Com
este post finalizamos a etapa do nosso trabalho de recuperação da memória de
Ipaumirim ancorado nas memórias de Flávio Lúcio Bezerra de Oliveira. O foco principal
do conjunto de posts são os anos 50 e 60. Começamos a construí-los em 04.12.
2018 e concluímos, hoje, 01.05.2019. Foram cinco meses de muito trabalho, mas
acreditamos que os resultados lancem alguma luz para os que se interessam pelo
tema. Naturalmente, existem outros olhares sobre o período e, oportunamente,
passaremos por eles para enriquecer a composição deste tempo. Imensamente
agradecida a Flávio pela disponibilidade e paciência neste esforço de
reconstrução, nos ajustes e correções durante todo esse tempo. O texto de hoje
discorre principalmente sobre os anos 60.
FLAVIO LÚCIO BEZERRA DE OLIVEIRA NA PRAÇA CORONEL LUIZ LEITE DA NÓBREGA. FESTA DA ACRI. IPAUMIRIM, JANEIRO DE 2010. |
“E à noite nas tabas,
Se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente:
"Meninos, eu
vi!".
(I-Juca Pirama,
Gonçalves Dias)
Com a
queda de Jânio Quadros, o Governo João
Goulart tomou posse em 7 de setembro de 1961. Jango tem como proposta as
reformas de base: reformas agrária, urbana, bancária, fiscal e universitária. Jango pretendia
criar condições para controlar o capital estrangeiro, nacionalizar e estatizar
os setores fundamentais da economia, ampliar o direito do voto para analfabetos
e oficiais não graduados das Forças Armadas e legalizar o Partido Comunista do
Brasil (PCB), depois Partido Comunista Brasileiro.” Jango foi empossado graças
a adoção do regime parlamentarista que acomodava políticos civis e militares
contrários à sua posse. O parlamentarismo teria uma vigência temporária. Estava
previsto um plebiscito para 1964 que decidiria sobre o parlamentarismo/presidencialismo.
Nas eleições de outubro de 1962 para
governador do Ceará elegeu-se governador
do Ceará Virgílio Távora, militar, pela coligação entre a UDN, o PSD e o PTN
com 371.466 votos tendo como vice Joaquim de Figueiredo Correia que recebeu
334.049 votos.
O plebiscito previsto para 1964 foi antecipado para janeiro de 1963. No Ceará,
85,56% dos eleitores votaram contra o parlamentarismo. O ano de 1963 foi de
intensas disputas políticas e o acirramento da luta desaguou na queda de Jango
e na tomada do poder pelos militares, em 1964, implantando uma ditadura que
amordaçou o pais anulando qualquer iniciativa de discussão política que não
passasse pelos seus desígnios e dizimando uma parcela significativa de
militantes contrários ao seu projeto de poder deixando o pais emudecido por
muitos anos. Não é demais lembrar que, na época, Ipaumirim desfilou sua ingenuidade
pelas ruas da cidade promovendo uma minúscula e inexpressiva réplica da famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Não se sabe de quem partiu a iniciativa para a
realização da tal passeata. É bastante curiosa a rapidez com que esta
iniciativa teria chegado a Ipaumirim, município inexpressivo perdido nos
grotões do Brasil profundo. Este fato pode até ser prosaico, mas associado a
outros dados que já encontramos ao longo da nossa pesquisa sugere uma base
municipal interligada com a rede de informações instalada nacionalmente e que
provavelmente pode ter existido igualmente em muitos outros municípios. Esses indícios vão se tornar mais sugestivos
em outras ocasiões que citaremos à medida em que eles forem aparecendo.
