ALAGOINHA: ANOTAÇÕES SOBRE OS ANTECEDENTES DE IPAUMIRIM

NOTA: EM VIRTUDE DA EXTENSÃO DO ARQUIVO, ESTE POST FOI SUBDIVIDO EM DUAS PARTES E CONTINUA NO POST: PERFIL DO MUNICÍPIO DE BAIXIO EM 1940). AGRADECIMENTO ESPECIAL AO PESQUISADOR HEGILDO HOLANDA QUE GENTILMENTE COMPARTILHOU COMIGO INFORMAÇÕES IMPORTANTES E ESCLARECEU MINHAS DÚVIDAS NA CONSTRUÇÃO DESTE TEXTO.
COMO SEMPRE, TRABALHO NA PERSPECTIVA DE UM TEXTO ABERTO A OBSERVAÇÕES, COMPLEMENTAÇÕES E CORREÇÕES. SE VC QUISER ESCLARECER OU ACRESCENTAR ALGUMA COISA  ENVIE EMAIL PARA luizanobrega_ufpe@yahoo.com.br
MLUIZA
O município de Icó abrangia uma vasta extensão territorial que com subdivisões, ao longo do tempo, foram constituindo vários municípios.
“Entre eles, Lavras da Mangabeira criado por “Resolução Régia de 20 de Maio de 1816 e Alvará de 27 de junho do mesmo ano, com sede na povoação  de São Vicente Férrer de Lavras da Mangabeira, então elevada a vila com a denominação de São Vicente Férrer de Lavras. A partir de 1827, passou a Vila de Lavras. Foi instalada a 08 de janeiro de 1818 e elevada a categoria de cidade por Lei n° 2.075, de 20 de agosto de 1884, quando era Presidente da Província do Ceará Carlos Honório Benedito Otoni. Em 1835, o município tinha 3 capelas curadas, portanto, 3 distritos.” ( GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Lavras da Mangabeira um marco histórico.1984. p. 23)
Geralmente, a implantação dos povoados, no Brasil,  surge de um processo que compreende várias fases. Com a instalação dos primeiros povoadores numa determinada região ainda desabitada havia uma distância considerável entre este local e uma igreja ou capela. Assim sendo, eles se reuniam para construir um pequeno templo que possibilitasse os atos religiosos das famílias. Esse local era também utilizado para eventuais celebrações religiosas por ocasião da passagem de um pároco pelas cercanias. Com a instalação de novos povoadores e o consequente aumento da população, os moradores se reuniam e solicitavam ao bispo o reconhecimento da capela através de um processo de sacralização que implica no reconhecimento da capela como ermida da Igreja e na visitação regular de um padre. Como essa capela não poderia ser construída em terras particulares, era necessário que se constituísse um patrimônio próprio para a capela que deveria situar-se num local privilegiado. Nesse momento, entram os proprietários de terra que fazem a doação de uma área que vai além do espaço da capela. As terras doadas deveriam também gerar receitas para sua manutenção quando ali se instalassem outros moradores de posses limitadas. A concentração de moradias em torno da capela daria origem aos povoados e vilas. Com o tempo, essas capelas podem passar à condição de paróquia também conhecida, em tempos antigos, pelo termo freguesia. A freguesia seria um módulo da organização da Igreja associada a uma unidade territorial. Posteriormente, elas se transformariam em paróquia obedecendo às demandas e regras da Igreja.Havia portanto uma relação entre a instalação da capela curada e a importância econômica da vila e, por conseguinte, com a sua organização espacial e vida política. Cada capela curada correspondia a um distrito e para cada distrito um Juiz de Paz, função de relevância expressiva. Em 20 de agosto de 1768 registra-se a primeira cerimônia religiosa realizada na capela de São Vicente Ferrer. A criação da paroquia deu-se em 1813.
Em 27 de março de 1765, no Icó, “apareceu o Tenente-coronel Manuel Ribeiro de Campos, morador em sua fazenda chamada Umari, disse que é senhor e possuidor de um sitio de terra com três léguas de comprimento e uma de largura na beira do Rio Salgado, chamado Umari, o que houvemos por título de dta e sesmaria” Disse ainda, que, “fazia doação de meia légua da dita terra para Patrimônio da Capela Senhor São Gonçalo e Nossa Senhora da Conceição que ele doador pretende erigir!, como também “vinte e cinco vacas e um touro situados no mesmo sítio, para de seu rendimento anual se fabricar a dita capela”. (MACEDO, Joarivar. São Vicente de Lavras, p. 23)
Em 1835, a capela de Umari estava inscrita como capela curada vinculada à Freguesia de São Vicente Ferrer, de Lavras, desvinculando-se desta em 02 de setembro de 1875 e se transformando em Freguesia. (GONÇALVES, Rejane M.A. 1984, Op. cit. p16)   
