CLUBE RECREATIVO DE IPAUMIRIM: QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ



MLUIZA
 Detesto olhar o passado com o espírito saudosista de quem diz que antes tudo era melhor. Nada impede que as lembranças exaltem coisas positivas que jamais voltarão e que repousam positivamente na memória da maioria.
Não lembro exatamente o processo de fundação do Clube Recreativo de Ipaumirim (CRI) mas sei que foi uma das boas iniciativas e um exemplo do que a credibilidade e o espírito coletivo são capazes de fazer pela comunidade. Considerando as diferenças, o espírito foi o mesmo da construção da modesta capelinha de São Sebastião, ponto focal da romaria e principal festa do município de Ipaumirim.
Acho que estas fotos são do antigo orkut de Cleidinha
Construído por Zé Estolano, o CRI foi uma iniciativa da comunidade. Tenho, como muita gente, ações do velho clube.
Algo me passa, mas não tenho certeza, que foram presidentes Diógenes Rolim, Zé Henrique, Argemiro de Louzinha, Aécio Pinto, Zé Saraiva e talvez muitos outros. Não lembro a sequência dos mandatos nem o último que ficou a chave do prédio.
Os carnavais eram imperdíveis, animados, bonitos e dançava-se até com sanfona quando não se tinha orquestra. Acho que alguns ainda devem lembrar-se da polêmica quando Aécio Pinto encrencou e não contratou a orquestra de Ipaumirim que era uma das melhores da região. Foram tocar, parece que em Orós, mas antes fizeram uma prévia para Ip no salão da antiga prefeitura onde hoje é o Sindicato Rural.
Aécio era um diretor que se metia nos rolos. Não sei também a razão mas fez história uma briga dele com a turma da Bananeira durante um carnaval.
Tínhamos dois grupos bem definidos entre os jovens da época: a turma, um pouco mais velha, composta pelos estudantes que moravam na Casa do Estudante em Fortaleza, formadores de opinião que nos traziam as modernidades da capital e a turma mais jovem que ainda estudava nas redondezas e eu, naturalmente, neste segundo grupo. Hoje, estamos todos da mesma idade.
É impossível não lembrar a turma da Bananeira quando chegava na camioneta de Expedito Dantas e mais os que já estavam aqui. Raimundo, Antonio, Vicente Caboré, Demir e muitos outros que lembro a fisionomia, mas não o nome. Essas turmas animavam também as tertúlias nas casas de família com uma pequena radiola Phillips portátil e os arranhados discos de Roberto Carlos, Paulo Sérgio e etc.. Acho que as tertúlias merecem uma matéria especial.
Nos carnavais, as mesas organizadas, uma orquestra, um modesto serviço de bar e muito lança perfume faziam a alegria da festa. Quem não lembra a fidelidade aos mesmos passos que atravessavam carnavais de Maura e Antonio Vermelho? E as Batista? Não haveria festa sem Ip sem as irmãs Batista. Alguém se lembra de um grandão chamado Vicente Calango Elétrico? Bem que podíamos fazer uma rodada de artigos só com as lembranças do CRI.
A sopa de Tereza de Zé Saraiva nos intervalos da festa era um capítulo divertido. E as galinhas torradas levadas para tira-gosto?
E a chiquiteza do povo nas ocasiões de gala? Caso a parte eram as festas de término do curso ginasial do Colégio XI de Agosto. Todo mundo de roupa nova, cada um mais alinhado que o outro. Tudo era produzido às escondidas para ninguém saber dos modelitos. Adautiva, Mundinha e o exército de costureiras locais comiam fogo. Além de tanta encomenda, o mais absoluto segredo sobre cada uma.
Tecidos acetinados, brocados, rendas faziam os tubinhos. Estreando em ambiente conservador, a ousada minissaia, de Mary Quant. A propósito, sempre achei que quem inventou a minissaia não foi Mary Quant, foi Maria Correia, de Lavras da Mangabeira. Mas uma coisa é estar em Londres e outra é estar em Lavras.
Os perfumes da Avon incensavam as festas no clube. Toque de Amor, Charisma, Topázio e tanto outros perfumavam os enlevos e derrubavam os de olfato mais sensível nas mais terríveis enxaquecas. Lancaster argentino era perfume dos chiques. Depois apareceu Bond Street.
Mas festa é festa e quem vai pensar nessas coisas do dia seguinte? Ressaca e enxaqueca a gente só pensa nelas depois dos “enta”.
E os penteados? Os coques colossais que dariam até para um galo de campina fazer um ninho.
E as calças justas dos rapazes mais ousados com o cabelo grande a los tiempos ie-ie-ie? E as famosas calças boca sino? Estavam todas nas festas menos formais. Não tínhamos TV mas tínhamos as revistas Manequim compradas nas bancas de Cajazeiras ou vindas de Fortaleza.
E os famosos caftans dos anos 70? Lembro que eram os prediletos de Alda de Zé Aristides.
Cada mesa uma família, tudo muito organizado.
As brigas também não faltavam e foram muitas que acabaram a alegria de todos principalmente no carnaval onde a bebida corria solta.
O toilette feminino era um show com penteadeira, vassouras, baldes, tonéis de água e a meia porta nos banheiros. Uma vez, entrou um bêbado e as mulheres trancaram-se nos banheiros. Ele pegou a vassoura e ficou dando vassourada por cima da meia porta. A solução era ficar de cócoras. Achando pouco, pegou um balde e jogava a água do camburão para cima. Um terror que durou até que alguém estranhasse a movimentação e os gritos.
Quantas lembranças...
Depois, o clube passou a ser emprestado para outras atividades pela falta de ambientes adequados. Os hábitos foram mudando, os que lutaram e cuidaram do clube não tiveram quem os substituíssem com a mesma competência, zelo e espírito dos que o fundaram.
A maioria dos frequentadores migrou e aí para não perder o espírito de abandono característico da cidade, o clube acabou desmoronando. Um espaço cheio de donos, proprietários das ações, mas que, na realidade, não é de ninguém.
Neste caso, não podemos culpar o poder público. A população também pouco se interessa pelo destino das coisas da terra.
Sempre me chama a atenção o fato de que os filhos de Ipaumirim que saíram da cidade, inclusive eu, têm sobre ela um olhar nostálgico e bucólico. Ninguém se lembra de retribuir o que a cidade, em sua humildade, nos ofereceu. Visitamos nossas famílias, amigos, fazemos nossa farra e tchau. Não respeitamos as dificuldades que os nossos pais tiveram para - como se diz popularmente - nos fazer gente, esquecemos a importância das nossas modestas escolas e da própria comunidade em nossa preparação para a vida. E estou falando dos que ainda andam por lá mas a leva de indiferentes é maior ainda.
Acho que precisamos ter um novo olhar sobre a cidade, um pouco mais de gratidão. Isto não quer dizer voltar a viver em Ipaumirim mas contribuir com boas críticas, vigilância, com novas alternativas – temos tanta gente competente e reconhecida em tantas áreas – trazendo para a cidade não apenas o lixo do século XXI mas um sentimento de cidadania e coletividade que existia no tempo dos nossos antepassados que muito fizeram principalmente se considerarmos a modéstia, a falta estudos e as condições em que viveram. Acho que devemos isso a Ipaumirim.
Eu ainda acredito que todos juntos, cada um do seu lugar, podemos fazer alguma coisa. Os prédios caem porque não tem quem se importe com eles. Nem com a educação, com a saúde, com o saneamento e muito mais. Tudo é fruto da mesma matriz de indiferença e descaso. Isso é muito ruim porque permite o florescer da esperteza, do individualismo, da falta de compromisso, caldo de cultura propício à corrupção e aos conchavos que nos deixam à margem dos direitos de cidadão e nos submetem e nos segregam aos porões do século XXI.
MLUIZA