A nova configuração do poder amplia seus tentáculos
interferindo na política local de pequenos municípios tradicionalmente pelegos
de qualquer governo que se instalasse e sem nenhuma pretensão que avançasse
além dos limites da politicagem local cujo horizonte é a distribuição de
favores como um negócio político. Nesse
contexto, a sanha persecutória alia-se a politicagem local e instala uma
perseguição injusta e implacável contra Expedito Dantas Moreira, agricultor
tranquilo, bonachão, benquisto, decente e honesto. Na mesma época, Dr. Arruda sofre
uma perseguição que desaguou na sua cassação política. Há uma diferença entre
os dois casos que precisa ser esclarecida. No caso de Expedito, foi pura perseguição
porque não se sustentava a acusação a não ser pelo viés do desejo de dominar do
território político local. Com Dr. Arruda, essa perseguição tinha implícita a mesma
motivação, mas a acusação se ancorava num fato real fruto do personalismo, do
descuido e da inconsequência do próprio acusado.
Por diferentes caminhos e métodos semelhantes, os
dois foram duramente sacrificados.
EXPEDITO DANTAS MOREIRA |
Fonte da imagem: BEZERRA, Hermes Pereira.
Ipaumirim 60 anos. 2013. p. 62.
Na eleição de
1962, o candidato de Dr. Arruda para prefeito de Ipaumirim é Expedito Dantas
Moreira tendo como vice Sebastião Leite da Nóbrega que se candidataram pelo PR.
O candidato adversário,
Osvaldo Ademar Barbosa, pela coligação PSD – PSP, tinha como vice Francisco
Felizardo Vieira.
Foram eleitos
Expedito Dantas Moreira (1.308 votos) e Sebastião Leite da Nóbrega (1.375
votos).
Osvaldo
Ademar Barbosa recebeu 951 votos e Francisco Felizardo 857 votos.
RESULTADO ELEITORAL DOS
VEREADORES ELEITOS
NO PLEITO DE 1962. IPAUMIRIM –
CEARÁ
NOME
|
VOTAÇÃO
|
PARTIDO
|
Sebastião Barbosa de
Albuquerque
|
189 VOTOS
|
PR
|
José Leite Barros
|
225 VOTOS
|
PR
|
Francisco de Melo e Silva
|
180 VOTOS
|
PR
|
Vicente Ferreira de Souza
|
171 VOTOS
|
PR
|
Vivaldo Alves de Oliveira
|
166 VOTOS
|
PR
|
Argemiro Felizardo Vieira
|
153 VOTOS
|
PR
|
Sérgio Sobreira de Oliveira
|
202 VOTOS
|
PSD- PSP
|
Bevenuto de Almeida Cavalcanti
|
194 VOTOS
|
PSD-PSP
|
José Dias de Souza
|
101 VOTOS
|
PSD-PSP
|
Ficaram na suplência
Anastácio Raimundo da Silva (89 votos), Leônidas Augusto de Carvalho (73 votos)
e José Primo Bezerra (66 votos). Não alcançaram a
suplência: Vitorino Custódio de Morais (51 votos), José Estolano de Souza (51 votos)
e José Germano dos Santos (34 votos).
Neste pleito,
Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda foi eleito deputado estadual, pelo PTB, com
4.417 votos.
INTRIGA, PERSEGUIÇÃO E REALINHAMENTO NO JOGO DO PODER LOCAL
“É debaixo dos pano
Que a gente esconde tudo
E não se fica mudo
E tudo quer fazer
É debaixo dos pano
Que a gente comete um engano
Sem ninguém saber...
Que a gente esconde tudo
E não se fica mudo
E tudo quer fazer
É debaixo dos pano
Que a gente comete um engano
Sem ninguém saber...
É debaixo dos pano
Que a gente
Entra pelo cano
Sem ninguém ver.”
Que a gente
Entra pelo cano
Sem ninguém ver.”
(Cecéu).
Quando dos arranjos
políticos para a eleição de 1962, Ademar Barbosa manifestou a sua intenção de
ser candidato a prefeito e não foi acatado por Dr. Arruda que resistiu a
pressão e não abriu mão de uma candidatura indicada por ele.
Para melhor compreensão,
vamos segmentar dois episódios tratando-os separadamente embora, na nossa
interpretação, eles tenham um lastro e objetivos comuns que é a ocupação
definitiva do espaço político de Ipaumirim por um novo grupo que queria o poder
local.
