FESTA DE SÃO SEBASTIÃO 2011



MLUIZA
Festa no meio da semana é sempre menos movimentada, mas não é - nem de longe - uma festa apagada. A Festa de São Sebastião 2011 foi assim. Muita gente, mas sem o alvoroço dos eventos no fim da semana. Boa, divertida, todo mundo aproveitou porque teve diversão saudável para todos os gostos e idades. Tudo nos conformes, não houve excessos, a segurança funcionou legal. De modo geral, eu diria que foi uma festa comportada, daquelas que você solta a criançada pra brincar e fica tranquilo.
Como não sou onipresente, não deu para ver tudo mas vou contar pra vocês o que vi. Tin-tin-por-tin-tin. Se você viu algo mais, mande dizer que eu publico. A minha versão é sempre a minha versão, a sua pode ser outra e as observações coletivas são sempre mais interessantes e diversificadas.
Eu sei que tem gente esperando a resenha da festa e não dá tempo publicar tudo. Aos poucos, vou publicando algumas fotos e contando mais alguma coisa que eu for lembrando ou que me enviarem.

PELAS RUAS QUE ANDEI

Depois de atravessar aquela tira de farofa preta, vulgarmente conhecida como estrada, você chega à Vila São José vindo pela BR 116. Como estão construindo a ponte, a partir daí faz um desvio para entrar no centro da cidade. Se a ponte já estivesse construída (será que o contrato tem prazo para terminar?), você encontraria o açougue e a lavanderia pública literalmente indigentes. Sujos, caindo aos pedaços e esperando que uma enchente tenha misericórdia e tire aquele entulho do meio do caminho. Deixar dois prédios daqueles na principal entrada do núcleo urbano é como se a cidade inteira usasse cueca na cara.
As vias urbanas estão literalmente esbagaçadas. Aliás, faz tempo que anda assim. Eu esperava que estivessem melhor pois o Informativo Municipal de 19.01.2010, apresenta uma operação “tapa buracos nas ruas da sede e distritos e a recuperação asfáltica nas ruas da sede do município” como obra urbana concluída e/ou em execução ainda no início do ano passado.
A Cel Gustavo Lima, o entorno do comércio é um horror. Aliás, a cidade inteira estava cheia de poças de lama depois da chuvinha que deu. Precisei ir, à noite, lá na Fazendinha e quis ir caminhando porque o clima estava agradável. No período de chuvas, a rua geralmente enche de sapos e rãs, mas na avenida Dr. Arruda, que sempre teve muito sapo no inverno, não vi quase nenhum. Acho que sapo não lava mais o pé. Será? Ou será que nem eles querem mais se submeter ao excesso de buracos?
Nem vou comentar sobre aquela área onde fica instalado o parque de diversões e o comércio de barracas. Tudo do mesmo jeito do ano anterior. Instalações precárias colocando em risco a vida das pessoas, falta de fiscalização da vigilância sanitária, a insalubridade é um horror. É uma falta de respeito à vida. Romeiro é pobre, mas pobre é gente. Um dia a casa cai e ninguém sabe porque aconteceu. Segurança não é só botar a polícia para vigiar excessos, é cuidar da saúde e da vida das pessoas. Na próxima festa, é salutar que o Ministério Público dê uma olhada por ali e se pronuncie sobre os riscos das instalações e da vigilância sanitária.
O posto de saúde está tão arrumadinho (só vi por fora) e arrodeado por aquela bagunça. Imagine quem mora por ali o que padece todos os anos.
O trânsito nem precisa falar porque é a esculhambação de sempre. É uma barbárie. Estacionamento em cima das calçadas. O povo manda tirar o cavalete e passa onde o trânsito está interrompido. Se for moto, nem isso. Descaradamente sobem as calçadas. Aliás, as motos são um caso à parte. Moro numa cidade onde o trânsito é um inferno, mas nem lá as motos fazem as piruetas que fazem em Ipaumirim. De repente, eu fico pensando se, por aqui, carteira para dirigir moto é tirada por sorteio. Não precisa aprender nada. Falta competência, fiscalização ou educação para que as coisas cheguem ao ponto que chegaram? O desvario no trânsito expõe a todos inclusive os próprios condutores. Idosos e crianças vivem constantemente expostos aos riscos.
Nem preciso dizer que a cidade não tem condições de hospedagem e alimentação. Todo mundo que vai e não tem amigos e/ou parentes por lá, já sabe que vai para uma prova de resistência.
Y se eso fuera poco, a cidade não tinha água. Aliás, há bastante tempo está sem água. Mas a Cagece continua firme e forte cobrando a sua continha mensal. Quem conseguia água, era de poço, cacimbão, sei lá o que. A qualidade da água ninguém sabe porque na hora do sufoco, tem que ter água mesmo e pronto. Não excluo a possibilidade de que o surto de diarréia e vômito que deu na cidade pode estar relacionado com a qualidade da água. Lá em casa, uma dúzia de pessoas adoeceram inclusive eu.
Voltando ao informativo municipal do ano passado, eu não vi as seguintes obras que foram nele anunciadas:
- Construção de uma creche modelo padrão FNDE/PROINFÂNCIA
- Construção do Centro do Idoso
- Construção da Praça da Juventude
- Construção do Mini estádio municipal
- Construção da quadra poliesportiva.
Estou falando do que eu vi e/ou li em documento produzido por assessoria de imprensa para o Governo Municipal. Não vou falar do ouvi dizer porque dependendo da pessoa com quem você conversa, a informação muda. Sei que alguns sítios estão com água encanada, mas não sei a extensão das obras.
As pontes em construção não são obras do governo municipal e, portanto, se elas não andam no ritmo certo não é culpa apenas do prefeito, mas de toda a comunidade que não se mobiliza para fazer as coisas acontecerem.
 

