Para quem gosta e tem paciência com os números, o
site do TSE é um passeio e tanto. As informações E os quadros que apresenta
trazem as eleições traduzidas em números. São dados quantitativos que compõem
um painel muito interessante para explorar. Como todo dado quantitativo, é uma
fonte inesgotável de questionamentos para quem se interessa pelo que existe ou
existiu além dos dados computados.
A curiosidade me atiçou a rever os dados das
eleições de 2004 e, de uma certa maneira, também a vontade de melhor
compreender os movimentos e as contradições do processo eleitoral no contexto
de IP. Comecei observando o registro individual dos candidatos e o valor máximo
de gastos declarados por cada um. As informações estão no alagoinha.ipaumirim mas
pode-se encontra-las no site do TSE (http://www.tse.gov.br/internet/eleicoes/divulg_cand.htm).
Enquanto
isso no andar de baixo...
Pelos dados apresentados - o resto é em off e nós
nunca vamos saber - a campanha política de 2004, em IP, teria custado cerca de
R$ 646.331,00, considerando apenas o valor máximo declarado. Distribuindo
percentualmente pelas coligações, fica explícita a força do poder econômico
numa campanha eleitoral que passa longe de ideologias e programas de partido.
Se não foi gasto este valor, o que sobra compõe as sobras de campanha e deve
aparecer na contabilidade interna dos partidos e aí é outra conversa. Somando
este total com os gastos da operacionalização do processo eleitoral, aí a coisa
vai para estratosfera. O eleitor nunca sabe realmente o que acontece, mas o
duro é que ele é quem paga a conta. Não dá para não exigir uma correta
prestação de contas ao credor.
Pergunta que não quer calar é: de onde sai e por
onde vem esse dinheiro gasto nas campanhas? Pelas ONG’s, fundações, cuecas,
maletas e muitos outros caminhos que só Deus sabe até que um dia estouram no
cotidiano da mídia.
Quantas perguntas ficam sem respostas? É bom pensar
nelas antes de fazer a sua escolha. Mas, sobretudo é bom pensar por que faltam
remédios nos hospitais, qualidade no ensino, política de segurança e um rosário
de coisas que o poder público nos deve.
E os partidos? O aluguel de legendas é uma resenha,
como dizem os pernambucanos.
O PAN, em 2004, apresenta sete candidatos a
vereador, recebe 7, 937% dos votos válidos e desaparece em 2008. Dois
remanescentes reaparecem como candidatos a vereador pelo PTB e pelo PT.
O PT que tinha um candidato a vereador em 2004
reaparece em 2008 com um candidato a prefeito que, em 2004, era do PFL, eleito
vice-prefeito pela coligação PL/PFL/PAN/PSDB, antagonistas históricos do PT. De
brinde, apresenta 04 candidatos a vereador, um deles remanescente do PAN.
O PPS que lançou candidato a prefeito e mais três a
vereador, conseguiu 1,775 % dos votos no pleito de 2004, evapora em 2008. Junto
com ele some também o PL que com uma única candidata recebe 4,192% dos votos em
2004
O PTB recebe, em 2004, 7, 698% dos votos com três
candidatos a vereador. Em 2008, apresenta cinco candidatos que não participaram
do pleito anterior e mais uma candidata remanescente do desaparecido PAN. Uma
das suas candidatas a vereadora em 2004 é candidata a vice-prefeita em 2008.
O PMDB, no pleito anterior, tinha 04 candidatos a
vereador e recebeu 18,201% dos votos. Em 2008, três permanecem no partido como
candidatos a reeleição, e mais seis candidatos são agregados. Incorpora também
uma candidatura a prefeito remanescente do PSDC.
O PDT que teve candidato a prefeito e mais três a
vereador em 2004, apresenta, em 2008, dois candidatos a vereador sendo um deles
seu candidato a prefeito, sem coligação, no pleito anterior.
O PSDB, estrela da campanha de 2004, cuja soma do
valor máximo de gastos declarados compreende quase 60% do total declarado para
o conjunto do pleito, recebe 43,742 % dos votos, com 14 candidatos a vereador e
um a prefeito. Em 2008, apresenta apenas seis candidatos a vereador, sendo que
cinco são candidatos à reeleição. O seu candidato a prefeito cuja campanha
parece entrar no ocaso sem passar pela aurora, direciona-se para apoiar a chapa
do PT.
O PSDC, em 2004, apresentou seis candidatos a
vereador e recebeu 14,113% dos votos. Em 2008, apresenta apenas uma candidata.
Surge o PR que apresenta uma candidata a
vice-prefeita e dois a vereador sendo um deles remanescente do PL.
Entendeu
o samba do crioulo doido?
Depois
dessa dança das cabeças, eu me pergunto: quem move as peças do xadrez político
em Ipaumirim? Será que mudou alguma coisa?
O interessante mesmo seria a interpretação dessas
migrações, às vezes, incompreensíveis e coligações ideologicamente
tresloucadas. O que move a política de IP? A ideologia? Com certeza, não. Os
interesses legítimos do município? Uma proposta coerente com um programa bem
fundamentado? O oportunismo de sempre? Atendo-se exclusivamente aos dados
quantitativos você não chega às motivações que regem as alianças. Apenas pode
perceber que o balaio das trocas está bem movimentado no escambo eleitoral.
Outra curiosidade que eu não saberia dizer se é uma tendência porque vi apenas candidatos de 2004 e 2008, é a ocupação dos candidatos, que permitiria alguma inferência em torno dos seus interesses mais próximos.
Outra curiosidade que eu não saberia dizer se é uma tendência porque vi apenas candidatos de 2004 e 2008, é a ocupação dos candidatos, que permitiria alguma inferência em torno dos seus interesses mais próximos.
No pleito de 2004, o Estado do Ceará, teve o mais
alto percentual de participação de candidatos entre agricultores (16.761 %) e
comerciantes (13.431%). EM IP, a maioria de candidatos declarados são
agricultores, seguido da categoria dos servidores públicos incluindo
professores.
Em 2008, ‘agricultor’ continua como a categoria
mais expressiva, seguida de comerciantes e servidores públicos incluindo
professores.
Observa-se entretanto uma diversificação das
categorias onde aquelas mais identificadas com o perfil urbano , em conjunto,
são mais representativas no total dos dados. Essa alteração é interessante
porque aponta para representações mais voltadas para as preocupações urbanas e
suas necessidades. O resultado das eleições vai mostrar as preferencias na
composição da Câmara Municipal. Os candidatos ao executivo embora tragam raízes
rurais apresentam um perfil prioritariamente urbano ainda que com todas as
idiossincrasias da mistura.
De 2004 para 2008, avançou sensivelmente o Grau de
Instrução. O Ensino Médico Completo e o Superior Completo passam a ser as
categorias mais expressivas em 2008. Em 2004, era Médio Completo a mais significativa
seguida de Fundamental Incompleto no mesmo patamar do Superior Completo.
Agora em agosto deve acontecer a primeira parcial
da prestação de contas. Não sei se o TSE seguindo uma política de transparência
vai divulgar pela internet. Seria bom se isso acontecesse. Aguardemos.
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 03.08.2008
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