O CAIXÃOZINHO DE CHARUTOS

ZEZIM MACIEL

Nós da cruzadinha tínhamos que nos confessar toda sexta feira, para comungar na missa do Domingo. Certa vez, o padre Landim mandou eu contar os pecados; sem saber o que dizer no momento, perguntei se ele se lembrava do “caixãozinho de charutos” que ficava em cima da mesa do caixa do restaurante, onde meu pai colocava as moedas para troco, enquanto as notas ficavam na gaveta (o padre Landim sempre ia comer bolo com cruch lá no restaurante)
- Lembro sim! disse ele.

- Todos os dias eu retiro dele algumas moedas para gastar no mercado (Eu me amarrava no doce de leite do café de Ném; no bolo de batata do café de Zefa Ribeiro? atirar com a espingarda de setas de Zequinha das bicicletas, etc, etc).
O padre Landim aconselhou para eu não fazer mais aquilo, passou a penitência e fui rezar.

Na próxima sexta feira fui me confessar, e, o padre perguntou se eu tinha deixado de tirar dinheiro do caixãozinho, o que respondi com firmeza:
- Sim padre!

- Muito bem! Disse ele – Agora você está pedindo o dinheiro a seu João, não é?
- Não senhor!... estou tirando da gaveta!

O padre Landim não se conteve, e começou dar risadas dentro do confessionário, e quanto mais ele tentava conter o riso, mais alto ele sorria, até que olhou para mim e disse:

- vá rezar!.. vá rezar!.

Assim que me levantei, uma menina se ajoelhou do outro lado do confessionário para se confessar (tinha duas filas; uma dos meninos de um lado e outra das meninas do outro). Como o padre não conseguiu para de rir, saiu de dentro do confessionário e gritou para as duas filas:

- Podem ir embora! estão todos perdoados!

O mais difícil para mim foi despistar os meninos e meninas que queriam saber o que eu tinha falado para o padre.

Se alguém que naquela época estava na fila se lembrar deste episódio, hoje estou revelando o acontecido.

Publicado no alagoinha.ipaumirim em 22.12.2007