A
entrevista legendária
“Visita
ao rebelde cubano em seu refúgio”, assim intitulou o importante diário “The New
York Times”, em sua edição de 24 de fevereiro de 1957, a primeira parte de uma
reportagem que atraiu a atenção mundial, ao mostrar a guerrilha sobrevivente,
liderada pelo comandante-em-chefe Fidel Castro na Serra Maestra • Fidel ordenou
a Faustino Pérez, expedicionário do iate Granma, que descesse das montanhas à
planície e que, entre as primeiras missões a cumprir, tentasse enviar um
jornalista, mas os diretores das principais publicações se recusaram por medo
das represálias. Contudo, nos primeiros dias de fevereiro, conseguiram que o
destacado repórter Hebert Matthews, chegasse a Cuba...
(Extraído do livro em edição:
Marabuzal)
POR JOSÉ
ANTONIO FULGUEIRAS
Sierra
Maestra
O caminho
apareceu diante de Felipe Guerra Matos como uma corda lamacenta e enegrecida
pela noite rural em Manzanillo. Felipe conhecia o caminho como a palma da mão e
sabia muito bem onde estavam os cruzamentos da estrada como um reflexo
condicionado pelas muitíssimas subidas e descidas. Seu jipe Willy assemelhava-se
a um mulo de cascos firmes, domesticado para vencer os obstáculos que os
aguaceiros dos últimos dias esculpiram no caminho rústico e estreito. A seu
lado, mais ou menos acomodado no banco dianteiro, viajava o jornalista
norte-americano Herbert Matthews, que segundo parece, tentava decifrar através
do pára-brisa o caminho que o levaria a um lugar desconhecido na Serra Maestra.
“Creio
que não vai chover nesta noite”, disse o motorista em voz alta, inclinando a
cabeça para um lado. Depois reparou que o norte-americano sabia pouco ou nada
de espanhol. René Rodríguez, Javier Pazos, Quique Escalona e Nardi Iglesias,
que também viajavam no banco traseiro também nada responderam.
Então,
com o pouco conhecimento que tinha do idioma inglês, tentou enfiar na mente
alguma frase para ganhar a amizade do repórter do The New York Times, famoso
por seu trabalho como repórter em diversos países do mundo, participando como
testemunha de alguns dos acontecimentos mais importantes do século.
O homem,
na casa dos 60 anos, foi correspondente de guerra na Abissínia, na década de
30, e na Espanha, durante a Guerra Civil, que acabou com a República. Publicou
vários livros e ganhou diversos prêmios, entre os quais, o John Moors Cabot,
conferido pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.
Matthews
era editor do The New York Times, e se destacava na redação de editoriais e
reportagens especiais sobre a América Latina. Com mais de 1,80 m, magro,
ligeiramente encorvado, olhos claros e olhar penetrante, Herbert Matthews, desde
sua posição liberal, era considerado um dos jornalistas mais prestigiados e
importantes nos Estados Unidos.
Mister,
how do you feel here?, Guerrita queria perguntar, mas essa pergunta pareceu-lhe vulgar para
uma pessoa tão experiente na arte das perguntas e respostas.
Saindo de Yara, uma patrulha da estrada os detém. Um guarda, com cara amarrada, aproximou-se deles e Guerrita, sem descer do veículo, respondeu-lhe antes que o homem lhe perguntasse:
Saindo de Yara, uma patrulha da estrada os detém. Um guarda, com cara amarrada, aproximou-se deles e Guerrita, sem descer do veículo, respondeu-lhe antes que o homem lhe perguntasse:
— O
senhor é um norte-americano rico que está interessado em comprar os campos de
arroz de Gómez, disse, enfatizando a palavra rico e o sobrenome do burguês,
muito conhecido na zona.
A frase
era quase uma redundância para o patrulheiro, pois segundo os jornais e os
filmes da época, todos os norte-americanos eram ricos. No entanto, o guarda,
satisfeito com as facilidades que sua farda amarela lhe proporcionava para
beber uma cerveja sem pagar em qualquer bar de Manzanillo e seus arredores,
sabia que incomodar uma pessoa abastada era fatal para suas aspirações de ser
promovido para sargento, então, como diria o poeta Amado Nervo, fez um gesto de
cortesia e fechando os olhos os deixou passar.
Para Guerra Matos, depois do ardil efetivo, o mais importante era dirigir o melhor possível por aquele caminho inundado por causa das chuvas recentes e chegar ao destino.
Are you cold?, perguntou-lhe o norte-americano quando o viu fazer um gesto de quem sente um momentâneo calofrio. Mas o homem continuou absorto na escuridão e no pensamento. De vez em vez, quando absorvia o cachimbo que não afastava da boca; depois expirava a fumaça pouco a pouco.
Para Guerra Matos, depois do ardil efetivo, o mais importante era dirigir o melhor possível por aquele caminho inundado por causa das chuvas recentes e chegar ao destino.
