APONTAMENTOS SOBRE A FUNDAÇÃO DO CENTRO EDUCACIONAL XI DE AGOSTO/CNEG EM IPAUMIRIM – CE


 
MLUIZA
Este material tem como base o depoimento inédito de Jarismar Gonçalves de Melo, fundador do colégio, que gentilmente nos cedeu para publicação considerando a importância de informar todo o processo desde a sua idealização. Complementamos as informações com depoimento de Flávio Lúcio Bezerra de Oliveira além de poucos registros bibliográficos disponíveis. As imagens são do arquivo de Zenira Gonçalves Gomes. Agradecemos ainda as colaborações pontuais de Lindalva Jorge, Josenira Holanda  e Federalina Quaresma. Este documento está aberto à incorporação de informações consideradas relevantes e ainda de correções necessárias para sua complementação. Basta enviar para o e-mail luizanobrega_ufpe@yahoo.com.br 
MLuiza
Recife, 04.01.2019
CENTRO EDUCACIONAL XI DE AGOSTO

Em 1960 eram muito poucos os colégios públicos mantidos pelo governo estadual e, portanto, não davam conta da demanda de estudantes que finalizavam a escola primária. Se essa situação era complicada na capital, no interior ela se agravava ainda mais. Em 1961, a Secretaria Estadual de Educação e Saúde se subdivide e é criada a Secretaria de Educação e Cultura. O governo Parsifal Barroso impulsiona o convenio com a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos -CNEG com objetivo de ampliar a oferta de vagas distribuídas em diversas unidades de ensino desafogando assim a demanda nos colégios estaduais.
Até o ano de 1961 o ensino secundário no Brasil era regulado pela Lei Orgânica do Ensino Secundário, promulgada em 09 de julho de 1942 que ficou conhecida como Reforma Capanema. Por essa lei, foram instituídos dois ciclos no ensino secundário: o primeiro de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos compreendendo o curso colegial dividido em colegial clássico e colegial científico.  A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -LDB, de 1961, mantém o ciclo ginasial com duração de quatro anos e o colegial (clássico e científico) e ainda o curso normal voltado para formação de professores. A LDB (LEI 4024/61) foi publicada em 20 de dezembro de 1961 pelo presidente João Goulart. O Centro Educacional XI de Agosto vinculado à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos  (CNEG) é implantado na vigência dessa nova lei.  
 PROCESSO DE FUNDAÇÃO DO CENTRO EDUCACIONAL XI DE AGOSTO/CNEG

No começo dos anos 60 foi criada, em Ipaumirim, uma associação com o objetivo de fundar um colégio que ofertasse o curso secundário. Esta associação tinha como presidente Jarismar Gonçalves de Melo e como vice Flavio Lúcio Bezerra de Oliveira. Além do diretor e do vice, estavam envolvidos neste projeto alguns jovens de Ipaumirim que, na ocasião, estudavam em Fortaleza. Entre eles, Vivaldo Alves, José Neri Vieira (Anchieta) e Teodoro Sales. Este grupo realizou uma pesquisa domiciliar, casa por casa, na cidade de Ipaumirim , com o objetivo de identificar entre os que tinham concluído o 5º ano primário, seja no Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires ou em qualquer outra escola até mesmo fora do município, quem teria interesse em fazer o curso ginasial que seria oferecido pelo colégio a ser fundado.  Os resultados da pesquisa foram favoráveis e, a partir daí, o Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires cedeu uma salinha para que, no turno da tarde, os estudantes envolvidos no projeto pudessem preparar os interessados para prestar o exame de admissão. Em 1962, os estudantes envolvidos no projeto criaram informalmente um cursinho gratuito onde ministraram suas aulas durante as férias de dezembro que, na época, duravam praticamente três meses.  Flavio Lúcio e Vivaldo Alves davam aula de Matemática, Anchieta Nery dava aula de Português e Teodoro Sales de História e Geografia. O exame de admissão foi aplicado no próprio local do grupo.