Cabe expandir-se um pouco
para contextualizar melhor os desdobramentos políticos dos anos 60 em
Ipaumirim.
Em
22.03.1956 foi criada a Fundação das Pioneiras Sociais como uma sociedade civil de utilidade pública.
Esta experiência tem origem no trabalho social de Sarah Kubitschek , esposa de
Juscelino Kubitschek quando governador
de Minas (1951-1955). Quando JK foi
presidente do Brasil (1956-1960) essa iniciativa ampliou-se e passou a receber
oficialmente recursos financeiros. Era tarefa das Pioneiras Sociais atrair
apoio para ações assistenciais à população pobre nas áreas de saúde, educação e
alimentação. Em 19 de julho 1960, o presidente JK assinou o decreto n. 48.543,
aprovando o Estatuto das Pioneiras Sociais. Conforme o estatuto, a Fundação exercerá suas atividades em todo o
território nacional tendo por objetivos a assistência médica, social e moral
das populações carentes em suas variadas formas, o que já vinha sendo feito
desde antes. Cada estado tinha uma delegacia regional a cargo de um delegado
regional. Essas delegacias regionais trabalhavam em cooperação com os órgãos
estaduais e municipais.
Dr. Arruda
funda, em Ipaumirim, uma Associação de Pioneiras Sociais tendo como presidente:
Maria Leite da Nóbrega e como vice Maristela Bezerra de Oliveira. De posse do
documento desta associação - que existiu apenas no papel – Dr. Arruda dá
entrada num documento no órgão competente solicitando um veículo para prestar
assistência em Ipaumirim através dessa associação fictícia. A finalidade real
não tinha nenhum compromisso social. A Kombi-ambulância chegou, mas a
presidente e a vice nunca receberam o veículo e nem dele fizeram uso. A associação
foi criada para receber a kombi e a kombi veio para ficar a serviço da
política. Na ocasião, em Fortaleza, o veículo foi recebido por Jáder Nogueira
Santana, Jarismar Gonçalves de Melo e José Henrique Silva.
Nas
eleições estaduais de 1962, UDN e PSD se uniram e lançaram uma chapa – UNIÃO
PELO CEARÁ – que elegeu Virgílio Távora (UDN) como governador e Figueiredo
Correia (PSD) como vice. Isolaram politicamente Carlos Jereissati que contra
tudo e todos ganhou a campanha para senador. Dr. Arruda fica no meio do
caminho. Apoia Virgílio e Carlos Jereissati.
Na
revolução de 64, vários deputados foram cassados principalmente por perseguição
política. Entre eles, Dr. Arruda. A alegação seria que
Arruda foi cassado porque negociou a kombi à revelia das pioneiras, pioneiras
estas que foram usadas para forjar a tal associação e a ela nunca tiveram
acesso até porque essa sociedade nunca existiu verdadeiramente. Sob a
responsabilidade de Dr. Arruda, o veículo teve múltiplos usos. Entre outros, foi
utilizado muitas vezes para transportar jovens de Ipaumirim que estudavam em
Fortaleza. Várias pessoas dirigiram essa Kombi, nenhuma delas motorista profissional,
mas todas elas agregadas de Arruda.
Independente
do episódio da kombi há controvérsias na interpretação do fato no sentido de
que esta cassação nunca foi explicada de maneira convincente de forma a sugerir
muitas dúvidas. A indagação principal seria: a cassação de Arruda foi realmente
por causa da kombi ou foram interesses políticos interioranos que traçaram uma
teia junto ao alto comando da revolução no Ceará para liberar espaço político
no interior? A kombi seria o motivo ou o pretexto? Ou ainda, teria sido uma
retaliação política com bases locais que ocasionou a cassação de Arruda? Esta
indagação parece não ter incomodado Dr. Arruda durante muito tempo uma vez que ele
mesmo aliou-se aos seus inimigos políticos locais na eleição de 1966. Aliar-se
aos adversários teria sido uma necessidade de encontrar espaço dentro do novo espaço
político que se desenhava no horizonte ipaumirinense? Seria, ainda, digamos
assim, apenas uma manifestação cabocla da Síndrome de Estocolmo na políticagem
local?
