DIZ-ME COM QUEM ANDAS...



MLUIZA

Eu, hoje, nem estava pensando em escrever. Um domingo de muito calor sempre deixa aquela sensação de que é dia de dormir e, se possível, sonhar. Mas o calor insuportável não dá sossego. Não dá para ficar quieta. Vou dar uma olhada nos jornais para ver qual o escândalo do dia. Portais de informações, blogs políticos , revistas e boletins eletrônicos, a conversa leva sempre a mesma pergunta : e, nós, aonde vamos?
Quando digo nós, estou falando de mim e de você que pagamos a conta da farra, que deixamos de comprar feijão porque está caro, que não podemos comprar livros e cadernos para os nossos filhos nem remédios para os nossos enfermos porque somos obrigados a pagar a esbórnia da política. E pelos dutos, cartões corporativos e cuecas da vida vai descendo o nosso suado dinheirinho.
Leio, todos os dias, o Diário do Nordeste On line. Ontem, quem leu a matéria “O TCM desconhece a declaração de bens” deve ter ficado perplexo.

Os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de todo o Estado do Ceará não cumprem os dispositivos da Constituição estadual que os obrigam enviar, anualmente, declaração de seus bens ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) para a adoção das providências que considerar necessárias em caso de suspeita de enriquecimento ilícito no curso do mandato. O TCM, por sua vez, também não tem cobrado e, na prática, essa obrigação é como se não existisse.
“Um dos integrantes do TCM, que pediu para o nome não ser revelado, informou ao Diário do Nordeste, que embora não tivesse um levantamento sobre o assunto, pelo seu conhecimento, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores nunca encaminharam suas declarações de bens e o TCM também nunca cobrou. Na sua avaliação pessoal trata-se de um medida questionável, que pode até ser inconstitucional porque não cabe ao Tribunal fiscalizar a vida particular dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores e, inclusive seus parentes, pois a função do TCM é analisar as contas das Prefeituras, das Câmaras Municipais e dos órgãos públicos em geral, na sua esfera de competência.” (DN, 16.02.2008)
Ainda que se questione a obrigação ou não do TCM fazer esse tipo de fiscalização, não haveria possibilidades de cruzamento com outras fontes, tipo Imposto de Renda, por exemplo? Santa ingenuidade a de quem paga impostos pesados e, com certeza somos nós que os pagamos - os escolhidos, nunca - que ainda temos que aguentar desplantes desta natureza.
Hoje, pensando eu que o jornal poderia ser mais ameno – o que nunca é possível - vou ao DN e vejo a notícia que abaixo transcrevo:
"Oito dos 22 deputados federais respondem a algum tipo de processo
Brasília. Oito dos 22 deputados federais cearenses e um senador respondem a algum tipo de processo, seja nos tribunais superiores (STF, STJ, TSE, TCU, TRF) como nos locais (TRE, TCE) e estariam automaticamente impedidos de se candidatar caso as novas regras sejam aprovadas.O deputado Ciro Gomes (PSB) anda as voltas ainda com sua administração no Ministério da Integração Nacional. Segundo Acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), uma auditoria feita em convênios firmados pelo Ministério com prefeituras revelou ausência de definição clara do objeto, de estudos técnicos e de projeto básico. Houve descumprimento das etapas de licenciamento ambiental de obras. Desvio de finalidade.
Dotação orçamentária insuficiente. Incompatibilidade entre valores e preços contratados. Há também incoerência dos preços orçados e contratados com os de mercado; Indefinição dos critérios de reajuste de preços. O TCU determinou ao Ministério para que tomasse providências no sentido de sanar os problemas.
José Guimarães (PT-CE) tem um processo no Tribunal Regional Federal da 5ª Região relativo a uma ação civil pública por improbidade administrativa. Manoel Salviano (PSDB-CE) tem contas julgadas irregulares pelo TCU.
Marcelo Teixeira (PR-CE) foi requerido por uma petição no STF por sonegação fiscal e no TCU por irregularidades na construção de ponte sobre o Rio Cocó. Houve alteração unilateral do objeto do convênio, sem pedido de autorização prévia à entidade concedente, entre outras impropriedades que não foram sanadas.
Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) é alvo de uma Investigação Judicial Eleitoral do TRE-CE, por abuso de poder político e de autoridade por meio de publicidade institucional ao show Forrozão dos Caminhoneiros, dissimulando propaganda eleitoral.
Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) após acórdão do TCU foi obrigado a ressarcir a Câmara dos Deputados de débitos decorrentes de financiamento para a aquisição de veículos, concedidos pelo extinto Instituto de Previdência dos Congressistas.
O deputado Anibal Gomes (PMDB), responde inquérito no STF, tendo sido indiciado pelo Ministério Público. Por fim o deputado Zé Gerardo Arruda (PMDB) tem duas ações penais por Crime de responsabilidade, desvio de verba. É investigado por crime de responsabilidade, irregularidades em aplicação de verbas públicas, e conta ainda com três inquéritos no STF.
Em dois ele é investigado por crime de responsabilidade, irregularidades em aplicação e desvio de verbas públicas. Em outro por crime ambiental. Por duas vezes ele foi multado pelo TCU por irregularidades na aplicação de verbas federais quando prefeito de Caucaia. “(DN, 17.02.2008)
Eis a lista dos deputados de vários partidos. Não apenas juntos “pero juntos y revueltos” como dizem os latinos.
Na prática, a teoria é a mesma
A bem da verdade, Ipaumirim, historicamente, nunca teve uma tradição partidária que fosse além da percepção do simples “este é o meu lado”. Estou com fulano e/ou com sicrano. Lembro-me criança, o slogan da campanha de Dr. Arruda era “Não temos partido, temos um chefe”. O voto sempre esteve culturalmente vinculado a outras relações sociais. No mercado das trocas, está muito próximo das relações pessoais e políticas como moeda de troca no escambo eleitoreiro. Com ele, honram-se os compromissos e pagam-se favores.
De Arruda para cá, os tempos mudaram e mudaram muito. Para o bem e para o mal. O problema é que as novas lideranças conseguem fazer certas combinações partidárias que debocham dos eleitores e tripudiam sobre a nossa cidadania. O que não quer dizer que nos outros partidos há coisas melhores mas que há diferentes personalidades distribuídas pelos partidos. É estranho personalizar um voto sem considerar o partido mas, pensando Ipaumirim, os partidos sempre deram sustentação a nomes e nunca a propostas. Ou seja, "no es lo mismo pero es igual."
Fui olhar na lista publicada pelo Diário do Nordeste, os nomes dos ilustres deputados federais do Ceará que respondem a algum tipo de processo e que estariam envolvidos na última e/ou na próxima campanha política do Ipaumirim. Encontrei “José Guimarães (PT-CE) tem um processo no Tribunal Regional Federal da 5ª Região relativo a uma ação civil pública por improbidade administrativa. Manoel Salviano (PSDB-CE) tem contas julgadas irregulares pelo TCU.”(DN, 18.02.2008)
Manoel Salviano foi votado na eleição passada por indicação de Luiz Alves e, circula na cidade a informação que José Guimarães estaria apoiando alguma candidatura no município para o próximo pleito. O deputado Guimarães, irmão de José Genoíno, conforme foi amplamente denunciado pela imprensa, esteve envolvido no escandalo dos dólares na cueca conforme denunciou a revista Veja:

