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MLUIZA |
Como
seria o nome de Bilina? Por aproximação, talvez Umbelina. Negra, alta, de
dentes claros e bem perfilados. Não sei se era de Ipaumirim mas sei que lá
morava embora não lembre em que rua. Também não lembro do que vivia. Bilina
tinha um amor platônico por um tal Pedro. Eu não conheço uma só pessoa que o
tivesse conhecido. Existindo ou não,
Pedro era apenas um detalhe. Que importância teria um nome diante do
devotamento desse amor? Vez por outra
ela vinha lá em casa falar com mamãe para reclamar de papai. Dizia ela que
Pedro lhe havia enviado um cordão de ouro e papai teria recebido. Se o presente
não estivesse lá em casa era porque, com certeza, papai teria presenteado as fuambas do triângulo. Fuamba era como ela
chamava as moças que faziam a vida no cabaré do triângulo onde hoje se localiza
uma fábrica de sabão. Passava um tempo e lá vinha Bilina, de novo, cobrar um
corte de tecido que Pedro havia enviado. E assim se sucediam os presentes
extraviados por papai. O certo é que depois a gente descobriu que era Centor
Victor, frequentador dedicado do cabaré do triângulo e nosso vizinho durante
muitos anos, que contava isso pra ela. A gente já ficava rindo quando Bilina
entrava lá em casa indignada atrás dos seus presentes. Meu pai era um sujeito bem-humorado
e adorava essas presepadas. Um dia, perguntou-lhe
bem sério:
-
Bilina, você está de calça?
Em
cima da bucha ela respondeu:
-
Vicente, deixe de ser enxerido. Você não sabe que eu só uso calça quando vou
andar de trem?
Com a
minha saída precoce para estudar fora de Ipaumirim acabei perdendo o contato
com os detalhes da cidade e não sei quando Bilina saiu de cena. Quem sabe terá encontrado
seu amado Pedro numa outra dimensão.
MLUIZA
15.03.2018
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