Are you cold?, perguntou-lhe o norte-americano quando o viu fazer um gesto de quem sente um momentâneo calofrio. Mas o homem continuou absorto na escuridão e no pensamento. De vez em vez, quando absorvia o cachimbo que não afastava da boca; depois expirava a fumaça pouco a pouco.
Para
chegarem a Matthews, os companheiros do Movimento 26 de Julho tiveram que
transitar inteligentemente um caminho perigoso. A idéia foi de Fidel Castro,
que com 82 homens tinha desembarcado, dois meses antes (2 de dezembro de 1956)
pela praia Las Coloradas, na costa norte da província de Oriente.
Após
serem surpreendidos pelo exército batistiano em Alegria de Pío, os jovens
rebeldes se dispersaram por diferentes lugares da zona. Alguns foram presos ou
assassinados às ordens do presidente Fulgencio Batista; outros puderam burlar o
cerco e somente sete conseguiram reencontrar-se em Cinco Palmas, onde Fidel,
com uns poucos fuzis tornou célebre em 1956 a frase mais otimista do século 20:
“Agora sim ganhamos a guerra”!
Contudo,
a imprensa cubana publicou a notícia de que Fidel foi morto e a guerrilha
eliminada. E depois, censura total contra tudo o que e parecesse rebeldia.
Quando subia a montanha, Guerrita lembrou aquele fato:
Quando subia a montanha, Guerrita lembrou aquele fato:
“Entre os
dias 9 e 11 de fevereiro de 1957, perdemos o contato com a Serra, até o dia em
que o companheiro Radamés Reyes, telegrafista do quartel e aliado do Movimento
26 de Julho, chegou à loja de Rafael Sierra. Trazia a infeliz notícia de que
Fidel e o grupo tinham sido liquidados numa emboscada em Los Altos de Espinosa.
“Rafael
Sierra me informou e imediatamente transmiti a Celia aquela horrenda notícia.
Com muito otimismo, ela disse: ‘Não acredito, pois a imprensa já o teria
publicado. Temos que confirmá-lo, mas tenho certeza que ele estava vivo’.”
FIDEL ESTÁ VIVO!
“No dia seguinte, Miguelito, um filho de Epifanio, chegou e me contou o que tinha acontecido. Eles conseguiram fugir com Luis Crespo. E ele estava certo de que Fidel e outra parte do grupo também conseguiram burlar o cerco inimigo. Disse-me que Crespo, expedicionário do iate Granma, queria nos contatar. Celia ordenou-me que fosse buscá-lo. Crespo afirmou que Fidel estava vivo, pois viu que o comandante e o resto do grupo também fugiram”.
“Eu propus a Crespo que o melhor era que ele
abandonasse a Serra e respondeu taxativamente: ‘Enquanto houver um fuzil aqui,
a luta continuará’. Senti grande admiração pela atitude daquele homem
semi-analfabeto, que em meio do desespero, mostrava os valores e a qualidade
humana dos expedicionários do Granma.
“No dia
seguinte, Miguelito retornou de novo a Manzanillo com a confirmação de que
Fidel estava vivo e mandou um mensageiro, que esperava por nós na quinta de
Epifanio para recolhê-lo, porque recebeu a ordem de se entrevistar com Celia.
Fui buscá-lo e quando regressávamos, deparei na entrada de Manzanillo com um
soldado da guarda rural que me pediu carona. Parei o carro e o levei. Entrei na
cidade protegido por um guarda inimigo e festejando a vida de Fidel”.
Mas a
ditadura de Batista se aferrava à notícia de que Fidel e seus homens tinham
sido liquidados. Foi por isso que Fidel pediu um repórter, para que publicasse
a notícia, mas os chefes da imprensa nacional tinham medo das represálias e por
isso foi necessário buscar um jornalista de um jornal influente.
Ruby Hart
Phillips, correspondente do The New York Times em Havana, mandou Matthews vir
urgentemente para Cuba, pois tinha uma boa notícia para ele. Na segunda-feira,
4 de fevereiro, a senhora Phillips foi convocada para o escritório de Felipe
Pazos, no prédio Bacardí, na rua Monserrate. Ali se encontravam também seu
filho Javier Faustino Pérez e René Rodríguez, que explicaram à repórter o
interesse de Fidel em receber um jornalista no coração da Serra Maestra.
Logicamente,
Phillips se ofereceu de imediato, mas foi convencida de que não devia ser ela,
pois as condições da viagem eram muito difíceis para uma mulher, e além disso,
ela era a correspondente permanente no país e depois podia ser alvo de uma
forte represália do regime de Batista.
No
telefonema de Phillips e Matthews não se deram muitos detalhes, mas um
jornalista experiente como ele sabia que se tratava de algo muito importante.
Cinco
dias depois, Matthews, acompanhado de sua esposa Nancie, chegou à terra cubana.
Em 15 de fevereiro, às 22h, hospedou-se no hotel Sevilla, com sua mulher, e se
encaminhou para o oriente do país, com Faustino Pérez, que desde o primeiro
momento trabalhou incansavelmente para executar a ordem que Fidel lhe tinha
dado.