Caso Lulinha e o dólar na cueca

Revelações: VEJA mostra que a Gamecorp, empresa de Fábio Luis da Silva, filho de Lula, recebeu 5,2 milhões de reais da Telemar. Na mesma semana, um assessor do deputado José Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoíno, é pego com 100 000 dólares na cueca.
Reações: antes da publicação da reportagem, o Planalto vaza a informação para os jornais, como se a operação fosse normal. Guimarães diz que o episódio da cueca visa a atingir Genoíno.
Conseqüências: no caso de Lulinha, nenhuma. Já no caso da cueca, Genoíno caiu e o MP concluiu que os dólares eram uma propina que Guimarães receberia por ter intermediado um financiamento entre um consórcio de energia e o Banco do Nordeste do Brasil.”
Fonte: http://veja.abril.com.br/281205/p_088.html

Pensei na dupla, nos seus partidos, na campanha de prefeito em nosso município e não pude deixar de lembrar o que disse o Senador Pedro Simon, no blog do Cláudio Humberto, identificando as semelhanças entre petistas e tucanos: "Os dois partidos [PT e PSDB] disputam para dizer qual é o pior"
Isto não isenta o PMDB, o DEM e as demais siglas das piruetas eleitorais, das negociações escusas, dos interesses impublicáveis mas se nós podemos livrar a nossa cidade de influências duvidosas, por que não fazê-lo? Busquemos candidatos e alianças que nos tragam propostas, assumam compromissos de fazer algo melhor por todos, que tenham um currículo limpo a nos apresentar. Precisamos reaprender a confiar.
Quem quiser passar no Portal da Transparência, Contas Abertas, TCM e outros sites esclarecedores, deve fazê-lo para descobrir o que motiva as candidaturas. Aí, você pode votar tranquilo e selar o destino de todos. No mínimo, você vai cobrar bem mais caro pelo seu voto se pretende negociá-lo.
ACORDA, ALAGOINHA!
MARIA LUIZA NÓBREGA DE MORAIS

Publicado no alagoinha.ipaumirim em 17.02.2008



COMENTÁRIO


ANCHIETA NERY
Li hoje cedo o artigo Diz-me com quem andas... - na seção "Domingo também é política" - de sua lavra, por sinal é o retrato dos políticos do Brasil. Se não responderem por crimes previstos e puníveis pela legislação penal, não é bom de bolso, e nem tem dinheiro para concorrer a eleições futuras. Estão aí soltos, na esplanada do Poder Legislativo, os parlamentares por você enumerados conforme matéria do DN mas ainda tem muitos outros. Entre eles, Jader Barbalho, Renan Calheiros e Paulo Maluf que não foram citados, mas continuam sendo, no cenário político nacional, estrelas de 5ª grandeza com grande poder de fogo nas decisões das duas casas legislativas.

Esta lição doentia se espalha pelo Brasil afora e contamina as células do Brasil, que são os Municípios. Prefeitos na linguagem popular é sinônimo de corrupto e desonesto, que são acobertados pelos políticos maiores e prestigiados, intitulados de "CHEFE". Chefe é o todo poderoso. É o pode tudo. Daí o slogan de Dr. Arruda " Não temos partido, temos um chefe". A bem da verdade, o slogan foi criado por Luídio Bezerra Barbosa, que possivelmente agradou ao Deputado Chico Arruda, que, na época, estava sem mandato. Mas, sintetizando, no Brasil não temos formação ideológica, razão primeira da aculturação político-partidária da nossa gente.

