MLUIZA |
Durante um tempo Jarismar Gonçalves e eu tivemos longas conversas organizando sua biografia que infelizmente não foi finalizada conforme nossos planos devido ao seu falecimento inesperado. Nos nossos encontros sempre havia intervalos para conversas amenas que nos divertiam bastante porque tratávamos de gente conhecida vivendo num Ipaumirim bem diferente do que é hoje. Uma cidade simples e acolhedora onde pessoas amistosas se conheciam e se respeitavam.
Uma vez contou-me que seu tio, Chico de Melo, quando foi nomeado delegado ninguém acreditava. Ele insistia para se fazer convincente.
- Homem, acredite. Eu juro por Deus que eu sou o delegado.
Chico era uma pessoa muito querida. De tipo franzino, baixinho, era um sujeito amável no trato e muito conversador. Gostava de política e chegou a ser eleito vereador. No período de campanha eleitoral ficava tão entusiasmado e envolvido na fuxicada que confundia tanto os correligionários quanto os adversários. Toda conversa que ouvia fazia de conta que já sabia e passava adiante sem checar a informação nem a fonte e ainda usava a sua criatividade para acrescentar detalhes.
Chico acompanhava a UDN (partido dos coiotes e contra Arruda), era o único não arrudista da família Melo. Sebasto integrava o grupo dos arrudistas, conhecidos, na época, como chibungos. No racha da política, na campanha de 1966, Sebasto acompanhou Arruda. Os rompidos com Arruda passaram a ser chamados de Rebeldes. Neste grupo estavam Adolfo Augusto de Oliveira, Alexandre Gonçalves, Expedito Dantas, Jerônimo Jorge, Maria Nóbrega e família, José Alves de Oliveira, entre outros. Papai que era do grupo dos rebeldes queria traze-lo para o seu grupo. Sebasto, escorregadio, ficava naquela conversa mole de político, nem sim nem não quem sabe talvez.
-Estou ponderando, Vicente. Quando eu decidir venho avisar.
Até que um dia Sebasto entra na loja para dar sua resposta a papai.
- Vicente, eu não vou aderir porque Chico de Melo me contou umas estórias do seu partido que eu não gostei nada do que ouvi.
- Nem me conte o que Chico de Melo lhe contou, mas eu ainda quero propor uma coisa e depois você me dá sua resposta definitiva, disse-lhe papai.
- Diga aí para eu ver o que é, responde ele.
- Você mesmo invente uma estória que eu disse de você. Não diga a mim nem a ninguém o que você vai dizer para ninguém saber o que é. Pode ser qualquer coisa. Você tira a prova e depois me conta o resultado.
Dias depois Sebasto voltou à loja e relatou a papai o que tinha contado a Chico de Melo e o resultado da conversa.
- Vicente, depois que eu contei a estória inventada a Chico de Melo sabe o que ele me disse?
- Ôxe, Sebasto, você não sabia não? Ninguém nunca lhe contou? Pois há muuuuuito tempo que eu sei disso!
Os dois caíram numa boa gargalhada. Sebasto continuou sem aderir ao partido e continuaram os amigos de sempre.
MLUIZA
Recife, 11.01.2021
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