Zé Henrique que
aos 96 anos ainda guarda detalhes desta época compartilha generosamente conosco
as suas lembranças.
A temida e
respeitada seleção de Alagoinha, naqueles distantes anos da década de 1940
jogava num improvisado campo de futebol localizado detrás da antiga fábrica de
beneficiamento de algodão (caroço) do Sr. Luiz Barbosa, onde também já
funcionou um concorrido campo de vaquejadas. A fábrica era instalada na antiga
Rua do Sol, atualmente Rua Prefeito Alexandre Gonçalves, nas imediações da
atual praça Padre Cícero. O campo, atrás da fábrica, ficava entre o
antigo Beco de Custódio e a Rua das Flores.
O time contava
com os atletas Neném; Buziga e Jairim; Vicente, Zé Pinheiro e Evilázio; Vicente
Victor, Chico Santo, Jáder, Prato e Hilário.
Do elenco acima,
identificamos nove atletas, aqueles que são do município, ou vieram a ali
se estabelecer:
JOSÉ HENRIQUE SILVA: conhecido como NENÉM, carinhoso apelido familiar, pelo
qual ficou conhecido durante muito tempo na pequena localidade. Filho de
Cícero Bento e Dona Nena e casado com Dona Ivone Souza, o goleiro NENÉM, além
do selecionado de Ipaumirim, atuou, também, em diversas oportunidades, nas duas
equipes mais importantes de Cajazeiras-PB, o Clube Atlético Cajazeirense de
Desporto e o União Futebol Clube, tendo este último, por diretor, o Sr.
Eutrópio Cartaxo Sobreira, conhecido na década de 60 por ser o dono de um
cinema na cidade de Ipaumirim chamado Cine São Sebastião, situado próximo ao
antigo chafariz, num dos antigos armazéns da algodoeira de Luiz Barbosa nas
imediações da Praça Padre Cícero. Neste mesmo prédio funcionou o Cine Rex de
propriedade de Wilson Barros, também sobrinho do patriarca Barrim e irmão de
Jairo e Jáder Barros, que integraram a equipe futebolística de que ora
cuidamos. Wilson Barros foi casado com Jandira, sobrinha de Adolfo Augusto de
Oliveira. O Atlético
Cajazeirense de Desporto, conhecido como Trovão Azul do Sertão, foi fundado em
21.07.1948 sob o comando de Higino Pires Ferreira. O time foi fundado a partir da fusão
entre as equipes do Botafogo Futebol Clube, de Emi Maciel, e o clube Oratório
Festivo Salesiano, importante clube social da época. Este time representa uma
importante fase do futebol amador de Cajazeiras, que tem início com essa fusão
e vai até os fins dos anos 50. Nesta época, Zé Henrique, entre outras
atividades, atuava também como rábula na região e eventualmente, na
condição de convidado, jogou pela seleção de futebol de Cajazeiras.
BUZIGA:
Da vizinha cidade de Baixio, era o
único que não residia em Ipaumirim. Zagueiro de área pelo lado direito, foi um
jogador totalmente diferenciado, pois, atuando numa posição, onde, até hoje, é
comum a quem ali atua, na última linha de defesa, dar chutões para frente, ele
nunca usou desse expediente. Sempre dominava as situações de perigo em sua área
com uma incrível habilidade, com a bola no chão, nunca dando balões, saía
trocando passes tranquilamente, como se fora, na verdade, um clássico meia de
armação. Possuía ainda um enorme senso instintivo de colocação, estando sempre
no lugar correto de posicionamento, de onde cortava as tentativas de ataque do
adversário, e, ali mesmo, na zona próxima ao seu goleiro, já exibia sua enorme
categoria para fazer a bola chegar, redondinha, sempre no chão, aos pés de um
dos três jogadores de sua equipe que normalmente estavam posicionados para dar
continuidade às jogadas: Zé Pinheiro, Chico Santo e Vicente Victor. Centor
Victor, apesar de ponteiro, não tinha características de atacante agressivo
como, por exemplo, Hilário, seu companheiro de equipe que atuava pelo outro lado
do campo. Buziga acompanhou, em várias oportunidades, o goleiro Neném que o
solicitava quando requisitado para jogar em outras equipes da região.
JAIRIM:
Jairo Barros, era sobrinho de um
dos primeiros a chegar ao município, o lendário Barrim. Jairim era um zagueiro
seguro, discreto e bastante eficiente, com estilo de jogo que casava
perfeitamente com o clássico companheiro Buziga, formando uma dupla de
zagueiros afiada.
VICENTE
PIRES: filho de Joaquim
Pires e D. Belinha Lustosa. Trabalhando como fiscal do Estado do Ceará,
anos depois foi transferido para a cidade de Juazeiro do Norte. Dele,
lembra Zé Henrique ter sido um jogador com algumas limitações, porém dotado de
muita seriedade e aplicação na marcação dos ponteiros esquerdos adversários. Tinha
o hábito de ficar durante o jogo cochichando aos ouvidos desses,
invariavelmente, ameaçando-os quebrar-lhes as pernas caso tentassem alguma
graça por aquele lado do campo.
