MLUIZA |
COMEÇANDO DO COMEÇO
Os primórdios do uso do café remontam a registros
referentes ao século XVI quando comerciantes sírios instalam, em Constantinopla,
dois salões para venda do café. Nestes locais as pessoas se reuniam para
conversar e jogar jogos de azar. Ainda neste século, o hábito dos cafés é
introduzido, pelos árabes, na Europa e, no século XVII, teria sido popularizado
em Viena. Também neste século o hábito dos cafés se instala em Paris
incorporando uma certa aura de requinte.
A partir do século XVIII, os cafés europeus
caracterizam-se como espaços de sociabilidade frequentados por indivíduos do sexo
masculino, principalmente oriundos da burguesia. Concentravam reuniões e
encontros entre notáveis da época: políticos, músicos, atores, intelectuais,
poetas, romancistas, estudantes, entre outros. As discussões, conspirações e
embates ali encetados contribuíam para a formação da opinião pública. Esses
espaços, ao longo do século XIX e XX, foram ainda um marco para a consolidação
do hábito de beber café em locais especializados onde os clientes eram bem
servidos.
Nas primeiras décadas do século XX, a vida passava
necessariamente pelos cafés enquanto símbolo de civilização e modernidade. A
partir dos anos 50, os cafés vão perdendo a sua importância enquanto espaço público
em função de uma mudança de estilo de vida da sociedade.
O hábito dos cafés também teve seus tempos de glória
no Brasil. Grandes cidades tiveram importantes e famosos cafés frequentados
principalmente por homens de classe social diferenciada.
A revitalização dos cafés nos últimos tempos, embora
continuem como espaços de sociabilidades, não reproduzem, entretanto, as mesmas
referências dos cafés de antigamente. São outros os tempos e outras as
motivações. Para atender o cliente do século XXI, a formalização dos cafés
enquanto espaço obedece a outros parâmetros associados a modelos de negócios
que articulam diferenciais que passam do café artesanal às franquias e se instalam
em diferentes lugares sozinhos e/ou compartilhando ambientes tais como espaços
culturais, livrarias, shoppings, etc.
Café do Comércio. Fortaleza, inicio do século XX (Fonte: fortalezaemfotos.com.br) |
De qualquer maneira, as cafeterias famosas,
tradicionais e/ou modernas, parecem manter uma característica recorrente; são
espaços privilegiados onde a frequência é exclusiva das classes mais
favorecidas. Isto não quer dizer que não existam outros espaços populares onde
as pessoas se reúnam para apreciar o café e se relacionar com seus pares. Quer
dizer apenas que a despeito da passagem do tempo as cafeterias continuam
segregadoras cultivando efetivamente filtros selecionadores de clientela,
explícitos ou não, similares aos que historicamente lhes proporcionaram a fama
de ambiente diferenciado.
IP NO MUNDO DOS CAFÉS
Os antigos cafés de Ipaumirim longe
estavam do requinte e da aura dos cafés das grandes cidades. Mas deles traziam
duas características: eram ambientes de encontros e primordialmente frequentados
pelo público masculino.
As instalações eram muito simples. O
mobiliário rústico condizente com as condições do lugar. Os copos
brilhantemente areados serviam a água fresca que vinha diretamente dos potes. Substituíam
a falta de restaurantes e eram
administrados basicamente por mulheres que transformaram sua
expertise doméstica num negócio. Elas cozinhavam, serviam e cobravam e
cuidavam da limpeza do local. Além do rude trabalho da roça, da lavagem de roupas,
do emprego doméstico e outras funções ocasionais, os cafés inauguraram e de
certa forma formalizaram, em IP, a entrada da mulher no mercado de trabalho
como geradora de rendas através de uma atividade rotineira e sistemática. É a
atividade comercial no setor de cafés,
portanto, que, neste município, registra e acolhe as primeiras iniciativas de empreendedorismo feminino.