Em 11 de novembro de 1836, nasceu Pe. Inácio Ferreira do Bonfim, filho de Vicente Ferreira Bonfim e Vicência Maria do Nascimento, naturais de Lavras. Padre Inácio foi capelão de Umari antes da criação da sua freguesia. Ele foi morador do Sitio Lagoinha que se presume ser o núcleo inicial do povoado de Alagoinha onde residiam os Ferreira Bonfim. Rosalina Maria da Conceição, viúva de Bernardino Ferreira Bonfim, doou uma parte de suas terras a Nossa Senhora da Conceição.  (MACEDO, Joarivar. Op. cit. p. 80)
O distrito de Umari, subordinado ao município de Lavras, foi legalmente criado através do ato provincial em 19.06.1860 e por lei provincial n° 2046 em 02.09.1875, mesma data, portanto, do desmembramento da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, de Umari, da Freguesia de São Vicente Férrer, de Lavras.
Para a composição da freguesia de Umari foram desmembradas do território da freguesia de Lavras, as capelas de Olho d’Água do Melão, Alagoinha e Barra e, ainda, as Capelas da Fazenda da Serra e Santa Maria (Várzea Grande) no território do Icó. (GONÇALVES, Rejane M.A. 1984. p. 18). Em 18 de agosto de 1882, a freguesia de Umari foi executada canonicamente. 
A capela do Sitio  Barra teria sido construida por volta de 1873 por iniciativa de José Correia  e sua esposa Laurentina Maria da Conceição. Ela pertenceu a Paroquia de Sao Vicente Ferrer até o ano de de 1875 quando foi criada a Paroquia de Umari. (BEZERRA, Hermes Pereira. Ipaumirim 60 anos. 2013. pp. 19-20)
A capela de Olho d’Água foi construída em terreno doado por Maria José de Lima, esposa de Félix Antônio Duarte. Félix Antônio , em 20.10.1884, tomaria posse como vereador na Câmara de Vereadores de Umari representando o povoado de Olho d’Água do Melão. Com o seu falecimento, em 1900, Vicente Felizardo Vieira, casado com sua filha Joana Maria de Lima, assume a liderança política em Olho d’Água  sob orientação do Coronel Gustavo Augusto Lima, seu padrinho de batismo.
A antiga capelinha de Alagoinha, construída de taipa,  já existia em 1875 mas não se sabe quando teria sido construida. Situava-se na antiga Rua do Sol onde também se localizava o mais antigo cemitério do povoado. É provável que esta dita capela esteja localizada nas terras doadas pelos Ferreira Bonfim. Estas terras, posteriormente, foram desmembradas e vendidas a outras pessoas. 
Entre os anos 1899-1901, Vicente Felizardo Vieira “doou um terreno de 100m² entre as ruas do Sol e da Sombra, atuais ruas Prefeito Alexandre Gonçalves, e Coronel Gustavo Lima, respectivamente, para a Igreja de Alagoinha, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição, ainda hoje situada no local.” (CHAGAS, Maria F. Vieira, ROLIM, Raimunda V. Em família.s.d., p. 29)
“A lei provincial 2.046, de 12.11.1883, criou o munícipio de Umari, elevando a categoria de Vila a povoação de Umari, tendo por limites o mesmo da freguesia. Foi inaugurado o município em referência aos 20 dias do mês de outubro de 1884. desmembrado de Lavras e com sede no distrito.” (GONÇALVES, REJANE. Umari, Baixio Ipaumirim: subsídios para a história politica. 1997. p 28.)
Umari tinha uma localização geográfica estratégica. Pela sua povoação passava um caminho fundamental para o povoamento da região, a velha estrada real que ligava o Ceará a Pernambuco e Paraíba,  que também serviu tanto para o tráfego de mercadorias quanto foi estratégico para as revolução do Brasil imperial. Era o ponto central entre a Vila de Lavras, de Sousa e do Icó. ”A estrada era em muitas partes má para a artilharia, por ser montanhosa e pedregosa; tem um trânsito muito fechado a que chamam de picada”. (Roteiro feito por Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, em 16.9.1824 pp. 128-29 apud  GONÇALVES, Rejane M. A.  1997. p. 24)
George Gardner, no século XIX, registra uma estrada com iguais características pela qual teria passado na sua viagem entre Icó e a Vila de Lavras. “Na noite do segundo dia após sair de Icó chegamos à Vila de Lavras da Mangabeira, cerca de dez léguas distante. Um pouco além de Icó a estrada torna-se bem áspera, com muitos altos e baixos no leito pedregoso, imprestável, por isso, ao trânsito de carros, fazendo-se todo o tráfego para o interior nas costas de cavalo ou, por estranho que pareça, no lombo de bois. ” (GARDNER, GEORGE, 1975. p. 88) 