Faustino acompanhou o destacado jornalista até Manzanillo. Guerrita viu pela primeira vez o jornalista nessa cidade, em casa de Pedro Eduardo Saumell, e pensou que era um homem muito idoso para viajar pelo caminho difícil que o levaria à Serra. E por seu cachimbo e boné, segundo ele, parecia-se mais com um detetive privado ao estilo de Sherlock Holmes do que com um repórter com vigor e juventude para escalar, por exemplo, a Colina de la Derecha de Caracas, que se ergue majestosa, vestida com a verde folhagem da Serra.
Faustino acompanhou o destacado jornalista até Manzanillo. Guerrita viu pela primeira vez o jornalista nessa cidade, em casa de Pedro Eduardo Saumell, e pensou que era um homem muito idoso para viajar pelo caminho difícil que o levaria à Serra. E por seu cachimbo e boné, segundo ele, parecia-se mais com um detetive privado ao estilo de Sherlock Holmes do que com um repórter com vigor e juventude para escalar, por exemplo, a Colina de la Derecha de Caracas, que se ergue majestosa, vestida com a verde folhagem da Serra.
Matthews
e Nancie estavam cansados pela longa viagem, quase sem dormir, por toda a
Rodovia Central. Somente detiveram-se em Camagüey para tomar o café da manhã.
Depois continuaram rumo a Bayamo e entraram no trecho mais difícil, custodiado
por várias patrulhas do exército. Seus visíveis traços de turistas estrangeiros
lhe permitiram entrar em Manzanillo sem muitos contratempos, acompanhados por
Faustino Pérez, Javier Pazos e Lilia Mesa.
À medida
que a encosta e a água estagnada exigiam maior velocidade do motor do jipe,
Guerrita olhava de esguelha o norte-americano, que tinha deixado sua esposa na
casa do anfitrião, Saumell, em Manzanillo. Ele estava concentrado na direção do
jipe, nas velocidades e no freio, evitando os saltos e as freadas abruptas.
Contudo, de vez em vez, quando o jipe dava um grande salto como um cavalo
ferido pelo ginete. Sempre que isso acontecia, Guerrita olhava para o rosto do
norte-americano, tentando ver algum gesto de contrariedade, mas o homem
aceitava sem alarde os saltos do jipe por causa do caminho alagado.
Esta era a terceira viagem no mesmo dia à quinta de Epifanio Díaz, camponês, de amizade sincera e um dos primeiros colaboradores de Fidel e da guerrilha depois do desembarque.
Esta era a terceira viagem no mesmo dia à quinta de Epifanio Díaz, camponês, de amizade sincera e um dos primeiros colaboradores de Fidel e da guerrilha depois do desembarque.
FAUSTINO O LEVOU A MANZANILLO E ALMEIDA FOI O PRIMEIRO A RECEBÊ-LO NA SERRA
A casa do velho Epifanio erguia-se solidária em Los Chorros, a sul do Purial de Jibacoa, na vertente norte da Serra Maestra. Na quinta não havia grandes elevações que possibilitassem o refúgio da guerrilha, embora pelo lugar em que se encontrava, facilitasse o acesso de qualquer veículo ou pessoa que não conhecia o caminho.
Fidel,
que conhecia a lealdade e colaboração de Epifanio e de seus dois filhos,
Enrique e Miguel, decidiu esperar nesse lugar o jornalista norte-americano e ao
mesmo tempo realizar a primeira reunião com os principais dirigentes da
planície oriental.
Filho de
camponeses, e camponês ele também, Guerrita podia determinar as horas apenas
olhando os astros. Por tal motivo, quando viu a lua no centro do céu, soube
que, no domingo, 17 de fevereiro de 1957, quase estava terminando.
Foi então que deteve o veículo e disse que havia que continuar a pé. Matthews desceu do jipe e caminhou com os outro em meio da escuridão e do cício do grilo insone. Guerra Matos, conhecedor do caminho, ia à frente e o jornalista se guiava por seus passos, sem soltar o cachimbo nem as ânsias de chegar.
Foi então que deteve o veículo e disse que havia que continuar a pé. Matthews desceu do jipe e caminhou com os outro em meio da escuridão e do cício do grilo insone. Guerra Matos, conhecedor do caminho, ia à frente e o jornalista se guiava por seus passos, sem soltar o cachimbo nem as ânsias de chegar.
De
repente apareceu diante deles o riacho Tío Lucas, que corria entre as árvores
da Serra. Para chegar ao acampamento, era preciso atravessar o riacho de águas
frias e as correntezas. René o explicou ao repórter do The New York Times e
este respondeu com um gesto animador.
Matthews
entrou brioso, mas em meio do riacho perdeu o equilíbrio e caiu na água.
“Danou-se o norte-americano”! gritou Guerrita. Mas, apesar do surpreendente
esbarrão, o jornalista levantou a pequena carteira que levava nas mãos, sem
soltar o cachimbo da boca. Guerrita ofereceu-lhe a mão em sinal de ajuda e o
norte-americano se incorporou com certos brios juvenis.