Com
esta atividade, essas mulheres contribuem efetivamente para a renda familiar,
sustentam a casa, criam e educam seus filhos. Quase todos os cafés de Ipaumirim
foram administrados por mulheres. Com a ajuda de algumas entrevistas e
colaboração de amigos do FB conseguimos identificar os cafés a seguir
mencionados. Eles funcionaram durante o período dos anos 50 aos anos 70 mas eu
não tenho informações que digam com precisão quando eles iniciaram e/ou
finalizaram suas atividades. Eles todos não existiram ao mesmo tempo, uns
duraram mais, outros menos. Podem ter existidos antes dos anos 50 e posterior
aos anos 70 quando entram em declínio e
vão perdendo seu vigor. Sem nome fantasia e/ou razão social eles eram
conhecidos pelo nome de seus donos e/ou donas.
O
mais antigo café sobre o qual encontrei registro através de Zé Henrique, teria
sido o Café de Dona Joana situado no
prédio do Mercado Público mas não consegui mais informações sobre ele. A
maioria dos cafés abaixo mencionados eu os conheci e embora não fosse
frequentadora, vez por outra, eu passava por lá.
a.
Café de Dona Zefa Ribeiro e sua filha
Bernardina,
localizava-se na parte externa do Mercado Público do lado da antiga Rua do Sol, atual Rua Alexandre Gonçalves.
b.
Café de Dona Maria Ribeiro, também filha de Dona Zefa Ribeiro,vizinho ao café de sua mãe.
c.
Café de Nen Olímpio, funcionava na parte externa do Mercado Público do lado da antiga Rua da Sombra,
atual Rua Coronel Gustavo Lima.
Nen Olímpio (Fonte: blog alagoinha.ipaumirim) |
d.
Café de Chiquinha de João Leandro - funcionava na parte externa do Mercado Público do lado da antiga Rua da Sombra,
atual Rua Coronel Gustavo Lima. É possível que também tenha funcionado na sala
de sua residência na Rua Alexandre Gonçalves, defronte ao largo de igreja
matriz.
e.
Café de Dona Rosária – funcionava próximo ao mercado, entre
o largo da feira, atual Praça São Sebastião, e o cemitério Santa Terezinha. Atualmente, a pequena
via de apenas um quarteirão, chama-se Travessa José Dias Lima.
Dona Rosário (Fonte: imagem editada a partir da imagem original publicada no FB de Lucia Dore) |
f.
Café de Dona Otília Sobreira – funcionava na Travessa José Dias Lima defronte ao
café de D. Rosária.
g. Café de Dona Vicência Cassiano – funcionava na rua Alexandre
Gonçalves defronte ao largo da feira localizada na atual Praça São Sebastião.
h.
Café de Mecenas Ribeiro - conhecido como Café de Roquete – ficava no lado externo do Mercado Público defronte a atual Praça
São Sebastião.
i.
Café do
‘vei’ Custódio - funcionava no Beco do Custódio, atual Travessa José Ferreira Barros.
j.
Café de
Precida de Luiz de França – não sei onde ficava.
k.
Café de Edite Lopes- na Rua Miceno Alexandre. Edite fazia uma
linguiça como ninguém jamais foi capaz de imitar.
l. Café
de Hilda de Chico Maria – na
Praça São Sebastião onde atualmente funciona o comércio de Benigno Dantas (Boia)
m.
Café de Pedro Firme (Pedro da Luz) – funcionava na
antiga rua 14 de dezembro, atual Travessa José Macedo, na casa que faz esquina
com a rua Alexandre Gonçalves.
n.
Café de Maria de Afonso – funcionava na Praça Osvaldo Ademar
Barbosa, antiga Praça do Posto.
o.
Café de Dona Chicô de Vicente Piquili – funcionava na Rua Dr. Arruda,
defronte ao antigo Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires, depois Colégio
XI de Agosto e atual Colégio Dr. Jarismar Gonçalves. O café de D. Chicô acolhia
a estudantada.
p.
Café de Dona Cota
q.
Café de Dona Adalgisa de Zé Alexandre.
r.