APORTANDO NO SÉCULO XX


”Pela lei n° 588 de 19 de julho de 1900, os Intendentes Municipais passaram a ser eleitos pelas respectivas Câmaras, a exceção do da Capital que será livremente nomeado pelo Presidente do Estado”. (Almanaque do Ceará. 1904-1906 apud GONÇALVES, Rejane M. A. 1997.  Op. cit. p. 34).
Umari e seus distritos (Baixio, Alagoinha e Olho d’Água) aportam no século XX com Joaquim Barbosa Gondim como intendente do município, entre os anos 1900-1904. Os vereadores do período foram: Francisco Moreira de Oliveira, José Ferreira Parnaíba (Presidente), Manuel Alves Bezerra, Januário José de Aquino, Antônio Moreira da Silva, João Ferreira da Silva e Joaquim Monteiro da Silva. (GONÇALVES, Rejane M.A., 1997, Op. cit. pp. 34-35)
Alegando a escassez de recursos pela qual passava o município, Umari  novamente foi anexado ao município de Lavras, em 09.10.1920, através da Lei 1.794.

Toda essa área onde se localizava os distritos de Alagoinha e Olho d’Água era feudo político dos Augustos de Lavras da Mangabeira. Em 1818, João Augusto Lima, em companhia de sua sogra Joana Augusto Leite e de Luiz Leite da Nóbrega, neto de Joana,  junto com Vicente Felizardo fundaram, no Olho d’Água, o Partido da Aliança Liberal. João Augusto instala na vila um comercio de tecidos que depois por conveniência comercial é transferida para Alagoinha.  (CHAGAS, Maria F. Vieira, ROLIM, Raimunda V. Em família. p. 28)

