A partir deste texto, vamos compartilhar
informações coletadas em várias fontes na tentativa de compor uma base
que possa contribuir para a construção da memória do município a partir de suas
origens. Serão publicados uma série de textos não necessariamente obedecendo
a uma ordem cronológica mas à medida que eu for revendo um conjunto de anotações
antigas que consegui levantar. Qualquer pessoa que quiser pode contribuir para
enriquece-lo e torná-lo o mais completo possível. Basta enviar seu material
para o e-mail luizanobrega_ufpe@yahoo.com.br A única exigência é que venha com o devido registro
das fontes bibliográficas e/ou documentais.
O tripé formado
pelo gado/algodão/culturas alimentares foi o elemento organizador da vida
socioeconômica da região. Inicialmente com a pecuária, posteriormente a base do
processo produtivo passa a ser o consorcio algodão/culturas alimentares. O
tamanho da propriedade determinava diferentes combinações produtivas entre
pecuária/algodão/culturas alimentares e as formas de exploração geraram
diferentes relações de trabalho.
Quase inexistentes
são os estudos que discorrem especificamente sobre o atual município de
Ipaumirim, antiga Vila de Alagoinha. Alguns registros esparsos são encontrados
ainda no século XIX, resultado principalmente de anotações paroquiais que dão conta de
batizados, doações, agenda de atividade das capelas e demais informações de interesse da Igreja Católica.
Originalmente, o
espaço territorial onde se encontra o município de Ipaumirim pertencia ao
município de Icó, importante polo comercial que dinamizava a economia do Ceará.
Em 1783 a capitania apresentava uma rede urbana
formada por “sete vilas de Brancos,
cinco vilas de Índios, vinte uma povoações de Brancos e três povoações de
Índios”.(JUCÁ NETO, 2009, p. 91) Deste
conjunto, fazia parte Icó elevado à
categoria de vila no ano de 1738.
A pecuária foi a base da expansão da
colonização do sertão. Neste contexto, Icó tinha uma localização estratégica.
Por lá passavam tanto as boiadas que subiam para o norte do Ceará como as que
seguiam para as feiras de Pernambuco e Paraíba. Icó era servido pela Estrada
Geral do Jaguaribe que cortava desde o sertão do Cariri ao porto e às
salgadeiras de Aracati e a Estrada das Boiadas que atendia ao trajeto Piauí –
Paraíba e, por conseguinte, Pernambuco.
Exatamente
pelos fluxos das boiadas, a atividade comercial desenvolvida em torno da
economia pecuarista alcançou os fluxos do Atlântico, estabelecendo uma conexão
econômica entre o sertão, a zona açucareira, a Metrópole e a África – com
exportação do tabaco - via portos do litoral nordestino e vice versa. Esta
conexão só foi possível porque distâncias foram vencidas, caminhos foram
abertos pelos vaqueiros e vilas fundadas em pontos estratégicos dos fluxos que
se estabeleciam. ( JUCÁ NETO, 2009, p.88)
Do território original do Icó foram criadas várias vilas. Dentre elas,a
vila de São Vicente de Lavras desmembrada do Icó em 20 de maio de 1816 e elevada à categoria de vila instalada oficialmente em 1918. Lavras foi a décima
oitava vila fundada no Ceará. .(MACEDO, p. 50)
Situada ás margens do Rio Salgado, Lavras não tem sua fundação orientada pela atividade pecuária mas pela
atividade mineradora iniciada em
mediados do século XVIII, por volta de 1757. Como a mineração não vingou,
encerrando no ano seguinte, a população ocupada nesta atividade passa a
trabalhar na pecuária e na agricultura. .
“Em 1817, a Carta Marítima e Geographica da
Capitania do Ceará levantada pelo eng. Silva
Paulet apresenta 16 vilas e 54 povoados interligados por estradas que
cruzavam todo o Ceará “(JUCÁ NETO, 2009, p.88). Entre os povoados, estavam São Vicente de Lavras e Umari.