INCORPORAÇÃO DA ESCOLA À  CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS (CNEG).
Jarismar Gonçalves, ainda estudante de Direito, em Fortaleza, leu uma notícia sobre as escolas da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEG). Na ocasião, teve a ideia de trazer uma dessas escolas para Ipaumirim que, na época, só oferecia até o 5º ano do curso primário no Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires. Neste período, Jarismar era chefe de gabinete da prefeitura na gestão do seu pai, Alexandre Gonçalves da Silva. Conversou com seu amigo Bonifácio Vieira, tesoureiro da prefeitura, sobre esta possibilidade  explicando-lhe que a receita do novo colégio viria de uma verba do governo para despesas com a infraestrutura e ainda do pagamento das mensalidades dos alunos sendo que o valor desta contribuição seria escalonado de acordo com a condição financeira dos pais. Entretanto, precisava do apoio efetivo da prefeitura que deveria oferecer o local para funcionamento.
Em contato com a Seção Estadual da CNEG Jarismar  foi informado pelo responsável pela construção das escolas no Ceará, Professor Lúcio Ferreira de Melo, genro do Comendador Luís Sucupira, presidente da CNEG no Ceará , de que haveria verba disponível para a construção de escolas mas teria que haver a contrapartida local na doação do terreno. 
A princípio, o grupo envolvido com essa ideia pensou em comprar um terreno na região da antiga rua da Matança e começou uma campanha para arrecadar fundos. Formou-se uma comissão com Antônio Oliveira, Geraldo Saraiva (Geraldo de Pio) e Jarismar Gonçalves para arrecadar fundos.  À princípio, Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda estava arredio com a ideia de criar um noivo colégio em Ipaumirim. Personalista que era, não gostava de admitir que outras pessoas da comunidade tivessem suas próprias iniciativas independente de sua influência. Mas, quando soube que havia um valor efetivamente arrecadado, convidou os responsáveis e propôs a venda do local onde se localizava o Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires pelo valor já apurado pela comissão. 
Da primeira vez que Jarismar esteve na CNEG foi muito bem recebido. Após a conversa com Dr. Arruda, quando da  sua volta ao segundo contato, a recepção já não foi tão amistosa porque haviam denunciado que a sua iniciativa era puramente política. O comendador Luís Sucupira exigiu dele uma carta de apresentação de uma pessoa de representação na comunidade. Jarismar perguntou sobre a possibilidade de levar o vigário local no próximo contato com a garantia que este ficaria a direção do colégio, resolveria o problema.   O comendador tinha profundas ligações com a Igreja Católica e era seu representante na questão dos colégios da CNEG. Padre José Ismar Petrola de Melo Jorge, vigário de Ipaumirim, foi com Jarismar a Fortaleza e a partir daí ficou tudo acertado. A Igreja Católica foi fundamental neste processo de instalação do Centro Educacional XI de Agosto. 
Em agosto de 1962, foi instalado o setor local da CNEG conforme os registros apontados na ata da instalação. 
 ATA DA SESSÃO DE INSTALAÇÃO DO SETOR LOCAL DA CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS EM IPAUMIRIM – CE

“Aos onze de agosto de 1962, nas dependências do Clube Recreativo de Ipaumirim, reuniram-se os professores Lucio Melo, administrador da Campanha, Secção do Ceará, Oscar Rodrigues, assessor financeiro, Miguel Rosendo, autoridades e grande número de pessoas do município. Usaram da palavra um membro da comissão, Padre José Ismar Petrola, o bacharelando Jarismar Gonçalves de Melo e o deputado Francisco Vasconcelos de Arruda, todos oferecendo apoio ao Ginásio XI de Agosto que acabava de ser fundado. Procedida a eleição, ficou assim constituído o setor local da Campanha: Presidente: Jarismar Gonçalves de Melo; Vice-Presidente: Vicente Gomes de Morais; Secretário: José Osmar Arruda de Figueiredo; Tesoureiro: Adolfo Augusto de Oliveira; Conselho Fiscal: Donato Crispim de Menezes, José Fernandes de Souza, José Saraiva de Araújo; Suplentes: José Alves de Oliveira, José Josué Sobrinho e Maria Nilda Neri. E assim, toda a comunidade de Ipaumirim festejava a criação de um estabelecimento educacional assistido pela Campanha Nacional de Educandários Gratuitos: o Ginásio XI de Agosto. “
Cabe, aqui,  esclarecer o imbróglio que envolveu esta questão.
