Nos antigos circos que passavam por Ipaumirim não
sei porque no repertório das baianas que eram como se chamavam as artistas que
cantavam. Havia uma música recorrente em quase todos os circos. A letra era
mais ou menos assim:
Dona Maria, mulher do caroço, pegou uma corda pra
enforcar o meu pescoço. Mas, menino, que bichinho é esse?
É a barata, respondia em coro o animado o público que
se aninhava nos poleiros.
Pegue a chinela e mata, ai vocês querem é me matar,
não é?, retrucava a baiana.
Pois não é que hoje eu amanheci com essa música na
cabeça!
Circo sempre me lembra Zé de Águida, acho que por
conta do seu deboche. Na sua irreverência ele lançava seu grito de guerra>
- Essa daí é bonita mas está ‘bochuda’.
O público delirava. Para mim, ir ao circo e sentar
nas cadeiras era como ir a Roma e não ver o papa. Senti-me o máximo quando
mamãe me liberou para frequentar os poleiros.
O meu irmão, Haroldo, tinha um gosto especial para
gritar atrás dos palhaços que anunciavam o circo pelas ruas do povoado
anunciando à tarde o espetáculo da noite. A criança, os meninos nunca as
meninas, que acompanhavam o palhaço fazendo-lhe coro recebiam uma cruz na testa
pintada com carvão. Era o passe para logo mais assistir gratuitamente a função
da noite. Lá em casa, era uma guerra na hora do banho que ele não queria tomar
com medo de apagar a cruz.
No momento do drama que era o ápice da apresentação, o público atento fazia uma pausa na algazarra. Entre as peças tradicionais, lembro o nome de duas: 'A louca do jardim' e 'O céu uniu dois corações' mas não lembro da trama de nenhuma delas. Outro dia, eu vi num dos teatros aqui do Recife o anúncio da peça A louca do jardim. Não sei se seria a mesma ou similar. Talvez não fosse nem uma coisa nem outra. Mas eu fiquei injuriada porque não deu certo ir assistir. Essas coisas ficam na memória esperando um momento
fortuito para entrar em cena.
MLUIZA
Publicado
originalmente no alagoinha.ipaumirim em 18.09.2011. Texto editado para esta
nova publicação.
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