IP NOS SEUS TEMPOS MEMORÁVEIS

MLUIZA

Seu Chico Olívio tinha uma bodega onde hoje funciona o bar de Boia. Ele era o pai de uma família numerosa das quais, penso eu, só Dona Ofélia ainda vive. Seu Chico era um homem de bem, muitas pessoas iam pra sua bodega só para escutar suas conversas. Algumas  bastante inverossímeis mas nunca maliciosas. O certo é que ele deixou causos famosos, entre os quais, uma cobra enoooooooooooooorme que ele matou quando esteve no Amazonas. Ele mesmo admirou-se com o tamanho da cobra quando a calculou em palmos. Resolveu diminuir o tamanho e disse que tava grande demais, era apenas a metade.
A que eu mais gosto é a que ele contava sobre suas visitas ao céu. Meio espírita, vez por outra, ele fazia suas viagens.

Os amigos à sua volta e ele a contar detalhes da visita. O pessoal gostava de perguntar só pra ver Padim Chico, como muitos o chamavam, estirar a narrativa. Uma certa vez lhe perguntaram:

- Padim Chico, como é a comida no céu?

- São umas bolinhas brancas como umas bolinhas de algodão. Chamam manjar do céu e é gostoso que só vendo, revela Padim Chico.

Daí, alguém pergunta:

-O senhor viu alguém conhecido por lá?

- Vi muita gente. Fulano, sicrano, beltrano e toca a dizer o nome de quem morreu.
- E quem mais? Cada um queria saber de seus parentes e conhecidos.
Padim Chico, já cansado, encerrou a conversa dizendo:

- Vi todo mundo. Só não vi Pedro Alexandre.

E assim sempre encerrava sua viagem ao céu.
Só não sabia dizer porque  Pedro Alexandre, aliás, sogro de D. Ofélia, era seu desafeto. Soube recentemente que era justamente pelo fato de Ofélia ter fugido para casar-se com Pedão, filho de Pedro Alexandre.
Meu pai me contou essa passagem. Ele gostava demais de Padim Chico e adorava as rodas de conversas na sua bodega.

MLUIZA

Recife

10.04.2018