A área de terra onde se localizava o antigo Colégio XI de Agosto e, posteriormente, o Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires, era orginalmente pertencente ao Sítio Lagoinha, da Família Bonfim. Por volta de 1913, ela foi comprada por José Ferreira de Sant’Anna, Coronel Cazuza Sant’Anna, pernambucano de São José do Egito. Segundo José Henrique, Josa de Nair, Coronel Cazuza teria comprado este terreno cuja área seria seiscentas braças quadradas  a um senhor  chamado José Lobo pela importância de três mil e quinhentos réis.  No Recenseamento  de 1920, o terreno do Sítio Lagoinha consta como propriedade de José Ferreira de Sant’Anna que depois foi vendida a  Pedro Alexandre. Na separação de Pedro Alexandre e Naninha, toda a área do terreno que ficava do lado esquerdo da estrada de Ipaumirim para Baixio ficou para Naninha e o lado direito para Pedro Alexandre. Quando Dr. Arruda foi construir o antigo Colégio XI de Agosto, na década de 40, Dona Naninha doou este terreno para sua construção. Posteriormente, Dr. Arruda teria vendido para a prefeitura toda a área pertencente ao colégio e a prefeitura lá instalou o Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires fundado em 1954 durante a primeira administração de Osvaldo Ademar Barbosa. . Todas estas transações foram feitas verbalmente não havendo portanto nenhum documento legal a esse  respeito, nem da doação de Dona Naninha para o colégio nem da venda do colégio por Dr. Arruda para a prefeitura local. Quando da instalação no novo colégio foi necessária a documentação legal da transação que foi conseguida através de Delice Nogueira, neta de Dona Naninha, através da qual foi instituída legalmente a doação. Importante observar que a legalização da doação só se deu no ano de 1964 conforme os registros cartoriais.
CERTIDÕES CARTORIAIS REGISTRADAS NO CARTÓRIO CASTELAR DO 2º OFÍCIO DE IPAUMIRIM
“Número: Ordem 5.889. Anterior. (Data:12.02. 64) Circunscrição – Ipaumirim - . Denominação ou rua e nº - Avenida Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda, s/n, nesta cidade.  Características e Confrontações: Um terreno localizado à Av. Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda, sem número, nesta cidade, medindo cinquenta (50) metros de largura por cem (100) metros de comprimento, sobre o qual está edificado o prédio onde funciona o Ginásio Onze de Agosto com respectiva murada, pertencentes a Prefeitura Municipal de Ipaumirim, limitando-se ao Norte com terras dos doadores e Sebastião Leite da Nóbrega, e ao Poente, com os mesmos doadores e Boaventura Batista de Souza. Nome, domicílio e profissão do Adquirente – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, Conselho Estadual do Ceará. Nome, domicílio e profissão da Transmitente – Francisco Nogueira Gouveia, agricultor e sua mulher, Dona Valdelice Campos Gouveia, de prendas domésticas, residentes nesta cidade. Título – Doação. Fórmula do título, data e serventuário – Escritura Pública de Doação lavrada em minhas notas em 16 de novembro de 1963. Valor do contrato – Cr$450.000,00. Condições do contrato – Nada Consta. Averbações.”