Os partidos no Brasil são portos seguros para os aventureiros apelidados de "políticos" que buscam dias melhores, sem muito esforço e pouquíssimo trabalho. Viajam em embarcações legais, cuja legenda é aumento de patrimônio ilegal, e prestigio na corte palaciana. Rui Barbosa disse do alto de sua tribuna/cátedra “haverá época em que os homens terão vergonha de serem honestos.”
O político devia ser um exemplo de cidadão, de homem, de pai, de amigo dedicado ao bem estar social. Às vezes, até abraçando a titularidade de "CHEFE", no sentido correto da palavra, empregada como orientador e conselheiro. Temos que esperar por dias melhores, aguardemos nossos jovens em breve politizados, para um Brasil de políticos honestos, e porque não dizer um Ipaumirim com grandes administradores.
José Nery Vieira (ANCHIETA)
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 18.02.2008

ENTREVISTAS ESSENCIAIS: FÍDEL CASTRO



A entrevista legendária


“Visita ao rebelde cubano em seu refúgio”, assim intitulou o importante diário “The New York Times”, em sua edição de 24 de fevereiro de 1957, a primeira parte de uma reportagem que atraiu a atenção mundial, ao mostrar a guerrilha sobrevivente, liderada pelo comandante-em-chefe Fidel Castro na Serra Maestra • Fidel ordenou a Faustino Pérez, expedicionário do iate Granma, que descesse das montanhas à planície e que, entre as primeiras missões a cumprir, tentasse enviar um jornalista, mas os diretores das principais publicações se recusaram por medo das represálias. Contudo, nos primeiros dias de fevereiro, conseguiram que o destacado repórter Hebert Matthews, chegasse a Cuba...

(Extraído do livro em edição: Marabuzal)
POR JOSÉ ANTONIO FULGUEIRAS

Sierra Maestra
O caminho apareceu diante de Felipe Guerra Matos como uma corda lamacenta e enegrecida pela noite rural em Manzanillo. Felipe conhecia o caminho como a palma da mão e sabia muito bem onde estavam os cruzamentos da estrada como um reflexo condicionado pelas muitíssimas subidas e descidas. Seu jipe Willy assemelhava-se a um mulo de cascos firmes, domesticado para vencer os obstáculos que os aguaceiros dos últimos dias esculpiram no caminho rústico e estreito. A seu lado, mais ou menos acomodado no banco dianteiro, viajava o jornalista norte-americano Herbert Matthews, que segundo parece, tentava decifrar através do pára-brisa o caminho que o levaria a um lugar desconhecido na Serra Maestra.
“Creio que não vai chover nesta noite”, disse o motorista em voz alta, inclinando a cabeça para um lado. Depois reparou que o norte-americano sabia pouco ou nada de espanhol. René Rodríguez, Javier Pazos, Quique Escalona e Nardi Iglesias, que também viajavam no banco traseiro também nada responderam.
Então, com o pouco conhecimento que tinha do idioma inglês, tentou enfiar na mente alguma frase para ganhar a amizade do repórter do The New York Times, famoso por seu trabalho como repórter em diversos países do mundo, participando como testemunha de alguns dos acontecimentos mais importantes do século.
O homem, na casa dos 60 anos, foi correspondente de guerra na Abissínia, na década de 30, e na Espanha, durante a Guerra Civil, que acabou com a República. Publicou vários livros e ganhou diversos prêmios, entre os quais, o John Moors Cabot, conferido pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.
Matthews era editor do The New York Times, e se destacava na redação de editoriais e reportagens especiais sobre a América Latina. Com mais de 1,80 m, magro, ligeiramente encorvado, olhos claros e olhar penetrante, Herbert Matthews, desde sua posição liberal, era considerado um dos jornalistas mais prestigiados e importantes nos Estados Unidos.

Mister, how do you feel here?, Guerrita queria perguntar, mas essa pergunta pareceu-lhe vulgar para uma pessoa tão experiente na arte das perguntas e respostas.
Saindo de Yara, uma patrulha da estrada os detém. Um guarda, com cara amarrada, aproximou-se deles e Guerrita, sem descer do veículo, respondeu-lhe antes que o homem lhe perguntasse:
— O senhor é um norte-americano rico que está interessado em comprar os campos de arroz de Gómez, disse, enfatizando a palavra rico e o sobrenome do burguês, muito conhecido na zona.
A frase era quase uma redundância para o patrulheiro, pois segundo os jornais e os filmes da época, todos os norte-americanos eram ricos. No entanto, o guarda, satisfeito com as facilidades que sua farda amarela lhe proporcionava para beber uma cerveja sem pagar em qualquer bar de Manzanillo e seus arredores, sabia que incomodar uma pessoa abastada era fatal para suas aspirações de ser promovido para sargento, então, como diria o poeta Amado Nervo, fez um gesto de cortesia e fechando os olhos os deixou passar.
Para Guerra Matos, depois do ardil efetivo, o mais importante era dirigir o melhor possível por aquele caminho inundado por causa das chuvas recentes e chegar ao destino.
Are you cold?, perguntou-lhe o norte-americano quando o viu fazer um gesto de quem sente um momentâneo calofrio. Mas o homem continuou absorto na escuridão e no pensamento. De vez em vez, quando absorvia o cachimbo que não afastava da boca; depois expirava a fumaça pouco a pouco.
Para chegarem a Matthews, os companheiros do Movimento 26 de Julho tiveram que transitar inteligentemente um caminho perigoso. A idéia foi de Fidel Castro, que com 82 homens tinha desembarcado, dois meses antes (2 de dezembro de 1956) pela praia Las Coloradas, na costa norte da província de Oriente.
Após serem surpreendidos pelo exército batistiano em Alegria de Pío, os jovens rebeldes se dispersaram por diferentes lugares da zona. Alguns foram presos ou assassinados às ordens do presidente Fulgencio Batista; outros puderam burlar o cerco e somente sete conseguiram reencontrar-se em Cinco Palmas, onde Fidel, com uns poucos fuzis tornou célebre em 1956 a frase mais otimista do século 20: “Agora sim ganhamos a guerra”!