ZÉ PINHEIRO: Forasteiro, não se tem referência de
origem, ou destino. Jogava um pouco à frente da grande área, sempre com
muita eficiência e regularidade, demonstrando profundo conhecimento da sua
posição.
EVILÁZIO:
Primo de Jairim e Jáder, Evilázio
era o filho mais velho de Barrim. Era outro jogador de estilo simples,
discreto, que atuava sempre com produção regular, participando de forma
positiva para o desempenho coletivo da equipe.
VICENTE
VICTOR: filho de Cícero
Victor e Etelvina conhecido como Centor, foi casado com Dona Ivone Brasileiro,
filha do chefe político de Baixio, Cícero Henrique Brasileiro. Residiu por muito
tempo na Travessa 14 de dezembro na casa que antes dele pertenceu a Zé
Macedo e que hoje pertence aos herdeiros de Dr. Anchieta Nery.
Centor participava bastante do jogo coletivo da equipe, com ajuda permanente
ao setor de meio de campo.
CHICO SANTO: forasteiro, não se tem referência
sobre sua origem. Meia direita, o atleta era considerado um jogador
cerebral que recuava até a linha intermediária de seu próprio campo de forma
centralizada. Chico Santo, que fazia a armação de jogadas da equipe, era um
atleta de técnica refinada e elegância no estilo. De seus pés, partiam os
principais lançamentos para os gols dos atacantes.
JÁDER BARROS:
na época conhecido pelo
jocoso apelido de BERECA, vindo, com o passar dos tempos, a ser alterado
para BERECO. Jáder Barros, funcionário do Departamento de Expansão do Estado,
que tratava de estatísticas e demais controles da produção da cultura
algodoeira, era irmão de Jairim e primo de Evilázio, que, também, integravam a
equipe. O centerfour Jáder era o infatigável goleador da equipe. Não possuía
grande velocidade, nem um forte chute, o que facilita sobremaneira a quem se
propõe a atuar como homem de referência do ataque de um time de futebol.
Compensava, entretanto, com um inteligente posicionamento, que sempre o fazia
aparecer no espaço e no tempo certo para fazer o gol. Jáder sempre chegava à
frente em qualquer bola que sobrasse ali na zona de gol do adversário. Foi o
maior goleador da equipe, fazendo seus muitos gols sempre com chutes sem
potência, porém, colocados, fatais, tirando a bola com categoria do alcance dos
goleiros. A força de definição da equipe, no ataque, ficava por conta dos
atacantes Jáder, Prato e Hilário, que, à exceção de Jáder, sempre posicionado
próximo ao goleiro adversário, eram extremamente velozes, destemidos e
dribladores.
FRANCISCO DE
ASSIS FERREIRA conhecido
popularmente como PRATO DE BARRO, notável jogador da equipe local reconhecido
em toda a região. Atacante forte, com bastante velocidade, potente chute com os
dois pés, habilidoso para o drible e notável cabeceador, eram as
características desse jogador. Anos depois seria carinhosamente chamado
pelos antigos companheiros como Prato-Pelé. Edson Arantes do Nascimento,
Pelé, estreou no futebol em 1957. Prato era irmão de Altair e
Josa de Nair. Altair teve quatro filhos que foram notáveis jogadores
profissionais do Estado do Ceará: Nena, Bodó, Zenon e Geraldinho,
sendo este último, o atleta que maior número de gols marcou nos Estádios
Romeirão, em Juazeiro do Norte, e Castelão, em Fortaleza. Geraldino Saravá,
como ficou gravado nos anais do futebol cearense, é, também, o jogador que
marcou mais gols na gloriosa história do futebol profissional do Fortaleza
Esporte Clube.
HILÁRIO:
Filho de Custódio, que dá nome ao
tradicional Beco onde residia e mantinha seu comércio de carnes, ficou
conhecido por seus conterrâneos como LAURO DE CUSTÓDIO. Hilário
era o jogador de maior empatia com a torcida, tendo sido, na verdade, o grande
xodó da galera, aquele que levava a alegria pelos dribles desconcertantes nos
adversários, pela extraordinária velocidade com que conduzia a bola, sempre
muito aberto pelo lado esquerdo do campo onde tinha preferência de atuar, bem
próximo à marcação da linha lateral, buscando inteligentemente mais espaços
para fazer o que mais apreciava, entortar os beques deixando-os, muitas vezes,
estatelados no chão para delírio dos torcedores. Com dribles executados em alta
velocidade, era um ponteiro praticamente impossível de ser marcado pelas
defesas adversárias.
Na próxima etapa
da série vamos falar da geração seguinte de Ipaumirim que atuou não apenas no
município, mas nos campos da região, alguns deles profissionalizando-se em
times maior.
FRANCISCO FARIAS
FORTALEZA
26.08.2019
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