Segunda transcrição – “Números: Ordem 5.888. Anterior (Data: 12.02.64). Circunscrição – Ipaumirim. Denominação rua ou número – Av. Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda s/. Características e Confrontações: Um prédio com sete (7) dependências, uma área coberta de telha, dentro de uma murada medindo cinquenta (50) metros de frente por cem (100) metros de fundos, ajardinado, estilo bangalô construído de alvenaria e coberto de telha, com piso de cimento e madeira, duas portas e cinco janelas de frente, uma porta e quatro janelas do lado direito e seis do lado esquerdo, isolado, edificado em terreno pertencente a ora Outorgada à Avenida Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda, sem número, nesta cidade de Ipaumirim, à margem esquerda da rodovia Ipaumirim-Baixio. Nome, domicílio e profissão do adquirente – Campanha Nacional de Educandários gratuitos, Conselho Estadual do Ceará. Nome, domicilio e profissão do Transmitente- Prefeitura Municipal de Ipaumirim. Título – Doação. Formula do título, data e serventuário – Escritura Púbica de Doação lavrada em minhas notas em dia de hoje. Valor do Contrato – Cr$500.000,00. Condições do Contrato – Nada consta. Averbações.”
Para o novo colégio funcionar o Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires foi desalojado e suas classes foram distribuídas em vários locais da cidade para que o novo colégio fosse construído. Iniciada a construção ainda permaneceu à sua frente o antigo prédio.  José Alves de Oliveira ajudou na construção da escola administrando a aplicação da verba destinada pela CNEG. Mas, continuava na comunidade o mal estar da saída intempestiva do grupo e a questão de demolição do  prédio antigo sem atiçar ainda mais as polêmicas em torno do assunto. Jarismar conversou com José Alves de Oliveira sobre a demolição. José Alves lhe respondeu que não se preocupasse que no dia seguinte o prédio amanheceria demolido e assim sendo o prédio foi demolido durante a noite.  Miguel Arruda, reagiu publicamente através de sua difusora condenando a atitude. Jarismar Gonçalves conversou com ele explicando as razões e pediu a sua difusora para explica-la publicamente e dirimir assim toda a celeuma em torno da questão. 
IMAGEM DA CONSTRUÇÃO DO XI DE AGOSTO/ARQUIVO AENIRA GONÇALVES GOMES.
Da esquerda p/ direita: Amazonina Nogueira, Terezinha Né,Jacques Milfont, Jarismar Gonçalves, Zuleidinha Ferreira e Marinete Ribeiro.
Quando terminou o problema da construção, veio o problema da instalação. Para funcionar o primeiro ano ginasial, o novo colégio precisava de carteiras e outros materiais. Neste período, o deputado Dr. Almir dos Santos Pinto, de Lavras da Mangabeira, era Secretário da Educação do Ceará. Dr. Almir era primo e cunhado de Adolfo Augusto de Oliveira, casado com Dona Maristela e residente em Ipaumirim,   através do qual os pleitos ipaumirinenses foram encaminhados. Em virtude de ser muito ocupado, Dr Almir  delegou o seu secretário  Dr. Vítor da Rocha, de Baturité,  para acompanhar a demanda.  Dr. Vítor quando estudante havia compartilhado o quarto com Jarismar Gonçalves na Casa do Estudante do Ceará sendo também seu colega no Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará.  Dr. Vítor informou que todo o material solicitado estava disponível na oficina mas não estava destinado a Ipaumirim.  Entretanto, sugeriu que Jarismar fosse até lá e recebesse o material destinado a Caucaia. Jarismar contratou o caminhão de Felisberto Pontes para o transporte e o levou para Ipaumirim.
Dr Almir Pinto, na gestão da Secretaria de Educação do Ceará, não apenas ajudou ao Centro Educacional XI de Agosto, mas, também, foi fundamental para a construção da obra do novo grupo escolar situado na Rua Presidente Castelo Branco, em terreno comprado ao Sr. Luiz Ferreira. O novo prédio abrigou professores e alunos que estavam dispersos desde o ano anterior por salões e casas particulares para dar lugar ao Centro Educacional XI de Agosto. O novo grupo iniciou suas atividades em 15 de abril de 1963.