Em 1835, o
município de Lavras tinha três distritos, entre eles Umari. Na segunda metade
do século XIX, desmembraram-se os territórios de Várzea Alegre (1863), Aurora
(1883), Umari (1883) e Cedro (1920).
O Distrito de Umari, foi
criado por ato provincial de 19-06-1860 e por lei provincial nº 1686, de
02-09-1875, subordinado ao município de Lavras. Em 12 de novembro de 1883 foi
desmembrado de Lavras da Mangabeira e elevado a categoria de distrito com sede
no povoado do mesmo nome. O seu território compreendia a área que atualmente
compõe o seu município, o município de Baixio e o município de Ipaumirim,
antiga Alagoinha.
As origens de Umari –
inicialmente chamado Gado Bravo - são do inicío século XVIII quando aí chegaram
os colonizadores que vinham principalmente do Pernambuco e da Paraíba. A partir
deles forma-se o minúsculo lugarejo.
1765
– março, 27 – Nesta data, no Icó, “apareceu o Tenente-coronel Manuel Ribeiro
Campos, morador em sua fazenda chamada Umari, disse que é senhor e possuidor de
um sítio de terras com três léguas de comprimento e uma de largura na beira do
Rio Salgado, chamado Umari, o que houvemos por título de data e sesmaria.” Disse
ainda, que “fazia doação de meia légua
da dita terra para Patrimônio da Capela Senhor São Gonçalo e Nossa Senhora da
Conceição que ele doador pretende erigir”, como também “vinte e cinco vacas e
um touro situados no mesmo sítio, para de seu rendimento anual se fabricar a
dita capela” .(MACEDO, 1984, p. 23)
No final do século chega ao povoado o francês Joseph
Aleth Douillet e funda, na região uma
fazenda de gado. Percebendo as dificuldades da população para participar de
atos religiosos e enterrar seus mortos que até então eram encaminhados à sede
do município em Icó, constrói com a ajuda dos habitantes uma capela e junto um pequeno cemitério. (GONÇALVES,
1997)
A paroquia de Umari foi criada
em 1875 e para a composição da Freguesia de Umari foram desvinculadas da Freguezia
de Lavras da Mangabeira as três capelas localizadas atualmente no território de
Ipaumirim: Olho d’Água, Alagoinha e
Barra todas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição e ainda duas capelas do
Icó.
A capela do Olho d’Água, posteriormente chamado Olho
d’Água do Melão e, por último, Distrito de Felizardo, foi construída em 1874
através de doação de Dona Maria José de Lima que seria possuidora
do sítio Olho d’Água conforme os registros no Livro de Notas de Lavras da
Mangabeira (1871), transcritos por MACEDO:
Consoante
a escritura de
patrimônio, passada na
Vila de Lavras, a
doadora Dona Maria
José de Lima
declarou ser ”senhora e
possuidora do Sítio Olho d’Água
deste termo” e que “ fazia doação para patrimônio
da capela da Nossa Senhora
da Conceição de uma parte de terra do mesmo
Sítio do Olho d´Água, no
lugar da referida capela, a começar
do Nascente, do curral que
fica abaixo da
mesma capela,
ao Poente, ao extremar com terras de Casimiro Nogueira Pinto, ao Norte, com terras de Manoel Joaquim de Lima, filho da doadora, ao Sul com terras da mesma doadora,
nas fraldas dos dos altos que descem
para baixo da Carnaubinha e no valor de cem
mil réis.”. A capela de Nossa
Senhora
da Conceição, existente em Felizardo, (antigo Olho d’Água ou
Olho d’Água do Melão) distrito do
município de Ipaumirim, não é mais a primitiva. Trata - se de outra, em torno da qual
o arraial expandiu-se.
