Algumas vezes, ouvi falar em Manoel Duda mas apenas Flávio Lúcio e Zé
Pereira falaram mais demoradamente. Flávio em conversa e Zé em um dos seus
livros. Com o lançamento do livro Sonhos de um poeta, de José Teles, de
Lavras da Mangabeira, encontrei informações mais precisas e alguns poemas que,
aqui, vou publicando aos poucos.
MLUIZA
"Dados
de Manoel Duda
Manoel
Mendes Ferreira, conhecido por Manoel Duda, nasceu na cidade de Belo Jardim no
Estado de Pernambuco.
Quando
criança e na adolescência, ajudava ao pai que exercia a profissão de ferreiro
na cidade de Belo Jardim.
Na década
de 20, Manoel perdeu seu pai que morreu prematuramente. Sua mãe ficou
desorientada e saiu peregrinando de mundo afora, de cidade em cidade, de sítio
em sítio, com duas malas carregadas por um jumento, se arranchando debaixo de
árvores onde encontrava uma sombra.
Em 1933,
chegaram na terra prometida, Alagoinha, hoje Ipaumirim CE,. Ao chegarem nos
arredores da cidade, na época era chamada estrada da Pedra de São Sebastião,
onde hoje é o Grupo Escolar Dom Francisco de Assis Pires, havia tres casinhas
de taipa, Manoel e sua mãe conseguiram uma das casas e passaram ali a morar. De
um lado, morava um feiticeiro d, do outro, morava um homem que batia num
zabumba e cantava músicas diversas, músicas de xangô, de terreiros ou
candomblé, interrompendo assim o sono de Manoel Duda e sua genitora.
Em
Ipaumirim, o mercado de trabalho era escasso, Manoel inventou de atuar na
profissão de ferreiro e deu certo, pois o mesmo não estava conseguindo dar
conta das encomendas. Na arte de ferreiro, ele fabricava o martelo, enxadeco,
enxó, batia picareta, xibanca, alavanca e, aos poucos, ia ganhando o suficiente
para manter a casa.
Um certo
dia apareceram dois homens da cidade de Cajazeiras, conhecidos por Zé Martins e
Antonio Martins, que eram proprietários de armazéns de ferragens, divulgando
seu comércio e mercadorias. A partir daí, Manoel Duda começou a cair
comercialmente e terminou fechando sua oficina pois o seu serviço era grosseiro
e o povo passou a preferir comprar ferragens nas bancas da feira, aos domingos,
em Ipaumirim, dos proprietários Zé e Antonio Martins da cidade de Cajazeiras.
A partir
daquele momento, Manoel começou a pensar, desistiu de ser ferreiro, arranjou
uma viola e passou a cantar desafio.
Em 1940,
sua mãe faleceu e, com a perda de sua genitora, ele passou a beber sem limite
tornando-se um ébrio. Saiu de Ipaumirim aproximadamente em 1941 e veio
trabalhar no Sítio São Domingos, de propriedade do Coronel Raimundo Augusto
Lima, a 14 km de Lavras da Mangabeira. No trabalho, fazia tudo que o coronel
determinava que fosse feito, mas o que ele gostava mesmo era de limpar cana no
brejo.
No Sítio
São Domingos, conheceu e fez amizade com o sr. José Cândido, casado com uma
senhora que tinha um apelido de Dona Peixa. O casal tinha seis filhos
conhecidos como: Eliza, Do Carmo, Nair, Maria, Vicência e José Cândido, este
último conhecido por Zé Cândido Novo.
Com o
tempo, Manoel Duda se engraçou de Vicência e pediu a mesma em casamento ao sr.
José Cândido, e meses depois Manoel se casou.
Manoel
sabia ler muito pouco, sua letra era muito ruim. Mas com o intuito de melhorar
sua vida, aproveitava o horário do almoço, passava na casa grande do coronel e
enquanto suas filhas repousavam em suas férias, Manoel Duda pegava os livros
das mesmas e fazia leituras e anotações.
Em 1943,
Manoel combinou com sua esposa Vicência, para voltarem a cidade de Ipaumirim e
lá novamente foi tentar a vida montando sua oficina de ferragem. Trabalhando
sol a sol, o pouco que ganhava só dava para o básico.
Anos
depois, resolveu morar no Sítio Barra, de propriedade de Dona Laurentina e do
senhor Antonio Gonçalves, localizado na zona rural de Ipaumirim extremando com
o município de Lavras da Mangabeira. Fixou residência no sítio Barra pelo resto
de sua vida, trabalhando na arte de fazer ferragem.
Devido a
proximidade do Sítio Barra com o Sítio Carnaúba, pois dista apenas 2
quilômetros, onde me criei e conheci o meu grande e inesquecível amigo Manoel
Duda.
José
Teles possuía uma bodega. Todos os dias, Manoel Duda passava na bodega para
conversar e compor poemas com José Teles. Foram desses momentos que nasceu umsa
grande e sincera amizade. Em alguns momentos, Manoel Duda bebia excessivamente
sem condições de ir para casa mas o amigo José Teles o levava até sua
residência.
Enfim,
enquanto viveu o poeta Manoel Duda durou a convivência e amizade com o poeta
José Teles da Silva.
Com o
objetivo de homenagear o grande amigo, José teles transcreve no seu livro,
alguns dos poemas de Manoel Mendes ferreira (Manoel Duda), de saudosa memória.
Na descrição do poema, acompanha o fato pelo qual o poema foi escrito."
Texto
extraido da obra:
SILVA,
José Teles. Sonhos de um poeta. Fortaleza. Expressão Gráfica Editora.
2010. pp 209-211.
Poesia de Manuel Duda
AZULÃO
Ia passando uma nuvem de azulão
O mais valente que tinha eu segurei
E depois de matado eu pelei
Esétei e assei em meu fogão
E depois que virou tudo em carvão
Embolsei com a fração de São Silvestre
Resolvi sair deste Nordeste
Passar uns dias por fora disto aqui
Mas quando eu passei no Piauí
Eu botei o feitiço até na peste
*
Quando Azulão se despedir de Antonio Procópio
Se despeça também de seus vizinhos
E quando for olhar para os caminhos
É obrigado a usar um microscópio
Em Fortaleza você bota um telescópio
Mas só enxerga pra cá é escuridão
Quando estiveres em cima do balcão
Palestrando com o velho João Siqueira
Você tem que dizer nem que não queira
Lá na Barra tem um poeta que é o cão!
(Este
poema foi feito por ocasião de um desafio que eu, José Teles, promovi entre
Azulão e Manoel Duda quando o mesmo fazia referência a capacidade de Manoel
Duda. O Azulão não deu crédito ao que dizia e pediu para Manoel Duda mostrar no
repente a sua capacidade pois ele, Azulão, sim, era conhecido no Nordeste
inteiro como poeta de renome. Após a feitura do poema de improviso, Azulão
admirou-se dizendo: "realmente Manoel você é um grande poeta.")
Este
texto foi extraído do livro de José Teles da Silva, Sonhos de um poeta.
Fortaleza. Expressão Gráfica Editora. 2010. p. 217.
PUBLICADO NO ALAGOINHA.IPAUMIRIM EM 20.12.2010
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