Iate Granma

Contudo, a imprensa cubana publicou a notícia de que Fidel foi morto e a guerrilha eliminada. E depois, censura total contra tudo o que e parecesse rebeldia.
Quando subia a montanha, Guerrita lembrou aquele fato:
“Entre os dias 9 e 11 de fevereiro de 1957, perdemos o contato com a Serra, até o dia em que o companheiro Radamés Reyes, telegrafista do quartel e aliado do Movimento 26 de Julho, chegou à loja de Rafael Sierra. Trazia a infeliz notícia de que Fidel e o grupo tinham sido liquidados numa emboscada em Los Altos de Espinosa.
“Rafael Sierra me informou e imediatamente transmiti a Celia aquela horrenda notícia. Com muito otimismo, ela disse: ‘Não acredito, pois a imprensa já o teria publicado. Temos que confirmá-lo, mas tenho certeza que ele estava vivo’.”

FIDEL ESTÁ VIVO!

“No dia seguinte, Miguelito, um filho de Epifanio, chegou e me contou o que tinha acontecido. Eles conseguiram fugir com Luis Crespo. E ele estava certo de que Fidel e outra parte do grupo também conseguiram burlar o cerco inimigo. Disse-me que Crespo, expedicionário do iate Granma, queria nos contatar. Celia ordenou-me que fosse buscá-lo. Crespo afirmou que Fidel estava vivo, pois viu que o comandante e o resto do grupo também fugiram”.
“Eu propus a Crespo que o melhor era que ele abandonasse a Serra e respondeu taxativamente: ‘Enquanto houver um fuzil aqui, a luta continuará’. Senti grande admiração pela atitude daquele homem semi-analfabeto, que em meio do desespero, mostrava os valores e a qualidade humana dos expedicionários do Granma.
“No dia seguinte, Miguelito retornou de novo a Manzanillo com a confirmação de que Fidel estava vivo e mandou um mensageiro, que esperava por nós na quinta de Epifanio para recolhê-lo, porque recebeu a ordem de se entrevistar com Celia. Fui buscá-lo e quando regressávamos, deparei na entrada de Manzanillo com um soldado da guarda rural que me pediu carona. Parei o carro e o levei. Entrei na cidade protegido por um guarda inimigo e festejando a vida de Fidel”.
Mas a ditadura de Batista se aferrava à notícia de que Fidel e seus homens tinham sido liquidados. Foi por isso que Fidel pediu um repórter, para que publicasse a notícia, mas os chefes da imprensa nacional tinham medo das represálias e por isso foi necessário buscar um jornalista de um jornal influente.
Ruby Hart Phillips, correspondente do The New York Times em Havana, mandou Matthews vir urgentemente para Cuba, pois tinha uma boa notícia para ele. Na segunda-feira, 4 de fevereiro, a senhora Phillips foi convocada para o escritório de Felipe Pazos, no prédio Bacardí, na rua Monserrate. Ali se encontravam também seu filho Javier Faustino Pérez e René Rodríguez, que explicaram à repórter o interesse de Fidel em receber um jornalista no coração da Serra Maestra.
Logicamente, Phillips se ofereceu de imediato, mas foi convencida de que não devia ser ela, pois as condições da viagem eram muito difíceis para uma mulher, e além disso, ela era a correspondente permanente no país e depois podia ser alvo de uma forte represália do regime de Batista.
No telefonema de Phillips e Matthews não se deram muitos detalhes, mas um jornalista experiente como ele sabia que se tratava de algo muito importante.
Cinco dias depois, Matthews, acompanhado de sua esposa Nancie, chegou à terra cubana. Em 15 de fevereiro, às 22h, hospedou-se no hotel Sevilla, com sua mulher, e se encaminhou para o oriente do país, com Faustino Pérez, que desde o primeiro momento trabalhou incansavelmente para executar a ordem que Fidel lhe tinha dado.
Faustino acompanhou o destacado jornalista até Manzanillo. Guerrita viu pela primeira vez o jornalista nessa cidade, em casa de Pedro Eduardo Saumell, e pensou que era um homem muito idoso para viajar pelo caminho difícil que o levaria à Serra. E por seu cachimbo e boné, segundo ele, parecia-se mais com um detetive privado ao estilo de Sherlock Holmes do que com um repórter com vigor e juventude para escalar, por exemplo, a Colina de la Derecha de Caracas, que se ergue majestosa, vestida com a verde folhagem da Serra.
Matthews e Nancie estavam cansados pela longa viagem, quase sem dormir, por toda a Rodovia Central. Somente detiveram-se em Camagüey para tomar o café da manhã. Depois continuaram rumo a Bayamo e entraram no trecho mais difícil, custodiado por várias patrulhas do exército. Seus visíveis traços de turistas estrangeiros lhe permitiram entrar em Manzanillo sem muitos contratempos, acompanhados por Faustino Pérez, Javier Pazos e Lilia Mesa.
À medida que a encosta e a água estagnada exigiam maior velocidade do motor do jipe, Guerrita olhava de esguelha o norte-americano, que tinha deixado sua esposa na casa do anfitrião, Saumell, em Manzanillo. Ele estava concentrado na direção do jipe, nas velocidades e no freio, evitando os saltos e as freadas abruptas. Contudo, de vez em vez, quando o jipe dava um grande salto como um cavalo ferido pelo ginete. Sempre que isso acontecia, Guerrita olhava para o rosto do norte-americano, tentando ver algum gesto de contrariedade, mas o homem aceitava sem alarde os saltos do jipe por causa do caminho alagado.
Esta era a terceira viagem no mesmo dia à quinta de Epifanio Díaz, camponês, de amizade sincera e um dos primeiros colaboradores de Fidel e da guerrilha depois do desembarque.

