FRANCIMAR GONÇALVES |
AO AMIGO, COM CARINHO
Hoje, eu tive uma notícia triste, o falecimento do amigo Francimar Gonçalves (foto) no último dia 11 do corrente mês. E eu que achava que ele era uma fortaleza foi traído pelo coração. De um jeito ou de outro, o coração é um traidor contumaz. Gente fina, uma cara correto, afirmativo, decente e reservado. Tinha uma jeito franco de ser que dava a segurança de estar lidando com alguém que não abria mão de ser ele mesmo. Eu gostava desse seu traço.
Na década de setenta, éramos quatro dessa região do Ceará estudando em Recife. Ele compartilhava apartamento com Geraldo Nery, os dois estudantes de medicina.Tinham seu próprio grupo, mas nos dávamos bem quando eventualmente nos encontrávamos. Alexandre, filho de Carlos Alexandre, era mais alinhado comigo, fazia refeições na pensão de seu Laurizete, na Rua das Ninfas, onde eu morei um tempo. Alexandre, estudante do segundo grau, morava no mesmo prédio - Edificio Santa Maria ao lado do Clube Internacional - de Geraldo e Francimar, mas em outro apartamento que dividia com Lorenzo e Mário, dois panamenhos estudantes de medicina, que também faziam refeições na pensão. Eu, estudante de Jornalismo na Universidade Católica e de Comunicação na UFPE. Neste tempo, os dois cursos eram separados. Alexandre, farrista e mulherengo, compartilhava comigo suas aventuras e incursões noturnas nos bairros boêmios. Era o rei das radiolas de ficha nos cabarés do bairro do Recife Antigo. Adorava comprar fichas pra comandar a trilha sonora da noite boêmia. Muito querido era Alexandre! Um adolescente descolado afim de curtir a vida. Logo depois que o pai faleceu num acidente, foi para Europa.
Piolho de farra que sempre fui, eu não perdia uma festa nas repúblicas de estudantes do interior e nas repúblicas dos hispanoamericanos que vinham para o Brasil pelo convenio cultural entre países em desenvolvimento. A maioria dos estudantes interioranos e hispanos moravam na Boa Vista. Ás vezes, quando me faltava uma programação, eu também dava minhas circuladas nas festas das repúblicas dos africanos lá pras bandas da Caxangá. Além, naturalmente, dos bares e das 'boites' da época bem como dos famosos bailes de formatura nos tradicionais clubes da cidade.
Nos anos 70, fiz meus grandes amigos e amigas, amizades que o tempo não destruiu e ainda que com alguns tenhamos perdido o contato porque a vida foi levando cada um para o seu lado, todos e todas continuam lindamente vivos e pulsantes na minha memória afetiva.
A notícia do falecimento de Francimar me fez lembrar essa época linda da minha vida. A morte de um amigo sempre me faz menor, mas a lembrança que guardo é de um profundo carinho que desperta em mim o quanto é importante celebrar a vida por sua prodigalidade. Por isto, sempre dispenso pêsames e curtidas quando um amigo se vai. Os gestos automáticos, mesmo que bem intencionados, não conseguem dar conta das coisas que são do domínio do afeto.
MLUIZA
Recife
23.07.2021
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