PERFIL: LUIZ LEITE DA NÓBREGA



MLUIZA

Confesso. Não gosto de compartilhar os meus afetos. É isso. Eu tenho ciúme das minhas lembranças. Tenho essas esquisitices. Eu que já produzi longos perfis não gosto de falar dos meus. Eu preciso ter certeza que estou em sintonia com alguém para compartilhar com ela o que me é caro. Assim, posso passar anos esperando a pessoa certa para compartilhar alguma coisa que me marcou, que eu vi ou que vivi. Nem precisa ser uma coisa, fato ou sentimento extravagante, especial ou diferente. Paul Auster (in ‘O caderno vermelho’, li e gostei demais) sugere que ‘ ainda que seja certo dizer que o maior prazer que sentimos ao ler um poema, como quando desfrutamos de uma obra de arte, não provém de uma reflexão profunda, mas de sensações que nós experimentamos.’’ No meu caso, está sensação vai além da arte, ela se revela também em relação às minhas vivências afetivas. Talvez venha daí a minha dificuldade de falar sobre meu avô. É isso, não me sinto confortável de falar sobre as minhas sensações mais caras. Então, vou-me deter apenas a alguns documentos públicos que guardo comigo. Sei que deve ter bastante coisa nos arquivos da paróquia de Umari e também da Prefeitura de Baixio se ambos não estiverem destruídos. Acredito que tenha deixado suas marcas na região. Se assim não fosse a praça principal de Ipaumirim não levaria seu nome por iniciativa de seus amigos, pessoas ilustres, sérias, respeitadas e comprometidas com o bem público num tempo em que esses valores tinham sentido e importância.  Sei também que ele deixou mais de mil afilhados na região e que muitas coisas eu vi e vivi com ele. Sou sua neta mais velha e partilhei diuturnamente com ele os meus primeiros nove anos. O que posso dizer é que me orgulho imensamente do meu avô. Não me importa a figura pública, ele foi meu avô. No mundo dos afetos, isso me basta.
MLUIZA  

LUIZ NÓBREGA, MEU AVÔ
LUIZ LEITE DA NÓBREGA 
Natural do Sítio Panelas, município de Lavras da Mangabeira, nasceu em 27 de setembro de 1895, filho de Jerônimo José da Nóbrega e dona Francisca Leite da Nóbrega. Quando mascate, em Ipaumirim, contraiu núpcias com Maria Leite da Nóbrega, pernambucana de São José do Egito. Do casal, sobreviveram os filhos Luiz Leite da Nóbrega, Maria Eunice Nóbrega de Morais, Sebastião Leite da Nóbrega, Maria Luiza Leite da Nóbrega e Vilany Nóbrega Brasil.
Trabalhou na construção da ferrovia cearense, depois voltou-se para a agricultura destacando-se como maior produtor de algodão da região.
Foi o principal baluarte da festa de São Sebastião, em nossa cidade, construindo com a ajuda de amigos a capelinha de São Sebastião que que fica no alto da pedra, ponto de turismo religioso na cidade.
Foi o fundador da paróquia e defensor da igreja em nossa terra. Manteve correspondência por muito tempo com o General Juarez Távora, Menezes Pimentel, Nogueira Acioly, Fernandes Távora, Beni de Carvalho, Olavo de Oliveira, Raul Barbosa, entre outros.
Sua residência sempre hospedou personalidades da política e da igreja além de amigos e correligionários da região.
O casal deixou mais de mil afilhados no município. Luiz Leite da Nóbrega faleceu em Fortaleza, na Casa de Saúde São Lucas, em 02 de novembro de 1960.

                                           
LUIZ LEITE DA NÓBREGA
VIDA PÚBLICA

Em 28.10 de 1929 foi designado pelo então Presidente da República do Brasil para ocupar o cargo de suplente de substituto de Juiz Federal da Comarca de Lavras da Mangabeira.

Em 15.10.1930 foi designado pelo então Ministro da Guerra como Depositário de Armas e Munições nas vilas de Ipaumirim, Baixio, Umari e Olho d’água.


 

Documento de nomeação para arrecadação de armamentos nas vilas de Umary, Alagoinha, Baixio e Olho d"água



Conforme o Decreto nº 1.156, de 04 de dezembro de 1933, o município de Baixio compreende também os distritos de Alagoinha e Olho d’água. Em 20.12.1938, através do Decreto Estadual nº 448, o distrito de Olho d’água passa a se chamar Felizardo. Em 30.12.1943, Alagoinha passa a ser chamado Ipaumirim. Apesar dos decretos e durante muitos anos depois tanto Felizardo como Ipaumirim eram conhecidos popularmente pelos nomes de Olho d’água e Alagoinha.

