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MLUIZA |
É sempre tão difícil falar de ausências
definitivas. Por mais que saibamos que não somos eternos parece existir em nós
um sentimento de onipotência que se decepciona cada vez que perdemos alguém.
Seja qual for à causa, a perplexidade diante da nossa impotência em reverter o
irreversível humilha o nosso orgulho, faz pouco caso das nossas vaidades,
relativiza a essência das nossas lutas, atira em nossa cara a infantilidade das
nossas mesquinharias, mergulha nossa alma no vácuo de tudo que poderia ter
sido. Como se tudo isto ainda fosse pouco nos lança a dúvida atroz do que virá
depois. Para quem foi e para os que ficam. O que passou nós já sabemos. O passado
é claro, concreto, real. Permeado de afetos, desafetos, lutas, sonhos, glórias
e inglórias vividas e sentidas. No passado, a gente pode se agarrar. Ele foi
uma experiência concreta. A memória o reconstituirá de alguma forma. Mas o que
fazer com nossa perplexidade e impotência? Em que porto vamos ancorar o
sentimento órfão? O que vamos fazer com ele?
Tenho uma admiração especial pelas pessoas que
conseguem exorcizar a dor espetacularizando-a. Desabafos, gritos, lágrimas,
declarações exteriorizam a comoção e parecem ajudar na reorganização íntima da
dor. Extravasar, verbalizar para compreender, para explodir a plenitude do
sentimento. Gestos assim promovem uma catarse mais imediata e evitam os
desdobramentos da dor silenciosa com mais rastros e meandros a percorrer e
desvencilhar no depois. Aos contidos, cabem as responsabilidades de administrar
com objetividade as demandas concretas do que ficou no meio do caminho.
Findo os rituais, o coletivo perde o foco. A imaginação criadora inventa percursos possíveis para um fim que já aconteceu. É a hora da especulação, do que poderia ter sido, do que será. Constrói-se um futuro improvável diante de uma realidade que ainda não se mostrou, mas que instiga enredos prováveis. É preciso saber conviver com mais essa vicissitude e ter noção de que ela é temporária e não há porque gastar energias nesse foco quando você precisa delas para lidar com questões concretas e com subjetividades dilaceradas.
E ainda, graças a Deus, há os que ficam. A família, a força dos amigos, a rotina que pede você de volta até que o tempo faça sua parte colocando a vida no lugar.
MLUIZA
Findo os rituais, o coletivo perde o foco. A imaginação criadora inventa percursos possíveis para um fim que já aconteceu. É a hora da especulação, do que poderia ter sido, do que será. Constrói-se um futuro improvável diante de uma realidade que ainda não se mostrou, mas que instiga enredos prováveis. É preciso saber conviver com mais essa vicissitude e ter noção de que ela é temporária e não há porque gastar energias nesse foco quando você precisa delas para lidar com questões concretas e com subjetividades dilaceradas.
E ainda, graças a Deus, há os que ficam. A família, a força dos amigos, a rotina que pede você de volta até que o tempo faça sua parte colocando a vida no lugar.
MLUIZA
PUBLICADO NO ALAGOINHA.IPAUMIRIM EM 07.05.2011
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