Café de Dona Maria José
Devem
ter existido muitos outros, mas estes foram os que consegui coletar. Os cafés centrais funcionavam normalmente
durante a semana e, plenamente, nos dias
de feira. O cardápio muito simples constava de pratos da comida caseira que se
consumia na época. Os lanches eram constituídos basicamente de pão de ló, bolos
variados sem recheios e coberturas, doces, broas e cocadas. Alguns vendiam uma ‘bicadinha’
ou outra mas o forte era comida. As bebidas ficavam mesmo com os bares.
Conversando
comigo, Zé Henrique me conta um episódio que aconteceu no Café de Dona Maria
Ribeiro. Um determinado dia estavam proseando, neste café, Alberto Moura, João
Castelar, Padre José Ismar Petrola e o poeta popular Manoel Duda que apreciavam
o café de Dona Maria por ser servido muito quente e pelo cuidado que ela tinha de
também ferver a louça e a colherinha
antes de servi-lo. Na ocasião, entra um cego que esbarra em Manuel Duda e o deixa
banhado de café quente. Padre Petrola incita Manuel Duda a fazer o verso que
transcrevo a seguir:
“Valei-me Dona Maria
Mulher de Vicente Antônio
Aqui chegou um demônio
Santa Cruz! Ave Maria
É ele um cego sem guia
Além de cego demente
Vive peitando na gente
Com sua sorte mesquinha
Agora deixou Dudinha
Banhado de café quente. “
Pereira
de Albuquerque, no seu livro sobre Alberto Moura, faz um registro do Café de
Maria de Afonso pontuando sobre a frequência da sociedade local aos cafés da
época.
“
Num mês qualquer do ano de 1959, pouco
tempo depois da morte de meu pai, tive o primeiro contato com Alberto de Moura;
até então, eu jamais trocara com ele uma só palavras. Conhecia-o de vista, nas
circunstancias já descritas; quando muito podia ouvi-lo a pequena distância,
pontificando num banco de praça ou no café de Maria de Afonso, onde era comum
encontra-lo acompanhado de seus amigos. O café, como já sabemos, ficava na
Praça Ademar Barbosa, bem próximo da minha casa, que se erguia mais abaixo,
numa travessa, paredes meias com a de Zé Fernandes, outro dos muitos
adventícios apaixonados por Ipaumirim. Era bastante frequentado, porque, além
do cafezinho, também servia refeições a eventuais viajantes. Por isso, até às
vésperas de minha viagem para Lavras da Mangabeira, vivi sempre por ali, entre
o café e a pracinha, curtindo as dores da orfandade. ” (ALBUQUERQUE, PEREIRA. A arte lírica de Alberto Moura, Fortaleza,
2015. p. 53)
Mas nem só de cafés instalados vivia o comércio de lanches e
guloseimas. Balbina, famosa
como cozinheira de excelente tempero convidada a cozinhar para banquetes e
festas de casamento, andava pelo centro da cidade com suas garrafas vendendo
café e chá.
Balbina. ( Fonte: arquivo de Zenira Gonçalves Gomes). |
Vicentina vendia pela rua
suas famosas cocadas de coco com açúcar e/ou de coco com rapadura de
inesquecível sabor para quem delas provou.
Vicentina Marcolino (Arquivo Zenira Gonçalves Gomes) |
Para a criançada, principalmente nos dias de feira, sempre havia pirulitos, cachimbo de açúcar, quebra-queixo, a famosa raspadinha de gelo com xarope de vários sabores e, eventualmente, a grande novidade vinda de Cajazeiras: os carrinhos que vendiam picolé caseiro de frutas. A feira era uma festa de mangaio para o paladar infantil.
Também, na feira, algumas banquinhas vendiam
de tudo: café, bolo frito, broa, cocada, cavalo de goma, suspiro, pirulito e
rolete de cana.