Entre os anos 10-20 a produção de algodão, apesar dos altos e baixos provocados pelas condições climáticas, fazia a riqueza da região. Várias bolandeiras foram instaladas nas regiões produtoras de algodão. As bolandeiras consistiam em uma máquina rudimentar que descaroçava algodão. Existiam diferentes modelos de bolandeira.  Entre outras, no Distrito de Alagoinha José Ferreira de Santana (Coronel Cazuza Santana), pernambucano de São José do Egito, por volta de 1913-1915, instalou uma bolandeira no seu terreno que depois seria vendido a Pedro Alexandre. A bolandeira era instalada nas imediações da casa de Dona Naninha , ex-mulher de Pedro Alexandre, na saída de Alagoinha para Baixio. No Distrito de Olho d´Água, Vicente Felizardo Vieira instala sua bolandeira cujo mecanismo era constituído “por uma serra com dentes de 60 a 80cm e uma limpadora”. (CHAGAS, Maria F. Vieira, ROLIM, Raimunda V. Op. cit. família. p. 28)
Ainda em 1923, já havia uma bolandeira instalada no Sitio Melão de propriedade da familia Matias.
 “Por volta de 1925, sentindo que a Empresa dava ares de crescimento, transferiu-a para Alagoinha, hoje Ipaumirim, como o nome oficial de INDÚSTRIA ALGODOEIRA SÃO FRANCISCO’, situada na atual Rua Bento Vieira.” Esta indústria mantinha contatos com centros algodoeiros expressivos na região, tais como a vizinha Cajazeiras e ainda Mossoró e Campina Grande. 
“(...) o algodão, encaminhado à fábrica e sua produção em fardos de lã de 50 a 60 quilos eram transportados em dorso de animais, conduzidos por trabalhadores rotulados de comboieiros, assim chamados, porque saiam em grupos, tangendo comboios de animais que portavam os fardos de lã e/ou algodão prensados a braços de homens e amarrados com cipó verdadeiro ou corda”. ((CHAGAS, Maria F. Vieira, ROLIM, Raimunda V. Op. cit.  p. 32) Os problemas climáticos e a crise do algodão, principal fonte de renda da região, as dificuldades financeiras, os problemas de inacessibilidade a operações de crédito junto a bancos, o falecimento de Vicente Felizardo, em 1933,  e de sua esposa, Joana Maria de Lima, entre outras variáveis, contribuíram para promover a negociação da empresa com o seu credor principal, Sr. Cícero Fernandes de Sousa, com quem a empresa mantinha relações no comercio de algodão na cidade de Mossoró. A empresa repassada como quitação do débito. passa a se chamar Sousa Fernandes e  Cia. A família Fernandes, do Rio Grande do Norte, dominava o comércio de algodão no estado do RN, com expansão na Paraíba e no Ceará, estava no seu apogeu nos anos 30. A indústria Alfredo Fernandes & Cia possuía doze usinas de algodão. A Indústria Tertuliano Fernandes &Cia, na década de 40, possuía descaroçadores e usinas de beneficiamento no Rio Grande do Norte e no Ceará. É através de Alfredo Fernandes que Francisco Vasconcelos de Arruda chega a Ipaumirim no ano de 1940.   
Dos anos 30 aos anos 50, funcionou, em Ipaumirim, a agroindustria de beneficiamento de algodão de Luiz Pinheiro Barbosa situada na antiga Rua do Sol.
Em 1954, Jose Abrantes Sarmento,  comprou a fábrica de Luiz Barbosa e instalou, em 1956, a sua fábrica de óleo no Sitio Carnaubinha, propriedade de Raimundo Leandro. A instalação da fábrica teria propiciado o aumento de edificações residenciais nesta área que viria a ser posteriormente denominada Vila São José. (BEZERRA, Hermes Pereira, Ipaumirim 60 anos. 2013)
Fábrica de Beneficiamento de Algodão, de Cícero Fernandes de Sousa


Ainda em 1919, João Augusto Lima vem morar em Alagoinha. Na década de 20, em virtude do sucesso da produção de algodão e da administração de João Augusto, o vilarejo  consolidou sua posição como um distrito promissor com mercado público, lojas, farmácia, uma feira movimentada, escolas, boa localização, estradas rudimentares mas que atendiam à sua função, a proximidade de centros mais adiantados como Cajazeiras - PB, principal núcleo modernizador daquela região do sertão, foi fundamental para o crescimento do distrito.
Casa Aliança, de João Augusto Lima & Cia. (Alagoinha, 1921.) 
Fonte da imagem: GONÇALVES, Rejane. Umari, Baixio, Ipaumirim:
 subsídios para a história politica, p. 159.

