IPAUMIRIM PARA QUÊ TE QUERO?


MLUIZA
 Eu nasci no tempo em que Ipaumirim vivia entre duas expectativas: o inverno e a colheita do algodão. Feira no domingo, loja cheia de fregueses comprando para pagar depois da safra. Nem todo mundo era bom pagador, tinha os caloteiros de sempre mas a grande maioria honrava seus compromissos. Anotadas em um livro, as dívidas esperavam a colheita. Ruas e calçadas amontoadas de fardos de algodão processado, na época, por Souza Fernandes & Cia.
Tempos de cadeiras nas calçadas e quase nenhum carro na rua. Tudo tão simples, a forma de vestir, os hábitos alimentares, a arquitetura das casas, as festas religiosas, os bailes, o natal com o mercado aberto durante a noite com as banquinhas vendendo miudezas. Coisas que são do domínio das lembranças e lá devem ficar para não permitir comparações ingênuas.
A produção de algodão acabou e o município desde então nunca recebeu um olhar do poder público que buscasse novas alternativas de sobrevivência. Sem gerar riquezas, a atividade comercial entrou em decadência. O município passa a viver das eventuais frentes de trabalho, do empreguismo público e, nos últimos tempos, das aposentadorias dos idosos. Uma comunidade sem tradição de organização e participação, pouca disposição para discutir o seu destino, uma politicagem de favorecimentos fulanizados, baixo IDH, muito desemprego, nenhuma importância econômica e/ou política. Aí está o cenário adequado para aventuras desastrosas.
Acontece que este pobre município tem uma localização estratégica. Fica praticamente às margens da BR 116, próximo a rodovia BR 230, fronteira com a Paraíba, oferece vias alternativas de tráfego dentro e fora do estado, em várias direções, fica próximo da região mais complicada de Pernambuco, tem um solo adequado a plantações que não demandam exigentes tratos culturais e uma comunidade exposta ao descaso. O que é que mais precisa?
Por outro lado, os jornais mostram todo dia que há uma política de expansão das drogas e que uma das estratégias seria financiar campanhas políticas em cidades interioranas do Nordeste inclusive elegendo quando possível seus próprios representantes. Essa discussão não é nova. Ainda, no início da campanha, a mídia registrou alguns casos, salvo engano, na Paraíba. Também não é novidade que o tráfico tem além do segmento mais brutalizado que dá conta do serviço pesado, um segmento empresarial que faz a lavagem do dinheiro e um segmento político composto por representantes do povo com o qual é bastante generoso no financiamento das campanhas. Já está tão banalizado que nem surpreende mais. De norte a sul do país não faltam exemplos. É só ler os jornais.

O que existe de novo, no caso de Ip, é que as portas foram escancaradas e não dá mais para fazer de conta que o problema não existe. As notícias nos jornais, nos burlescos programas policiais nos envergonharam, desmoralizaram a campanha política municipal e fragilizaram o PTB local.
Em que pese a opinião de cada um, ser ou não ser favorável à liberação do uso das drogas, o problema está posto. E não é só problema da polícia. Cabe ao governo municipal encarar a situação buscando estratégias para afastar os jovens da sedução das drogas. Escola integral, escola profissionalizante, alternativas ocupacionais, esporte, atividades saudáveis. Cabe a Câmara de Vereadores – tão ridicularizada e levada à chacota pela mídia nacional - propor, exigir, fiscalizar uma política voltada para a juventude. Cabe as famílias olharem mais para os seus filhos impondo limites e ensinando-os a respeitarem as normas e as pessoas. A escola precisa se envolver nesta luta. Cabe a polícia zelar pela segurança da comunidade. É preciso não medir esforços para tentar reverter o percurso. Nem produtor nem consumidor deve ser a luta de todos. Onde há drogas há violência e ninguém quer ver seu filho ou filha submetidos às regras deste jogo.

Da maconha ao crack, o limite é tênue. E o crack é o fim da linha e um caminho sem volta. Além de disso, há muitos outros perigos que o tempo vai mostrar.
ML
Publicado no alagoinha em 21.12.2008

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