MATUTANDO



MLUIZA
Ainda não vi o filme Jobs mas tenho lido algumas resenhas e comentários na internet. Em geral, as resenhas e críticas padecem de um equívoco insuperável, elas sempre falam das suas próprias expectativas. 
Gosto de filmes mas quando os vejo não faço julgamentos  por critérios técnicos e/ou estéticos. Faltam-me conhecimentos para tanto. Um filme, como de resto muitas coisas na vida, entram em mim pelos sentidos. Tudo na base do feeling.  Gosto ou não gosto. A minha singela pergunta é sempre a mesma: fez alguma diferença ter visto, lido, conhecido alguém ou alguma coisa?  Se fez, com certeza, me deixa algo. Se não fez, tchau e bença. Jamais quero que as coisas ou pessoas sejam como eu gosto. Apenas me reservo o direito de gostar ou não gostar. Simples assim.
O problema da crítica, acredito eu, é fazer da auto referência o termômetro do mundo. E quando mistura isso com sentimentos menores fica tudo muito mais negro. É difícil apreender o sentido das coisas quando as aprisionamos aos desígnios do nosso EU soberano.  
Às vezes,  penso que a nossa necessidade de explicar nasce do desejo de submeter o mundo aos nossos critérios. O jeito de nos aproximarmos das coisas parece passar por um longo corredor de explicações. Isso, muitas vezes,  só faz perder tempo e criar barreiras. 
Quanto mais nos centramos em nós mesmos, vamos perdendo a capacidade de nos deixar surpreender. Acredito que essas estruturas rígidas que alimentamos são falsas ilusões promovidas pelas inseguranças tão escondidas dentro de nós que sequer sabemos onde estão guardadas. Ou sabemos e temos medo de enfrentá-las?
Mas voltemos aos comentários do filme. Entre todos, o mais   interessante não tem absolutamente nada a ver com a produção cinematográfica, mas a partir do filme propõe reflexões instigantes:
“Como pode um génio interessar-se seja pelo que for que esteja fora do seu universo mental se tem uma feira popular a funcionar 24h por dia na cabeça? Como escapará a sentimentos de superioridade quando constata, desde cedo na vida, que as suas capacidades estão muito acima da média? E nesse caso como poderá estabelecer com os outros relações que não sejam meramente instrumentais? E não manifestar desprezo pelas convenções sociais através de múltiplas excentricidades? E não acumular agressividade em bolsas que explodem se sofre de um atroz sentimento de solidão? Em suma, é possível a um génio não ser egocêntrico e socialmente disfuncional? E se não é, podemos enfim dizer dos génios que são todos iguais?
Foi nesta maçã que fiquei a roer, ungida de uma compreensão que antes nunca tinha sentido, de forma tão intensa, pelos génios deste mundo e do outro.” (Maria Tereza Ribeiro, Jobs explica. Disponível http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/)
É o que vale a pena.
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 11.09.2013

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