municípios à volta estavam reunidos naquele dia, em Ipaumirim. Para vender, para comprar, para rever amigos, para se divertir, para compartilhar. Moradores do campo e da cidade estavam ali. Eu lembro, por exemplo, com muita clareza não só de pessoas que vinham em bloco da área rural, mas gente, por exemplo, de Baixio, Umari, Santa Helena, Cajazeiras, Crato, Juazeiro, Aurora, Lavras, São Francisco, Ouro Branco, e de pequenas vilas, ainda menores do que nós, como Felizardo, Pio X, Cazumbá, Ouro Branco, Bom Jesus, Pio X, entre outros.
A feira também tinha uma importante função em relação ao comércio fixo de tecidos, remédios, mercearias, e ainda ao próprio mercado público com suas bancas comerciais estabelecidas na rotina comercial diária. Vindos a cavalo, jeep, mistos, caminhão, gaiola, camionetas e até mesmo a pé, todos chegavam lá. 

José Saraiva de Araújo tinha um caminhão que prestava serviços na feira de Ipaumirim. Fonte da Imagem: BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim, 60 anos.
A feira era uma festa semanal onde tudo se sabia e de tudo se via. Arrumados sobre rusticas bancas de madeiras, espalhados pelo chão ou através de ambulantes, produtos esperavam compradores e vendedores conquistavam fregueses.    O ato de compra e venda nunca se encerrava em si mesmo. Sempre tinha um acolhimento e uma prosa a mais. Onde os produtos eram absolutamente simples e similares, a exclusividade era o vendedor e não o produto à venda. O processo informal de interação desconhece a verticalidade. Sob o manto da cultura popular e embalados pela oralidade, todos se validam e se pertencem neste espaço comum. O violeiro, o propagandista, o vendedor, a criança, o freguês, o artista popular, o embolador, o cantador e quem mais chegar.  A familiaridade, a informalidade e a espontaneidade, juntas, dão leveza e movimento àquela dinâmica própria de transformar a rua em um outro lugar sem deixar de ser rua. Eis a mágica da feira.   
Geralmente, o proprietário do pequeno negócio assumia todas as etapas do trabalho, embora alguns tivessem seus ajudantes geralmente familiares.   Varrer, montar/desmontar a banca, distribuir os produtos, atender, vender, argumentar, conversar, cobrar, cuidar, fiscalizar, conhecer antigos fregueses, saber o gosto de cada um, conquistar novos fregueses eram funções peculiares ao feirante. Dominar o ritmo do tempo na divisão das múltiplas funções operadas simultaneamente demanda habilidade e senso de oportunidade para o sucesso do negócio.
Pelo que lembro, a  distribuição espacial da nossa feira era aleatória no que diz respeito a setorização de produtos. O que havia eram lugares certos de cada banca/vendedor no meio daquele emaranhado de bancas. . Eu não saberia dizer se haveria alguma norma a reger a essa distribuição espacial.  
No momento, não tenho informações de quando teria começado a feira de Alagoinha/Ipaumirim mas tenho dois registros precisos. J. Figueiredo no texto que publiquei anteriormente discorre sobre a existência da feira ainda na década de 20. Outra indicação é uma nota publicada no jornal O Estado de Minas (o recorte não tem data) falando sobre a alteração do dia da feira na década de 40 quando meu avô, Luiz Leite da Nóbrega, foi prefeito de Baixio ao qual pertencia o distrito de Alagoinha. A feira que originalmente acontecia na quinta-feira foi transferida para o domingo. Naturalmente, o feriado do domingo passou para a quinta-feira.
Nota do jornal O Estado de Minas. Sem data. Arquivo particular de Maria Luiza Nóbrega de Morais.
A feira que se expandia a partir do largo do Mercado Público onde atualmente se localiza a Praça São Sebastião. O mercado público foi construído pelo Coronel João Augusto Lima quando viveu em Alagoinha entre os anos 1919 a 1923. A feira era bem diversificada mas como nosso objetivo é o comércio de alimentos,  vamos nos deter ao que diz respeito ao nosso propósito. 