O fato de a estrada de rodagem, entre Cajazeiras e Lavras, passar dentro do núcleo urbano de Alagoinha ampliava a sua rede de contatos embora com as dificuldades de locomoção típicas da época. Se ser fronteiriço à Cajazeiras intensificou o contato com a modernização, estar a meio caminho entre esta cidade  e Lavras da Mangabeira -CE foi de extrema importância para o distrito. Havia uma intensa movimentação entre as duas cidades. Lavras tinha estação de trem que ia até Fortaleza. Por Lavras, não passavam apenas os passageiros num movimento de ida e vinda para a capital cearense. Passavam também  mercadorias e novidades vindas do Porto de Fortaleza que se destinavam à região fronteiriça da Paraíba. A construção de açudes públicos bem como de estradas de rodagens pelo IFOCS/DNOCS trouxeram  técnicos estrangeiros, hábitos e produtos que até então a região não conhecia. Deste assunto, trataremos oportunamente.  

Na década de 20,  Baixio que era apenas uma fazenda pertencente a Liberalino José de Carvalho alcançou algum  progresso com a implantação do Ramal da Rede Viação Cearense  inaugurada em 1923,  que parte de Arrojado, no Ceará, em direção a cidade de Sousa, na Paraíba. As conexões desta estrada favoreceram a expansão dos contatos de Baixio.
Estação Ferroviária de Baixio

Segundo o pesquisador, Hegildo Holanda, no projeto original, este ramal da estrada de ferro da Rede Viação Cearense deveria passar por Alagoinha, mas por exigência do Padre Joaquim Cirilo de Sá , líder político de São João do Rio do Peixe - PB e muito próximo de Epitácio Pessoa, a estrada de ferro foi desviada passando por Baixio  com destino a São João do Rio do Peixe e de lá seguindo para Sousa prejudicando inclusive Cajazeiras. 

Em 1928, Raimundo Augusto Lima, foi eleito prefeito de Lavras da Mangabeira. Durante o processo de reorganização dos municípios, em 1930, foram destituídos os prefeitos e dissolvidas as Câmaras de Vereadores através do Decreto n° 06, de 16.10.1930. Em 20 de maio de 1931, através de Decreto Estadual, é restaurado o município de Umari com sua sede em Umari.  O decreto n° 650, de 30.06.1932, eleva a povoação de Baixio à categoria de Vila. Posteriormente, com o  Decreto Estadual de 09.05.1933 é que se  transfere a sede do termo de Umari para Baixio. O decreto n° 1.156, de 04.12.1933 que dispõe sobre a divisão administrativa do Estado, registra que o município de Baixio se compõe do distrito sede e ainda dos distritos de Alagoinha, Olho d’Água e Umari.
Em fevereiro de 1934 toma posse como prefeito de Baixio João Bezerra Campos nomeado por Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, membro da  Aliança Liberal, interventor federal no Ceará no período entre 22 de setembro de 1931 e 5 de setembro de 1934. No dia 03 de novembro do mesmo ano,  toma posse como prefeito de Baixio, Joaquim Leite Ribeiro. Em junho de 1935, Francisco de Meneses Pimentel, Aliança Liberal, foi eleito por sufrágio universal, para governar o Ceará entre os anos 1935 – 1937. Com o golpe militar de 1937, foram nomeados interventores para os estados e municípios. Meneses Pimentel é nomeado interventor com mandato entre 10.11.1937 a 28.10.1947. Na condição de interventor, Pimentel nomeia Cícero Brasileiro para prefeito de Baixio em 26.11.1937. Cícero Brasileiro havia sido eleito prefeito de Baixio em 1936. Cícero Brasileiro construiu algumas edificações em Baixio. Foi exonerado, em 07 de abril de 1938, e para ocupar o seu lugar foi nomeado, Luiz Bezerra da Silva que ficou até 1945.
Nos anos 30, Baixio tinha luz elétrica fornecida pela firma Fausto Maia e alguns prédios públicos.
Cícero Henrique Brasileiro, filho e Joaquim Henrique d’Oliveira e Maria Esperança da Trindade,  nasceu no Sitio Malhada Funda, município de Aurora, em 28.11.1896, Fixou residência no Distrito de Alagoinha, em 1921,onde morou na Rua Coronel Gustavo Lima nas imediações do local onde atualmente funciona as Casas Alves, e de lá foi instalar-se em Baixio em 1923. Casado com Dona Raimunda Brasileiro teve quatro filhos: Líbio Lima Brasileiro, Hugo Lima Brasileiro, Libia Lima Brasileiro e Ivone Lima Brasileiro.