O riacho
da Serra, que comprazia a Martí mais que o mar, se comporta como um cachorro
faminto que lambe constantemente as pedras do fundo até deixá-las polidas.
Matthews, ao que parece, não levou em conta o curso fluvial, e esbarrou como um
clássico jogador de beisebol à procura da base.
Contudo,
não perdeu a postura nem a inteireza, e com gesto elegante, exortou a
prosseguir a viagem rumo ao acampamento, que, sem ele saber, apenas faltava uns
poucos minutos.
O primeiro a recebê-lo foi o expedicionário Juan Almeida Bosque, que lhe explicou que Fidel se encontrava nesse momento no Estado-Maior e que chegaria ao amanhecer. Matthews simpatizou, desde o primeiro momento, com este homem que apoiava suas palavras na tradução de Pazos e lhe informou que a tropa dispunha de vários acampamentos.
O primeiro a recebê-lo foi o expedicionário Juan Almeida Bosque, que lhe explicou que Fidel se encontrava nesse momento no Estado-Maior e que chegaria ao amanhecer. Matthews simpatizou, desde o primeiro momento, com este homem que apoiava suas palavras na tradução de Pazos e lhe informou que a tropa dispunha de vários acampamentos.
Guerrilheiros
en Sierra Maestra
A
conversa demorou vários minutos, incorporando-se depois Ciro Frías e outros
guerrilheiros. Almeida pediu a Matthews que descansasse um pouco. O
norte-americano concordou e tirou do bolso uma caixa de fósforos, que
sobreviveu do mergulho da madrugada e acendeu o cachimbo imutável.
Celia
Sánchez lembrava:
Naquela
noite, fomos caminhar para ver se encontrávamos uma pequena casa que víamos de
dia. Íamos Fidel, Armando, Frank, Vilma e eu; e Luis Crespo que sempre estava
perdido, e foi como guia. Não encontramos a casa; caminhamos tanto pela noite,
que depois não soubemos voltar ao acampamento; deitamo-nos em pleno campo.
Nessa madrugada chegou Matthews. Quando Universo chegou com a notícia,
ordenamos-lhe que dissesse que Fidel estava em outro acampamento, que o
esperasse ali. Almeida, Che e Raúl ficaram com o visitante.
No
alvorecer, chegou ao acampamento o grupo liderado por Fidel. Vilma Espín,
prestigiosa combatente da clandestinidade em Santiago de Cuba, que foi levada
horas antes por Guerrita para o acampamento, e Javier Pazos, foram os
tradutores, apesar de Fidel ter bom domínio do idioma inglês.
Raúl se
adiantou ao grupo e cumprimentou o jornalista, anunciando a chegada de Fidel.
Em seu diário de campanha, o então capitão Raúl Castro narrou o fato da maneira
seguinte:
Chegamos ali e dei um abraço no “Flaco” (O Magro) — René Rodríguez —, que cumpriu realmente o que prometeu. Cumprimentei o jornalista e lembrando meu inglês elementar, lhe disse: How are you? Não entendi o que me respondeu e imediatamente chegou F (Fidel), que depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na cabana e começou a entrevista, que, com certeza, será uma bomba (...) Enquanto corria a entrevista, o oficial Almeida triplicou a vigilância, tomando todas as medidas de segurança ao nosso alcance naquele lugar. Infelizmente esta é uma zona completamente a céu aberto e foi um atrevimento afastarmo-nos tanto de nossos queridos arvoredos. Se nos surpreendiam por causa de uma delação, o Movimento 26 de Julho sofreria um colapso, pois poderíamos perder alguns de nossos valentes homens.
Chegamos ali e dei um abraço no “Flaco” (O Magro) — René Rodríguez —, que cumpriu realmente o que prometeu. Cumprimentei o jornalista e lembrando meu inglês elementar, lhe disse: How are you? Não entendi o que me respondeu e imediatamente chegou F (Fidel), que depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na cabana e começou a entrevista, que, com certeza, será uma bomba (...) Enquanto corria a entrevista, o oficial Almeida triplicou a vigilância, tomando todas as medidas de segurança ao nosso alcance naquele lugar. Infelizmente esta é uma zona completamente a céu aberto e foi um atrevimento afastarmo-nos tanto de nossos queridos arvoredos. Se nos surpreendiam por causa de uma delação, o Movimento 26 de Julho sofreria um colapso, pois poderíamos perder alguns de nossos valentes homens.
Guerra
Matos, por seu lado, o descreveu assim:
“Vi Fidel
chegar e cumprimentar o jornalista, e senti uma imensa satisfação, mas não a
externei. Tinha contribuído com um grãozinho de areia para este encontro tão
esperado por nosso máximo líder, que tinha uma grande importância, pois
tornaria público ao mundo que Fidel estava vivo e a guerrilha pronta para o
combate. Em todo o percurso, fiz todo o possível para que o norte-americano se
sentisse o mais cômodo e seguro possível, pois se ele se arrependesse no último
instante, isso marcaria minha vida para sempre.
