POR ONDE ANDEI



MLUIZA

Dependendo dos propósitos, viajar desacompanhada é uma maravilha. O tempo é seu. Tem coisa melhor do que dispor do próprio tempo? Passei uma excelente semana entre Crato e Ipaumirim.
No Crato, revi os percursos dos meus tempos de estudante na década de 60. Na minha memória, havia uma distância considerável da Rua Nelson Alencar, onde morei, até o Colégio Santa Tereza. De repente, tudo estava tão perto. Eu queria andar mais e as ruas eram curtas. Minha memória as transformava em longas avenidas. A cidade é uma simpatia. Não perde aquele agradável clima interiorano que lhe dá uma graça especial. O centro está em obras. O comércio pouco movimentado. Fecharam os cinemas e a Praça da Sé transformou-se numa lanchonete popular, cheia de barracas de lanches, suja, desordenada. Justo no lado mais perto da igreja. Dá pena ver o cartão postal da cidade daquele jeito.
Outra coisa que percebi foi a ausência de restaurantes mais cuidados numa área tão bonita como é o centro do Crato. Depois que apareceu essa coisa de comida por kilo, comer bem é uma miragem. Tem um restaurante bem legal na Sé, parece que se chama Lá na praça ou algo assim. Um pouco mais descuidado do que estava em novembro passado quando passei por lá rapidamente. Meio sem vida. Juro que passei mais de 1 hora esperando que a moça trouxesse um sanduiche de peito de peru. Fiquei impressionada com a lentidão. Para pagar a conta foi mais outra hora de espera. Do outro lado da praça existe um café que tem um serviço mais rápido mas passava uma sensação de abandono que desanimava. Fiquei desolada. Estou falando apenas do que vi. De repente, tem lugares maravilhosos que eu não conheci. Em compensação encontrei boas livrarias, pequenas, porém com livros muito interessantes. Valeu a pena.
O seminário Cariri Cangaço foi excelente, muito bem organizado, uma dinâmica de trabalho bem distribuída. Pena que não pude ir a todas as cidades porque tinha que buscar uns livros e viver um pouco da vida que corre pelas ruas/veias do Crato e do Juazeiro.
Fiquei encantada com o Juazeiro e fui dar uma volta no mercado atrás das minhas famosas bruxinhas de pano. Fiquei impressionada. Nada daquele antigo mercado, o artesanato praticamente não existe e o que existe é tão mal feito que dá pena. Agora, se você quiser comprar quinquilharia chinesa e roupa da sulanca é lá mesmo que tem de ir. Se procurar artigos regionais, não acha. Não duvido que, daqui a pouco, vão começar a vender santo com cara de asiático.
O centrão do Juazeiro está praticamente tomado de lojas de eletrodomésticos, bijuterias e demais produtos importados. Só quinquilharia. Fiquei bestinha. A peste das burundangas asiáticas chegou para ficar.
Eu gostaria de estar por lá em tempo de romaria mais intensa. Assisti uma atividade no SESC do Juazeiro, super bem instalado, fantástico. Junto, fica a Igreja Nossa Senhora das Dores e todo aquele aparato para recepção de romeiros, uma coisa ainda primitiva em termos de conforto.
O contraste entre o neo Juazeiro, pujante e modernizado, e o contexto da religiosidade popular chega a ser agressivo. É como se tivesse um enclave do início do século XX convivendo com os anseios e desafios tecnológicos do século XXI. Compreender os arranjos possíveis deste modelo é um desafio apaixonante.
Rapidamente passei em Barbalha. Almocei no Caldas com o grupo do seminário. Do jeito que eu sou apaixonada por baião de dois... foi demaaaaaaaaiiiiiisssss.
Andei de trem. Affffffffff... Que maravilha. Amei.
Fiquei me devendo uma viagem a Aurora, conhecer o José Cícero, comprar o livro de Souza Neto, na cidade de Barro, fazer uma trilha no Geoparque do Araripe, passar por Missão Velha e conhecer Porteiras. Isto fica para a próxima vez.
Os ganhos foram incalculáveis. Conheci muita gente interessante. Voltei com a mala cheia de livros, batida, buriti, bruxas de pano e com a alma revitalizada pelas coisas imateriais que vivi.
Gracias, Cariri, pelos dias prazerosos e pela vontade de voltar.
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 01.10.2011

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