A vila de Olho d’Água passa a se chamar Felizardo em 20.12.1938 através do decreto Estadual n° 448.  Alagoinha  passa a ser denominado Ipaumirim só a partir de 30.12.1943.
Nos anos 30, Baixio, Umari, Alagoinha e Olho d’ água/Felizardo compunham uma só unidade administrativa com sede em Baixio. A região tem características comuns. Do ponto de vista estrutural, a composição era bastante homogênea. 
Se o Recenseamento de 1920, quando a sede do município ainda era em Umari registra 296 propriedades, o Censo Agrícola do Estado do Ceará, de 1940, quando a sede era Baixio,  oferece mais detalhes do que era e do que significava essa região do ponto de vista econômico agregando novos dados e características da rudimentar economia  do município.

MLUIZA
RECIFE, 25.02.2019

PERFIL DO MUNICIPIO DE BAIXIO-CE EM 1940

(continuação)

PERFIL DO MUNICIPIO DE BAIXIO EM 1940

O município de Baixio, conforme o Recenseamento de 1940, apresenta uma área de 557 km². Sua população era composta de 13.414 indivíduos, sendo 6.721 homens e 6.693 mulheres.

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR DOMICILIO
1940

DOMICILIO

POPULAÇÃO TOTAL
HOMENS
MULHERES

Município de Baixio

13.414

6.721

6.693

Distrito sede (Baixio)

3.191

1574

1.617

Alagoinha

3.325

1.627

1.168

Felizardo

2.504

1.308

1.196

Umari

4.394

2.212

2.182
Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional Ceará.
 

Todos os habitantes do município eram brasileiros natos, 10.170 eram pardos, 2.061 eram brancos e 173 eram negros. A maioria era solteira. No que diz respeito à instrução, 8.266 indivíduos (3.910 homens e 4.356 mulheres) não sabiam ler nem escrever. Entre os 2.468 indivíduos que sabiam ler e escrever, 1.458 eram homens e 1.010 eram mulheres.
No momento do recenseamento, a soma total dos indivíduos, entre todas as faixas etárias dos  que estavam estudando,  era composta principalmente por mulheres entretanto à medida em que avança o nível de escolaridade, a população feminina vai diminuindo.  Entre os indivíduos que concluíram o grau de ensino elementar completo, 12 eram homens e 14 eram mulheres. Entre os que concluíram o grau médio, 05 eram homens e 03 eram mulheres. Apenas 06 homens haviam concluído o ensino superior completo.
No que diz respeito à religião, a população era basicamente católica. Apenas 07 homens e 10 mulheres declaram-se protestantes e 02 mulheres praticavam outra religião não identificada.
O Censo Agrícola de 1940 indica que o município de Baixio, incluindo seus distritos, é uma sociedade basicamente rural com uma economia sustentada pela agricultura  e pela pecuária através de uma forma de exploração bastante rudimentar.   Os 645 estabelecimentos agropecuários recenseados ocupam uma área total de 41.086 hectares explorados sendo 5.240ha ocupados exclusivamente com agricultura, 31.183ha explorados com atividades agropecuárias e 4.625ha apenas com pecuária.


DISTRIBUIÇÃO DO N° DE PROPRIEDADES POR ÁREA (ha)
1940
ÁREA (ha)
  DE PROPRIEDADES

De 01 a 10ha

100

De 10 a 20 ha

146

De 20 a 50 ha

202

De 50 a 100ha

108

De 100 a 200ha

53

De 200 a 500ha

26

De 500 a 1000ha

8

Acima de 1000ha

3
Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional Ceará.


