APONTAMENTOS PARA A MEMÓRIA DE IPAUMIRIM: IPAUMIRIM NO CONTEXTO DAS ESTRADAS BOIADEIRAS

MLUIZA
No primeiro quartel do século XVIII toda a extensão dos rios Jaguaribe e Salgado (inicialmente chamado Jaguaribe-mirim) foram ocupadas antes da ocupação da região do Cariri.

A partir do século XVII, à medida que as terras foram ocupadas através da doação de sesmarias com a instalação de fazendas e o incremento da atividade pecuária, foram constituídos os primeiros caminhos. Estes caminhos seriam as trilhas indígenas já existentes com suas marcações e sinalizações originais perceptíveis quase que exclusivamente pelos índios. Eram basicamente picadas e veredas que geralmente seguiam o curso dos rios e a sua concepção estava vinculada às necessidades de subsistência e  segurança.
À medida em que foi-se consolidando a posse da terra através da doação das sesmarias e, por conseguinte, da instalação de fazendas, a atividade criatória se incrementa e a atividade comercial se expande. Esta nova configuração demanda caminhos que permitam o escoamento das mercadorias para praças comerciais e portos. A lógica dos caminhos, portanto, incorpora novas preocupações. Surge o conceito de estrada. Não mais prioriza exclusivamente a questão da subsistência e da segurança mas configura a presença dos interesses do  Estado aliados desde já a interesses particulares  na organização e incentivo a determinadas atividades econômicas. É esta lógica que move os traçados viários tanto no que diz respeito ao melhoramento dos que já existem quanto na construção de novos caminhos. A partir dela, vão-se estabelecendo e consolidando não apenas uma nova organização econômica mas vão-se definindo hierarquias e privilégios que influenciam e atribuem sentidos e significados  às relações sociais e, portanto, às relações de poder. 
Muitas foram as estradas abertas no tempo do povoamento e da colonização do Nordeste e, por conseguinte, também do território cearense.
Buscando o nosso propósito de identificar as estradas que atravessavam o sertão e que tinham maior proximidade com a região onde atualmente se localiza o município de Ipaumirim, selecionamos aquelas consideradas como as grandes estradas coloniais. Isto não significa que não houvessem outros caminhos, a literatura sobre o tema mostra outras possibilidades, entretanto buscamos as que tiveram maior expressão no povoamento e colonização do sertão. Vale salientar que estas estradas se distribuíam numa malha viária que compreende interligações com um conjunto mais amplo de estradas, mas que o nosso recorte considera a relação de proximidade com a nossa região.
As principais estradas boiadeiras que cortavam o Ceará e das quais estaríamos mais próximos foram: Estrada Geral do Jaguaribe, a Estrada Nova das Boiadas, a Estrada das Boiadas e a Estrada Crato - Piancó.
A Estrada Geral de Jaguaribe, principal caminho de circulação do Ceará, sai do porto de Aracati. Descendo o rio Jaguaribe passa em Icó, segue o rio Salgado e, pela chapada do Araripe, alcança os sertões de Pernambuco e Bahia. Além da sua ligação com outras importantes estradas, ela tinha o suporte de vários outros caminhos menores que faziam a sua interligação com fazendas e povoados.
A Estrada Nova das Boiadas liga o Piauí à Paraíba atravessando o Ceará. Encurtando distancias, essa estrada desloca o trânsito do litoral para o sertão. Passando por Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, esta estrada encontra a Estrada das Boiadas, na Paraíba, a caminho do Recife.  O ponto de ligação mais próximo dessa estrada com a nossa região é o seu entroncamento com a Estrada das Boiadas na região de Piancó.
A Estrada das Boiadas vinha do médio Parnaíba cruzando a estrada Nova das Boiadas na região de Tauá. Passa por Icó, alcança a Paraíba atravessando São João do Rio do Peixe, Sousa, Pombal, Patos, Campina Grande, Ingá, Mogeiro e Itabaiana seguindo na direção do porto do Recife. Há indicações de que essa estrada passava bem próximo a vila de São João do Rio do Peixe e na área onde fica Cajazeiras cruzando, no Ceará, com a Estrada Geral do Jaguaribe.  No trecho entre São João do Rio do Peixe e Campina Grande também era conhecida como Estrada de Espinharas. Ligando diretamente ou por meio de caminhos subsidiários, essa estrada deu suporte ao intercâmbio comercial entre os sertões e a zona marítima viabilizando as grandes feiras de gado que ficavam no seu percurso e influenciaram a formação de vários povoados.
A Estrada Crato – Piancó saia do Crato passando por Missão Velha e Mauriti, entrava na Paraíba por Conceição passando por Misericórdia, atualmente Itaporanga, encaminhava-se para Piancó onde cruzava com a Estrada das Boiadas. Essa estrada viabilizava o comércio de rapadura produzida no Crato para as regiões de Pernambuco e Paraíba, mas também as boiadas vindas para as feiras de gado nesses dois estados.  A povoação de Piancó viria a ser depois a atual cidade de Pombal.

PRINCIPAIS ESTRADAS COLONIAIS QUE ATRAVESSAVAM A REGIÃO NORDESTE


Fonte: JUCÁ NETO, CLÓVIS RAMIRO. Primórdios da urbanização do Ceará. Fortaleza: Banco do Nordeste/UFC, 2012, p. 262.
Icó representava o mais importante entreposto do sertão. Por lá passavam boiadas de todas as estradas tanto na direção norte–sul quanto na direção leste–oeste facilitando portanto o acesso às grandes feiras de gado favorecendo assim  os criadores instalados nessa região.
A partir do último quartel do século XVIII e o início do século XIX, o cultivo e o comércio do algodão se expande como uma atividade econômica fundamental para o estado do Ceará dinamizando inclusive certas áreas consideradas improdutivas. A partir daí, o traçado viário do Ceará passa a considerar também o comércio do algodão. 

AMPLIAÇÃO DAS VIAS DE COMUNICAÇÃO DA PROVÍNCIA DO CEARÁ 

 Fonte: Maurício Caetano dos Santos. Cartografia e Geografia Histórica: um olhar sobre a economia e ocupação territorial da província do Ceará no período anterior a independência. 3º Simpósio Ibero Americano da História da Cartografia. São Paulo. 2010.
No século XIX, o Ceará está praticamente recortado de caminhos, vilas e povoados.

CAPITANIA DO CEARÁ – VILAS, POVOADOS E FLUXOS - 1817


Fonte: JUCÁ NETO, CLÓVIS RAMIRO. Primórdios da urbanização do Ceará. Fortaleza: Banco do Nordeste/UFC, 2012, p. 263.


A intensificação do comércio do algodão associada a questões de interesse político permitiram que no fim do século XIX entrasse em pauta as ferrovias.

ATENÇÃO: ESTE TEXTO COMPLEMENTA-SE COM O POST: IPAUMIRIM NO CONTEXTO DA MALHA FERROVIÁRIA NO CEARÁ
MLUIZA
RECIFE
23.04.2018

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