A festa religiosa foi muito bonita, tudo que envolve fé tem algo mágico e solene. Padre Sebastião, com empolgação, comandou os rituais com muita energia.
Dia 11, buscar o santo na Pedra de São Sebastião, novenas todas as noites, a missa da Pedra cedinho da manhã no dia 20, a missa das 10 horas, na matriz, ambas com participação expressiva da comunidade.
A procissão foi seguida por bandas de música, muitos fiéis e uma ocorrência meio fora do contexto. No meio do cortejo, estava um carro de som enfeitado de fotos de políticos (Eunicío Oliveira, Daniel Oliveira, Dilma Rousseff e parece que Cid Gomes). Uma coisa totalmente fora de propósito. O caminhão tomou conta do meio da rua e todo mundo, inclusive o andor, teve que rodeá-lo para seguir o percurso. Depois, não sei que fim levou porque acompanhei lá na frente.
O encerramento da festa foi grandioso, no largo da igreja, e embora tenha gente da política dizendo - no twitter - que falou lá na hora, eu só vi o padre falando. De repente, eu estava cansada após o percurso e dormi em pé. Tudo pode acontecer.
A benção do Santíssimo e o show pirotécnico foram muito bonitos. Valeu a pena.
Duas coisas sempre causam problemas à festa religiosa: a falta de infraestrutura da Pedra para realização da missa campal e os acessos que, entra ano e sai ano, não conseguem melhorar. A romaria é um ato de fé mas o percurso até a pedra é uma aventura. É uma coisa recorrente essa visão ultrapassada de associar romaria à desconforto.
A TV Verdes Mares esteve por lá mas não vi TV e portanto não sei o que registrou.
A volta do santo à Pedra, no dia 21, tinha bastante gente apesar do tempo chuvoso. 

O PROFANO

Música e dança não faltou. ACRI, Forripá e Blitz não deixaram por menos. É inegável que a festa do Forripá foi, de longe, a mais animada. O comentário não acirra disputas porque parece ter havido um acordo de cavalheiros entre Blitz e Forripá, ficando a primeira com o inicio da noite e o segundo a partir daí. A ACRI tem um público mais adulto de forma que não dá para incentivar competições desnecessárias. Teve para todos.
No dia 19, entrei rapidamente na Blitz e achei muito devagar, talvez pela hora em que passei por lá, 20 horas. De qualquer maneira, tinha gente mas não teve o impacto de anos anteriores. Um segurança com uma lâmpada elétrica montada numa instalação super precária examinava o carimbo no braço dos pagantes na entrada da casa de eventos. Um perigo. A banda Lagosta bronzeada teve a petulância de estacionar seu ônibus no meio da rua impedindo totalmente a circulação de carros na direção da rua das Flores. Mas, também, o que não pode no trânsito de Ipaumirim?
Nos dias 18 e 19, o pátio da festa no Forripá estava lotado. Muito animado. Eu só não sei como se dança naquele piso. Quem estava de salto alto deve ter arrebentado o sapato. Mas festa é festa e quando a animação toma conta, quem vai pensar em sapato? Nos arredores, muita briga de tapa, mas nada incontrolável. Moto era o que tinha, as motos fecharam os becos e a meninada pagou para ver. Eu, sinceramente, fiquei com inveja. Inveja branca por supuesto. No próximo ano, preciso uma preparação física para não ficar fora dessa coisa maravilhosa que é a alegria da juventude.
A festa dançante dos Filhos e Amigos de Ipaumirim foi boa. Teve um público legal, muita gente que ainda não tinha vindo, apareceu por lá. Tudo muito tranquilo. Quando João Dino cantou “A cerejeira não é rosa mais”, de Zezé Gonzaga, juro que fiquei deprimida. Nada contra músicas antigas mas achar que alguma alegria resiste a determinado tipo de melodia é muuuuuuuuuuuita falta de sintonia. Tem coisas que só cabem na hora da saudade e olha que eu sou das que gosto de música antiga. Imagine quem não gosta. Depois tocou um carnavalzinho, aquele mesmo desde sempre, aí o pessoal dançou. Daí a pouco, Aldeísio Nery subiu no palco para cantar e, em que pese sua ainda bonita voz, foi uma melancolia só. Nem fluoxetina segura uma onda dessa. Fui olhar o forró da garotada para repor minha energia vital. Sinceramente, faltou conjunto e repertório. Bem diz o ditado popular: um é pouco, dois é bom, três é demais.

