MLUIZA |
Na
década de 50, Delice morava defronte a atual Praça São Sebastião,
exatamente entre o armazém de Zé Saraiva e a casa de Antônio Ribeiro,
onde hoje mora Luizita Gonçalves. Em
sua casa, funcionava uma pensão e também servia refeições para
pessoas que prestavam serviço em Ipaumirim. Flávio Lúcio me lembra que além do
juiz, moravam lá o promotor, Zé Maria, coletor federal, e José Lourenço Colares (Seu Colares). Zé Maria (José Leite Ribeiro), filho do ex-deputado estadual Cândido Ribeiro Neto, conhecido popularmente por Cândido Branco, tinha fama de sedutor. Bonitão ele
era! Namorador também.
Na
época, Dr. Amaury, juiz de Ipaumirim, era um de seus clientes.
Lembro dele sentado numa cadeira de balanço ao lado da porta de entrada.
Na outra ponta da praça ficava a radiadora. Todo mundo por ali passava a
ouvir a velha radiadora tocando músicas ofertadas “de alguém para
alguém”. Na
época, Dr. Amaury, juiz de Ipaumirim, era um dos clientes da pensão.
Cuidadoso com sua apresentação, tinha preferência especial por terno
brancos combinando com sapato e cinto da mesma cor. Chico Farias lembra
que quando sentava-se à calçada nas horas de descanso dispensava
apenas a gravata e abria o primeiro botão da camisa.
Lembro dele sentado numa cadeira de balanço ao lado da porta de entrada da pensão. Na outra ponta da praça ficava a radiadora. Todo mundo por ali passava a ouvir a velha radiadora tocando músicas ofertadas “de alguém para alguém”.
Dr.
Amaury, pleno de paixão recolhida, era um dos que anonimamente ofertavam
músicas para sua musa. Depois que ninguém mais existe também deixam de
existir segredos até porque a bem da verdade e em qualquer época a
paixão é um sentimento que se auto revela. Paixão dentro de gaiola não
existe. Numa cidade interiorana onde o povo sabe até o que não acontece,
a difusora entregava qualquer um. Quando tocava Nervos de Aço, todo
mundo sabia que esse “de alguém para alguém” era ‘de Dr. Amauri para Anita
Osório’. Ele ficava na cadeira de balanço e ela, sestrosa e insinuante, passeando na rua, pra lá e pra cá. Era comum as pessoas passearem no fim da tarde escutando os programas musicais da radiadora.
Anita
era uma mulher exuberante, efusiva, fogosa, livre, tinha consciência do seu
corpo e não atropelava seus desejos. Era
serva da sua libido. Numa sociedade repressora e preconceituosa era uma
afronta. Eu sempre a admirei porque ela passava feito trator sobre o
pudor e a curiosidade malévola. Aliás, ela surfava faceira e alegre
desafiando os pudicos desejos femininos, fogo nunca morto, mas
represado no recôndito do corpo das mulheres.
Eu
não sei se esta paixão teve outros comprometimentos além da
maledicência popular nomear a casa de Delice como a Casa de Noca porque
dizia-se por ali existir uma certa conivência com o cupido.
E
porque a vida passa, passaram Dr. Amary que foi transferido, Anita casou e
foi embora da cidade, Delice depois foi para uma nova casa numa outra
rua e os comentários locais foram redirecionados para outras
maledicências.
Quando
eu e Vivaldo trabalhávamos na construção do seu perfil demos boas
risadas lembrando desse e de outros episódios vividos na nossa minúscula
comunidade.
Pra
mim, Delice era só Delice e Anita era só Anita. Sempre gostei das duas.
O resto fica por conta da radiadora e da falta do que fazer no Ip. de
antigamente.
MLUIZA
Recife, 16.05.2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Respeitar sempre.