PRENDAS DOMÉSTICAS



MLUIZA

Definitivamente, hoje eu não tô pra ninguém. Passei dois dias em casa só trabalhando no computador. Ai meu saco (se eu tivesse)! Li, reli, olhei, virei, mexi tudo. Nada me interessou. Tô com aquela sensação que pisei em rastro de corno. Credo. Ia viajar na quinta de manhã. Não deu por conta de um monte de coisas que tenho para fazer. Tudo bem, eu rendi bastante, mas em compensação não curti nada. Nestas horas sempre acho que eu devia aprender a costurar. Ficar com o básico e virar uma prendada mulher.
Até tecido já comprei, só falta ter tempo pra mandar consertar a máquina de costura. Só de pensar em mandar consertar a máquina, já desisto. Faz tanto tempo que a coitada está guardada, acho que o conserto pode até ser o preço de uma nova. Quando fui morar sozinha, a primeira coisa que comprei foi uma máquina de costura. Sempre achei que toda casa tem que ter uma máquina de costura mesmo as que não têm costureira. Toda faceira comprei a minha com gabinete. Tomava muito espaço, mandei transformar em portátil e joguei o gabinete fora. Não perdi nada porque ele era de aglomerado. Não lembro nenhuma costura que eu tenha feito.
Um tempo inventei de aprender a fazer docinhos e salgados. Fiquei abismada com a minha habilidade para fazer doces decorados. A última vez que lembro de tê-los feito foi no aniversário da filha de uma amiga minha. O doce não deu o ponto, ficou meio mole. O jardineiro me deu uma ideia.
- Por que não bota pra secar no sol? Lá em cima da cisterna, no quintal, é ótimo.
Botei. Quando fui olhar a minha obra prima estava trágica. As bonequinhas estavam com uma tremenda cara de lua cheia. Tiramos do sol e botamos no congelador. A sorte é que criança come tudo.
Aprendi a fazer antepasto de berinjela. Amei. Até um italiano elogiou. Da última vez que eu fiz nem o cachorro de uma amiga quis comer. Ainda hoje tenho monte de receitas desta minha fase cozinheira.
Quando morei em república, em Sampa, minha função era fazer o suco e, às vezes, a verdura. Dava um help na limpeza. Quando eu ia pra cozinha passava horas dando explicação antes de servir a comida. Um colega sempre aproveitava pra tirar um sarro:
-Não precisa explicar. O produto final não mente jamais.
Tá, tudo bem. Resolvi mudar de ramo. Passei a organizar a agenda cultural da casa e a sair pra comprar os ingressos.
E assim foram minhas experiências culinárias. Resolvi partir para o mundo dos bordados em contas. Fiz muita coisa legal. Foram meus tempos de dança do ventre. Fiz roupas lindas que, ainda hoje, minha filha e as amigas usam para dar um plus nas fantasias nos bailes de carnaval. Nem preciso dizer que nada mais me cabe.
Uma das coisas mais interessantes que eu fiz foi dança do ventre. Qualquer dia volto. Com barriga e tudo mas dança do ventre não combina com anorexia, o que já é um conforto e uma desculpa.
Passei uns tempos no crochê. Fiz até umas coisas legais. Tricô nunca foi a minha praia. Inventei de bordar outras coisas para aproveitar meu estoque de pedrarias. Comecei uma saia e nunca terminei. Comecei uma toalhinha de mão que prometi a filha de uma amiga. Toda vez que a guria vem aqui, me pergunta se terminei. Um dia, termino, quem sabe.
Ah! Também teve o tempo dos cursos de massagens. O SENAC era pouco para mim. Fiz mil cursos inclusive do-in. Pergunta quantas vezes eu apliquei? A minha filha era minha cobaia, até que eu manjava alguma coisa. Não decorei os pontos, mas tinha noção. Faz tempo que nem sei por onde anda o caderno de anotações.
Diz aí se eu posso me aposentar. Vou fazer o que?
MLUIZA

Postado no alagoinha.ipaumirim em 04.06.2010 

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