A celeuma em torno da tal proposta do "Minha
Casa Minha Vida" que não foi aprovada pela Câmara Municipal de Ipaumirim
nos remete a algumas reflexões críticas diante da insistência em se cometer os
equívocos de sempre. Aí, eu lembrei do velho guerreiro, Chacrinha, que dizia
“vim para confundir e não para explicar”. É um pouco por aí que as coisas acontecem
sempre que saímos da objetividade dos fatos para a subjetividade dos afetos.
Quanto mais se fala, mais se confunde e menos se explica.
E ninguém consegue se fazer explicar. A discussão
entrou na politicagem e a partir daí ninguém espera mais nada porque o
horizonte acaba sendo a baixaria típica dos fuxicos alimentados pela
desinformação.
Se há um projeto proposto pela Prefeitura Municipal
para integrar um programa que atende a população de baixa renda, em tese, a
proposta é indiscutível do ponto de vista da intenção. Mas da intenção ao
gesto, há todo um percurso que precisa ser discutido, sim. Pela
comunidade inclusive antes de passar pela Câmara. Isto configura a
transparência tão alardeada na época das campanhas. Ouvir, compartilhar, discutir,
criar estratégias de interação entre o poder e a comunidade.
Não podemos fazer de conta que nós não temos um
passado político que se reflete no presente. Esse passado foi e ainda é uma
pauta precária e nociva aos interesses reais da comunidade. E tanto é
assim que as coisas tomaram a dimensão que tomaram diante de um episódio. Há
toda uma explosão de base politiqueira e ninguém bate na ferida porque ninguém
– ninguém, mesmo - quer enfrentar o real problema que são os critérios e os
métodos da política local.
Sabe-se que todo programa tem normas, regras e
exigências que são padrão que devem ser obedecidas por todos os demandam os
recursos. Isso é indiscutível. É compreensível que os perfis dos candidatos a
tais programas tenham similaridades, mas não que devam ser iguais. O programa é
comum, mas os projetos não. Eles situam-se na encruzilhada entre a normatização
burocrática e a realidade que é sempre soberana. E entre esses dois pontos,
podem passar muitas obscuridades, publicáveis ou não.
Não é preciso ser especialista no assunto, não é
preciso fazer jornalismo investigativo para saber que o percurso abre
possibilidades que estão muito além das normas e da própria realidade.
Propor é um direito do executivo, não há dúvidas
sobre isso. Examinar, fiscalizar, cobrar, pedir explicações e propor alterações
sobre pontos que se consideram inadequados é função e dever da Câmara de Vereadores.
Explicar e desfazer estes equívocos é obrigação da prefeitura.
Isso é uma norma básica do compromisso daqueles que
são eleitos pelo voto popular.
Se a oposição sugere que o projeto pode ter sido
copiado de algum outro município, ela pode ter razão. Há um antecedente
político quando da cópia do primeiro plano de governo do Município de Ipaumirim
ser igual ao de Umari. Não é um incidente desprezável e pode, sim, ter criado
uma expectativa de desconfiança tanto na oposição quanto no eleitor. Isto não quer
dizer também que diante da vergonha que se passou publicamente, não se tenha
mudado de postura. Afinal, no mundo da tecnologia da informação as cópias não
são difíceis de serem descobertas e se arriscar é sempre uma exposição
desnecessária. Mas, ainda assim, a despeito de semelhanças burocráticas, não
se justificaria uma tomada de posição gratuita contra um projeto em sua
totalidade.
Também não se justifica se assim foi, conforme ouvi
no ipaumirim.com, que os partidos da situação tenham agido de forma leviana
querendo transformar esse episódio num ato político sem cabimento transformando
o legítimo direito de discordar como se fosse uma afronta à comunidade. Não
foi. A divulgação pública foi um gesto político de baixíssima civilidade. Se o
rapaz fez isso por conta própria usando o nome do governo municipal e seus
partidários, a coisa se complica para o lado dele, mas ainda pode-se entender
como um gesto impensado de um jovem inexperiente. Neste caso, a prefeitura
precisa informar que não foi ela quem mandou divulgar tamanha falta de respeito
com a democracia. Ninguém é obrigado a votar a favor. O que é preciso são
razões para votar a favor e/ou contra quando se está representando o povo e a
ele deve satisfações. Da mesma forma é injusta e atenta contra o direito de
expressão se alguém é proibido de manifestar sua opinião de forma que ir
prestar queixa contra o rapaz numa delegacia é um gesto reprovável se
aconteceu realmente como foi divulgado nas mídias locais.
Não entendi porque a mídia local se remeteu ao Dr.
Geraldo a pedir-lhe explicações que devem ser dadas por quem votou e não pelo
chefe político local da oposição. Passar por cima disto é considerar que a
Câmara não tem valor de representação porque replica apenas orientações
políticas externas sem debruçar-se sobre as implicações reais das propostas
apresentadas à este órgão. Isto vale também para os vereadores de situação. A
Câmara precisa ter autonomia se quiser ser respeitada, não pode ser vista ou se
comportar como mera reprodutora do que pensam as lideranças políticas, estejam
ou não no poder. Os vereadores lá estão porque foram votados pelo povo e não
porque foram nomeados pelos chefes políticos.
A única forma de agir com clareza e transparência
que acredito que é o que o povo deseja e, também, para dirimir qualquer dúvida
e esvaziar a boataria, basta que se publique a proposta que foi apresentada.
Publique-se o projeto na íntegra. Simples assim.
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 03.10.2013
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