Expedito teve uma
administração tímida em termos de realizações.
Calçou a antiga Rua Capitão Urbano (atual Rua. Dr.
Francisco Vasconcelos de Arruda), Rua Coronel José de Melo, Rua Afonso Leon e
construiu um grupo escolar no Sitio Bananeira.
ELEIÇÕES DE 1966
OSVALDO ADEMAR BARBOSA |
Em
1966, Ademar se alia aos industriais do algodão, os Fernandes e José Sarmento, rompe
com Vicente Augusto e se alia aos Bezerras, de Juazeiro do Norte, Adauto e
Humberto, ambos industriais e coronéis do exército, que tiveram durante muitos anos influência na
política do município.
Na
época haviam dois partidos: Aliança Renovadora Nacional (ARENA), cabresto civil da ditadura, e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) que lhe fazia oposição consentida. Vale salientar que, principalmente
no interior, o MDB era apenas uma fantasia para compor o cenário político. Cada
um deles, tinha três legendas. ARENA 1, 2, e 3. MDB 1, 2 e 3. Na prática, isso
significava que a ARENA era um circo político que abrigava todo mundo que lhes
interessasse para referendar a fantasia eleitoral. O MDB ficava com os
degredados da política interiorana.
Nesta
época, Cícero Fernandes junto com o seu irmão, General André Fernandes de
Souza, comandante da 10ª. Região Militar sediada em Fortaleza, articularam um
plano para ocupar as três legendas da ARENA, em Ipaumirim. Arruda queria que os
seus correligionários fossem para a ARENA mas estes não podiam porque estavam
privados da sublegenda.
O antigo
grupo político de Dr. Arruda, liderado, na ocasião, por Adolfo Augusto de
Oliveira, fez uma reunião, em Fortaleza, com a presença de Dr. Arruda. A
reunião ocorreu na Rua Artur Timóteo, nº 372, residência de Laura Nóbrega
Romeu, irmã de Luiz Leite da Nóbrega, falecido em 1960, e prima legítima de
Adolfo. O grupo político, em Ipaumirim, apoiaria, para deputado estadual, Almir
dos Santos Pinto, cunhado de Adolfo, que já tinha uma larga experiência política
na Assembleia Legislativa. A proposta era apoiar Almir Pinto que daria
cobertura a Dr. Arruda, na época, já formalmente excluído da política e,
portanto, sem força, prestígio e poder, mas ainda com influência sobre o
eleitorado de Ipaumirim. Arruda não quis
apoiar Almir Pinto porque não admitia que ninguém, além dele, tivesse
ingerência política em Ipaumirim. Como sempre, centralizador e personalista, a
sua compreensão era que Ipaumirim seria eternamente seu feudo político.
DR. ALMIR DOS SANTOS PINTO |
No
contexto da confusa situação política que se desenhou e diante da possibilidade de não conseguir uma saída
política que permitisse a inscrição do grupo político numa sublegenda da Arena
era preciso criar uma estratégia para que o então ainda grupo de Dr. Arruda pudesse
lançar um candidato. Uma das
possibilidades para ultrapassar o impasse seria criar, em Ipaumirim, um
diretório do MDB para abrir espaço para uma candidatura.
Adolfo
manda seu filho, o jovem Flávio Lúcio, na ocasião, com 22 anos, a Ipaumirim para viabilizar um abaixo
assinado coletando assinaturas para solicitar a Paulo Sarazate uma sublegenda.
Essa articulação política se daria através de Dr. Almir Pinto. Chegando em
Ipaumirim, Flavio Lúcio entra em contato com Vicente Gomes de Morais que
consegue assinatura de todo o grupo com
exceção de Sebasto Barbosa, José Saraiva e outros muito próximos a Arruda, tais
como membros das famílias Gonçalves e Alexandre.
Em
Ipaumirim, Dr. Arruda aliou-se aos seus antigos adversários, a família
Fernandes e Ademar Barbosa. Na ocasião, lança, em Ipaumirim, a candidatura a deputado estadual do médico Raimundo Arruda, seu irmão, que já
tinha sido candidato em 1962.