FAUSTINO O LEVOU A MANZANILLO E ALMEIDA FOI O PRIMEIRO A RECEBÊ-LO NA SERRA

A casa do velho Epifanio erguia-se solidária em Los Chorros, a sul do Purial de Jibacoa, na vertente norte da Serra Maestra. Na quinta não havia grandes elevações que possibilitassem o refúgio da guerrilha, embora pelo lugar em que se encontrava, facilitasse o acesso de qualquer veículo ou pessoa que não conhecia o caminho.

Fidel, que conhecia a lealdade e colaboração de Epifanio e de seus dois filhos, Enrique e Miguel, decidiu esperar nesse lugar o jornalista norte-americano e ao mesmo tempo realizar a primeira reunião com os principais dirigentes da planície oriental.
Filho de camponeses, e camponês ele também, Guerrita podia determinar as horas apenas olhando os astros. Por tal motivo, quando viu a lua no centro do céu, soube que, no domingo, 17 de fevereiro de 1957, quase estava terminando.
Foi então que deteve o veículo e disse que havia que continuar a pé. Matthews desceu do jipe e caminhou com os outro em meio da escuridão e do cício do grilo insone. Guerra Matos, conhecedor do caminho, ia à frente e o jornalista se guiava por seus passos, sem soltar o cachimbo nem as ânsias de chegar.
De repente apareceu diante deles o riacho Tío Lucas, que corria entre as árvores da Serra. Para chegar ao acampamento, era preciso atravessar o riacho de águas frias e as correntezas. René o explicou ao repórter do The New York Times e este respondeu com um gesto animador.
Matthews entrou brioso, mas em meio do riacho perdeu o equilíbrio e caiu na água. “Danou-se o norte-americano”! gritou Guerrita. Mas, apesar do surpreendente esbarrão, o jornalista levantou a pequena carteira que levava nas mãos, sem soltar o cachimbo da boca. Guerrita ofereceu-lhe a mão em sinal de ajuda e o norte-americano se incorporou com certos brios juvenis.
O riacho da Serra, que comprazia a Martí mais que o mar, se comporta como um cachorro faminto que lambe constantemente as pedras do fundo até deixá-las polidas. Matthews, ao que parece, não levou em conta o curso fluvial, e esbarrou como um clássico jogador de beisebol à procura da base.
Contudo, não perdeu a postura nem a inteireza, e com gesto elegante, exortou a prosseguir a viagem rumo ao acampamento, que, sem ele saber, apenas faltava uns poucos minutos.
O primeiro a recebê-lo foi o expedicionário Juan Almeida Bosque, que lhe explicou que Fidel se encontrava nesse momento no Estado-Maior e que chegaria ao amanhecer. Matthews simpatizou, desde o primeiro momento, com este homem que apoiava suas palavras na tradução de Pazos e lhe informou que a tropa dispunha de vários acampamentos.
Guerrilheiros en Sierra Maestra
A conversa demorou vários minutos, incorporando-se depois Ciro Frías e outros guerrilheiros. Almeida pediu a Matthews que descansasse um pouco. O norte-americano concordou e tirou do bolso uma caixa de fósforos, que sobreviveu do mergulho da madrugada e acendeu o cachimbo imutável.
Celia Sánchez lembrava:
Naquela noite, fomos caminhar para ver se encontrávamos uma pequena casa que víamos de dia. Íamos Fidel, Armando, Frank, Vilma e eu; e Luis Crespo que sempre estava perdido, e foi como guia. Não encontramos a casa; caminhamos tanto pela noite, que depois não soubemos voltar ao acampamento; deitamo-nos em pleno campo. Nessa madrugada chegou Matthews. Quando Universo chegou com a notícia, ordenamos-lhe que dissesse que Fidel estava em outro acampamento, que o esperasse ali. Almeida, Che e Raúl ficaram com o visitante.
No alvorecer, chegou ao acampamento o grupo liderado por Fidel. Vilma Espín, prestigiosa combatente da clandestinidade em Santiago de Cuba, que foi levada horas antes por Guerrita para o acampamento, e Javier Pazos, foram os tradutores, apesar de Fidel ter bom domínio do idioma inglês.
Raúl se adiantou ao grupo e cumprimentou o jornalista, anunciando a chegada de Fidel. Em seu diário de campanha, o então capitão Raúl Castro narrou o fato da maneira seguinte:
Chegamos ali e dei um abraço no “Flaco” (O Magro) — René Rodríguez —, que cumpriu realmente o que prometeu. Cumprimentei o jornalista e lembrando meu inglês elementar, lhe disse: How are you? Não entendi o que me respondeu e imediatamente chegou F (Fidel), que depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na cabana e começou a entrevista, que, com certeza, será uma bomba (...) Enquanto corria a entrevista, o oficial Almeida triplicou a vigilância, tomando todas as medidas de segurança ao nosso alcance naquele lugar. Infelizmente esta é uma zona completamente a céu aberto e foi um atrevimento afastarmo-nos tanto de nossos queridos arvoredos. Se nos surpreendiam por causa de uma delação, o Movimento 26 de Julho sofreria um colapso, pois poderíamos perder alguns de nossos valentes homens.
Guerra Matos, por seu lado, o descreveu assim:
“Vi Fidel chegar e cumprimentar o jornalista, e senti uma imensa satisfação, mas não a externei. Tinha contribuído com um grãozinho de areia para este encontro tão esperado por nosso máximo líder, que tinha uma grande importância, pois tornaria público ao mundo que Fidel estava vivo e a guerrilha pronta para o combate. Em todo o percurso, fiz todo o possível para que o norte-americano se sentisse o mais cômodo e seguro possível, pois se ele se arrependesse no último instante, isso marcaria minha vida para sempre.
“Quando escorregou no riacho, fiquei desapontado e não consegui fazer coisa alguma para impedi-lo. Mas o jornalista tinha muita determinação como nós para chegarmos ao acampamento e nenhum bombardeio nos deteria. Percebi o entusiasmo de Fidel quando se dirigia a Matthews e esse regozijo o transmiti a meu coração.
Fidel cumprimentou Matthews com cortesia e singeleza. Com muita naturalidade, sentou-se em frente do repórte do The New York Times e começou a entrevista.