FLÁVIO LÚCIO BEZERRA DE OLIVEIRA
DE FLÁVIO LÚCIO SOBRE O CRI 



Babá, o primeiro presidente e fundador do CRI foi Ademar Barbosa, ao tempo em que foi Prefeito a primeira vez ou logo depois. Ele construiu o clube em terreno de sua propriedade onde antes funcionou uma oficina mecânica. Além dos que você citou, foram também presidentes José Alves e Adolfo Augusto de Oliveira, que eu me lembre. Acho que Odilon Nery também foi, não tenho certeza. Se não foi presidente deveria ter sido, pois era seu principal dançarino e animador. Em todas as festas era quem iniciava as danças e o último a sair. Além do mais era o puxador das quadrilhas de São João. Grandes festas e grandes carnavais. Vinha gente de todas as cidades da redondeza. Ali aprendi a dançar com Zenóbia Gonçalves, Anita Osório, Zefinha Batista e muitas outras. Também namorei um bocado com meninas da minha época. Sempre que chegávamos de Fortaleza (os estudantes da capital como você falou), promovíamos muitas festas e animávamos a cidade nas férias. Quantas vezes ficamos torcendo para o Biliu fazer o motor funcionar e termos energia elétrica para as festas começarem. A orquestra paga, as mesas vendidas, a expectativa do carnaval e cadê energia? Que sufoco! Bons tempos, belas recordações como diz a canção do Roberto Carlos. Vanda Gonçalves tem algumas fotos de carnavais daquele tempo. Peça copia para postar no Blog. Por hoje chega de recordações. Bj Flávio Lúcio
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 13.04.2008

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