Em 03 de janeiro de 1947 foi nomeado pelo Interventor Federal do Ceará para ocupar o cargo de Prefeito Municipal da cidade de Baixio – CE. Logo depois, no mes de março  foi deposto do cargo.

 
NOMEAÇÃO PARA O CARGO DE PREFEITO DE BAIXIO


Em 07 de dezembro do mesmo ano foi eleito Prefeito de Baixio e, por conseguinte do Distrito de Ipaumirim onde residia,  com 1.650 votos derrotando seu opositor, Francisco Irineu.
DIPLOMA DE PREFEITO DE LUIZ LEITE DA NÓBREGA

DOCUMENTO QUE ME FOI ENVIADO PELO PESQUISADOR DE BAIXIO, PROF. HEGILDO HOLANDA, A QUEM AGRADEÇO IMENSAMENTE A GENTILEZA.
 Quando prefeito, construiu a praça junto da igreja que após sua morte levou seu nome, a Aguada Pública José Ferreira de Santana (durante muito tempo foi o principal ponto de abastecimento d'água de Ipaumirim). Outra aguada também foi implantada na saída antiga para Cajazeiras. As aguadas eram chafarizes com caixas d’água para abastecer a população. Segundo Rejane Augusto, em sua obra Umari, Baixio Ipaumirim: subsídios para a história política, em 03 de fevereiro de 1950, Luiz Nóbrega inaugurou a luz elétrica do distrito de Felizardo. Uma ocasião eu estava em Felizardo com Anchieta e ele me mostrou as ruínas de um prédio construído por ele mas não lembro onde fica. 
Vereadores do período: Alexandre Gonçalves da Silva, Artur Saraiva de Araújo, João Crispim Gonçalves, João da Costa Sobrinho, José Ferreira Lima, José Leite Ribeiro e Osvaldo Ademar Barbosa.
FOTO DA PRAÇA RECÉM INAUGURADA. Da esquerda para direita: Dr. Francisco Vasconcelos de Arruda, Monsenhor Manuel Carlos de Morais, Luiz Leite da Nóbrega, Luiz Leite da Nóbrega Filho.
Ao fundo: Rua do Sol, atual Prefeito Alexandre Gonçalves e residência de José Macedo, atual residência dos herdeiros de Anchieta Nery.
(Arquivo particular de Maria Luiza Nóbrega de Morais






PRAÇA CORONEL LUIZ LEITE DA NÓBREGA

O busto no centro da praça foi homenagem prestada pelos amigos logo após o seu falecimento. Como, no momento,  não lembro o nome de todos, posteriormente acrescentarei os seus nomes.

VISÃO GERAL DA PRAÇA CEL. LUIZ LEITE DA NÓBREGA


PRAÇA CEL. LUIZ LEITE DA NÓBREGA TAMBÉM CONHECIDA COMO PRAÇA DA MATRIZ


FOTO DO MEU ARQUIVO PESSOAL QUE ANTES PERTENCIA A VILANY LEITE DA NÓBREGA
Foto das ruínas Aguada durante a última inundação em 2011
(Peguei na internet, não lembro a fonte)
Quando prefeito, foi manchete no jornal Estado de Minas ao transferir o descanso semanal de domingo para quinta-feira.

JORNAL O ESTADO DE MINAS (O DOCUMENTO NÃO REGISTRA A DATA DA PUBLICAÇÃO).
“O prefeito de Baixio, no Ceará, dizem os telegramas, transformou a quinta-feira em domingo dando ao povo dois dias de descanso na semana.

O prefeito não se engana
Seguindo esse rumo novo
Dois domingos na semana
Para a alegria do povo!
°°°
Aos cearenses escaldados
Pelo sol que é fogaréu
Uma chuva de feriados
Vale bem mais que a do céu.
°°°
É um prefeito extraordinário
Maior que todos, talvez
Sem meter a mão no erário
Fez coisas que ninguém fez.

Recentemente, Prof. Hegildo Holanda me informou haver encontrado em suas pesquisas  um decreto de Luiz Nóbrega criando uma escola de música em Baixio na época em que foi prefeito. Acredito que Hegildo em suas pesquisas deve encontrar detalhes sobre a gestão de Luiz Nóbrega. Eu tenho apenas esses documentos guardados pela minha tia Vilany Nóbrega. E como a mim me importa particularmente a memória afetiva, deixo aos pesquisadores o resgate do legado político de meu avô. Quero terminar meu depoimento com um verso da música Efêmera interpretada por Tulipa Ruiz.

"Congela o tempo pr'eu ficar devagarinho
Com as coisas que eu gosto
E que eu sei que são efêmeras
E que passam perecíveis
Que acabam, se despedem,
Mas eu nunca me esqueço.
"

MLUIZA
Editado a partir das informa anteriormente publicadas nos blogs. alagoinha,ipaumirim e becodocustódio.
Recife, 10.02.2018. 

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