Este período foi de muita agitação política, em Ipaumirim. Politicamente muito sujo com assédio, tentativas de aliciamento através de
promessas de cargos, pressão e perseguição na política local. Em nome de espaço
político cometeram-se injustiças terríveis. Uma das pessoas mais injustiçadas,
nesta época, foi Expedito Dantas Moreira . Agricultor, bem-intencionado,
honrado, amistoso, foi ferrenhamente perseguido. Nem vale a pena abrir os detalhes sórdidos
deste período porque os personagens já não existem e não teriam, portanto, como
se explicarem. A própria dinâmica política local, com o tempo, desenhou novas
alianças e cenários.
Foi o
deputado Almir Pinto quem intercedeu por Expedito Dantas junto ao General
Itiberê Gouveia do Amaral, naquela ocasião Comandante da 10ª. Região Militar, explicando-lhe
a situação de perseguição política local e livrando Expedito Dantas de uma
denúncia totalmente descabida e injusta. Durante um almoço na casa de Almir
Pinto, na serra de Maranguape, em homenagem ao referido general, Dr. Almir o
fez ciente da situação de Ipaumirim e o general mandou arquivar a denúncia.
A configuração
política de Ipaumirim, na época, era dividida entre três grupos:
Grupo 1: constituído
por Ademar Barbosa + Família Fernandes + Família Sarmento + Chico Felizardo +
Luiz Ferreira vinculados aos Bezerra de Juazeiro do Norte.
Grupo 2: constituído
por Arruda + José Saraiva + Sebasto Barbosa + Vicente Ferreira, entre outros. Apoiava
Ademar Barbosa mas votava para deputado em Raimundo Arruda.
Grupo 3: constituídos
pelos dissidentes, na época denominados rebeldes. Entre eles, Jerônimo Jorge
que seria candidato a prefeito, Adolfo Augusto de Oliveira, Expedito Dantas
(prefeito), a família Nóbrega, a família Melo e parte da família Gonçalves. O
deputado estadual deste grupo era Dr. Almir Santos Pinto e o deputado federal
era Virgílio Távora.
Para
entender como foi conseguida a sub legenda pelos dissidentes é preciso expandir
um pouco o cenário das alianças políticas para além de Ipaumirim.
Carlos MAURO Cabral BENEVIDES
(PSD), quando presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (1963/1965), teria
nomeado muita gente, o chamado Trem da Alegria da o que deu origem a um mal
estar entre as autoridades políticas e militares. O excesso de nomeações trazia
inúmeros problemas num amplo espectro que vão do nepotismo à questões
políticas mais abrangentes. Na ocasião, Dr. Almir Pinto, deputado estadual, e
Secretário da Saúde, foi convidado para discutir o problema e encaminhar
um consenso sugerindo que não se demitiriam sumariamente os funcionários da
Assembleia a não ser que todos os funcionários de diferentes órgãos
públicos estaduais contratados na mesma condição fossem submetidos à mesma
resolução. A sugestão desagradou a alguns dos presentes que tinham parentes instalados
por procedimentos semelhantes em outras instâncias do poder estadual. Não sendo
isto possível - em função de interesses próprios dos que cobravam uma solução
para o problema - a solução seria não demitir sumariamente os
funcionários e realizar um concurso público interno. Esta proposta agradou ao
grupo, militares e políticos, que fazia pressão contra a iniciativa de
Mauro Benevides. Daí, nasce a amizade de Dr. Almir Pinto com o general Itiberê
que vai ajudar na solução do processo contra Expedito Dantas Moreira.