“Quando escorregou no riacho, fiquei desapontado e não consegui fazer coisa alguma para impedi-lo. Mas o jornalista tinha muita determinação como nós para chegarmos ao acampamento e nenhum bombardeio nos deteria. Percebi o entusiasmo de Fidel quando se dirigia a Matthews e esse regozijo o transmiti a meu coração.
“Quando escorregou no riacho, fiquei desapontado e não consegui fazer coisa alguma para impedi-lo. Mas o jornalista tinha muita determinação como nós para chegarmos ao acampamento e nenhum bombardeio nos deteria. Percebi o entusiasmo de Fidel quando se dirigia a Matthews e esse regozijo o transmiti a meu coração.
Fidel
cumprimentou Matthews com cortesia e singeleza. Com muita naturalidade,
sentou-se em frente do repórte do The New York Times e começou a entrevista.
Matthews, como jornalista experiente, havia pesquisado durante sua estada em Havana sobre a situação em Cuba, a repressão a que era submetido o povo e conhecia, também, muitos traços pessoais de Fidel e alguns dados de sua história revolucionária estudantil e sua participação, como líder, no ataque ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba.
Apesar disso, ficou impressionado com a juventude de Fidel, mas, à medida que o ouvia, chegava à conclusão de que o chefe guerrilheiro era um homem invencível.
Fidel contou-lhe a odisséia do desembarque, quando foram apreendidos e assassinados muitos expedicionários, mas a tropa conseguiu reagrupar-se, consolidar-se e desferir-lhe nos dois meses de levantamento, várias derrotas ao exército de Batista.
“Há setenta e nove dias que estamos lutando — expressou Fidel — e somos mais fortes do que nunca. Os soldados estão combatendo mal. Sua moral é baixa e a nossa não pode estar mais alta. Provocamos muitas baixas a eles, mas quando os prendemos, nunca os fuzilamos. Interrogamo-los, tratamo-los bem, ficamos com suas armas e seus equipamentos, e os libertamos.”
E mais
para frente, acrescentou:
“O povo
cubano ouve pela rádio todas as notícias referentes à Argélia, mas não ouve nem
lê uma só palavra a respeito de nós, graças à censura. O senhor será o primeiro
a falar-lhe de nós. Temos seguidores na Ilha inteira. Os melhores elementos,
especialmente os jovens, são a nosso favor. O povo cubano é capaz de suportar
qualquer coisa, menos a opressão.”
Fidel destacou ao jornalista que a ditadura estava empregando contra o povo armas munidas pelos EUA e acrescentou:
Fidel destacou ao jornalista que a ditadura estava empregando contra o povo armas munidas pelos EUA e acrescentou:
“Batista
tem 3 mil homens com armas perseguindo-nos. Eu não lhe direi quantos homens
tenho, por razões óbvias. O exército opera em colunas de 200 homens. Nós, em
grupos de 10 a 40. É uma batalha contra o tempo, e o tempo está ao nosso favor.
Enquanto decorria a entrevista, René Rodríguez, com uma máquina fotográfica antiga que trouxe de Manzanillo, se graduava como correspondente de guerra. Com muito afã, focalizava o entrevistado e o entrevistador e apertava o obturador, enquanto Matthews, com traços ágeis e pouco legíveis, fazia apontamentos num caderno com capa preta.
Enquanto decorria a entrevista, René Rodríguez, com uma máquina fotográfica antiga que trouxe de Manzanillo, se graduava como correspondente de guerra. Com muito afã, focalizava o entrevistado e o entrevistador e apertava o obturador, enquanto Matthews, com traços ágeis e pouco legíveis, fazia apontamentos num caderno com capa preta.
Frank
País, o grande líder clandestino, um pouco afastado, aproveitava o tempo dando
manutenção às armas dos rebeldes, ação que se gravaria na memória de Che
Guevara, que escreveu depois em seu diário:
“Não
presenciei a entrevista, mas segundo me contou Fidel, o homem mostrou-se
amigável e não fez perguntas capciosas. Perguntou a Fidel se ele era
antiimperialista; respondendo-lhe que sim, que ele era, no sentido de almejar
livrar sua pátria das cadeias econômicas, mas não de odiar os Estados Unidos e
seu povo. Fidel queixou-se da ajuda militar prestada a Batista, fazendo com que
ele visse quão ridículo era pretender que essas armas eram para a defesa do
continente, quando não podiam acabar com um grupo de rebeldes na Serra
Maestra.”
O diálogo
entre Fidel e Matthews se caracterizou pela sutileza do cubano, onde o humor e
a originalidade apareciam nos momentos mais relevantes e mais difíceis. A tropa
de rebeldes tentava, de qualquer jeito, impressionar o repórter, sem cair em
alardes nem mentiras que pusessem em dúvida a veracidade, a existência real e a
força da guerrilha.