 
Na solenidade da ACRI realizada na Câmara Municipal de Ipaumirim foram homenageados Antocildo Ribeiro, Edmilson Quirino, Mundinha Vieira Rolim, Almir Pinto, Zefinha Batista e eu. O cerimonial foi simples, discreto e bem organizado. A seguir, foi oferecido um coquetel no próprio recinto.
Fora eu que nunca fiz nada por Ip, as homenagens foram mais do que justas. Antocildo (Nino) é um médico muito atencioso e muito querido pela gente da terra. Com toda a precariedade da saúde local, lá está ele invariavelmente paciente a atender a longa fila de enfermos. Edmilson Quirino, homem decente, trabalhador, carismático, tranquilo, conseguiu com pertinácia e coragem manter em Ipaumirim o único espaço de diversão saudável para todas as idades principalmente para os mais jovens. A Toca do Jia enquanto existiu foi parada obrigatória para todos que passaram por aqui. Mundinha Vieira, mulher forte e competente, segura em suas convicções e séria em seus propósitos, foi secretária da Educação em Ip. Almir Pinto, veterinário, muitos anos servindo a EMATERCE no escritório local. Reservado, funcionário cumpridor do dever e sempre prestativo. Zefinha Batista gente da gente, trabalhou muitos anos no cartório eleitoral. Empreendedora e destemida, conhecida por todos que viveram em Ipaumirim. Fiquei contente e agradeço a gentileza do convite que me permitiu participar da festa ao lado de tanta gente boa.
Espero que no próximo ano a ACRI redescubra seus homenageados entre os habitantes do município, pessoas que fazem o cotidiano ipaumirinense e trabalham pelo bem do município. Gente do campo e da cidade que anonimamente batalha, dia a dia, para fazer um Ipaumirim melhor. 


O jantar em homenagem às 100 mulheres de Ipaumirim aconteceu nas dependências da Escola D. Francisco de Assis Pires. Muito bem organizado, ambiente agradável e Zenira, a grande anfitriã da noite, dispensa comentários. As suas iniciativas levam sua marca pela grandiosidade do seu caráter que nos faz eternos devedores de seu carinho.

ENFIM...

A festa pode estar para lá de borocoxô mas quem não se anima ao rever familiares e amigos? É este o sentido do nosso encontro anual. Ver que a cada ano chegam pessoas que ainda não tinham vindo já é tudo. Sentimos falta dos que não puderam comparecer este ano, mas todos estiveram de alguma forma presentes através da nossa lembrança. Colegas do Grupo Escolar D. Francisco de Assis Pires, do Ginásio XI de Agosto, antigos vizinhos que migraram para longe e agora voltam para o reencontro. Gente que não está nem um pingo interessado na politicagem local e que fica um pouco decepcionada ao ver que veio de tão longe e encontrou um Ipaumirim de iniciativas acanhadas, tão fora das demandas que movem o mundo no século XXI.
Ipaumirim congelou no tempo o discurso e a ação. Pequeno, dividido, refém de interesses insignificantes. Um jeito antigo de ser como se ainda fosse possível pensar-se e se guiar pelos mesmos princípios e métodos ultrapassados que iluminaram suas antigas lideranças. Ipaumirim vive o vácuo entre o passado precário e a falta de rumo na atualidade. Não se preocupou e nem se preocupa em incentivar a formação de jovens lideranças. O resultado está aí: entre o passado e o futuro, o presente é um limbo. Somos invisíveis e dependemos da insuportável e humilhante caridade política de lideranças estrangeiras. Dali e d’acolá. Daqui, nada.
Com uma identidade impregnada de ranços, Ipaumirim consegue minar até iniciativas saudáveis como deveria ser a ACRI que foi imaginada por Zenira como um abrigo para muito além das miudezas da alma e da politicagem local.
Precisamos compreender a ACRI como um território comum a todos, sem vinculações partidárias e sem abrigar os resíduos da querela política mal resolvida. Seria até inconsequente imaginá-la como um gueto partidário num lugar em que a migração entre partidos é mais diversificada e veloz que rodízio de pizza.
Para se renovar e não repetir os erros históricos da política, a ACRI precisa se repensar, mudar o seu modelo de gestão e ação, inovar nas suas iniciativas e sair da mesmice. Que pelo menos a entidade seja um momento de respirar democracia e participação. Que tenha uma ação mais ampla, mais dinâmica e mais presente no cotidiano de Ipaumirim. Se não mudarmos, vamos continuar igual ao nosso modelo político: decadente, interesseiro e ultrapassado.
ACORDA ALAGOINHA!
MLUIZA
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 28.01.2011

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