IPAUMIRIM: DE VOLTA AO COMEÇO


MLUIZA

"Quando a lenda se torna realidade, publica-se a lenda". Essa frase célebre faz parte do filme ‘O homem que matou o facínora’ (1961), de John Ford. Frase similar bastante conhecida entre nós seria ‘o importante não é o fato mas a sua versão’, atribuída a Benedito Valadares mas, na realidade dita por José Maria Alckmin, ambos políticos mineiros. Espirituosas, as duas frases dão conta do muito que nos é contado ao longo da vida não apenas pelo jornalismo ou pela política, mas também pela tradição oral. 
As coisas quase nunca não são tão simples da forma como está formulada a questão.  A vida não é linear, não é uma passarela com começo, meio e fim por onde passam os acontecimentos e nós, passando junto com eles,  saímos por aí contando o que achamos conveniente.  A vida é uma construção de significados que dão sentido às nossas experiências. Isto implica que a nossa versão de um fato é construída a partir da nossa relação com o fato que narramos. Cada sujeito é único na sua forma perceber o real. Trabalhar com memória é um exercício de compreensão dessas particularidades. Trabalhar com memória é trabalhar com afetos. Acompanhar um relato é um exercício e um esforço de compreensão lastreado pela consciência de que nenhuma interpretação é completa e nem dá conta da totalidade, mas todas, em conjunto, podem contribuir - cada uma à sua maneira - para explicar melhor os enredos, os contextos e os processos.
Os relatos de memória e a relação que se estabelece no processo ‘contar/ouvir contar’ tem uma dinâmica própria que vai construindo-se ao longo da entrevista. Não basta produzir um roteiro detalhado.  O domínio da técnica é fundamental, mas a sintonia que se estabelece estrutura-se também a partir de outras variáveis. A dinâmica do diálogo vai além do previsto nos manuais. Transformar esse momento numa experiência prazerosa é um desafio para o entrevistador e para o entrevistado.
A generosidade dos meus entrevistados em compartilhar comigo as suas lembranças e as suas vivências significa um voto de confiança que eu agradeço profundamente. Conhecer IP através das suas experiências tem sido uma revelação e um aprendizado que pretendo compartilhar com todos aqueles que querem saber um pouco mais sobre o nosso passado.
Aos poucos e em etapas pretendemos passar por múltiplos personagens cujas vidas se misturam com a vida da cidade.
Esta série sobre a memória de IP tem algumas pretensões que ratificam os nossos propósitos desde o alagoinha.ipaumirim:
- realçar a importância de cada personagem/fonte na construção da memória do município e como suas vidas com ela se entrelaçam;
- resgatar informações sobre o município a partir de fontes fidedignas;
- mostrar que a diferença de olhares é fundamental para a compreensão do conjunto;
- a temática é aberta e propõe, a longo prazo, incorporar informações sobre política, educação, economia, costumes e cultura de forma a construir um banco de informações sobre o município a partir de múltiplas fontes.   
Com esta série pretendo ainda homenagear o meu amigo, Anchieta Nery, cuja entrevista seria imprescindível para ajudar a compor a memória de nossa terra. Tantas vezes conversamos e marcamos para depois que o tempo e a fatalidade se anteciparam aos nossos propósitos.
Recife, 28.01.2019
Maria Luiza Nóbrega de Morais

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