Mercado Público de Ipaumirim. Em destaque, a loja de João Augusto. Fonte da imagem: GONÇALVES, Rejane Augusto Monteiro. Umari, Baixio, Ipaumirim: subsídios para a história política.
Nas rústicas bancas instaladas a céu aberto e/ou sob um toldo improvisado vendia-se principalmente os excedentes da produção familiar bem como outros produtos vindos de praças mais próximas. Eram trazidos no lombo de animais, em jeeps e caminhões. Como a feira era no domingo e a feira de Cajazeiras era no sábado, alguns feirantes traziam de lá produtos que sobravam da feira no dia anterior.
Os cereais eram disponibilizados em  sacos ou acomodados em caixotes de madeira. Utilizava-se como suporte uma cuia ou um caneco geralmente de zinco para leva-los até a balança onde eram pesados. 
Imagem ilustrativa

 
Feira de Cajazeiras. Imagem ilustrativa de uma feira. Fonte da imagem: blog Cajazeiras de amor.
 
Imagem ilustrativa das antigas balanças utilizadas na feira.


Alguns marchantes vendiam carnes diretamente nas suas bancas. Os instrumentos de trabalho do marchante eram rudimentares: basicamente um cepo, um pequeno machado, facão e faca.  Boi, porco, ovelha, galinha eram as misturas vendidas na feira ou em pequenos açougues administrados pelo próprio dono que, geralmente, exercia todas as etapas do processo. A carne comprada era entregue ao freguês pendurada num improvisado barbante feito de uma haste de palha de coco.  Existiam vários marchantes da própria localidade. Eu lembro do Veio Custódio e Flavio Lucio lembra de Marcelino e Sebastião Alves. Mas existiam outros.

Vale registrar que durante o primeiro governo de Osvaldo Ademar Barbosa, eleito em 1954, foi construído um açougue onde atualmente funciona o CVT. Esse prédio deteriorou-se e foi derrubado na administração de Alexandre Gonçalves (1958-1962). Posteriormente, na gestão de Ademar (1967 – 1971) foi construída uma moderna infraestrutura para o abate e comércio de carnes: um matadouro localizado no triângulo com excelentes instalações e um açougue amplo na saída para a Vila São José onde atualmente funciona a Creche Alberto Moura. Estas duas edificações foram subutilizadas, rapidamente perderam a funcionalidade e se deterioraram.

Matadouro Municipal.  Fonte da imagem: blog alagoinha.ipaumirim.blogspot
Matadouro Municipal: curral de abate. Fonte da imagem: blog alagoinha.ipaumirim.blogspot

Matadouro Municipal: casa do zelador. Fonte da imagem: blog alagoinha.ipaumirim.blogspot


Na feira, vendia-se de um tudo. Arroz, feijão, milho, fava, farinha de mandioca, café em grão, farinha de trigo, batata doce, macaxeira, rapadura, batida, mel, açúcar, doces, café em grão, biscoitos, cocada, broa, beiju, pão de ló,  bolo, sequilho, mariola, goma, garapa, caldo de cana, algumas frutas consumidas na região, pirulitos, bichinhos feitos com açúcar, tijolo de buriti, caldo de cana, etc..  Que eu lembre, verdura, nesse tempo significava tomate, cebola, coentro e cebolinha. Posteriormente chegaria o picolé e o sorvete de raspa conservados em carrinhos e caixotes de madeira previamente preparados para manter a temperatura.  Os produtos vendidos eram de uso corrente na região fazendo parte dos saudáveis cardápios servidos no cotidiano.  A intensidade do inverno e a safra de algodão eram diretamente responsáveis pelo sucesso da feira.
A publicidade era ‘no grito’. Mesmo as velhas difusoras não concebiam o anuncio, a sua função era basicamente social e recreativa.
Os alimentos não eram vendidos apenas na feira. As bodegas, algumas delas tinham bancas na feira, eram responsáveis pelo abastecimento diário da comunidade. Sempre apareciam vendedores ambulantes ofertando produtos alimentícios de produção própria pelas ruas da cidade.
As padarias davam conta dos biscoitos rústicos, do pão aguado, pão sovado e pão recife. Nos seus fornos eram assadas galinhas, bolos e perus principalmente em época de festas num tempo em que os fornos utilizados eram quase que exclusivamente artesanais e não davam conta da demanda. Haviam poucas padarias distribuídas pelo centro da cidade. Lembro particularmente da padaria de Doca Moreira que ficava na Rua Coronel Gustavo Lima, vizinha a casa de Antônio Ribeiro e onde atualmente funciona as Casas Alves.
Doca Moreira
BODEGAS & BODEGUEIROS