Na porta do mercado, do lado da Praça São Sebastião,
Raimundo Paulo tinha uma engenhoca onde vendia caldo de cana. Nino de Maurde,
de prodigiosa memória, lembra que na parede junto da engenhoca tinha a pintura
de uma onça olhando para um limão. Ao lado da onça, tinha os seguintes dizeres:
“Deixe o limão aí. Senão a onça lhe come
e mesmo assim Raimundo Paulo não acha bom.”
Foi a solução encontrada por Raimundo Paulo para reclamar dos eventuais fregueses que
passavam e roubavam limão. A pintura era assinada por Zé Pintor.
Nos intervalos das festas realizadas no Clube Recreativo de
Ipaumirim era conhecida a sopa servida na casa de Tereza Ramos, filha de Manuel
sapateiro, popularmente conhecida como Tereza de Zé Saraiva. A moçada toda ia tomar a famosa sopa e a
algazarra era grande na pequena sala de jantar.
Clube Recreativo de Ipaumirim (Fonte: Blog de Cleidinha) |
A cidade também tinha serviço de marmita. Lembro particularmente da marmita de Creuza de Dona
Odete que tinha um delicioso gosto de
comida caseira.
Haviam casas que serviam comida a determinados fregueses que
habitualmente frequentavam Ipaumirim, como, por exemplo, o juiz da cidade.
Lembro, por exemplo, que Dr. Rui Amorim fazia refeições na casa de Delicia.
O hotel de Castro
Alves tinha um pequeno restaurante administrado por Dona Rosa Luna que até hoje
sobrevive sob a administração de sua filha Vanda Luna.
Vanda Luna (Fonte: ipfest.com) |
Com o passar do tempo e sob a pressão do marketing de alimentação as pequenas comunidades buscam
estratégias de adaptação a um novo padrão alimentar proposto e viabilizado pela sociedade de consumo. De
modo geral, estas informações chegam por imposição da mídia sendo a televisão, inicialmente, a
principal forma de divulgação dos novos hábitos. Mas, não se pode minimizar a
facilidade de locomoção entre os centros urbanos mais evoluídos e o interior e,
ainda, o suporte oferecido pela tecnologia da informação de fácil acesso na
disseminação de novos hábitos e costumes.
Algumas iniciativas são fundamentais para compreender a inserção da
comunidade no mundo da modernidade. A energia elétrica permitindo
a chegada da televisão, a construção das estradas federais, no nosso caso BR
116 e BR 230 com entroncamento no
Distrito de Felizardo, a ampliação da malha viária das
estradas estaduais e, enfim, o acesso à internet principalmente com a
disseminação do uso de celular promoveram a dinamização dos contatos entre as metrópoles
e as periferias ampliando acessos e permitindo uma inserção significativa na sociedade de consumo. Esse movimento ascendente, associado à
outras variáveis a ele relacionadas, promoveu de forma decisiva as alterações
no estilo de vida e nos costumes inclusive no que diz respeito aos hábitos
alimentares.
Em nosso caso, a migração de
retorno foi elemento fundamental para
a implantação de um novo modelo de alimentação. Os nossos migrantes
retornados nos trouxeram a expertise no manuseio das técnicas, o
conhecimento dos insumos e ainda dos modelos de negócios adquiridos na sua
experiência como trabalhadores no setor de alimentos nos grandes centros
urbanos. Nesse contexto, surgiram os primeiros carrinhos de hambúrguer e cheeseburger e, com ele, a popularização do alimento processado e rico em gorduras
saturadas, sódio e açúcar de alto valor calórico e pouco valor nutritivo.
É precisamente na década de 90 que surgem novas lanchonetes
com um cardápio mais moderno calcado nos moldes das grandes cidades. Esse novo
modelo de negócio é inaugurado por Ivanilton Augusto Josué que, em 1993,
implanta a primeira hamburgueria da cidade localizada na Praça São Sebastião. É
o Big Dog que funcionava num trailer na Praça São Sebastião. Ivanilton lembra que como a maioria dos clientes
não tinha intimidade com o cardápio, fazia-se necessário explicar o que
continha cada lanche disponível para consumo. O Big Dog representa o primeiro empreendimento
implantado pela migração de retorno no setor de alimentação que deu uma nova
feição ao serviço de lanches na cidade.
