Todo mundo tem uma história para contar, mas contar a própria história é uma empreitada desafiadora. Organizar a cronologia do tempo é uma atividade mecânica minuciosa que demanda atenção e cuidado na elaboração de uma cartografia do destino. Diante do múltiplo universo que permeia o cotidiano, selecionar o que tem relevância é uma etapa mais elaborada e trabalhosa porque detalhes, muitas vezes imperceptíveis na hora em que acontecem, parecem indispensáveis quando visitamos o próprio passado. Enquanto resgatamos fatos e situações ainda estamos assentados confortavelmente na planície. Tudo pode ser ordenado, classificado e explicado. Mergulhamos na memória propriamente dita quando começamos a dar sentido aos fatos. Entramos no território do atemporal quando a emoção interessa mais do que o tempo cronológico, o olhar mais do que o objeto iluminado, o sentimento mais do que a lógica. A causa e o efeito, o porquê ou os porquês já não são marcadores confiáveis. É nesta territorialidade elástica, desafiadora, surpreendente e imprevisível que a vida atravessa o tempo. É isto que impõe originalidade a cada indivíduo no seu estar no mundo. O livro de Raimunda Vieira Rolim resgata uma travessia de coragem, resiliência e capacidade de se reinventar a cada desafio.
Vale a pena mergulhar com atenção nesta obra que além da própria vida da autora resgata a memória de um tempo que merece ser revisitado.
MLUIZA
Recife, 06/02/2023