(MACEDO, 1984, p.134)
A capela de Alagoinha, feita de taipa, foi fundada
antes de 1875 e localizava-se na antiga Rua do Sol. Dessa
época é o primeiro cemitério construído pelo Padre Antonio Joaquim dos Santos,
primeiro vigário de Umari nomeado em 18 de agosto de 1882 que tomou posse em 17
de setembro do mesmo ano. Entre os anos de 1898 a 1901 a capela foi deslocada
passando a ocupar um espaço de 100 metros entre a Rua do Sol e a Rua da Sombra
em terreno doado por Vicente Felizardo Vieira. É possível portanto supor que nos
fins do século XIX já havia uma pequena povoação
com capela e cemitério. Baseada em informações registradas no livro de
tombo da paróquia, a autora informa que, em 1901 teria iniciado a construção da
segunda capela, tudo indica que no mesmo local da antiga, construída de
tijolos. O mestre de obras da nova capela chamava-se Manoel Antonio Germano dos
Santos. “A madeira veio do Sítio São Vicente, doada pelo proprietário e
carregada, de graça, pelo povo, entre festas e pífanos – música cabaçal.” (GONÇALVES,1997, p. 21).
A capela da Barra também construída no fins do século
XIX, localizada no sítio Barra, foi assentada em terreno doado por dona Maria
Laurentina da Conceição, da família Gouveia, também conhecida como Mãe
Loura, proprietária do sítio.
Com o falecimento do primeiro vigário de Umari,
Padre Antonio Joaquim dos Santos falecido em 9 de fevereiro de 1897, as capelas
de Alagoinha, Olho d’Àgua e Barra voltaram à responsabilidade da administração
da freguesia de Lavras da Mangabeira e lá ficaram até 1907 quando a paróquia
volta a ter um vigário próprio – Padre Horácio Teixeira. Em 1909 é anexada à
paróquia de Aurora e a seguir de 1913 a
1919 volta à administração de Lavras até o mês do julho. Em agosto assume a
Paróquia de Umari Padre Manoel Carlos de Morais
que aí permanece durante toda a sua vida apenas com um breve intervalo
no ano de 1937. Neste período, promoveu a reforma definitiva da capela de
Alagoinha. Foi um vigário atuante e de muito prestígio na região. (GONÇALVES,
1997)
A proclamação da República, em 1889, dissolve as Câmaras Municipais e
cria os Conselhos de Intendência. O primeiro Conselho de Intendência de Umari
toma posse em 13 de setembro de 1890. Dez anos depois, os intendentes
municipais, exceto a capital, passam a
ser eleitos pelas Câmaras de Vereadores. Em 1904, voltaram a ser nomeados pelo Presidente
do Estado e daí em diante seriam denominados prefeitos. As acirradas lutas
políticas internas no Ceará, e a fragilização econômica do município de Umari com
os efeitos da seca de 1919 provocaram sua anexação ao município de Lavras da
Mangabeira em outubro de 1920.
Em 12 de julho de 1920, Dr.
Justiniano Serpa assume o governo do Ceará implantando uma série de medidas que
significaram uma significativa mudança na sua condução política.
A reforma da Constituição Estadual, com a proibição das reeleições
presidenciais, a eleição dos prefeitos dos municípios, a garantia da
indemissibilidade dos funcionários públicos sem prévio inquérito administrativo
e a proibição de acumulações remuneradas – são bem o traço do espírito liberal
do governante inspirador direto daquela reforma, estratificada na nova carta
de 4 de novembro de 1921.(GIRÃO, 1971, pp.242-243)
Na década de 30, o território
tem uma nova configuração que muita polêmica e brigas políticas internas
causariam ao longo das décadas seguintes. O Decreto Estadual de 20 de maio de
1931, restaurou o município, dando-lhe a denominação de Baixio, com sede em
Umari. (GONÇALVES, 1997).
Em 1932, a
povoação de Baixio é elevada à categoria de vila. Em maio de 1933, a sede do
município passa para o termo de Baixio e
a vila de Umari passa a ser um dos seus distritos. Em 20 de dezembro de 1933, o
município de Baixio se compõe da sua sede, e ainda dos distritos de Alagoinha,
Olho d’Água e Umari.