Sem precisar o tempo em que existiram, mais ou menos pelos anos desde os anos 20 aos anos 70, o comercio de alimentos nas bodegas, associados a outros produtos rústicos, existiam pelas ruas da cidade. Conseguimos identificar antigos bodegueiros:  Isidro Nery, Chico Olívio, Cícero Bento/José Gonçalves Lima, Cícero Soares, Jesuíno Barbosa, Odilon Nery, Sebasto Barbosa, Seu Bidu, Donato Crispim, Deusdedit  Dias/Valderez, João Pereira, Antonio Oliveira, Nenen Mouquinho, Zomeiro Josué, Severino Alves Santana (Severino Dudu), Otacílio Josué, Raimundo de Celi, Seu Chicô,, João Alves, entre outros. Suas bodegas vendiam cereais mas também comercializavam cesto, balaio, corda, tamanco, fumo, chifre de boi, peneira, mel, rapadura , tamborete, ferro velho, entre outros itens. Depois, algumas bodegas se ampliaram e tomaram a feição de armazéns. Com estoque ampliado, infraestrutura mais robusta, sortimento mais diversificado e vendas no atacado.  Que eu lembre agora, os armazéns de José Alves de Oliveira e Cirilo Serra eram desse estilo. 
Cícero Bento
Odilon Nery
Zomeiro Josué
João Alves de Oliveira.Fonte da Imagem: BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim, 60 anos.
Otacilio Josué. Fonte da Imagem: BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim, 60 anos.

Severino Alves Santana. Fonte da Imagem: BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim, 60 anos.
José Gonçalves de Lima. Fonte da imagem: Arquivo Blandina Henrique.

A visão comercial de José Alves de Oliveira introduz uma dinâmica comercial mais ousada que se aproximava de um modelo rudimentar de franchising. Digamos, assim,  um franchising caboclo. O armazém de Zé Alves abastecia as bodegas das pequenas cidades próximas e também as da zona rural estabelecendo um tipo de relação comercial vinculada entre o fornecedor e o pequeno comerciante embora não existisse, naturalmente, uma marca a exibir. Era uma relação de negócios focada no compromisso informal entre as partes . Lembro desse modelo aplicado na segunda metade dos anos 60 e anos 70. 
 
José Alves de Oliveira. Fonte da imagem: Arquivo Zenira Gonçalves Gomes.
José Henrique Silva (Josa de Nair) Trabalhou muitos anos no armazém de Zé Alves. Fonte da imagem: arquivo particular de Socorro de Nair.

A diversificação dos estoques dos armazéns atacadistas e de algumas bodegas, a partir dos anos 60, já incluía produtos industrializados.  Entre outros produtos, lembro precisamente do kitut, da salsicha vendidos em latas bem como da azeitona.  Também já tinham sido introduzidos nos doces o leite condensado e o creme de leite. Os doces em calda ou e corte também já circulavam no comércio local compartilhando espaço com os caixõezinhos de madeira que vendiam doce de banana, caju e mariola.  
Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa.
Doce em calda. Imagem ilustrativa.
Goiabada em lata. Imagem ilustrativa.