Ivanilton Augusto Josué |
BIG DOG - primeira hamburgueria de Ipaumirim localizada na atual Praça São Sebastião, antigo largo da feira. |
Depois do Big Dog vão-se instalando as pizzarias. A expansão
desse setor está vinculada a esses migrantes. Foram eles que dinamizaram e tiveram
a iniciativa de instalar na praça Osvaldo Ademar Barbosa, através de iniciativas individuais, uma praça de
alimentação e um polo de lazer na cidade.
Historicamente,
a praça pública é um dos elementos
marcantes na imagem das cidades. Praças são lugares de sociabilidades e lazer
cujo uso vai adquirindo significados cultivados e/ou desenvolvidos naturalmente pelos próprios grupos que interagem e se
sociabilizam neste espaço. Elas acabam associadas a uma ‘marca’ que pode ou não
ser alterada ao longo do tempo.
Originalmente,
a Praça Osvaldo Ademar Barbosa foi
popularmente conhecida como Praça do Posto por concentrar a frota de veículos
de frete de passageiros. Na ausência de uma rodoviária, era ponto de parada dos
transportes intermunicipais e interestaduais de passageiros. Esta seria,
digamos assim, a sua ‘marca’. À sua volta localizavam-se espaços de venda de
passagens, alguns pequenos negócios, bares (lembro agora do Bar de Manassés, e do bar de Azarias), alguns cafés e órgãos
públicos como a Coletoria Estadual cujo espaço abrigou. muito tempo depois, a Biblioteca Municipal Zenira Gonçalves Gomes,
a Cooperativa Agrícola Mista que congregava produtores rurais, o Serviço de
Estatística, o cartório de João Castelar e o Posto de Zé Felinto são os que
lembro no momento. Depois, por uma dinâmica própria, os negócios foram mudando
de dono e de ramo. A função de transportes de aluguel permanece, a atividade
comercial mantém seus pequenos negócios mas o espaço público da praça muda a
sua ‘marca’ ao associar-se ao conceito de Praça da Alimentação congregando vários
empreendimentos neste ramo e trazendo uma nova dinâmica ao espaço. O
rearranjo nessa nova realidade, um mix entre bar/lanchonete, oferece mais
possibilidades de sobrevivência financeira aos investimentos na área.
Há
um compartilhamento, portanto, do espaço comum entre o entreposto
de alimentação e a oferta de serviços de transporte que atende tanto às
demandas individualizadas através de seus táxis e moto táxis, ao serviços de
transporte coletivo basicamente intermunicipal com suas linhas comerciais e,
ainda, ao serviço de transporte que
atende os estudantes que diariamente
frequentam cursos nas cidades vizinhas principalmente cursos universitários
noturnos prioritariamente na cidade de Cajazeiras.
Aos fins de semana, a praça assume de forma
mais intensa a sua função de lazer e entretenimento.
O fast food entra em nossos hábitos por
esse viés. Não representa, portanto, uma alternativa de alimentação ligeira
considerando o pouco tempo disponível para refeições em função da otimização do
tempo de trabalho. Assim sendo, dadas estas condições, podemos sugerir que a
nossa relação com o fast food está muito mais relacionada ao lazer, ao modismo,
ao espelhamento no marketing da alimentação e ao consumo de símbolos associados
à diferenciação social.