Por isso, desde o início, Fidel deu a ordem de manter uma atmosfera marcial diante do repórter norte-americano e dar uma imagem de grupo que simulasse ser mais numeroso do que era realmente. Enquanto decorrria a entrevista, os rebeldes entrevam e saíam constantemente do acampamento, aparentando um maior número de pessoas. Isso correspondia à insinuação de Almeida a respeito da existência de vários acampamentos no entorno.
Por isso, desde o início, Fidel deu a ordem de manter uma atmosfera marcial diante do repórter norte-americano e dar uma imagem de grupo que simulasse ser mais numeroso do que era realmente. Enquanto decorrria a entrevista, os rebeldes entrevam e saíam constantemente do acampamento, aparentando um maior número de pessoas. Isso correspondia à insinuação de Almeida a respeito da existência de vários acampamentos no entorno.
Alguns
guerrilheiros, como Manuel Fajardo, passavam ao lado de Matthews, impedindo que
ele reparasse em sua camisa completamente rasgada. Outro momento engenhoso, foi
quando o então capitão Raúl Castro Ruz, após a chegada do combatente Luis
Crespo, informou Fidel:
—
Comandante, chegou o enlace da coluna 2!
Fidel ao
reparar na tramóia de Raúl, respondeu-lhe:
—
Diga-lhe que espere que eu terminaecom o repórter.
A famosa
entrevista durou ao redor de três horas. Matthews, visivelmente satisfeito,
pediu para Fidel lhe autografar a agenda e assim conferir maior autenticidade
aos dados obtidos. Fidel acedeu ao pedido e acrescentou a data do encontro
histórico nesse dia.
A certa distância, Guerra Matos viu feliz a despedida do chefe guerrilheiro e do jornalista. Agora tinha uma ordem ainda mais complexa a executar: devia voltar a Manzanillo com Matthews em pleno dia. Javier Pazos o acompanharia no regresso, ao qual se somaria o jovem camponês Reynerio Márquez, que os dirigiria à casa de uma filha de Epifanio, ao lado do caminho do Jíbaro.
A certa distância, Guerra Matos viu feliz a despedida do chefe guerrilheiro e do jornalista. Agora tinha uma ordem ainda mais complexa a executar: devia voltar a Manzanillo com Matthews em pleno dia. Javier Pazos o acompanharia no regresso, ao qual se somaria o jovem camponês Reynerio Márquez, que os dirigiria à casa de uma filha de Epifanio, ao lado do caminho do Jíbaro.
Guerrita contou:
“Depois
da entrevista, mandaram-nos passar para cumprimentar Fidel. O
comandante-em-chefe mostrou interesse em saber como foi a viagem do repórter,
qual caminho tomaram, quais medidas de precaução foram tomadas e insistiu em
que tinha que ser mais cauteloso ao voltar, a fim de impedir que acontecesse
alguma coisa ao jornalista.
“Recordei a Fidel que o conheci dez anos atrás, quando dos fatos da campanha de La Demajagua.” Guerrita revelou que o Fidel da Serra Maestra era o mesmo homem convicto e convincente, porém ainda mais inspirado. Gesticulava e punha otimismo em cada uma de suas palavras, que eram capazes de alentar a pessoa mais desanimada.
“Fui para Cayo Espino, para a quinta de meu pai a fim de buscar o carro que ali estava. Voltei e recolhi o norte-americano na casa de Epifanio e às 13h estávamos já em Cayo Espino.
“Sirva o almoço ao jornalista e que ele goste muito. O norte-americano tem que sair daqui com barriga cheia e coração contente’, disse Guerrita com tom de brincadeira a sua mãe e seu pai, camponeses admiradores e colaboradores das forças do Movimento 26 de Julho.”
Enquanto a família de Guerra Matos aprimorava a refeição cubana típica para satisfazer o visitante, o repórter apenas mastigou um pedacinho de frango e, com a maior cortesia do mundo, proferiu, para supresa de todos, cinco palavras que fizeram mudar completamente o itinerário:
“Recordei a Fidel que o conheci dez anos atrás, quando dos fatos da campanha de La Demajagua.” Guerrita revelou que o Fidel da Serra Maestra era o mesmo homem convicto e convincente, porém ainda mais inspirado. Gesticulava e punha otimismo em cada uma de suas palavras, que eram capazes de alentar a pessoa mais desanimada.
“Fui para Cayo Espino, para a quinta de meu pai a fim de buscar o carro que ali estava. Voltei e recolhi o norte-americano na casa de Epifanio e às 13h estávamos já em Cayo Espino.
“Sirva o almoço ao jornalista e que ele goste muito. O norte-americano tem que sair daqui com barriga cheia e coração contente’, disse Guerrita com tom de brincadeira a sua mãe e seu pai, camponeses admiradores e colaboradores das forças do Movimento 26 de Julho.”