O povoado de Baixio nasce de uma fazenda
de propriedade de Liberalino José de Carvalho que veio a configurar-se como
núcleo populacional inclusive com a
formação de ruas a partir de 1922 com a construção de um ramal da Rede Viação
Cearense que partia de Arrojado, no Ceará,
com direção à Sousa, na Paraíba. A estação foi inaugurada em 1923. (IBGE,
1959)
Conforme o decreto n° 1.156 de
04 de dezembro de 1933, o município de Baixio limita-se:
Ao norte, com o município de
Icó, pelo divisor de águas ao NORTE, da bacia do rio Pendência cumiada a serra da Catingueira,
tomando ao poente as cabeceiras do
riacho Umarizinho, por cujo leito vai a sua foz, no rio Salgado. Ao SUL, os
municípios de Lavras e Aurora, pelos divisores de água do rio Pendência, com
alguns afluentes do rio Salgado que desembocam acima da barra deste rio
(Pendência) pela margem direita até os limites da paraíba. A LESTE, o Estado da Paraíba pelas extremas estaduais (divisor de águas do Salgado com o Rio do
Peixe). ( GONÇALVES, 1997, p.51-52)
Em 1938, a Vila de Baixio é
transformada em cidade e a Vila de Olho
d’Água tem o seu nome alterado para Felizardo em homenagem ao seu fundador. Em
30 de dezembro de 1943, Alagoinha passa a ser denominado como Ipaumirim. A sede
da vila localizava-se na intersecção de uma estrada carroçável que ligava Umari
e outras cidades do Ceará a Cajazeiras, na Paraíba.
A área territorial onde se
localiza Alagoinha apresentava algumas características importantes. Estava próxima ao
Icó, maior centro comercial que dinamizava a economia do Ceará. Era servida
pela Estrada das Boiadas que interligava Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí por
onde passavam não apenas mercadorias mas que foi estratégica para a defesa do
território nos combates durante o império. Não estava muito distante do Cariri
e ainda estava próxima a uma estrada que ligava Crato a Piancó, na Paraíba, além de dispor
de caminhos menos importantes entre vilas e povoados. Contava com um ramal de
estrada de ferro inaugurado na década de 20 utilizada para transporte de
passageiros e cargas. Foi inicialmente uma área de fazendas de gado e
posteriormente grande produtora de algodão de fibra longa.
Essas condições concorriam
para o incremento da circulação de pessoas e por conseguinte de informações, produtos
da pecuária e depois algodão em maior escala
e um incipiente comércio de mercadorias e novidades trazidas de várias regiões da Paraíba, Pernambuco e do próprio Ceará.
Para as condições da época, era bem servido por vias de comunicação a despeito
dos contratempos dos períodos chuvosos que impedia a comunicação entre as
vilas.
Referências bibliográficas
GIRÃO, Raimundo. Pequena História do Ceará. 3 ed.
Fortaleza: Imprensa Universitária, 1971.
GONÇALVES, Rejane
Monteiro Augusto. Umari, Baixio,
Ipaumirim: subsídios para a história política. Edição comemorativa do
octogésimo aniversário de Gustavo Augusto Lima. Fortaleza. 1997.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros, 1959; Guia Geral
das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ce_crato/baixio.htm. Acesso em 19 out. 2010
JUCÁ NETO, Clóvis
Ramiro. Primórdios da rede urbana cearense. Revista Mercator, Fortaleza,
v. 8, n. 16, p. 77-102, 2009. Disponível em: http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/article/viewFile/40/223.
Acesso em 19 out. 2010.
MACEDO, Joaryvar. São Vicente das Lavras. 1 ed. Fortaleza: Secretaria de Cultura e
Desporto. 1984.
MARIA LUIZA NÓBREGA DE MORAIS
RECIFE, 25.02.2018
MARIA LUIZA NÓBREGA DE MORAIS
RECIFE, 25.02.2018