O primeiro diretor do Centro Educacional XI de Agosto foi Padre José Ismar Petrola de Melo Jorge, primeiro vigário de Ipaumirim,  seguido por Padre Jacques Milfont. Jarismar Gonçalves foi seu terceiro diretor. Jarismar ainda teve uma outra administração por um curto período quando foi juiz na cidade de São José de Piranhas mas transferido para Guarabira não pode continuar como diretor. A partir daí, assumiu a direção José Nery Vieira (Dr. Anchieta). Padre Ismar era um vigário muito atuante na comunidade. Quando o novo colégio começou a funcionar ele trouxe inclusive a campainha da igreja para disciplinar os horários. 
1º DIRETOR: PADRE JOSÉ ISMAR PETROLA DE MELO JORGE
2º DIRETOR: PADRE JACQUES MILFONT
3º DIRETOR; JARISMAR GONÇALVES DE MELO
4º DIRETOR; JOSÉ NERY VIEIRA (ANCHIETA)
 O Centro Educacional XI de Agosto começou a funcionar ainda sem autorização oficial tendo como professores Jarismar Gonçalves, Padre José Ismar Petrola de Melo Jorge, Dr. Gilson Viana, Capitão Coelho e Maria Félix. A legalização ocorre com a sua incorporação à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG) em 11.08.1962.   
Posteriormente, novos professores foram incorporados. Entre outros, o sacerdote Jacques Milfont que sucedeu na paróquia o Padre José Ismar Petrola, Eudes Fernandes, Toinho Josué (Toinho de Zomeiro), Francisco Jorge e José Holanda.
No período das férias,  os professores frequentavam cursos preparatórios oferecidos pela CADES (CAMPANHA DE APERFEIÇOAMENTO E DIFUSÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO). 
A CADES foi criada através do Decreto nº 34.638, de 17.11.1953 no Governo Getúlio Vargas substituindo um exame de suficiência que foi anteriormente instituído em 1946 através do qual as pessoas se habilitavam ao magistério no curso secundário nas regiões onde não haviam faculdades de filosofia. A CADES amplia essa perspectiva anterior. Criada e organizada entre os anos de 1953/1957, teve sua fase de consolidação entre os anos de 1957/1963. Entre os anos 1963/1964 ela passa por uma renovação de orientação pedagógica mas no período de 1964/1968 entrou em declínio. Embora tenha funcionado como uma solução provisória bastante útil nas regiões subdesenvolvidas ajudando a enfrentar o problema da improvisação de professores, ela foi fundamental para a consolidação do ensino secundário. Ministrou cursos de orientação de professores de excelente qualidade e permitiu a regularização da situação de professores oferecendo a oportunidade de ingressarem no magistério.  Posteriormente, com a criação dos cursos de licenciatura plena e literatura curta, a partir dos anos 70, outros processos foram desenvolvidos para encarar questões dessa natureza. 
PROFESSOR JOSÉ HOLANDA
Um dos professores que lecionou durante muitos anos no Centro Educacional XI de Agosto foi José Holanda, muito querido e respeitado pela comunidade.
José Holanda, nasceu no Distrito de Alagoinha em 28 de janeiro de 1925, primeiro filho de Antônio Raimundo de Holanda e Maria Severina de Holanda. Foi seminarista durante três anos, quando foi convidado a deixar o seminário por ter desobedecido e lido, sem autorização dos padres, o filósofo iluminista francês Voltaire , conhecido pela defesa das liberdades civis inclusive a liberdade religiosa e ferrenho defensor da reforma social. A partir daí, foi estudar Ciências Agrárias e, ao terminar o curso, foi aprovado em concurso do Ministério da Agricultura. Assumiu o seu posto de trabalho em Guaramiranga-CE onde conheceu sua esposa, Alzenira Fraga de Holanda. Desde solteiro foi militante do Partido Comunista, razão pela qual foi perseguido pela ditadura militar instalada no Brasil em 1964. Abandonou sua carreira profissional e fugiu com a família para Ipaumirim, sua terra natal. Vivendo na clandestinidade e necessitando manter a família, transferiu-se para Cajazeiras e abriu um bar chamado Furna da Onça localizado numa zona de baixo meretrício nas imediações do célebre cabaré cajazeirense chamado Sete Candeeiros.