Matthews, como jornalista experiente, havia pesquisado durante sua estada em Havana sobre a situação em Cuba, a repressão a que era submetido o povo e conhecia, também, muitos traços pessoais de Fidel e alguns dados de sua história revolucionária estudantil e sua participação, como líder, no ataque ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba.
Apesar disso, ficou impressionado com a juventude de Fidel, mas, à medida que o ouvia, chegava à conclusão de que o chefe guerrilheiro era um homem invencível.
Fidel contou-lhe a odisséia do desembarque, quando foram apreendidos e assassinados muitos expedicionários, mas a tropa conseguiu reagrupar-se, consolidar-se e desferir-lhe nos dois meses de levantamento, várias derrotas ao exército de Batista.
“Há setenta e nove dias que estamos lutando — expressou Fidel — e somos mais fortes do que nunca. Os soldados estão combatendo mal. Sua moral é baixa e a nossa não pode estar mais alta. Provocamos muitas baixas a eles, mas quando os prendemos, nunca os fuzilamos. Interrogamo-los, tratamo-los bem, ficamos com suas armas e seus equipamentos, e os libertamos.”
E mais para frente, acrescentou:
“O povo cubano ouve pela rádio todas as notícias referentes à Argélia, mas não ouve nem lê uma só palavra a respeito de nós, graças à censura. O senhor será o primeiro a falar-lhe de nós. Temos seguidores na Ilha inteira. Os melhores elementos, especialmente os jovens, são a nosso favor. O povo cubano é capaz de suportar qualquer coisa, menos a opressão.”
Fidel destacou ao jornalista que a ditadura estava empregando contra o povo armas munidas pelos EUA e acrescentou:
“Batista tem 3 mil homens com armas perseguindo-nos. Eu não lhe direi quantos homens tenho, por razões óbvias. O exército opera em colunas de 200 homens. Nós, em grupos de 10 a 40. É uma batalha contra o tempo, e o tempo está ao nosso favor.
Enquanto decorria a entrevista, René Rodríguez, com uma máquina fotográfica antiga que trouxe de Manzanillo, se graduava como correspondente de guerra. Com muito afã, focalizava o entrevistado e o entrevistador e apertava o obturador, enquanto Matthews, com traços ágeis e pouco legíveis, fazia apontamentos num caderno com capa preta.

Frank País, o grande líder clandestino, um pouco afastado, aproveitava o tempo dando manutenção às armas dos rebeldes, ação que se gravaria na memória de Che Guevara, que escreveu depois em seu diário:
“Não presenciei a entrevista, mas segundo me contou Fidel, o homem mostrou-se amigável e não fez perguntas capciosas. Perguntou a Fidel se ele era antiimperialista; respondendo-lhe que sim, que ele era, no sentido de almejar livrar sua pátria das cadeias econômicas, mas não de odiar os Estados Unidos e seu povo. Fidel queixou-se da ajuda militar prestada a Batista, fazendo com que ele visse quão ridículo era pretender que essas armas eram para a defesa do continente, quando não podiam acabar com um grupo de rebeldes na Serra Maestra.”
O diálogo entre Fidel e Matthews se caracterizou pela sutileza do cubano, onde o humor e a originalidade apareciam nos momentos mais relevantes e mais difíceis. A tropa de rebeldes tentava, de qualquer jeito, impressionar o repórter, sem cair em alardes nem mentiras que pusessem em dúvida a veracidade, a existência real e a força da guerrilha.
Por isso, desde o início, Fidel deu a ordem de manter uma atmosfera marcial diante do repórter norte-americano e dar uma imagem de grupo que simulasse ser mais numeroso do que era realmente. Enquanto decorrria a entrevista, os rebeldes entrevam e saíam constantemente do acampamento, aparentando um maior número de pessoas. Isso correspondia à insinuação de Almeida a respeito da existência de vários acampamentos no entorno.
Alguns guerrilheiros, como Manuel Fajardo, passavam ao lado de Matthews, impedindo que ele reparasse em sua camisa completamente rasgada. Outro momento engenhoso, foi quando o então capitão Raúl Castro Ruz, após a chegada do combatente Luis Crespo, informou Fidel:
— Comandante, chegou o enlace da coluna 2!
Fidel ao reparar na tramóia de Raúl, respondeu-lhe:
— Diga-lhe que espere que eu terminaecom o repórter.