Entre os resumidos petiscos, o trio queijo de coalho/salsicha e azeitona no palito, conhecido popularmente, era um tira-gosto moderno para uma comunidade acostumada a acompanhar sua cerveja com galinha/peru assado, pasteis e sonhos fritos no óleo que ainda hoje resistem competindo com coxinhas, empadas e afins.
 

Sacanagem
 Na década de 60, a comunidade começa a conviver com a proposta de uma cozinha mais elaborada a partir dos cursos de arte culinária ministrados por Líbia Paiva Nóbrega. Ao frequentar Campina Grande, ela tinha familiares residentes por lá,  Líbia assimila novas receitas e repassa para a culinária local. São introduzidos assim outros ingredientes ao tradicional repertório das receitas locais.

 O acesso ao fogão a gás facilitou bastante a vida nas cozinhas embora ainda fosse de uso restrito na década de 60.  A sua popularização facilitou bastante a lida nas cozinhas permitindo produzir pratos mais elaborados com menos dificuldades. Convivi diretamente com essa mudança porque, na época, meu pai era distribuidor exclusivo de gás butano.
Maria Líbia Paiva Nóbrega. Fonte da imagem: Arquivo particular de Terezinha Paiva Nóbrega.

 Precisamos considerar algumas questões a partir principalmente dos anos 70. A melhoria das estradas facilitou os deslocamento amiudando as relações com as cidades mais adiantadas e ainda entre  os migrantes e seus locais de origem.  O contato com as novidades de uma maneira geral foi bastante ampliado e a experiência gustativa em relação a novas receitas começa a se incorporar nos hábitos alimentares.  A energia elétrica instalada no Governo de Ademar Barbosa (1967-1971) traz junto o acesso a TV, embora com uma péssima imagem, a possibilidade de adquirir geladeiras que até então movidas a querosene era restrito e custoso. 
Entramos definitivamente em outra fase: exposição do usuário diante da TV, publicidade direta, introdução de eletrodomésticos, novos produtos no mercado da alimentação, novas receitas, novos cardápios.
O dinâmico comércio de Cajazeiras amplia sua clientela e dinamiza o seu comércio com a venda a prazo de eletrodomésticos. As boas estradas encurtam os percursos trazendo as novidades diretamente dos centros produtores sem passar necessariamente pelas praças intermediárias e barateando os preços. 
Os cadernos de receitas de Maria Líbia com anotações manuscritas, nos anos 80,  registram a popularização de produtos industrializados na culinária local. Essas receitas não eram de uso rotineiro em nossas cozinhas, mas eram bastante comuns e frequentemente utilizadas em sobremesas, pratos, doces e salgados em ocasiões especiais.
 
Caderno de receitas de Maria Líbia Paiva Nóbrega. Anos 80. Arquivo Terezinha Paiva Nóbrega



No processo de modernização do comércio de alimentos, eu consideraria a etapa seguinte como a etapa dos mercantis. Lembro particularmente, sem precisar a data inicial, do Mercantil de Gerôncio Jorge que resiste até hoje.  O mercantil traz um avanço em alguns aspectos. Com a implantação do autosserviço, o antigo balcão é abolido e rompe, portanto, a linha divisória entre o freguês e o produto. Assim sendo, a função do vendedor passa a ser opcional. O alimento passa a ser disponibilizado em gôndolas e a venda de cereais acondicionados, por quilo, em embalagens plásticas. Intensifica-se a disponibilização de produtos industrializados.
O sortimento abriga outros itens que anteriormente eram vendidos basicamente em mercearias dedicadas às miudezas em geral tais como lápis, cadernos, canetas, pratos, talheres, entre outros artigos desta natureza. 
Gerôncio Jorge
SÉCULO XXI 


