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MLUIZA |
E eu, aqui, esperando um telefonema que acho que
não virá. É chato mas é preciso dar um tempo quando as coisas dependem dos
outros. Para relaxar enquanto espero, de olho no telefone que fica perto do
computador, resolvi dar uma geral nos jornais on line. Só dá grampo, quem
grampeou quem não devia mas foi grampeado, será grampeado e se assim não
acontecer, você está fora da mídia. Pelo menos por uns tempos. É vip ser
grampeado.
Quem não é importante nem tem cabelos longos sofre
abstinência de grampos. Eu tenho o cabelo curto. Ontem, fui cortá-lo mais uma vez
e fiquei pensando em IP, nos cortes que Ninita Baraúna dava em meu cabelo.
Lembrei dos tempos que Nair de Josa (era ela mesma ou outra pessoa?) frisava
cabelos. Aquele cheiro de amoníaco na cabeça e a mulherada ainda conseguia
arrumar namorado. Nem amoníaco era obstáculo para as investidas masculinas. E até
que era bonitinho ver o cabelo enroladinho. Quem não tinha idade para passar
pelas habilidades de Nair, se virava com um lápis e uma tirinha de pano. O
cabelo bem repartido em quadradinhos, enrolava no lápis e amarrava cada mecha
com uma tirinha de pano. Depois, soltava e ele ficava com um cacheadinho que
não fazia feio diante dos frisados. Foi com esse look que eu fui entregar a
coroa para outra menina (não lembro quem) coroar Nossa Senhora, numa festa do
mês de maio lá no antigo Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires. Meu cabelo ficou horroroso, pixaim. Repartiram
do lado, ficou pior ainda. Mas não podia recuar e lá fui eu assim mesmo. Nesse
dia, mamãe do céu deve ter falado com Jesus e ele, de repente, descontou os
pecados da metade da minha vida pela vergonha que eu sentia.
Mulher nunca se contenta. As do cabelo liso queriam encaracolados. As do cabelo encaracolado queriam liso. E tome grampo para fazer as toucas. Sem as modernas técnicas de relaxamento, não havia muita opção para cabelo pixaim. Passava-se uma pasta que tinha um cheiro insuportável de soda cáustica e espichava o que podia. Tinha também um pente de ferro aquecido que passava e alisava com mais resultado mas deixava um cheiro de cabelo queimado e tinha que passar vários dias sem lavar a cabeça. Se o cabelo fosse curto ficava com aspecto teso, grudado como se tivesse passado goma arábica. Parecia uma cuia cabeluda. Cabeleira de tamanho médio parecia uma vassoura de piaçava, espetada. Aí chegava o socorro dos bobes, presos com grampos para não deixar marcas. Lembro de Terezinha, morena jeitosa de sobrancelha bem delineada com lápis preto, que trabalhava na casa de minha tia Cristina. O cabelo já estava impermeável de tanto passar o pente de ferro. Outra opção era comprar uma peruca kanekalon feita de cabelo sintético. Além de horrorosas, esquentavam o couro cabeludo. Parecia cabelo de boneca.
Mulher nunca se contenta. As do cabelo liso queriam encaracolados. As do cabelo encaracolado queriam liso. E tome grampo para fazer as toucas. Sem as modernas técnicas de relaxamento, não havia muita opção para cabelo pixaim. Passava-se uma pasta que tinha um cheiro insuportável de soda cáustica e espichava o que podia. Tinha também um pente de ferro aquecido que passava e alisava com mais resultado mas deixava um cheiro de cabelo queimado e tinha que passar vários dias sem lavar a cabeça. Se o cabelo fosse curto ficava com aspecto teso, grudado como se tivesse passado goma arábica. Parecia uma cuia cabeluda. Cabeleira de tamanho médio parecia uma vassoura de piaçava, espetada. Aí chegava o socorro dos bobes, presos com grampos para não deixar marcas. Lembro de Terezinha, morena jeitosa de sobrancelha bem delineada com lápis preto, que trabalhava na casa de minha tia Cristina. O cabelo já estava impermeável de tanto passar o pente de ferro. Outra opção era comprar uma peruca kanekalon feita de cabelo sintético. Além de horrorosas, esquentavam o couro cabeludo. Parecia cabelo de boneca.