Como o colégio XI de Agosto estava precisando de professor de português, Jarismar Gonçalves lembrou de José Holanda e procurou Expedito Dantas para entrar em contato com ele. Os dois foram ao seu encontro   quando Jarismar o convidou para ser professor de Português. Na ocasião, ele declinou do convite diante da impossibilidade de assinar qualquer documento em virtude de sua condição de foragido. Jarismar se comprometeu a assinar em seu próprio nome a documentação necessária referente ao exercício do magistério.  A família que morava no Sítio Bananeira veio assim morar em Ipaumirim. Posteriormente, José Holanda constituiu advogado em Recife, Dr. Boris Trindade, conseguindo legalizar sua situação e exercer legalmente a profissão de professor.
Como diretor, Dr. Jarismar Gonçalves construiu o prédio onde se localiza o colégio demolindo a obra anterior. Construiu ainda a praça de esporte que levou o nome de Professor Lúcio de Melo. Dr. Anchieta construiu uma piscina e um auditório.
O Centro Educacional XI de Agosto/CNEG dinamizou a educação em Ipaumirim e mudou a vida de muita gente. Mostrou caminhos e permitiu possibilidades Abriu portas para um mundo novo, estimulou a autoconfiança do estudante interiorano sem acesso a melhores condições de vida que só a educação pode proporcionar. Ensinou que é possível sonhar e é possível lutar nessa direção. Mudou o perfil do nosso migrante que já não saía apenas em busca de trabalhos desprestigiados nas regiões mais desenvolvidas mas em busca de estudos e de melhores condições de trabalho. Os desdobramentos da educação são transgeracionais, é preciso entender isso para perceber os desdobramentos ao longo do tempo. Educação não é milagre, educação é construção a longo prazo. O Centro Educacional XI de Agosto/CNEG, em que pese algumas críticas que lhe podem ser feitas por questões absolutamente de natureza pessoal, foi efetivamente a grande obra de Ipaumirim na segunda metade do século XX. As festas de formatura do curso ginasial significavam muito mais que a conclusão de um curso, eram uma celebração na sociedade local diante de uma realidade antes nunca imaginada. Um olhar mais apurado permite perceber que até as acirradas disputas com o nosso inesquecível Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires foram importantes para estimular a participação do corpo docente e discente nas duas instituições promovendo assim uma melhora significativa na qualidade da educação no município.
Na administração de Dr. José Miraneudo Linhares Garcia, em 1999, o espaço foi ocupado parcialmente pela Escola de Ensino Fundamental Dr. Jarismar Gonçalves de Melo que antes funcionava no antigo prédio do hospital municipal na rua Miceno Alexandre. Como o local não comportava o número de alunos, a prefeitura passou a alugar durante o turno da tarde as instalações do Centro Educacional XI de Agosto. Com o encerramento da CNEG, em 2002, a EEF Jarismar Gonçalves de Melo transferiu-se definitivamente para o local. Conforme o Censo Escolar de 2018, esta escola abriga 701 alunos distribuídos pelo Ensino Fundamental I (299 alunos), Ensino Fundamental II (321 alunos) e 81 alunos no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
BIBLIOGRAFIA
GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Umari, Baixio, Ipaumirim: subsídios para a história política. Fortaleza, 1997. Edição do autor. 179p.
PINTO, Diana Couto. CAMPANHA DE APERFEIÇOAMENTO E DIFUSÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO: UMA TRAJETÓRIA BEM SUCEDIDA? Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe1/anais/044_diana_couto.pdf


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