MLUIZA |
Nos domingos de maior movimento, eu ajudava na loja de papai. Ficava no caixa. Depois, quando diminuía o movimento eu, às vezes, ficava por lá. Com a feira acalmando, havia tempo para a conversa. Sempre aparecia um senhor que devia ter uns quarenta anos, talvez menos. Sempre achava que ele era das bandas de Santa Helena mas não tenho certeza. Naquela época, eu achava que tudo além de Baixio, desde não fosse Umari, era Santa Helena. Também penso que ele era conhecido por Vituriano, mas posso estar confundindo o nome. A fisionomia, sim, é muito precisa na minha memória.
Vinha pra feira muito arrumado. Roupa modesta, mas bem cuidada. Camisa mangas compridas sempre arregaçadas e chapéu. Tinha um bigode bem tratado e as mãos rudes de quem trabalha no pesado. Escorava-se no balcão e ficava horas conversando. Não tinha lá o juízo muito certo mas gostava de prosear. Vez por outra desaprumava, mas dava pra levar. Conversadeira como eu sempre fui, gostava de dar trela pras conversas dele.
Um dia chegou pra mim, muito contente, e disse:
- Olha o que eu comprei!
Tirou um lápis grafite do bolso e me mostrou. Era um lápis estampadinho fora do padrão liso que normalmente se utilizava. Deve tê-lo comprado em uma das barracas da feira que vendia miudezas.
- Não é lindo ?!
- Muito bonito, respondo-lhe.
- Pois é. Também gostei muito. Não tem muita serventia pra mim porque eu não sei escrever, mas gostei. Comprei só pela boniteza!
Guardou seu lápis no bolso e ficou por ali conversando com um e com outros enquanto aguardava a hora do transporte para voltar pra casa.
A admiração é uma virtude que eu aprecio. Transformar o comum em algo especial não é pra qualquer um.
MLUIZA
Recife, 20.05.2021