UM AMOR PRA CHAMAR DE SEU




MLUIZA
Não, o amor não é um porto. Nem um aeroporto. Nem uma rodoviária. O amor não é um lugar de chegada nem de partida. O amor é um trem de trajeto interminável. Uma longa viagem por infinitas estações. Com direito a paradas, baldeações e, de repente, alguns descarrilamentos. O amor é movimento, viagem, mudança de paisagem.  Um tal de subir e descer bagagens cada vez que uma estação sugere uma pausa. Para um simples e intenso pic nic ou uma longa temporada em águas calmas. Das interrupções de percurso sempre ficam coisas a contar. O que passou, doendo ou não, torna-se uma grande fantasia. O que é o passado senão um repertório de lembranças categorizadas?  Foi maravilhoso. Divino. Foi bom. Foi ruim. Foi péssimo. Foi. É de um particular processo criativo que nasce o grande amor da sua vida. Nem foi tão bom assim, mas foi aquele que você reinventou. Tem a sua cara, os seus sonhos, traz um pouco do vivido em várias experiências amorosas. É o filme que você queria fazer.
Selecionou as imagens, construiu cuidadosamente as cenas e compôs a trilha sonora. E quando um amor vira filme não tem mais quem dê conta dele. Tá feito. Diz a sabedoria popular que o que está feito não está por fazer. Lacrou. Não tem como editar, não dá para desdobrar em seriado, não aceita censura, não respeita crítica, despreza patrocínio e não contabiliza bilheteria. Merece o Oscar em todas as categorias. O tapete vermelho é seu. Tenha-o sempre à mão para assisti-lo quando tiver vontade. Num dia chuvoso, num domingo à tarde ou numa madrugada insone. Guarde com carinho a sua melhor ficção mas corra para bem longe do amor de sua vida. Nunca jamais queira reencontrá-lo. Compre um bilhete de passagem e embarque no próximo trem. Quem sabe....
MLUIZA
Recife, 02.03.2018.

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