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MLUIZA |
Hoje, cheguei pra lá de Bagdá. Tive um dia pesado e me deu vontade de
quebrar a rotina do blog. Não vou falar de receitas, vou falar de lembranças
gastronômicas que evocam pessoas e afetividades. Já comi pão de ló de todo
jeito. Em casas, padarias, cafés. Mas nenhum igual ao pão de ló feito por Águeda,
de Joaquim Henrique. O que fazia a diferença era Águeda. Não importa a receita,
importa o gosto da lembrança. Assim como as cocadas de Vicentina, o bolo do
café de Dona Otília Sobreira, o biscoito da padaria de Doca Moreira, os
pirulitos de mel em forma de chupeta e bichinhos do tempo em que a gente nem
sabia o que é vigilância sanitária. O gelinho raspado com xarope, vendido na
feira de domingo, dá de dez a zero no sofisticado raspa-raspa vendidos nos
shoppings e que tem um nome chic que não lembro agora. Mel de engenho com
farinha, alfenim........ No quintal, perto da chaminé do engenho rudimentar, no
sítio do meu avô, as mulheres puxavam alfenim desenhando formas e tranças que
descansavam sobre uma toalha de mesa alva como o algodão preparado para fiar.
Rapadura com lascas de coco. No sítio, era a liberdade. Podia tudo. Ou quase
tudo. Era proibido o banho de açude durante a tarde para não gripar nem ter
crises de garganta. O pior da crise de garganta não era a febre nem a dor. Era
o terror de enfrentar uma penicilina na bunda e aquela colher dourada, de
latão, de Seu Ernane Dore.
- “Abaixa a língua e diz
Ahhhhhhhh......”.
Essa dói. As inofensivas goiabas do Sítio Velho trazidas por João de
Melo, existirá mais doce em algum outro lugar? A casca do queijo de coalho,
assada na chapa do fogão de lenha, da casa de João Calixto . O carneiro que Zé
Brasil fazia nas férias para a gente comer lá no São Pedro. Depois, todo mundo tomava
macela para ajudar na digestão. A famosa sopa que Teresa de Zé Saraiva fazia e
íamos tomar no intervalo das festas no Clube Recreativo de Ipaumirim. Valia a
sopa, valia a alegria, valia a algazarra. Não lembro de ter comido sanduíche na
minha infância. Coca cola era luxo de Fortaleza. Lá em casa, era guaraná - e
olhe lá!!! - em dias especiais. E com bolacha Maria. Principalmente se tivesse
doente. O torresmo do baião de dois da casa de tia Cristina. O chá da casa de
Zenira. O cheiro da mesa no café da manhã, lá no São Pedro, na casa tio
Sebastião. Cuscuz, tapioca, leite quente. Galinha nas festas de casamento. E os
almoços, nos sítios, que eram oferecidos ao Dr. Arruda? E eu lá, junto do
deputado, desfrutando tudo. E as festas cívicas nas escolas radiofônicas da
Diocese? O pessoal enfileirado e quando Dr. Arruda chegava, todo mundo cantava
o hino nacional. E depois das declamações, era a comilança. Galinha gorda -
nova e tenra, velha e dura - preferencialmente com farofa e arroz até fartar.
Algumas reuniões menos pomposas, já na cidade mais evoluída, serviam pastéis e
sonhos encrespados na gordura. Ninguém sabia o que era colesterol. E os bolos,
tem coisa melhor no mundo do que bolo? Aqueles simples, sem recheio, sem chantilly,
sem calda. Só bolo. Xô morangos!!! A gente, nem em revista, conhecia morango.
Não lembro de ter comido verduras e/ou legumes além de tomate,
alface, coentro, cebolinha comprados na horta de Dona Júlia, mãe de Tutu, atrás
da casa de Dona Uila. Em compensação, tínhamos batata, muita batata doce. No bolo, no doce, frita, cozida.
Depois, foi chegando cenoura, chuchu e outras modernidades. Até que chegou a
pizza, a coxinha, o hambúrguer, o colesterol, os triglicerídeos, o
infarto......... tá na hora de parar. Já fiz minha sessão pública de
psicanálise. Só os psicólogos aguentam esses extravasamentos. Ninguém merece!
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 26.09.2007
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