A partir dos anos 90,
uma série de fatos e eventos acontecem simultaneamente na cidade e se
intensificam na primeira década do século XXI. Esses fatos sugerem, de alguma
maneira, uma relação entre eles. Não é nosso objetivo estudá-los, mas apenas
registrar que eles acontecem concomitantemente. Entre outros, selecionamos os
seguintes:
a -
a
importância da migração de retorno trazendo consigo um novo padrão de
alimentação fora de casa associado ao lazer;
b - a
importância dos programas sociais implantados pelo governo e a interiorização
das universidades que permitiu maior acesso de estudantes ao ensino superior
repercutindo diretamente em suas cidades de origem e dinamizando vários setores
inclusive o setor de alimentação e lazer;
c - a
ampliação da renda familiar, direta ou indiretamente vinculadas aos resultados da implantação de programas sociais, que permite o acesso ao lazer com mais frequência dinamizando o comercio local no setor.
d - a
dinâmica própria característica desse tipo de modelo de negócios e da sua
própria condição de sustentabilidade sugere uma relação com a rotatividade na
sua propriedade e no seu foco enquanto segmento de mercado especializado na oferta
de produtos diferenciados.
Parece-me
– mas não tenho certeza porque não pesquisei esta questão – que não há uma
relação entre o poder público e a iniciativa privada na oferta de incentivos à
instalação de negócios na área da praça e, por conseguinte, na dinamização do polo e/ou na
oferta de infraestrutura de saneamento, nas atividades de fiscalização,
segurança, vigilância sanitária, etc. Mas, a municipalidade se fez presente, pelo menos, na revitalização
da praça melhorando sua aparência. Também não sei se existem por parte do poder
público disposições político-normativas através de leis e decretos que
regulamentem o uso desta e de outras praças. Como este não é o foco principal
do trabalho, não investi nessa direção.
Diversas outras iniciativas na área de alimentação são
encontradas nos bairros periféricos vinculadas basicamente ao serviço de bar e
churrascarias.
O nosso próximo post que finaliza a série sobre alimentação
em Ipaumirim vai tratar sobre o comércio de alimentos desde a antiga feira aos
modernos supermercados.
AGRADECIMENTOS
Esse texto é de produção coletiva e só foi
possível graças a colaboração de vários amigos: Vanuza Brasil, Francisco Joaquim Farias , Célia Lustosa, Alda Gouveia Campos, Franklin
Alves da Silva, Magna Gonçalves,
Antocildo Ribeiro Barbosa, Francisco Alves, Gutemberg Torquato, Francisco
Adalberto (Nino de Maurde), Federalina Quaresma, Socorro Duarte, Ivanilton Josué e José Henrique
Silva. Agradecimento especial a Zé Henrique pela disponibilidade em conversar
longamente comigo repassando informações sobre este e outros temas que serão
posteriormente abordados.
MLuiza
Recife, 19.10.2018
BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE, Pereira. A arte lírica de Alberto Moura. Fortaleza:
Expressão Gráfica e Editora, 2015. 212p.
FANTINEL, Letíca Dias; FISHER,
Tania Maria Diederichs. Novos espaços de sociabilidade urbana contemporânea: Um
estudo sobre os cafés.
XXXIV
Encontro da ANPAD. Rio de Janeiro.
Setembro de 2010. 17p. Disponível em:
FERREIRA, Maria Adelaide. O Café Central em meados
do século XX: a Tauromaquia num espaço de sociabilidade. CIRA BOLETIM
CULTURAL 11 | Do Património à História. P. 167-177.
Disponivel em : https://www.cm-vfxira.pt/cmvfxira/uploads/document/file/876/2g-cafe-central-meados-secxx.pdf
LIMA, Jeyson Ferreira Silva de Espaços livres,
práticas reguladas: um breve ensaio sobre o espaço público, território e a
politica normativa das praças caicoenses.
In: MACEDO, Helder Alexandre de Medeiros et al. Seridó potiguar: sujeitos, espaços e praticas. Natal: IFRN; Caicó:
Biblioteca Seridoense, 2016. Pp.149-164. Disponível em: https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/handle/1044/977/Serid%C3%B3%20Potiguar%20%E2%80%93%20Ebook.pdf?sequence=1&isAllowed=y
MOURA,
Carlos André Silva. Os antigos café do Recife: a sociabilidade na capital
pernambucana (1920-1937). RESGATE, vol XX.
Nº 23. Jan/ju 2012. P.97-107. Disponível em:
http://taurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/119475/1/ppec_8638660-8846-1-PB.pdf
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