O século XXI introduz duas novidades fundamentais que vão alterar o perfil do consumo e dos estabelecimentos dedicados à venda de alimentos. O acesso à informação introduz novidades: a exposição sistemática da cidade e região às estratégias de publicidade através de impressos, do rádio e do alto-falante móvel.  Outra alteração significativa é a introdução de verduras e frutas alterando os tradicionais hábitos alimentares.  Tornam-se comuns as barracas e as quitandas que disponibilizam esses produtos inclusive popularizando novos produtos até então pouco conhecidos e/ou utilizados.  Ainda que não tenham aportado uma variedade expressiva de opções, este tipo de comércio se consolidou. Desponta, portanto, um outro rearranjo na gastronomia local proveniente da descoberta do conceito de alimentação de qualidade. E se antes partimos da nossa alimentação absolutamente natural e ingressamos no mundo dos alimentos processados e do fast food o novo rearranjo consolida a culinária local na categoria de exótica e compõe uma dieta compartilhada entre os produtos industrialmente processados e os produtos naturais carregados de agrotóxicos.
Na ausência de açougues, pequenos frigoríficos familiares vão se instalando substituindo em outros tempos a velha banca de carne do marchante. Já se observa a preocupação com a higiene em alguns estabelecimentos embora o corte da carne ainda não corresponda às demandas do século XXI.
A instalação de um moderno supermercado com a lógica comercial e gerencial desse tipo de empreendimento incorpora e agrega o mercantil, a feira de hortifrúti, a mercearia, a bodega, a padaria, a lanchonete e o açougue. Configura-se assim a presença efetiva do capital alterando o frágil equilíbrio do pequeno comércio local. Com melhores condições de negociar preços, instalações confortáveis e gestão moderna, o supermercado utiliza bastante a propaganda para dinamizar o empreendimento. As formas de pagamento modernizam-se incorporando o cartão de crédito. Altera-se o conceito de freguês para cliente e a relação que se estabelece a partir de então é diferente da tradicional até então utilizada no comércio local.

 Os pequenos negócios deslocam-se para as periferias e os que resistem orbitam sem condições de concorrer dentro deste padrão. Há uma alteração no perfil do emprego que exige uma profissionalização mais exigente em relação ao perfil do empregado. Assim sendo, a mão de obra menos qualificada que antes trabalhava num contexto improvisado tem dificuldade de se integrar ao mercado de trabalho.   
A nova fase que ora entramos traz os produtos integrais que já estão sendo introduzidos ainda que timidamente nas gôndolas.  Paralelo a isso, a gourmetização, divulgada nos programas de TV e na internet, debuta no imaginário gastronômico de IP.  Por enquanto, é uma fase que está apenas começando. 


BIBLIOGRAFIA

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BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim 60 anos: fatos e fotos Alagoinha/Ipaumirim. Ipaumirim, Ed. Do autor 2013. 329p.
FIGUEIREDO FILHO, José de. Boticário de aldeia. In: ___. Meu mundo é uma farmácia. Fortaleza: UFC/Casa de José de Alencar/Programa Editorias, 1996. Pp. 95-106.
Galdino Dantas, Geovany Pachelly, FEIRAS NO NORDESTE. Mercator - Revista de Geografia da UFC 2008,: Disponivel em: :<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273620629009> 
GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Umari, Baixio, Ipaumirim: subsídios para a história política. Fortaleza, Ed. do autor. S.d. 179p.
MINNNAERT, Ana Cláudia S. Teles. A feira livre sob um olhar etnográfico. In: . In: FREITAS, MCS., FONTES, GAV., and OLIVEIRA, N., orgs. Escritas e narrativas sobre alimentação e cultura. [online]. Salvador: EDUFBA, 2008. 422 p.  Disponivel em: http://books.scielo.org/id/9q/pdf/freitas-9788523209148-08.pdf
VIEIRA, Rute. Dinâmicas da feira livre do município de Taperoá/PB. Paraíba, DEGEOC/UFPB, 2004. Disponivel em: <http://www.cibergeo.org/agbnacional/VICBG-2004/Eixo1/e1_024.htm>.

NOTA DE AGRADECIMENTO 

Agradeço a todos e todas que contribuíram com informações para produção deste material. Particularmente, a Flávio Lúcio Bezerra de Oliveira, Terezinha Paiva e Naylê Nery. 

MLUIZA
RECIFE
12.11.2018

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