Entre os 647 estabelecimentos registrados, 562 eram administrados pelos próprios proprietários  compreendendo uma área de 31.550 ha. As 64 propriedades a cargo de administradores compreendem uma área de 7.235ha e as 21 propriedades administradas por arrendatários distribuem-se em 2.301 ha.

A área total das propriedades acima de 50ha é a mais expressiva em extensão compreendendo 27.553ha.

Cerca de 1.800 pessoas, estão concentradas nas propriedades entre 10ha a 20ha. A partir de 100ha, quanto maior a propriedade, menor o número de trabalhadores permanentes.

O número mais expressivo de trabalhadores permanentes encontra-se registrado nas propriedades que exploram a agropecuária, cerca de 2.796 trabalhadores. As áreas que exploram apenas a agricultura registram 522 trabalhadores e aquelas exclusivamente dedicadas à pecuária 289 pessoas. Entre as mulheres, estão inscritas apenas 60 mulheres sendo 13 com menos de 15 anos. As informações não permitem aprofundar detalhes sobre o tipo de atividade exercida pelas mulheres nem a forma de remuneração.

Observando os registros das condições de utilização do solo, considerando a área total do conjunto das propriedades, observa-se que a área ocupada com as lavouras permanentes e temporárias são equivalentes à área utilizada com pastagens. A soma das áreas ocupadas por matas, áreas não exploradas e áreas improdutivas são expressivamente superiores as áreas exploradas com atividades produtivas.

Os registros sobre o material utilizado na construção das moradias dos trabalhadores indicam que 509 eram construídas com tijolos, 75 com madeira e 1.600 de outros materiais não identificados. Os dados não informam se haveriam critérios que determinassem a distribuição de cada um desses tipos de moradia por tipo de ocupação no conjunto das atividades produtivas. Entre as construções rurais, constam ainda 745 edificações distribuídas entre apriscos, estábulos e estrebarias, pocilgas, depósitos e paióis, casas de máquina.  Não há registro de escolas. Foram registradas 37 moendas, 01 motor, 02 autos e motociclos, 01 equipamento para indústria de laticínios, 06 carros de bois e carroças.

Plantava-se principalmente algodão, banana, fumo, feijão, milho, arroz e cana. Em 1939, foram produzidas 106 toneladas de arroz, 625 cachos de banana, 120t. de feijão, 7t de fumo em folha, 2t. de fumo em corda, 567t. de milho, 1.768t de algodão e 1.873t. de cana de açúcar sendo que destas 1.762t. foram transformadas em 189t. de rapadura. Registra-se ainda a produção de laranjas, mas sem a quantidade produzida provavelmente por ser inexpressiva.

Além do gado bovino (7.441 cabeças distribuídos entre garrotes e novilhos, vacas, bois de trabalho e touros reprodutores) registram-se 1.522 equinos, 1.589 entre asininos e muares, 3.745 suínos, 5.505 ovinos. Entre as aves, registram-se 15,578 distribuídos entre galos, galinhas e frangos. 96 patos e gansos e 342 perus. Curiosamente, 06 coelhos. No ano da coleta de dados, foram produzidos 4.575 hectolitros de leite que processados deram origem 1.275 kg de queijo produzidos em 28 propriedades e 110 kg de requeijão em apenas 03 propriedades. No mesmo período, as galinhas produziram 19.742 ovos. Por estas informações, pode-se inferir, embora a distribuição seja desigual, a base alimentar da população. 

Entre os indivíduos que tinham a agricultura, pecuária e silvicultura como atividade principal, 3.614 eram homens e apenas 114 mulheres. Entre os homens, a faixa entre 10 e 19 anos é a que concentra maior número de indivíduos (1.176 homens) . Essa taxa vai decrescendo de acordo com a idade. Entre 20- 29 anos, a taxa cai para 887 indivíduos; entre 30-39 anos são 639 indivíduos, entre 40-49 anos são 533; de 50-59, eles são 271; entre 60-69 são 72; entre 70-79 são 30 e acima de 80 são apenas 6 indivíduos. Esta queda está relacionada com a expectativa de vida masculina. 


DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR SEXO E PRINCIPAL RAMO DE ATIVIDADE

ATIVIDADE PRINCIPAL

POPULAÇÃO TOTAL

HOMENS

MULHERES

Agricultura, Pecuária e Silvicultura

3.728

3.614

114

Industrias de transformação

113

95

18

Comércio de mercadorias

106

100

06

Transporte e comunicações

22

20

01

Administração pública, justiça, ensino público

44

38

06

Defesa nacional, segurança pública

07

07

-

Serviços, atividades sociais

108

61

47

Atividades domésticas, atividades escolares

3.728

106

3.622

Condições inativas, atividades não compreendidas nos demais ramos, condições ou atividades mal definidas ou não declaradas


927


365


562
Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil. Série regional Ceará. Tomo 1.

As unidades prediais e domiciliárias compreendem 1.456 edificações construídas em alvenaria sendo 1.183 domicílios particulares. Entre as 1.158 edificações construídas em madeira, 1.272 eram domicílios particulares. Os demais eram utilizados como domicílios coletivos ou ainda de uso misto.
Na área urbana, haviam 400 edificações em alvenaria sendo 296 ocupadas com domicílios particulares. Das 139 edificações em alvenaria na área suburbana, 113 eram ocupadas com domicílios particulares. Das 917 edificações em alvenaria localizada na área rural, 774 eram domicílios particulares.  Das 1.481 edificações construídas com madeira na área rural,  1.231 eram ocupadas com domicílios particulares.  
No comércio a varejo foram registrados 50 estabelecimentos onde trabalhavam 65 pessoas. Entre elas registram-se apenas 05 pessoas ocupadas nas  funções de viajantes, agentes compradores, caixeiros e vendedores. Considerando outras informações sobre a atividade comercial, observa-se que eram praticamente os donos que davam conta de todo o trabalho nos seus estabelecimentos comerciais. Foram registrados apenas dois estabelecimentos comerciais atacadistas ou mistos, mas não há registro de pessoas ocupadas.
A indústria registra a existência de 07 empresas e dez estabelecimentos ocupando 95 homens e 18 mulheres , mas não especifica o ramo de atividade. de transformação das unidades industriais.  É possível que estejam contabilizados o conjunto das indústrias consideradas rurais que trabalham com extração de produtos naturais e beneficiamento de produtos de origem vegetal e animal, tais como laticínios, engenhos de rapadura e beneficiamento de algodão.
Figueiredo Filho é bastante assertivo na descrição de  Alagoinha dos anos 20/30.
“Lembrei-me de instalar-me provisoriamente em Alagoinha. Tinha fama de lugar próspero. Boas plantações de algodão. Ali residia outro tio meu, o José Viana. A localidade fica quase nas fronteiras da Paraíba. Pertencia ao mu8nicípio de Lavras. Primeiramente, visitei-a, para conhecer suas possibilidades. Encravada em plena zona algodoeira. Girava seu comércio em torno das baixas e altas do ouro branco. Alagoinha ficava quase no meio da estrada de rodagem entre Cajazeiras e Lavras. Tive longo contato com a população. Ótima impressão. Gente muito boa e acolhedora.”

(...)

“No domingo, por ocasião da primeira feira que assistia na localidade, tive contato com o sertanejo lavrador de algodão. Melhores condições financeiras do que o trabalhador rural caririense. Qualquer beiradeiro de alpercata e chapéu de palha de carnaúba metia mão no bolso e desamarrava do lenço notas de 50$, 100$ e até 500$000.”
O crescimento do distrito de Alagoinha como centro produtor e centro comercial, a sua localização estratégica, as movimentações político-administrativas do governo e as subjetividades da política, conjuntamente, foram o embrião do estopim político que gerou conflitos e disputas memoráveis na região.

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EDMILSON QUIRINO DE ALCÂNTARA: A LEMBRANÇA ALEGRE DE QUEM TEM APREÇO PELO TRABALHO QUE REALIZA.

Conversar com Edmilson é sempre muito agradável. Apesar da memória já comprometida ele adora falar sobre sua experiência como dono de bar....