É também por intermédio de Almir Pinto
junto a Paulo Sarazate, presidente do diretório estadual da ARENA, que o grupo
político dissidente de Arruda nas eleições de 1966 consegue uma sub legenda na
Arena contrariando assim as articulações políticas do grupo adversário que se
valeu de políticos e militares para impedir que aquele grupo tivesse acesso a
uma sub legenda. A atuação de Almir Pinto abortou a iniciativa da perseguição
política local e, ainda, a ideia de criação de um diretório do MDB em
Ipaumirim. Vale registrar que os resultados do TRE CE para as eleições de 1966,
em Ipaumirim, registram Jerônimo Jorge como candidato do MDB e todos os seus
vereadores como candidatos da ARENA. Não conseguimos identificar quem era o
candidato a vice-prefeito na chapa de Jerônimo Jorge.
JERÕNIMO JORGE
RESULTADO DAS ELEIÇÕES DE 1966 EM
IPAUMIRIM
RESULTADO ELEITORAL DOS VEREADORES QUE ACOMPANHAVAM
OSVALDO ADEMAR BARBOSA
Ipaumirim - 1966
RESULTADO ELEITORAL DOS VEREADORES QUE
ACOMPANHAVAM
JERÔNIMO JORGE DA SILVA
Ipaumirim - 1966
O fato
novo na politica de Ipaumirim é a presença de duas mulheres candidatas quando
foi eleita Maria Gonçalves Diniz, a primeira mulher eleita vereadora no
município. Vale acrescentar que isto tem apenas uma dimensão simbólica mas não
representou nenhuma intervenção ou abordagem na questão da mulher.
No
pleito, Dr. Almir Santos Pinto foi eleito, pela Arena, com 4.891 votos e
Raimundo Arruda ficou na suplência, também pela Arena, com 2.269 votos.
No
segundo mandato, Ademar Barbosa conseguiu através da intermediação de Dr. Almir
dos Santos Pinto, na época, Secretário de Educação do Ceará, construir o novo
prédio do Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires onde hoje funciona o
Colégio Estadual. Segundo Zenira Gonçalves Gomes, diretora da escola, a obra
nunca foi oficialmente inaugurada. Aos poucos, foram transferidas as atividades
da antiga escola que passaria a abrigar o antigo Colégio do CNEG (Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos) e atualmente funciona a Escola Municipal
Dr. Jarismar Gonçalves de Melo.
Da esquerda p/ direita: Prof. José Holanda, Dr. Jarismar Gonçalves, ? Profa. Zenira Gonçalves Gomes, ?, vice-prefeito Chagas Sarmento e prefeito Osvaldo Ademar Barbosa defronte ao novo prédio do Grupo Escolar dom Francisco de Assis Pires.
Fonte da imagem: alagoinha.ipaumirim.blogspot.com
Ademar
foi o prefeito que mais se preocupou em criar uma infraestrutura básica e deu a
Ipaumirim um jeito de cidade.
Nos dois
mandatos construiu ainda a Cadeia Pública, a Casa de Força, o antigo açougue -
no local onde depois foi construída a prefeitura antes de transferir-se para o
antigo prédio do Banco do Brasil, originalmente residência de Ademar Barbosa, toda
a obra que compõe o matadouro, perto do antigo triângulo na saída de Ipaumirim,
calçou algumas ruas, trouxe a energia de Paulo Afonso.
Ademar
tinha uma visão mais moderna. Era um empreendedor. Vaidoso, deixou registro
fotográfico das suas obras. Estas fotografias que pertencem ao arquivo popular
de Anchieta Nery (mais de 200 fotos) foram publicadas no blog
alagoinhaipaumirim. As fotografias foram doadas a Anchieta Nery por Francisco
Meira Barbosa (Chiquinho de Ademar). De acordo com as fotos que publicamos,
Ademar fez obras (escolas rurais) nos sítios e no distrito de Felizardo. Não
sei com quem ficou o arquivo fotográfico de Ademar que eu organizei, publiquei
e devolvi os originais a Anchieta Nery. Estas fotos continuam disponíveis no
blog alagoinha.ipaumirim.blogspot.com
O curioso
é a permanência e a funcionalidade das obras construídas por Ademar Barbosa.
Mesmo historicamente mal administradas e mal cuidadas, com exceção do antigo
açougue que foi demolido, suas obras até hoje não desmoronaram.
Ademar
Barbosa nasceu em Pereiro- CE, em 1910, e faleceu em 05 de outubro de 1978.