Enquanto a família de Guerra Matos aprimorava a refeição cubana típica para satisfazer o visitante, o repórter apenas mastigou um pedacinho de frango e, com a maior cortesia do mundo, proferiu, para supresa de todos, cinco palavras que fizeram mudar completamente o itinerário:
Please,
take me to Manzanillo. (Por favor, me leva a Manzanillo).
Guerrita não percebeu nesse momento que o pensamento do jornalista estava muito longe de seu estômago, e sua maior fome se concentrava na notícia que tinha gravada em sua cabeça e nos papéis que guardava zelosamente nos bolsos da camisa.
Uma patrulha do exército interceptou-os novamente na rodovia, mas Guerrita conseguiu desinformá-los outra vez. Ao redor das 17h, chegaram à casa de Saumell, onde sua esposa Nancie o esperava sentada na sala.
Guerrita não percebeu nesse momento que o pensamento do jornalista estava muito longe de seu estômago, e sua maior fome se concentrava na notícia que tinha gravada em sua cabeça e nos papéis que guardava zelosamente nos bolsos da camisa.
Uma patrulha do exército interceptou-os novamente na rodovia, mas Guerrita conseguiu desinformá-los outra vez. Ao redor das 17h, chegaram à casa de Saumell, onde sua esposa Nancie o esperava sentada na sala.
No limiar
da porta, com breves palavras, Matthews propôs a Nancie partir imediatamente
para Santiago de Cuba. Subiram apressados no carro que os levaria para o lugar.
Viajaram de Santiago de Cuba para Havana num avião e no dia seguinte, o casal
de norte-americanos foi para Nova Iorque.
Ao
embarcar no avião, Nancie parecia mais gordinha que ao chegar. Será que teria
abandonado seu regime, por causa da atraente comida cubana? Nada está mais
longe disso. A esperta mulher havia colocado sob a roupa os papéis com todos os
apontamentos que fez Matthews de sua entrevista histórica com Fidel. Enganaram,
com discreta artimanha, os inspetores da alfândega e a rede dos ferozes membros
do Sistema de Inteligência Militar de Batista.
Guerrita,
por sua parte, continuou cumprindo suas tarefas, ora como mensageiro ora no
translado de combatentes para a Serra Maestra. No mesmo dia em que Matthews
abandonou Manzanillo, ele se encarregou de levar para a quinta de Epifanio Díaz
mais três expedicionários do iate Granma, dispersos durante o desembarque.
Dias depois da partida do repórter para os Estados Unidos, Guerrita examinava diariamente os jornais à espera de um artigo escrito por Matthews. E no domingo, 24 de fevereiro de 1957, reparou que nas manchetes do El Diario de la Marina apareceu este título de grande impacto:
Dias depois da partida do repórter para os Estados Unidos, Guerrita examinava diariamente os jornais à espera de um artigo escrito por Matthews. E no domingo, 24 de fevereiro de 1957, reparou que nas manchetes do El Diario de la Marina apareceu este título de grande impacto:
Fidel está vivo!
E mais
abaixo, o seguinte sumário:
Entrevistado
por Matthews, do “The New York Times”, na Serra. “Rebelde cubano é visitado em
seu esconderijo”, aparecia depois na cabeça da página. E depois, a foto do
chefe guerrilheiro com um fuzil de mira telescópica e a cópia fotostática do
autógrafo que Fidel assinou na agenda do jornalista.
Guerrita,
sentado no volante de seu jipe, começou a ler minuciosamente o artigo escrito
por Matthews no The New York Times, que foi reinserido pelo El Diario de la
Marina em suas páginas.
Matthews
começava sua reportagem com esta afirmação:
“Fidel Castro, o chefe da juventude cubana, está vivo e está combatendo fortemente e com sucesso nos inóspitos e quase impenetráveis bosques da Serra Maestra, no extremo sul da Ilha.
“Fidel Castro, o chefe da juventude cubana, está vivo e está combatendo fortemente e com sucesso nos inóspitos e quase impenetráveis bosques da Serra Maestra, no extremo sul da Ilha.
“O
presidente Fulgencio Batista mantém seu exército nessa região, mas os militares
estão travando uma batalha, até agora, perdida para destruir o inimigo mais
perigoso, ao qual o general Batista teve que enfrentar em sua longa e difícil
carreira como líder e ditador cubano.
“Esta é a primeira notícia certa de que Fidel Castro ainda está vivo e em Cuba. Ninguém relacionado com o mundo exterior, e ainda menos com a imprensa, viu o senhor Castro, exceto este repórter. Ninguém em Havana, inclusive na Embaixada dos Estados Unidos, com todos seus recursos para a recopilação de informação, saberá até ser publicado este artigo que Fidel Castro está realmente na Serra Maestra.”
“Esta é a primeira notícia certa de que Fidel Castro ainda está vivo e em Cuba. Ninguém relacionado com o mundo exterior, e ainda menos com a imprensa, viu o senhor Castro, exceto este repórter. Ninguém em Havana, inclusive na Embaixada dos Estados Unidos, com todos seus recursos para a recopilação de informação, saberá até ser publicado este artigo que Fidel Castro está realmente na Serra Maestra.”
