Você é capaz de se chatear várias vezes com a mesma
coisa? Eu sou. Acontece uma vez e eu fico remoendo e cada vez que lembro me
chateio igualmente. Ainda bem que é uma vez perdida porque a maioria das vezes
eu jogo para cima e vou em frente. Sabe aquela de você dizer sim quando quer
dizer não e fica se condenando? Ou quando você por um motivo inusitado perdeu
um prazo e não foi aonde devia ter ido?
Essa semana eu tive literalmente um ataque de raiva
porque desde 2009 venho com um processo contra duas empresas. A primeira
me vendeu um computador vagabundo que a outra fabricou. E tome chateação. Fui a
todas as audiências e a última acabei não indo porque justo no dia tive problemas
inesperados e não pude mesmo comparecer. Na penúltima audiência, só eu estava
lá. Nesta última, liguei milhões de vezes para o telefone do juizado, mas
ninguém atendeu. Hoje, fui ao fórum pedir isenção de custas e vou ver se entro
de novo com o processo.
Justiça é um negócio chato e demorado, mas as relações de consumo só tomaram
jeito depois que o povo aprendeu a reclamar. Tomaram jeito é força de expressão
porque a maioria das pessoas deixa passar batido por conta do transtorno que
significa acompanhar um processo. Acho que o judiciário precisa encontrar uma
forma de simplificar mais ainda essa coisa de repetição de audiências já que a
maioria das empresas não respeita mesmo o consumidor.
Geralmente você é bem atendido na justiça, pelo menos no fórum que eu vou. O
problema é a lentidão, o tempo perdido, a chateação. Enquanto espero a minha
vez, fico observando a movimentação. Um senhor indignado quer saber quando vai
ter fim o processo que deu entrada. Tá de saco cheio, não quer saber se ganhou
ou perdeu, quer se livrar. A advogada explica, explica, explica e ele firme na
sua indignação.
Os advogados, competentes e/ou incompetentes, ficam pra lá e pra cá como
formigas no doce. Alguns aparentam uma postura decente. Outros trazem escritos
na testa: sou um aproveitador pedante. Estou aqui, mas estou doido pra passar
num concurso público. Até pra digitador serve.
Uma coisa tenho observado: é muito mais fácil
trocar a competência pela apresentação. Cabelo bem cortado, terno passado mas
com jeito de comprado em loja popular. Nada de finesse nem de roupas
produzidas pelo corte preciso de um bom alfaiate. Trocaram as surradas pastas.
Abandonaram o estilo Agostinho da Grande Família, quase não se vê paletó
listrado ou quadriculado. As mulheres primam pela altura dos saltos. Melhoraram
a indumentária. Pelo menos isso. No mundo da simulação, a aparência é tudo.
Consumidores indignados com empresas telefônicas, de energia elétrica, de
abastecimento d’água, plano de saúde, comércio e por aí vai. O mundo das relações
de consumo é o purgatório do consumidor que pela vontade de empresários mau
caráter já estaria bem instalado no inferno.
O Juizado das Relações de Consumo, onde o valor limite da indenização é
relativamente baixo, é o paraíso de advogados em começo de carreira e daqueles
que não conseguiram projetar-se e entrar pelos caminhos das gordas causas que
fazem a alegria da classe.
Para acabar com essa gandaia toda das empresas que não respeitam o cliente, o
Poder Judiciário devia fixar, além da indenização, uma multa que valesse, pelo
menos, três vezes o valor da causa. Assim quem sabe, as empresas seriam menos
espertas. O reclamante, neste caso, seriam as fábricas de diploma em Direito
que teriam os seus lucros reduzidos.
Tenho a impressão que se a corda apertasse mais do
lado mais forte, a justiça não estaria tão sobrecarregada e os consumidores
ficariam mais bem servidos.
MLUIZA
Publicado
no alagoinha.ipaumirim em 03.02.2011
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