A famosa entrevista durou ao redor de três horas. Matthews, visivelmente satisfeito, pediu para Fidel lhe autografar a agenda e assim conferir maior autenticidade aos dados obtidos. Fidel acedeu ao pedido e acrescentou a data do encontro histórico nesse dia.
A certa distância, Guerra Matos viu feliz a despedida do chefe guerrilheiro e do jornalista. Agora tinha uma ordem ainda mais complexa a executar: devia voltar a Manzanillo com Matthews em pleno dia. Javier Pazos o acompanharia no regresso, ao qual se somaria o jovem camponês Reynerio Márquez, que os dirigiria à casa de uma filha de Epifanio, ao lado do caminho do Jíbaro.

INTERCEPTADOS NOVAMENTE POR UMA PATRULHA DO EXÉRCITO

Guerrita contou:
“Depois da entrevista, mandaram-nos passar para cumprimentar Fidel. O comandante-em-chefe mostrou interesse em saber como foi a viagem do repórter, qual caminho tomaram, quais medidas de precaução foram tomadas e insistiu em que tinha que ser mais cauteloso ao voltar, a fim de impedir que acontecesse alguma coisa ao jornalista.
“Recordei a Fidel que o conheci dez anos atrás, quando dos fatos da campanha de La Demajagua.” Guerrita revelou que o Fidel da Serra Maestra era o mesmo homem convicto e convincente, porém ainda mais inspirado. Gesticulava e punha otimismo em cada uma de suas palavras, que eram capazes de alentar a pessoa mais desanimada.
“Fui para Cayo Espino, para a quinta de meu pai a fim de buscar o carro que ali estava. Voltei e recolhi o norte-americano na casa de Epifanio e às 13h estávamos já em Cayo Espino.
“Sirva o almoço ao jornalista e que ele goste muito. O norte-americano tem que sair daqui com barriga cheia e coração contente’, disse Guerrita com tom de brincadeira a sua mãe e seu pai, camponeses admiradores e colaboradores das forças do Movimento 26 de Julho.”
Enquanto a família de Guerra Matos aprimorava a refeição cubana típica para satisfazer o visitante, o repórter apenas mastigou um pedacinho de frango e, com a maior cortesia do mundo, proferiu, para supresa de todos, cinco palavras que fizeram mudar completamente o itinerário:
Please, take me to Manzanillo. (Por favor, me leva a Manzanillo).
Guerrita não percebeu nesse momento que o pensamento do jornalista estava muito longe de seu estômago, e sua maior fome se concentrava na notícia que tinha gravada em sua cabeça e nos papéis que guardava zelosamente nos bolsos da camisa.
Uma patrulha do exército interceptou-os novamente na rodovia, mas Guerrita conseguiu desinformá-los outra vez. Ao redor das 17h, chegaram à casa de Saumell, onde sua esposa Nancie o esperava sentada na sala.
No limiar da porta, com breves palavras, Matthews propôs a Nancie partir imediatamente para Santiago de Cuba. Subiram apressados no carro que os levaria para o lugar. Viajaram de Santiago de Cuba para Havana num avião e no dia seguinte, o casal de norte-americanos foi para Nova Iorque.
Ao embarcar no avião, Nancie parecia mais gordinha que ao chegar. Será que teria abandonado seu regime, por causa da atraente comida cubana? Nada está mais longe disso. A esperta mulher havia colocado sob a roupa os papéis com todos os apontamentos que fez Matthews de sua entrevista histórica com Fidel. Enganaram, com discreta artimanha, os inspetores da alfândega e a rede dos ferozes membros do Sistema de Inteligência Militar de Batista.
Guerrita, por sua parte, continuou cumprindo suas tarefas, ora como mensageiro ora no translado de combatentes para a Serra Maestra. No mesmo dia em que Matthews abandonou Manzanillo, ele se encarregou de levar para a quinta de Epifanio Díaz mais três expedicionários do iate Granma, dispersos durante o desembarque.
Dias depois da partida do repórter para os Estados Unidos, Guerrita examinava diariamente os jornais à espera de um artigo escrito por Matthews. E no domingo, 24 de fevereiro de 1957, reparou que nas manchetes do El Diario de la Marina apareceu este título de grande impacto:


O IMPACTO DAQUELA ENTREVISTA FOI IMPRESSIONANTE

Fidel está vivo!
E mais abaixo, o seguinte sumário:
Entrevistado por Matthews, do “The New York Times”, na Serra. “Rebelde cubano é visitado em seu esconderijo”, aparecia depois na cabeça da página. E depois, a foto do chefe guerrilheiro com um fuzil de mira telescópica e a cópia fotostática do autógrafo que Fidel assinou na agenda do jornalista.
Guerrita, sentado no volante de seu jipe, começou a ler minuciosamente o artigo escrito por Matthews no The New York Times, que foi reinserido pelo El Diario de la Marina em suas páginas.
Matthews começava sua reportagem com esta afirmação:
“Fidel Castro, o chefe da juventude cubana, está vivo e está combatendo fortemente e com sucesso nos inóspitos e quase impenetráveis bosques da Serra Maestra, no extremo sul da Ilha.
“O presidente Fulgencio Batista mantém seu exército nessa região, mas os militares estão travando uma batalha, até agora, perdida para destruir o inimigo mais perigoso, ao qual o general Batista teve que enfrentar em sua longa e difícil carreira como líder e ditador cubano.
“Esta é a primeira notícia certa de que Fidel Castro ainda está vivo e em Cuba. Ninguém relacionado com o mundo exterior, e ainda menos com a imprensa, viu o senhor Castro, exceto este repórter. Ninguém em Havana, inclusive na Embaixada dos Estados Unidos, com todos seus recursos para a recopilação de informação, saberá até ser publicado este artigo que Fidel Castro está realmente na Serra Maestra.”
Matthews não escondeu neste artigo sua repulsa pelo regime de Fulgencio Batista e manifestou categoricamente: “Fidel Castro e seu Movimento 26 de Julho são o símbolo inflamado da oposição ao regime”.
Mais adiante argumentou: “Para facilitar meu acesso à Serra Maestra e meu encontro com Fidel Castro, dezenas de homens e mulheres em Havana e na província de Oriente correram verdadeiramente um grande perigo”.
Guerrita pensou que aquele homem de bonê e cachimba estava referindo-se a ele, e que em nenhum momento transpareceu que sabia do grande perigo que corriam ao levá-lo para se encontrar com Fidel. Por isso, quando releu a linha: “um grande perigo”, cresceu sua admiração pelo repórter veterano.
Continuou lendo e deparou que Matthews fazia um esboço biográfico de Fidel desde o ataque ao quartel Moncada até a expedição do iate Granma. Depois, referiu-se às diversas versões em torno da provável morte de Fidel, que desmentiu taxativamente. A seguir, informou de sua entrevista com Fidel e concluiu com uma breve referência a sua saída para Nova Iorque.
Dias depois, Guerrita deleitou-se novamente com mais dois artigos de Matthews, em que examinava a situação atual de Cuba.
O governo de Batista não teve outra alternativa que suspender a censura da imprensa. Ao que parece, tinha reconsiderado isso a partir da publicação dos artigos de Matthews, uma vez que estes poderiam ser aproveitados pela imprensa internacional para causar um grande escândalo e pôr em ridículo seu regime.
Por isso, os principais órgãos de imprensa de Cuba reproduziram os artigos de Matthews, ao passo que o ministro da Defesa, Santiago Verdeja, emitia algumas declarações em que qualificava as notícias de Matthews como os capítulos de um romance fantástico.
“O senhor Matthews não se entrevistou com o tal insurgente”, ressaltava.
O porta-voz governista impugnava a autenticidade da foto de Fidel e fundamentava sua dúvida com estas palavras:
“Parece ingênuo que, apesar de ter tido a oportunidade de se embrenhar naquelas montanhas e ter realizado a entrevista, não se retratasse com ele para confirmá-lo.”
Guerrita sabia que René lhe tinha tirado algumas fotos a Matthews e a Fidel quando conversavam na Serra Maestra. Talvez, pensou, os negativos se tivessem arruinado ou não tivessem a melhor qualidade para serem visíveis nas páginas de um jornal. Lembrou que Frank subiu também com uma máquina fotográfica, mas não se lembra dele tirando fotografias.
O regime batistiano tentava por todos os meios negar a veracidade da entrevista de Matthews com Fidel, a qual se espalhava por toda a Ilha. Aos depoimentos de Verdeja somaram-se os do chefe militar da província de Oriente, Martín Díaz Tamayo, que declarou à imprensa cubana: “É absolutamente impossível cruzar as linhas onde há tropas. A entrevista é história”.
Em 28 de fevereiro, como um facão no pescoço dos sicários de Batista, El Diario de la Marina mostrava, tirada do The New York Times, na capa a foto esperada em que apareciam Matthews e Fidel dialogando. A foto instantânea, que à velocidade da luz percorreu o mundo, mostrava à esquerda o repórter fazendo apontamentos. À direita, de perfil, o comandante-em-chefe Fidel Castro, com seu boné verde-olivo e sua barba de guerrilheiro, acendendo um charuto cubano, cujas chamas aclaravam as pupilas esperançosas das camadas mais humildes do povo.
Guerrita matos tirou seus óculos e enxugou-os com a ponta da camisa. Depois, pô-los novamente para poder apreciar com mais nitidez a foto tirada por seu companheiro René Rodríguez. Então mostrou um leve sorriso, arrancou o carro e partiu às pressas para a Serra Maestra.http://granmai.cubasi.cu/portugues/2007/febrero/mar20/8mattews-p.html
"No terán Cuba jamás!"
Fidel Castro Ruz
Publicado no alagoinha.ipaumirim em 2008

EDMILSON QUIRINO DE ALCÂNTARA: A LEMBRANÇA ALEGRE DE QUEM TEM APREÇO PELO TRABALHO QUE REALIZA.

Conversar com Edmilson é sempre muito agradável. Apesar da memória já comprometida ele adora falar sobre sua experiência como dono de bar....