APONTAMENTOS PARA A MEMÓRIA DE IPAUMIRIM: IPAUMIRIM NO CONTEXTO DA MALHA FERROVIÁRIA DO CEARÁ



MALHA FERROVIÁRIA DO ESTADO DO CEARÁ

Mapa indicativo das linhas
 
Fonte: http://www.fortalezanobre.com.br/2013/03/rede-de-viacao-cearense-rvc-o-ceara

RAMAL SUL DA REDE VIAÇÃO CEARENSE COM SAÍDA PARA O RAMAL DA PARAÍBA
  

A implantação do transporte ferroviário do Ceará compreende duas rotas. O trecho da Estrada de Ferro de Baturité inicia na segunda metade do século XIX e termina com o ponto final dessa linha na cidade do Crato, em 1926. Conhecida como Linha Sul, o trajeto compreende  599 km.  Havia também a Estrada de Ferro de Sobral, Linha Norte, com 450km de trilhos. As duas integravam a Rede Viação Cearense.
O discurso em torno da construção de ferrovias congregava diferentes interesses. Sob um discurso modernizador aparentemente construído por alegações técnicas e econômicas calcadas na aproximação entre o sertão e o litoral,  na viabilização do escoamento da produção e no desenvolvimento regional,  estava o fortalecimento de determinadas regiões obedecendo aos interesses das classes dominantes em se fortalecerem financeira e politicamente a medida em que suas regiões consolidassem o seu prestígio no contexto do estado.
Em que pese, a importância das ferrovias no escoamento da produção, algumas questões precisam ser consideradas para melhor compreender a  expansão da via férrea:
     a) O interesse das classes dominantes em se fortalecerem financeira e politicamente  a medida em que suas regiões consolidassem o seu prestígio no contexto do estado;
b   b) a influência do capitalismo sobre o pensamento intelectual da época;
c   c) a simpatia explícita por um determinado modelo modernizador que  guiava  a viabilização da economia;
d   d) a imposição de critérios políticos sobre decisões técnicas;
e.    e) a aproximação entre capital (moderna) e sertão (atraso) que pressupõe transposição de um comportamento modernizador nivelado pelo consumo.
f.     As contradições entre os apelos do próprio discurso ora centrado na opulência natural da região, ora calcado no assistencialismo apelativo dos problemas climáticos e das questões sociais dele decorrentes faziam parte da política para viabilizar o empreendimento.
Entre contradições, festas, tapas e beijos, lá se vai o nosso algodão e osnossos viajantes pelos trilhos da RVC.
Duas estações estavam mais próximas de Ipaumirim: Lavras da Mangabeira e Baixio.
           Na linha sul, a Estação de Lavras da Mangabeira foi inaugurada em 01.12.1917 com multidão, festa e política. É inegável que a chegada do trem dinamizou a vida da cidade, ampliando seu comércio com cidades vizinhas assim como aumentou a presença e circulação de  viajantes  inclusive vindos do sertão da Paraíba que pela sua proximidade com o Ceará  passaram a utilizar com assiduidade a estação de Lavras para seus deslocamentos.

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE LAVRAS DA MANGABEIRA

Fonte:http://cariricangaco.blogspot.com.br/2013/05/galpao-das-artes-em-noite-

A estação de Baixio integrava o ramal da Paraíba saindo da estação de Arrojado e indo na direção de Sousa. Essa estação foi inaugurada em 05 de agosto de 1925. Nessa linha, por questões que envolvem interesses políticos daquele estado, o sub-ramal para Cajazeiras foi inaugurado em 5-8-1926 logo depois da estação de Sousa inaugurada em 13-5-1926
  
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BAIXIO - CE

Fonte: http://cearaemfotos.blogspot.com.br/2015/02/ipaumirim.html
Este projeto ferroviário acabou sendo praticamente abandonado ainda no século XX por falta de investimentos e por interesses que os canalizaram para outras opções de vias de transporte.
Na próxima matéria desta série sobre estradas vamos abordar suas características e o que por elas passavam.


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MLUIZA
RECIFE
23.04.2018

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