RELATOS SOBRE O DISTRITO DE FELIZARDO E SEU FUNDADOR




Retomando nosso propósito de divulgar informações Ipaumirim não apenas para que se tornem públicas mas no sentido de estimular a recuperação da memória do município, publicamos, hoje, parte de um capítulo do livro "Em família, de Cineide Vieira e Mundinha Rolim", que traça as origens do Distrito de Felizardo e a genealogia da Família Vieira.

Sabemos que obras desta natureza geralmente tem edição limitada o que dificulta o acesso da maioria dos interessados nos assuntos abordados.

Ao recuperar a genealogia da família, as autoras tratam não apenas de informações de interesse restrito mas contribuem de forma expressiva na composição da memória da região, das suas relações econômicas e sociais, da migração, das contradições políticas e das bases da nossa organização enquanto município.

Tomei a liberdade de publicar, na íntegra, porque sei que as autoras compreendem o propósito e , tenho certeza, que elas - com o maior prazer - sentem-se gratificadas em colaborar com a construção da memória da nossa terra.
MLUIZA

Em pleno Nordeste brasileiro, no centro oeste do Ceará, a 422 km de Fortaleza, a 12 km da sede do município de Ipaumirim, na margem da BR 116, situa-se o Distrito de felizardo, antes denominado Olho d’Água do Melão com 2.375 habitantes, de acordo com o último censo do ano 2000.
O topônimo Olho d’Água do Melão não tem uma explicação etimológica. Presume-se, por dedução, e/ou por informações de pessoas idôneas do distrito que em face de um dos primeiros moradores e proprietário de parte de suas terras, Senhor Félix Antônio Duarte, filho de Dersulina Duarte (não foram encontrados dados de seu pai) ter seus antecedentes familiares residentes no Sítio Melão, neste Distrito, E lá existir uma pequena fonte de água natural, que, aliás, ainda existe, batizaram-no com esse nome, fazendo alusão a tal particularidade.
Das pesquisas feitas, têm-se notícias de que quando Félix Antônio adquiriu referidos terrenos, existia no sítio Olho d”água apenas uma pequena casa de taipa localizada nas proximidades da ponte que serve de sangradouro ao açude de felizardo, pertencente a Antônio Sucupira Cândido, família essa que ainda tem descendentes mas sem nenhum dado informativo acerca dos antepassados. Sabe-se apenas que a família descendia de escravos e que prestou valiosos serviços, tanto braçais como domésticos à comunidade. Posteriormente, residiu um dos membros da família Mariquinha (alcunha atribuída aos Moreiras do Sítio Serra d’Areia, deste distrito).

Com a sequência dos anos a população foi aumentando e o Sítio Olho d’Água do Melão tomando dimensões de povoado. Feliz Antônio, filho de Olho d’Água do Melão, se empenhou de forma assídua no desenvolvimento do povoado, na época, sob a jurisdição de Lavras da Mangabeira, neste Estado. Era agricultor e criador de gado, na linguagem de hoje agropecuarista, mas salientava-se pelos seus trabalhos constantes em favor do povo.

Em face da Lei 2.046 de 12 de novembro de 1883 ter criado o município de Umari, desmembrando-o de Lavras da Mangabeira, Félix Antonio, à frente das determinações políticas do povoado de Olho d’Água do Melão, prestou juramento e tomou posse no cargo de vereador , por Umari, em 20 de outubro de 1884, juntamente aos seis outros vereadores na Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira. Em seguida, dia 21 de outubro, abriram a primeira sessão ordinária, na Câmara de Umari, tendo como Presidente, Manuel Francisco de Sales Albuquerque. Permaneceu no cargo até o final de 1886 quando terminou o mandato. Durante esse período legislativo ocuparam a presidência da Câmara, os vereadores Vicente Quaresma de Mendonça e Belarmino Barbosa Gondim (registros retirados do livro “Umari, Baixio, Ipaumirim, pagina 28.)
Felix Antonio Duarte contraiu três matrimônios. O primeiro com Maria José de Lima, natural de São José de Lavras, conhecida como Cotinha. Desse casamento nasceram sete filhos cujos nomes especifico a seguir:

1. Manoel Joaquim, apelidado de Joca, faleceu solteiro em decorrência de uma queda quando caçava na Serra do Pintadinho.
2. João Félix Duarte casado com Vicência. Dessa união nasceram sete filhos.
3. Joana Maria de Lima, conhecida como Dondon, casada com Vicente Felizardo Vieira, tiveram nove filhos.
4. José Balbino, casado com Vitalina Rolim Albuquerque. Desse consórcio nasceram dez filhos.
5. Tereza, na intimidade Tetê, casou-se com Manoel Batista. Dessa união tiveram sete filhos.
6. Marica, casada com Bevenuto Almeida Cavalcante. Do primeiro matrimonio nasceram cinco filhos e do segundo, com Pedro Branco, seu primo legítimo, teve apenas um que faleceu aos 13 anos.
7. Herculino, casado com Dondon Pires Rolim. Não houve descendentes.
Todos os filhos homens foram agricultores e/ou pequenos comerciantes enquanto as mulheres, como era comum na época, mães de família e simplesmente domésticas.