A libertação dos encaracolados chegou com o slogan black
is beautiful e a famosa cabeleira black power. Era a glória do pixaim e o
fim da tirania do laquê com aquele cheiro de breu que ficava na cabeça.
“Black is beautiful, black is beautiful/ Black beauty so peaceful/I wanna a black I wanna a beautiful,” cantava Elis Regina nas paradas de sucesso.
Quem não se lembra de Paulo César Caju, aquele jogador estiloso da seleção brasileira, que tinha sua cabeleira black power pintada de acaju? Era o bicho!!!
Lembro ainda das manicures pioneiras: Alaíde de Jiló e Bia de Manuel Sapateiro, acho que tinha mais uma mas não recordo quem era. Criança não fazia unhas, tinha que pintar com o esmalte Coty comprado nas bancas da feira. Como eram sortidas aquelas bancas! Tinham pó, batom, rouge, perfume, talco, não faltava nada. A maioria vinha de Cajazeiras para a feira do domingo. Mas também tinham as bancas locais como a de Mirô e ainda a bodega de tia Cristina e a de Luiz Didico que vendia perfumarias. Quando meu pai comprou a bodega de Luiz Didico para ampliar a loja, descobrimos que ele era fã de perfumes pois muitos vidros estavam abertos e um pouco usados. Rapaz vaidoso Luiz Didico. E cheiroso, naturalmente.
“Black is beautiful, black is beautiful/ Black beauty so peaceful/I wanna a black I wanna a beautiful,” cantava Elis Regina nas paradas de sucesso.
Quem não se lembra de Paulo César Caju, aquele jogador estiloso da seleção brasileira, que tinha sua cabeleira black power pintada de acaju? Era o bicho!!!
Lembro ainda das manicures pioneiras: Alaíde de Jiló e Bia de Manuel Sapateiro, acho que tinha mais uma mas não recordo quem era. Criança não fazia unhas, tinha que pintar com o esmalte Coty comprado nas bancas da feira. Como eram sortidas aquelas bancas! Tinham pó, batom, rouge, perfume, talco, não faltava nada. A maioria vinha de Cajazeiras para a feira do domingo. Mas também tinham as bancas locais como a de Mirô e ainda a bodega de tia Cristina e a de Luiz Didico que vendia perfumarias. Quando meu pai comprou a bodega de Luiz Didico para ampliar a loja, descobrimos que ele era fã de perfumes pois muitos vidros estavam abertos e um pouco usados. Rapaz vaidoso Luiz Didico. E cheiroso, naturalmente.
Adautiva, de Dona Aurora, costurava para as finas e
fofas em ocasiões especiais. Cortava um godê duplo como ninguém. Cira Sampaio
era uma exímia costureira de calça comprida. Tinha um corte perfeito. E tinha
D. Mariinha de Antonio Dantas que parece que costurava principalmente para
homens. Entre outras, lembro que me fizeram roupas: Socorro Ramos e Mundinha de
Zacarias. Eu ficava sentada esperando para provar a roupa e Zacarias arrumando
as fotografias ou pendurando-as num cordão para secar. A maioria era foto 3x4
principalmente perto da temporada eleitoral. Vez por outra ele me fazia um
comentário:
- Veja como fulano está bonito no retrato! Quando que ele tem essa cara?! E tem gente que ainda reclama.
- Veja como fulano está bonito no retrato! Quando que ele tem essa cara?! E tem gente que ainda reclama.
Eu ficava ar-ra-sa-da. A foto do meu primeiro
título eleitoral foi obra dele e era horrível. Eu ficava pensando se ele teria
feito o mesmo comentário a meu respeito. Ainda tenho guardado meu velho título
tirado por meu pai. Lá na loja, embaixo do balcão, tinha uma caixa de sapato
cheia de fotos 3x4 que meu pai mandava tirar para fazer o título dos eleitores.
Eu nunca fui vaidosa mas adorava votar de roupa
nova. Na minha idade, eleição era uma festa. E eu acreditava em festas e fadas.
Uau! até que enfim o telefone chama!
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 05.09.2008
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