Matthews
não escondeu neste artigo sua repulsa pelo regime de Fulgencio Batista e
manifestou categoricamente: “Fidel Castro e seu Movimento 26 de Julho são o
símbolo inflamado da oposição ao regime”.
Mais
adiante argumentou: “Para facilitar meu acesso à Serra Maestra e meu encontro
com Fidel Castro, dezenas de homens e mulheres em Havana e na província de
Oriente correram verdadeiramente um grande perigo”.
Guerrita
pensou que aquele homem de bonê e cachimba estava referindo-se a ele, e que em
nenhum momento transpareceu que sabia do grande perigo que corriam ao levá-lo
para se encontrar com Fidel. Por isso, quando releu a linha: “um grande
perigo”, cresceu sua admiração pelo repórter veterano.
Continuou
lendo e deparou que Matthews fazia um esboço biográfico de Fidel desde o ataque
ao quartel Moncada até a expedição do iate Granma. Depois, referiu-se às
diversas versões em torno da provável morte de Fidel, que desmentiu
taxativamente. A seguir, informou de sua entrevista com Fidel e concluiu com
uma breve referência a sua saída para Nova Iorque.
Dias
depois, Guerrita deleitou-se novamente com mais dois artigos de Matthews, em
que examinava a situação atual de Cuba.
O governo
de Batista não teve outra alternativa que suspender a censura da imprensa. Ao
que parece, tinha reconsiderado isso a partir da publicação dos artigos de
Matthews, uma vez que estes poderiam ser aproveitados pela imprensa
internacional para causar um grande escândalo e pôr em ridículo seu regime.
Por isso,
os principais órgãos de imprensa de Cuba reproduziram os artigos de Matthews,
ao passo que o ministro da Defesa, Santiago Verdeja, emitia algumas declarações
em que qualificava as notícias de Matthews como os capítulos de um romance
fantástico.
“O senhor Matthews não se entrevistou com o tal insurgente”, ressaltava.
“O senhor Matthews não se entrevistou com o tal insurgente”, ressaltava.
O
porta-voz governista impugnava a autenticidade da foto de Fidel e fundamentava
sua dúvida com estas palavras:
“Parece
ingênuo que, apesar de ter tido a oportunidade de se embrenhar naquelas
montanhas e ter realizado a entrevista, não se retratasse com ele para
confirmá-lo.”
Guerrita sabia que René lhe tinha tirado algumas fotos a Matthews e a Fidel quando conversavam na Serra Maestra. Talvez, pensou, os negativos se tivessem arruinado ou não tivessem a melhor qualidade para serem visíveis nas páginas de um jornal. Lembrou que Frank subiu também com uma máquina fotográfica, mas não se lembra dele tirando fotografias.
O regime batistiano tentava por todos os meios negar a veracidade da entrevista de Matthews com Fidel, a qual se espalhava por toda a Ilha. Aos depoimentos de Verdeja somaram-se os do chefe militar da província de Oriente, Martín Díaz Tamayo, que declarou à imprensa cubana: “É absolutamente impossível cruzar as linhas onde há tropas. A entrevista é história”.
Guerrita sabia que René lhe tinha tirado algumas fotos a Matthews e a Fidel quando conversavam na Serra Maestra. Talvez, pensou, os negativos se tivessem arruinado ou não tivessem a melhor qualidade para serem visíveis nas páginas de um jornal. Lembrou que Frank subiu também com uma máquina fotográfica, mas não se lembra dele tirando fotografias.
O regime batistiano tentava por todos os meios negar a veracidade da entrevista de Matthews com Fidel, a qual se espalhava por toda a Ilha. Aos depoimentos de Verdeja somaram-se os do chefe militar da província de Oriente, Martín Díaz Tamayo, que declarou à imprensa cubana: “É absolutamente impossível cruzar as linhas onde há tropas. A entrevista é história”.
Em 28 de
fevereiro, como um facão no pescoço dos sicários de Batista, El Diario de la
Marina mostrava, tirada do The New York Times, na capa a foto esperada em que
apareciam Matthews e Fidel dialogando. A foto instantânea, que à velocidade da
luz percorreu o mundo, mostrava à esquerda o repórter fazendo apontamentos. À
direita, de perfil, o comandante-em-chefe Fidel Castro, com seu boné
verde-olivo e sua barba de guerrilheiro, acendendo um charuto cubano, cujas
chamas aclaravam as pupilas esperançosas das camadas mais humildes do povo.
Guerrita
matos tirou seus óculos e enxugou-os com a ponta da camisa. Depois, pô-los
novamente para poder apreciar com mais nitidez a foto tirada por seu
companheiro René Rodríguez. Então mostrou um leve sorriso, arrancou o carro e
partiu às pressas para a Serra Maestra.http://granmai.cubasi.cu/portugues/2007/febrero/mar20/8mattews-p.html
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 2008
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