Com o passar do tempo e o casamento dos filhos, todos radicados em Olho d’Água, a população crescia e ele adquiria novas terras na circunvizinhança, procurando, sempre, orientar filhos e genros, com quem mantinha bom relacionamento. E assim crescia Olho d’Água do Melão.
Transcrevo literalmente parágrafo de um trecho do livro já citado que faz referência à Maria José de Lima, primeira esposa de Félix Antonio.
“Data de 31/01/1874 a doação da capela do antigo Olho d’Água, chamado posteriormente Olho d’Água do Melão e hoje Felizardo. Foi doado por Dona Maria José de Lima que declarou ser senhora e possuidora do Sítio Olho d’Água, deste termo e que fazia doação para patrimônio da Capela da Senhora da Conceição de uma parte de terra no mesmo sítio Olho d’Água, no lugar da referida capela, a começar do Nascente, do curral que fica abaixo da mesma capela, ao Poente a ao extremar com terras de Casimiro Nogueira Pinto, ao Norte com terras de Manuel Joaquim de Lima, filho da doadora, nas fraldas dos altos que descem para baixo da Carnaubinha e no valor de cem mil reis” (Livro de notas, Lavras da Mangabeira, 1871 e seguintes fls. 66 v.)”
E foi ao lado da capelinha, em Olho d’Água, que Félix Antonio fixou residência já que a construção da mesma era o centro de suas atenções. Trabalhando sempre para vê-la de pé, consta do referido livro, que sua fundação data da metade do século XIX, tendo sido desmembrada do território da freguesia de Lavras e passado a pertencer à freguesia de Umari, conforme Lei n° 686, de 02/02/1875. Diz, ainda que o vigário de Lavras, Monsenhor Miceno, realizou muitas cerimônias religiosas na capela. Com o passar dos anos a capelinha foi ruindo a ponto de alguns habitantes, em regime de mutirão, reconstruí-la. Dentre as pessoas que enfrentaram esse movimento de ajuda estão: Padre José Tomaz, Félix Antonio, Vicente Felizardo Vieira e Manoel Batista, os dois últimos, seus genros, foram responsáveis pela construção que sempre teve como padroeira Nossa Senhora da Conceição. Em 1912, a imagem dessa santa, de tamanho pequeno, foi trocada por uma maior, permanecendo até hoje no altar central embora se conserve também a primeira imagem como relíquia. (informação prestada pelo Sr. Francisco Batista, neto de Manuel Batista, residente na fazenda Taquari, em Lavras da Mangabeira).
Do segundo matrimonio com Vitalina não deixou descendentes. Do terceiro, com Josefa Rolim de Albuquerque, sobrinha do Padre Rolim, de Cajazeiras, nasceram dois filhos: José Nonato Rolim e Joaquim Felix Rolim (Joaca).
Félix Antonio faleceu por volta do ano de 1900. Foi uma grande perda para sua família e, principalmente, para a comunidade. Já que era ele quem norteava as determinações político-sociais do lugarejo e por se tratar de um cidadão bastante sóbrio, simples e de índole invejável, pela sua firmeza de caráter e retidão.
Não se conseguiu histórico pessoal dos filhos do seu primeiro matrimônio. Quanto aos do terceiro sabe-se que José Nonato Rolim nasceu em 14 de maio de 1896, em Olho d’Água. Aos quatro anos, perdeu seu pai e órfão de mãe aos doze anos foi criado na casa de seu tio Herculino e, posteriormente, junto dos irmãos Felizardo, ou seja, sob os cuidados de sua irmã Dondon, esposa de Vicente Felizardo Vieira. Ainda jovem enfrentou a vida como comboieiro. Na compra e venda de animais tornou-se mais tarde um grande pecuarista. Casou-se em 1919 com Inês Batista de Freitas, de cuja união nasceram cinco filhos. (...)
Do segundo casamento, com uma prima legítima de Inês, Antonia Batista de Morais, também houve cinco filhos (...). Residiu por muito tempo no Sítio Machado, município de Várzea Alegre até o seu falecimento aos 96 anos, três meses e seis dias.
Com referência a Joaca, nasceu, também em Olho d’Água, no dia 14 de maio de 1898. Observa-se a coincidência do dia e mês de nascimento dos dois irmãos. “Em 1913, já com 17 anos, por força da grande seca, mudou-se para o município de Missão Velha, Sítio Missão Nova, em busca de trabalho junto a uns parentes que residiam no Cariri.” (...)

Fonte: CHAGAS, Maria Flaucineide Vieira & ROLIM, Raimunda Vieira. Em família. Edição do autor. Cajazeiras, 2004. pp. 15 – 19.

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