A
briga política de 1966 respingou no Clube Recreativo de Ipaumirim (CRI). Na
época, José Saraiva era presidente do CRI e Nilda Nery, sua sobrinha, era
secretária. Na ocasião, ia acontecer a eleição anual para presidência do CRI
que ficou travada porque Nilda Nery não quis entregar a lista dos sócios. Foi
preciso Adolfo Augusto de Oliveira entrar na justiça para que a lista fosse
entregue.
CARTEIRAS DE SÓCIOS DO CLUBE RECREATIVO DE IPAUMIRIM
Em
1970, o pessoal ligado a Dr. Arruda lança José Saraiva como seu candidato a
prefeito e Ademar Barbosa lança Nildo Fernandes. Os antigos correligionários de
Dr. Arruda, por ele abandonados na eleição de 1966, aliam-se a Nildo Fernandes
que ganha a eleição. Esta foi a primeira derrota de Arruda dentro de Ipaumirim.
Nildo Fernandes foi eleito para um período de apenas dois anos.
Na
esteira do arrudismo, Miguel Cairo Arruda é eleito prefeito de Ipaumirim , na
eleição de 15 de novembro de1972 pela Arena 2.
Dr.
Francisco Vasconcelos de Arruda faleceu em 23 de outubro de 1973.
A
partir dos anos 70, os políticos tradicionais foram se afastando por diferentes
razões do front e a política de Ipaumirim inicia uma nova era que precisa
ser posteriormente tratada por outros
interessados no tema. Há uma renovação política em Ipaumirim mas apenas no que
diz respeito aos personagens mas não necessariamente aos métodos nem às ideias.
A partir deste período Flávio está envolvido com suas atividades profissionais,
em Fortaleza, e já não se envolve com a política de Ipaumirim, razão pela qual
não tratamos desta fase. E eu, já instalada em Recife, transfiro meu título e
me dedico a descobrir novos caminhos.
BIBLIOGRAFIA
BEZERRA,
Hermes Pereira. Ipaumirim 60 anos. Ipaumirim.
2013. Edição do autor. 330p.
Censo
Demográfico de 1960. Ceará. VII Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional.
Volume I - Tomo IV, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Departamento de Estatística de População., (volume: Série
Regional. Volume I - Tomo IV. Ceará. 1960)
Censo
Industrial de 1960. Maranhão - Piauí - Ceará - Rio Grande do Norte. VII
Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional. Volume III - Tomo II, IBGE -
Serviço Nacional de Recenseamento., (volume: Série Regional. Volume III - Tomo
II. Maranhão - Piauí - Ceará - Rio Grande do Norte. 1960)
Censos
Comercial e dos Serviços de 1960. Maranhão - Piauí- Ceará - Rio Grande do
Norte. VII Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional. Volume IV. Tomo III, IBGE -
Serviço Nacional de Recenseamento., (volume: Série Regional. Volume IV. Tomo
III. Maranhão - Piauí- Ceará - Rio Grande do Norte. 1960.)
PANDOLFI,
Dulce. A trajetória política de João
Goulart: O
cenário político-partidário do período. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/O_cenario_politico_partidario_do_periodo
PONTES,
Roberta Kelly Santos Maia. As disputas entre o PSD e o PTB no Ceará !954 –
1963. Disponível em:
TEMPERINI, Rosana Soares de Lima. Fundação
das Pioneiras Sociais: Contribuição Inovadora para o Controle do Câncer do Colo
do Útero no Brasil, 1956-1970. Revista
Brasileira de Cancerologia 2012; 58(3): 339-349. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/rbc/n_58/v03/pdf/03_artigo_fundacao_pioneiras_sociais_contribuicao_inovadora_controle_cancer_colo_utero_brasil_1956_1970.pdf
UCHOA,
Waldery. Anuário Estatístico do Ceará.
1953-1954. Vol. 1. Disponível em: http://memoria.org.br/pub/meb000000421/anuario19531954ce1/anuario19531954ce1.pdf
MLUIZA
01.05.2019
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